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Diagnoses and nursing actions for individuals with chronic diseases assisted at home: descriptive study

 Diagnósticos e ações de enfermagem a indivíduos com doenças crônicas assistidos no domicílio: estudo descritivo.

 Elen Ferraz Teston1; Fernanda Ribeiro Baptista Marques2; Sonia Silva Marcon3.

1, 2, 3 -  Universidade Estadual de Maringá. Maringá-PR, Brasil. 

Abstract . Introduction: The nursing diagnosis is a clinical trial of the responses from the individual, his family and the community to health issues, providing an effective basis on the selection of nursing interventions. Objective: This is a descriptive exploratory study, aimed at identifying the most frequent Nursing diagnoses, and proposing specific interventions at home for individuals with chronic illness. Method: The subjects were individuals in the extension project "Home care and support for families of chronic patients." Data was collected from medical records registered by the project participants after each visit. Following, the nursing diagnoses of each patient were obtained through NANDA Taxonomy II. Throughout the analysis of the diagnoses, the most frequent and possible interventions to be proposed were elected. Results: The most frequent diagnoses were: lack of self-care, impaired physical mobility, deficits of recreation activities, and impaired skin integrity. The proposed interventions consisted of providing information to the patient and family on issues such as: proper diet, physical activities, changing in lifestyle and proper use of medications. Implications on Nursing: Identifying nursing diagnoses in the home context allows more recognition to the role of the family on the care for an individual with a chronic disease, providing better quality of life and thus, avoiding rehospitalization due to inadequate care management.

Keywords: Nursing Diagnosis. Self care. Chronic disease. Home nursing. 

Resumo . Introdução: O diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico das respostas do indivíduo, família e comunidade, aos problemas de saúde, proporcionando uma base eficaz para a seleção das intervenções de enfermagem. Objetivo: Este estudo, do tipo descritivo exploratório, teve como objetivo identificar os diagnósticos de Enfermagem mais frequentes e propor intervenções específicas para indivíduos com doenças crônicas no domicílio. Método: Os participantes da pesquisa foram indivíduos que integram o projeto de extensão “Assistência e apoio a família de pacientes crônicos no domicílio”. Os dados foram coletados dos registros nos prontuários, os quais são efetuados pelos participantes do projeto após cada visita. A seguir levantaram-se os diagnósticos de enfermagem de cada paciente, segundo a taxonomia II da NANDA. Durante a análise dos diagnósticos elegeu-se os mais frequentes e as possíveis intervenções a serem propostas. Resultados: Os diagnósticos mais frequentes foram: déficit de autocuidado, mobilidade física alterada, déficits das atividades de recreação e integridade da pele prejudicada. Já as intervenções propostas consistiram em fornecer informações tanto ao paciente quanto à família, sobre assuntos como: dieta alimentar adequada, exercícios físicos, mudança de hábitos de vida e utilização correta das medicações. Implicações para Enfermagem: O diagnóstico de enfermagem no âmbito domiciliar possibilita maior valorização do papel da família no cuidado ao indivíduo com doença crônica proporcionando qualidade de vida e por seguinte evita reinternação.

Palavras-chave: Diagnóstico de Enfermagem. Autocuidado. Doença crônica. Assistência domiciliar.

Introdução

O envelhecimento populacional é uma realidade incontestável. As pessoas estão vivendo por mais tempo, com isso há uma maior exposição às doenças crônico-degenerativas. Embora a atenção dispensada às condições crônicas deva priorizar a adesão ao tratamento nota-se que a baixa adesão é um problema recorrente (1). Adesão ao tratamento é um processo multifatorial que se estrutura em uma parceria entre quem cuida e quem é cuidado; diz respeito, à frequência, à constância e à perseverança na relação com o cuidado em busca da saúde. Portanto, o vínculo entre profissional e paciente é fator estruturante e de consolidação do processo, razão pela qual deve ser considerado para que se efetive (2).

Após os 40 anos de idade há um declínio funcional fisiológico que se acentua ao longo da vida e que pode ser influenciado por diversos fatores como físicos, orgânicos, genéticos, hábitos de vida, meio-ambiente, condições educacionais e socioeconômicas, incluindo-se as relações familiares. No decorrer do processo de envelhecimento as doenças crônicas podem se manifestar, sendo mais frequente hipertensão arterial, diabetes, doenças reumáticas, dentre outras (3). Para a família, acarreta mudanças, seja na preocupação com o ente acometido ou na resolução de problemas de ordem prática, como: trabalho, passeios, viagens e outros compromissos (4).

É importante a compreensão dos meios pelos quais os indivíduos enfrentam suas perdas em funções físicas e papéis sociais. Entre aqueles afligidos pelas doenças e condições crônicas, alguns avançam para incapacidades, muitas vezes severas. A incapacidade funcional é a maior consequência das condições crônicas, além de afetar o status psicológico e o uso de serviços de cuidado de longa permanência (5).  Na maioria das vezes o indivíduo com doença crônica necessita compartilhar esse enfrentamento com sua família, pois esta situação requer readaptação individual e familiar para que o mesmo possa receber o auxílio almejado e evitar (re) internações por situações controláveis e preveníveis no domicílio. Neste contexto, a responsabilidade do cuidar em enfermagem, inclusive no domicílio, exