Biosecurity, risk, and vulnerability: reflexion on the process of human living of the health professionals.
Biossegurança, risco e vulnerabilidade: reflexões para o processo de viver humano dos profissionais de saúde.
KOERICH, Magda Santos*, SOUSA, Francisca Georgina Macêdo de*, SILVA, Claudia Regina Lima Duarte da*, FERREIRA, Luiz Alberto Peregrino*, CARRARO, Telma Elisa*, PIRES, Denise Elvira Pires de*
* Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Abstract: The process of human life is surrounded by the risk, that can be interpreted as a concept relatively complex and, many times, not perceived for the individuals in all their dimensions of life. Inserted in the services of health, either in the hospital environment or the basic attention, the health professionals can be exposed to multiple and varied risks, caused by chemical, physical, biological, psychosocial and ergonomic agents. It is in the workplaces that at the same time it is clear the vulnerability as human beings, we overvalue our capacities in situations of risk. In our symbology we believe that we are invisible and protected by an unsurmountable protective layer. The text presents a reflection on biological risk and vulnerability of the health professionals in the context of the process of human life. The selfcare as possibility for reduction of the vulnerability and the risks we usually are submitted, and to discuss on the different dimensions of the quality of life. For health professionals the, the idea of less risk is connected with the idealized notion of a perfect life and this “perfection” is related with the concept of quality of life in a dynamic process between individual behaviors and the collective building of the perception of risk.
Key words: Occupational Risk; Health Vulnerability; Quality of life.
Resumo: O processo de viver humano é permeado pelo risco, que pode ser interpretado como um conceito relativamente complexo e, muitas vezes, não percebido pelos indivíduos em todas as suas dimensões de vida. Inseridos nos serviços de saúde, seja no ambiente hospitalar ou na atenção básica, os profissionais da saúde podem estar expostos a múltiplos e variados riscos, causados por agentes químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos. É no contexto dos nossos locais de trabalho e na nossa relação com o entorno que, ao mesmo tempo em que evidenciamos nossa vulnerabilidade como seres humanos, supervalorizamos nossas capacidades frente a situações de risco e nos tornamos “super”. Em nossa simbologia acreditamos estar envolvidos por uma espécie de capa protetora invisível e intransponível. O texto apresenta uma reflexão sobre risco biológico e vulnerabilidade dos profissionais da saúde no contexto do processo de viver humano. Trazemos o cuidado de si como possibilidade para redução da vulnerabilidade e dos riscos a que estamos constantemente submetidos, além de argumentar sobre as diferentes dimensões que envolvem a qualidade de vida. Para os profissionais da saúde, a idéia da ausência de riscos está ligada a uma noção idealizada de vida perfeita, relacionada com o conceito de qualidade de vida em um processo dinâmico de articulação entre comportamentos individuais e a percepção de risco, construída coletivamente.
Palavras-chave: Riscos ocupacionais; Vulnerabilidade em saúde; Qualidade de vida.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Risco, riscar, traçar, esboçar, mas também delinear, perigo, limite, fronteira, barreira. Afinal o risco nos aproxima ou nos afasta? Medos, contágios e fronteiras. Limites, infecções e barreiras. O que nós tememos e com o que nos importamos? Com o risco, o perigo ou a fronteira?
Com freqüência não damos importância aos microrganismos e aos riscos que eles representam para a nossa saúde. É comum colocarmos a situação para o “outro lado da fronteira”, como se entre nós houvesse uma barreira que impedisse de nos contaminarmos. Este outro lado pode ser de quem estamos “cuidando”, nossos colegas de trabalho, a outra Unidade, o outro Hospital, o outro leito, qualquer coisa, menos nós. O contágio de fora não é capaz de ultrapassar nossos muros, nossa armadura, construídos ao longo de muitos anos de trabalho árduo, o que de certa forma nos torna “imunes” a coisas tão insignificantes. Veja que são verdadeiras barreiras, o muro, a armadura, poucas vezes visíveis, mas que certamente evitam os riscos. Pura imaginação. E pensar que o contágio de pessoa a pessoa ou por intermédio de fômites foi descrita, pela primeira vez na história da humanidade em 1546, por Girolamo Fracastoro, cientista italiano renascentista (1). Pouca coisa mudou desde então. Mudaremos nós?
No contexto em que estão inseridos os serviços de saúde, sejam no ambiente hospitalar ou na atenção básica, os trabalhadores de saúde podem estar expostos a múltiplos e variados riscos, como os causados por agentes químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos (2). No entanto, os riscos biológicos são definidos como os principais geradores de riscos à saúde dos trabalhadores em saúde. Pode-se, portanto, inferir que nas instituições de saúde, sejam elas hospitalares ou não, os profissionais de saúde convivem com variadas patologias e formas de transmissão, o que lhes expõem aos mais variados riscos e agravos à saúde, tornando-os grupos vulneráveis.
O processo de viver humano é permeado pelo risco, o qual pode ser interpretado como um conceito relativamente complexo e, muitas vezes, não percebido pelos indivíduos em todas as suas dimensões de vida. Compreende-se que para evitar o risco é preciso reconhecê-lo, aceitá-lo e, se possível, evitá-lo nas escolhas. É pertinente considerar que essas escolhas sofrem constantes influências das crenças e valores presentes nas relações sociais. Por essa condição, muitas vezes, determinadas situações/fatores não são reconhecidos como riscos à saúde.
Parte-se do pressuposto de que a “invisibilidade” dos riscos relacionados às doenças infecciosas determina uma maior exposição por parte dos trabalhadores de saúde.
Considera-se que esta questão envolve mecanismos de relações em que o pensar e o fazer dos trabalhadores adquirem papel fundamental, pois é na intersecção do campo da prática e dos saberes, que sobressai a autonomia dos trabalhadores, aí incluídas as questões de segurança e organização do trabalho. Nesta linha de pensamento vale questionar: Qual é a percepção de risco biológico construída pelos profissionais de saúde? Como os profissionais de saúde percebem as instituições de saúde, hospitalares ou não, no contexto do risco biológico? Até que ponto o saber profissional atende às necessidades do viver saudável do profissional de saúde no contexto das suas práticas diárias relacionadas aos riscos biológicos?
Propõe-se neste texto refletir, não apenas as questões de prevenção de acidentes, mas avançar na discussão que envolve a exposição à acidentes e doenças que, para os trabalhadores de saúde, adquirem um perfil diferenciado em relação à população em geral. As reflexões sobre o tema emergiram a partir de um seminário apresentado à disciplina Processo de Viver Humano, do Curso de Doutorado em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Na oportunidade os colegas foram questionados sobre a significação de “risco” e, tendo em vista a atuação profissional de alguns autores em biossegurança e infecção, decidiu-se associar alguns aspectos teóricos dos dois temas, com o cuidar de si e qualidade de vida.
UMA ABORDAGEM SOBRE O CONCEITO DE RISCO E VULNERABILIDADE
Nos dias de hoje, o conceito de risco alcança, praticamente, todas as dimensões da vida e passa a ter uma conotação moral como um exercício de opção entre uma forma de vida e outra, como processo dinâmico do viver humano.
Há várias possibilidades para o conceito de risco. Pautado no referencial epistemológico objetivista, risco é um perigo objetivo que existe e pode ser medido à margem do processo social e cultural (3). Neste caso, o “estabelecimento, o entendimento e a formulação de risco decorrem de consensos sociais” (3:83). Para o construtivismo, não existe o risco por si mesmo. Ele é produto construído decorrente de uma contingência histórica, política e social. Na visão relativista, risco e perigo são apenas formas de linguagem. A noção de risco se configura sempre em uma relação, portanto, valores de risco são sempre apresentados de forma comparativa para uma população (3).
O risco como construção coletiva, configura-se a partir da teoria cultural do risco, e “é estabelecido pela cultura fazendo parte de uma estrutura de crenças que sustentam as relações sociais” (3:85). Neste contexto, os autores relacionam quatro perspectivas para abordagem do risco: a fenomenológica, a psicanalítica, a estruturalista e a pós-estruturalista. Na perspectiva fenomenológica, o interesse é pela forma como as pessoas percebem o mundo, como uma realidade é interpretada, usando, para isso, o senso comum e o conhecimento. A fenomenológica busca o entendimento do risco como uma parte das relações de um sujeito com o outro, conforme uma cultura e dentro de uma estrutura social. Portanto, o entendimento de risco não é dado simplesmente pelo ambiente, mas também, pela influência das pessoas de maneira recíproca (3). Com esta compreensão questiona-se: Que riscos uma pessoa poderia eticamente se dispor a correr?
Na perspectiva psicanalítica, estuda-se como as pessoas constroem a idéia de risco que decorre da relação de estranhamento entre o sujeito e o outro e, que para isso é importante entender a subjetividade, a autonomia, assim como, a aversão e o fascínio. A visão estruturalista busca identificar como o conhecimento de risco e a sua prática se estabelecem através da estrutura cultural, das hierarquias e das categorizações, cujo objetivo é controlar os desviantes pelo uso de normas e regulamentos.
Por outro lado, vulnerabilidade pode ser compreendida como um conjunto de fatores que podem aumentar ou diminuir o risco a que estamos expostos em todas as situações de nossa vida, mas também como a forma de avaliar as chances que cada pessoa tem de contrair doenças, incluídas aí as infecciosas. Essas chances variam e são dependentes tanto de fatores biológicos como sociais e culturais, envolvendo, portanto, aqueles do ambiente de trabalho assim como aos relacionados aos profissionais.
Ser vulnerável “significa estar suscetível a, ou em perigo de sofrer danos, e estar vivo é uma improbabilidade biológica altamente vulnerável à perturbação e à morte” (4:72). Nesse sentido, o autor distingue dois tipos de vulnerabilidade: a intrínseca à vida humana ou primária e a vulnerabilidade secundária ou adquirida. Concebe a vulnerabilidade existencial do homem como primária, enquanto as deficiências circunstanciais geram uma forma secundária. Portanto, o conceito de vulnerabilidade “traz a perspectiva de que comportamentos individuais de exposição ao risco são considerados em relação a um conjunto mais amplo de determinantes, que deve ser contemplado no planejamento das ações de prevenção de infecções” (5: 230-1).
Pode-se também pensar em vulnerabilidade como um conjunto de fatores que podem aumentar ou diminuir o risco a que estamos expostos em todas as situações de nossa vida. Isto é usado também para avaliar as chances que cada pessoa tem de contrair infecções, sofrer acidentes ou adoecer, que vai desde a condição social, a fase do ciclo vital, o sexo e a escolaridade e alcança o conhecimento sobre o risco e sobre as medidas de prevenção.
As possibilidades de aumentar ou diminuir nossa vulnerabilidade dependem de três importantes fatores. Um deles é individual e refere-se à capacidade de cada pessoa em adotar comportamentos seguros, que a torne menos vulnerável, assim como a capacidade de tomar decisões próprias. Um outro fator é social, que diz respeito à qualidade de vida das pessoas, como estas se relacionam com os outros e quanto seus direitos e suas necessidades são atendidas. Um terceiro fator é designado como programático e tem relação com as ações que o governo e/ou instituições desenvolvem para aumentar o acesso da população à informação, serviço de saúde, além de outros. A vulnerabilidade depende, em parte, de cada um de nós, da estrutura organizacional das instituições de saúde e, sobretudo da condição de cidadania de cada profissional.
Na doença, compreendida como processo dinâmico e multicausal, as noções de risco e vulnerabilidade passam também a assumir uma visão mais contextualizada sobre o adoecer, constituindo-se em circunstâncias e probabilidades da ocorrência de um determinado dano. Não se constituem, portanto, em afirmações determinísticas, mas de “possibilidades” (6), e ao mesmo tempo se constituem em bases preditivas e legitimadoras para medidas de prevenção em saúde.
CARACTERIZANDO O RISCO BIOLÓGICO
O risco biológico é visto como a possibilidade de ocorrência de um evento danoso à integridade física e é inerente ao processo de viver. Tal como outros riscos, estabelece-se pela incerteza, entre o possível e o impossível, entre o provável e o improvável. Representa a possibilidade de contato com material biológico como sangue ou outros fluidos orgânicos que podem veicular agentes patogênicos causadores de danos à saúde do homem (7). Tais agentes, aos quais estão submetidos os profissionais de saúde, são representados por infecções causadas por bactérias, vírus, ricketsias, clamídeas e fungos e, em menor proporção, pelos protozoários, helmintos e artrópodes (6). Mundialmente, as infecções apontadas como principais riscos biológicos são a tuberculose pulmonar, a citomegalia, a Imunodeficiência Adquirida (HIV), e outras doenças infecciosas como rubéola, meningite, herpes simples, varicela e parotidite (8).
As vias reconhecidas de penetração desses agentes patogênicos incluem a ingestão, a inalação, a penetração através das mucosas e de soluções de continuidade, pela introdução no organismo com auxilio e objetos e instrumentos contaminados e ainda pela penetração ativa direta de determinado agente (7).
A adoção de medidas de proteção, conhecidas como Precauções Universais, visa dificultar que microorganismos dos quais os pacientes possam ser portadores, como os da gripe, pneumonia, tuberculose, herpes simples, hepatite e AIDS, acometam o profissional e/ou outros pacientes. Essa conduta se justifica ao se considerar que todo cliente é fonte de risco potencial de transmissão de infecção, independente da existência de suspeita ou confirmação de que ele tenha uma doença infecciosa (7). Portanto, os trabalhadores de saúde, pela natureza do seu trabalho, caracterizado pela necessidade de contato diário e permanente com portadores de diversas patologias e, ainda, pelo manuseio de material biológico, constituem categoria de indivíduos vulneráveis expostos cotidianamente a riscos.
PROFISSIONAIS DE SAÚDE X RISCOS BIOLÓGICOS
Os riscos de contrair infecção não são os mesmos para todos os indivíduos, variam de lugar para lugar, entre sexo, idade e grupos sociais, no entanto, o homem está em permanente contato com microorganismos de numerosas espécies que colonizam o meio ambiente e o próprio organismo humano. Mas, para que haja infecção é necessária a presença de um agente específico, um meio ambiente propício à transmissão e um hospedeiro suscetível (9). A interação desses três elementos é explicada de diversas maneiras na epidemiologia, uma das quais, é representada pela cadeia epidemiológica, com a qual tenta ordenar a seqüência dos principais aspectos biológicos envolvidos nos eventos que levam à infecção ou à doença.
Historicamente, os trabalhadores da saúde não eram considerados como categoria de alto risco para acidente e doença profissional. Esta concepção surge no início dos anos 40, a partir da constatação dos agravos à saúde dos laboratoristas que manipulavam com microorganismos e material clínico. Para os profissionais da área clínica somente na década de 80 com a epidemia da AIDS atentou-se para medidas profiláticas mais seguras (10).
Os profissionais de saúde realizam atividades que envolvem o contato direto ou indireto com os pacientes, estando por isso, expostos aos mais variados agentes biológicos encontrados no sangue e demais fluídos orgânicos, caracterizando essa exposição como risco biológico (11).
Cada categoria profissional está sujeita a fatores nocivos envolvidos especificamente na sua atividade laborativa (12), sendo os trabalhadores da saúde, na opinião das autoras, os que apresentam maiores riscos para exposição às doenças infecciosas.
O gerenciamento dos riscos é, muitas vezes, apresentado como responsabilidade dos indivíduos, colocada em termos de escolhas comportamentais sob a rubrica de estilo de vida (6). Os serviços de saúde ao direcionar suas ações e propostas educacionais visam atingir mudanças nesta dimensão. Para o autor, os estilos de risco são a rigor, aspectos que muitas vezes, participam e constituem os modos possíveis com que se lida com o mundo da vida, tal como se faz presente a cada um de nós, que inclui escolhas, padrões e predileção pessoais. Risco é, portanto, “um constructo produzido. As pessoas lidam e percebem seus riscos e dos outros de modos variados e envolvem vários aspectos que ultrapassam os limites da tecnobiociência e alcançam as dimensões imaginárias e simbólicas” (6:127).
As pessoas têm percepções diferentes de um mesmo perigo a que estão expostos (13). A necessidade de entender a percepção de técnicos sobre risco está baseada, principalmente, em imagens e crenças e tem raízes em experiências anteriores. A percepção de risco passa a ser, nesta perspectiva, a capacidade de compreender uma situação como danosa à saúde ou à vida onde as experiências anteriores determinam ou não a noção de risco.
Na doença infecciosa humana o doente não apenas sofre dor e limitações funcionais, mas elabora uma representação da sua experiência que, associada à troca dessa experiência e de conhecimentos, resulta na atribuição de significado ao evento. A partir disso, as respostas “não são apenas fisiológicas, mas também comportamentais, dotadas de intencionalidades, mediadas pela cultura particular do grupo” (14:178). Portanto, o risco de adoecer e morrer passa a depender mais da posição do indivíduo na sociedade que de seus atributos pessoais.
Um dos problemas que contribui para aumentar a vulnerabilidade dos trabalhadores do setor saúde no Brasil é a sua incipiente formação em assuntos relativos à saúde do trabalhador (15). Isso reforça a presença de dois importantes e influentes fatores no agravamento dos riscos ocupacionais: a ignorância dos riscos e as dificuldades de compreender, aceitar e atender as medidas de higiene e segurança. Por outro lado, os trabalhadores da saúde têm se mostrado resistentes à utilização de medidas de proteção individual, pois há uma subestimação do risco de se infectar (2). Os trabalhadores da saúde expõem-se a riscos ocupacionais sem a preocupação adequada com a sua própria saúde, pois, na maioria das vezes, sentem-se protegidos por sua onipotência, não acreditam nos riscos ou os desconhecem (14). Para outros estudiosos, os trabalhadores conhecem os riscos de forma genérica e esse conhecimento não se transforma em uma ação segura de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
Os riscos ocupacionais, no ambiente de trabalho, podem ser ou estar ocultos por ignorância ou ainda, por falta de conhecimento ou de informação, situação em que o trabalhador sequer suspeita da sua existência. Pode também se encontrar latente, situação em que o risco só se manifesta e causa danos em situações de emergência ou condições de estresse. O risco pode, também, ser real, conhecido de todos, porém, sem possibilidade de controle, dado aos custos que representa para a instituição ou por falta de vontade política (8). Na sociedade em geral, com destaque entre os profissionais da saúde, persiste a idéia de que a possibilidade de risco só existe para o outro, nunca para si. Decorre daí, o descaso com ações de prevenção, ou seja, com o “cuidado de si”.
O CUIDADO DE SI COMO POSSIBILIDADE DE MINIMIZAR O RISCO
O dicionário apresenta a palavra CUIDADO, com múltiplos significados. Como adjetivo, pode ser: pensado, meditado, refletido, bem trabalhado, bem feito, apurado. Como substantivo: desvelo, diligência, solicitude, atenção, precaução, vigilância, conta, incumbência, responsabilidade, inquietação de espírito, preocupação, pessoa ou coisa objeto de desvelos. E ainda como interjeição: Atenção! Cautela! (16). Em sua forma verbal, CUIDAR, do latim cogitare, tem também vários significados: cogitar, imaginar, pensar, refletir, julgar, supor, considerar-se, ocupar-se de, tratar de, precaver-se de, zelar pelo bem estar ou pela saúde de, tratar da saúde de, sustentar, tratar da própria saúde ou zelar pelo próprio bem estar (16).
A história do cuidado permeia não apenas a vida humana, mas também todos os reinos da natureza, com importantes interações vivenciais. Assim, desde tempos remotos, pré-socráticos, o cuidado se apresenta como parte integral da vida e imprescindível a qualquer tipo de vida.
Vários pensadores têm abordado o tema, destacando-se Heidegger, considerado o filósofo do cuidado, além de Kierkegaard, Chardin, Mayeroff e Foucault. Dentre as teóricas de enfermagem, emergem diferentes concepções de cuidado, conforme encontramos em Watson, Colliére, Morse, Leininger e Boykin. Mas, foi com Radunz (17-18), que passamos a considerar o cuidado ao cuidador, àquele que cuida, como mais uma variável do cuidado como objeto epistemológico da enfermagem.
Designado, pela autora como o “fortalecimento do self” e, posteriormente, como “o cuidado de si”, ela considera fundamental que o cuidado ao ser humano exercido pela enfermagem inicie pelo cuidar de si.
Em que aspectos se concretizam o cuidar de si? Quais são as relações que se estabelece para cuidar de si? Se não me cuido, posso cuidar do outro? O que é cuidar de si?
Pode-se dizer, numa primeira aproximação, que o cuidar de si compreende ações e comportamentos para a redução do risco de doenças e de outros agravos, bem como o reconhecimento da nossa vulnerabilidade frente aos riscos.
É, pois, evidente que o cuidar de si é, também, proteção individual e implica um retorno do olhar para si próprio no sentido de conhecer-se (19). Entretanto, voltar-se para si não significa, na opinião da autora, fechar-se em si mesmo, mas estabelecer-se a partir das relações com o outro, o que faz do cuidado de si uma prática social. Cuidar de si significa “conhecer-se” e “reconhecer-se” e caracteriza-se como uma via de comunicação entre o sujeito e o meio social que permite “filtrar” verdades e prescrições amplamente instituídas e aceitas, possibilitando aos sujeitos resistência, recusa e incorporação das mesmas (19).
Tais afirmações nos levam a pensar que o cuidado de si gira em torno da adesão de comportamentos e possibilidades com vistas à promoção da saúde, bem estar e qualidade de vida.
Exatamente por esta hipótese é que talvez seja oportuno refletir sobre os sentidos atribuídos ao cuidado de si pelos profissionais de saúde. Deve-se reconhecer que não basta defender a utilização de proteção universal para reduzir a possibilidade de danos causados à saúde dos profissionais por substâncias orgânicas. O cuidar de si implica incentivar comportamentos mais saudáveis de modo articulado com o conhecimento de si e com esse olhar para si.
Essa disposição em olhar para si permite refletir sobre a nossa condição humana – Homo sapiens é também Homo demens – e nos faz pensar sobre o “agir com responsabilidade” (20) dos profissionais da saúde. Ao discutir tais sentidos ligados às práticas dos profissionais, convergimos para a perspectiva do cuidado de si que permite ao sujeito “envolver-se consigo próprio não no sentido de decifrar-se em busca das faltas cometidas, para culpar-se e perceber-se em erro. Ao contrário, como um retorno a si mesmo – que não se dá fora do mundo, fora da vida, fora do convívio com os outros – no sentido de conhecer-se para alcançar sobre si um domínio de soberano princípio da liberdade”. (19:279)
A forma como os profissionais de saúde caracterizam riscos biológicos e o cuidar de si, traz à tona a importância de se discutir a vulnerabilidade destes trabalhadores e incluí-las na discussão do conceito ampliado de saúde que implica em pensar em qualidade de vida.
QUALIDADE DE VIDA E O VIVER SAUDÁVEL
Temos que considerar as pressões do estilo de vida moderno. Como avaliar se existem alternativas disponíveis e aceitáveis para o indivíduo se orientar por caminhos diferentes da opção por um estilo de vida “não-saudável?” (21). Esta é uma questão que merece ser discutida, pois o discurso sobre “qualidade de vida” e “viver saudável” parece estar se tornando uma questão obrigatória a todas as pessoas como se dependesse somente do indivíduo viver de maneira saudável. Vivemos em um mundo em que tudo está ligado a tudo, como podemos viver com qualidade considerando somente a nossa inserção individual no mundo? Como podemos estar bem isoladamente? Então, “a qualidade de vida não equivale ao bem estar ou felicidade individual, mas a satisfação global. Trata-se de um atributo coletivo. Refere-se a bem estar social. A Qualidade de Vida é o modelo social do grau em que se satisfazem as necessidades numa sociedade ou comunidade” (22:138).
O pensamento materialista, que caracteriza o mundo do consumo capitalista, acaba contribuindo para um distanciamento do ser humano do olhar coletivo. O desenvolvimento de um país se faz com a satisfação de determinantes sociais como educação, alimentação, moradia, trabalho, renda, lazer e acesso aos serviços de saúde, pois, “sabemos que nem todos os aspectos da vida humana são, obrigatoriamente, uma questão sanitária, mas políticas públicas e sociais, que considerassem as possibilidades de desenvolvimento humano auxiliariam na melhoria de condições e estilos de vida mais saudáveis” (22:115).
Numa dimensão subjetiva podemos abordar os valores humanos que variam de pessoa a pessoa e foram elaborados de acordo com as experiências acumuladas no processo de viver humano na sua relação com o coletivo, são desejos organizados numa hierarquia de valores essencialmente individuais. Viver é um constante originar-se e a “qualidade de vida não deve ser considerada como um estado estático de satisfação das necessidades, mas como um processo contínuo de desenvolvimento apropriado” (22:138).
Quando falamos de Qualidade de Vida não podemos fazer referência a qualquer desenvolvimento, “mas aquele cujo fim último leva em conta a vida humana e a melhora de sua qualidade” (22:115). Porém, há a necessidade de união de esforços de todos os setores da sociedade para atingir um nível de qualidade de vida que atenda as condições materiais e não materiais. É um processo contínuo e dinâmico, como é a nossa vida no planeta terra, composta de altos e baixos, de construções e desconstruções, de expectativas e desilusões, mas acima de tudo movida por uma energia e a consciência de que o ser humano está sofrendo com as modificações climáticas, econômicas, sociais e políticas do mundo contemporâneo.
Ao abordarmos o tema qualidade de vida podemos destacar dois aspectos que influenciam na construção do referido conceito. Um ponto objetivo é a necessidade de um olhar para além do indivíduo que enfatiza o pensamento coletivo e, uma outra visão, são os valores de vida de cada pessoa, a satisfação de seus desejos, socialmente influenciados. Entramos numa dimensão subjetiva de valores humanos e ao relacionarmos com o trabalho, também há a necessidade de clarearmos qual o enfoque a que estaremos nos referindo. Qualidade de vida “é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial” (22:8). E em um novo enfoque “trabalho é a atividade humana que proporciona os meios para sobreviver e desfrutar a vida” (22:205).
Diante dos enfoques acima colocados sobre qualidade de vida e trabalho, qual seria a visão de risco do trabalhador da área da saúde? Como conciliar motivação para trabalhar com o risco de prejudicar a sua saúde com o trabalho? É importante refletir que “nosso viver implica em riscos e, nesse sentido, é um conceito relativamente complexo e muitas vezes não é percebido pelos indivíduos em todas as suas dimensões de vida. O risco deve ser reconhecido para que possa ser aceito e, se possível, evitado nas escolhas, diante das crenças e valores presentes nas relações sociais” (5:229).
Não podemos esquecer que em relação ao trabalho em saúde, a probabilidade de nos contaminarmos com um microorganismo patogênico é grande, por existirem em grande quantidade nos ambientes hospitalares, centros de saúde e laboratórios, somos hospedeiros suscetíveis e fazemos parte da cadeia de transmissão da doença. A melhor estratégia reside na prevenção efetiva, na sensibilização dos trabalhadores para a defesa aos riscos e na busca de conhecimento e alternativas de autoproteção, tratamento e reabilitação (23). Tais estratégias além de reduzir os riscos podem possibilitar aos trabalhadores maior satisfação ao realizar as atividades diárias, como também, qualidade de vida.
FINALIZANDO
Os riscos são processos de construção social, sobressaindo nesta perspectiva a articulação entre comportamentos individuais e a construção coletiva da percepção de risco. A condição de desastre (de risco) será sempre definida pelo contexto, configurado pelo homem. Todavia, para a existência humana, além dessa ordem do mundo real, há também uma ordem relativa aos valores. Nossa racionalidade nos impõe, objetivamente, a precaução no mundo diante do desconhecido, porém, é no mundo dos valores que se configuram as escolhas que poderão humanizar nossa existência.
É no contexto dos nossos locais de trabalho e na nossa relação com o entorno que, ao mesmo tempo em que evidenciamos nossa vulnerabilidade como seres humanos, supervalorizamos nossas capacidades frente a situações de risco, nos tornamos “super”. Em nossa simbologia acreditamos estar envolvidos por uma espécie de capa invisível e intransponível que nos protege totalmente dos “perigos”.
O processo de viver humano é permeado pelo risco e “o risco é uma necessidade essencial da alma humana, e sem ele a vida seria entediante ou tão paralisante quanto o medo” (22:20). Para compreendermos essa dinâmica, podemos partir de um olhar focalizado no risco biológico, relacioná-lo com nossa atuação como profissionais de saúde, expostos aos riscos biológicos, que por sua vez demandam um cuidado de si como possibilidade de minimizar o risco a que estamos permanentemente expostos.
O cuidar de si, cuja raiz reside na idéia grego-socrática do “ocupar-se consigo mesmo”, permite oferecer subsídios à reflexão sobre a busca de uma vida saudável, corporal e psiquicamente. Tal busca é entendida como algo que deve começar na infância e se prolongar ao longo de toda a vida, e ser assumida como um estilo de vida, sobretudo pelos profissionais da saúde, mas também, pelas pessoas que se colocam sob seus cuidados.
A ausência de riscos para a saúde está ligada a uma noção idealizada de uma “vida perfeita”(22:20) e essa “perfeição” está relacionada com o conceito de qualidade de vida que é relativamente recente e decorre, em parte, da necessidade da integração de saberes e intercâmbio de pesquisadores e de profissionais interessados nesse tema. Mas, o que significa uma vida humana boa e feliz e quais são os principais meios para alcançá-la? Quais são os “cuidados” a serem dispensados ao longo das diferentes etapas da vida humana para se alcançar qualidade de vida? Por fim, a pergunta mais importante: o que significa uma vida digna e com qualidade?
As diferentes dimensões que envolvem a conceituação de qualidade de vida possibilitam um caráter multi e interdisciplinar no desenvolvimento do trabalho em saúde e no processo de viver dos trabalhadores, que ao cuidar de si, tomam consciência dos riscos inerentes à sua profissão, se vêem vulneráveis e mais próximos dos seres humanos que precisam de cuidados nas instituições de saúde.
O cuidar de si mesmo não é um tipo de relação com a qual o indivíduo já nasce ou que aprende sozinho: ninguém nasce sabendo ocupar-se consigo mesmo nem aprende sem a ajuda dos outros. Sendo assim, a qualidade da relação consigo mesmo, é resultado de um processo formativo, isto é, as pessoas precisam ser educadas a se relacionar dialogicamente, não apenas com os outros, mas, consigo mesmas. O cuidar de si traz embutido no seu significado duas exigências, aparentemente triviais, mas, difíceis de serem cumpridas, a reflexão e o diálogo ao longo da vida.
A preocupação com a apropria saúde é fenômeno primordial do ser humano, o que vale dizer que é preciso alcançar o equilíbrio entre a capacidade de fazer e o quer fazer com responsabilidade para consigo mesmo. Na verdade, o ponto que desejamos chegar nesta reflexão é que nós, profissionais de saúde, precisamos de outro tipo de saber que possibilite a mudança – a sabedoria prática – condição que nos coloca em um novo modo de ser no mundo do cuidado e do cuidar de si. Compreendemos que o saber somente se torna experiência quando ele passa a integrar a consciência prática daquele que age, isto é, incorporar conhecimentos no sentido de ser capaz de fazer. Portanto, o cuidar de si, tem duas faces, a do saber cientifico que permeia a prática do profissional de saúde e, o ser capaz de fazer, que é o nosso desafio.
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Received
Oct 5, 2006
Revised Oct 19
Accept Oct 28th, 2006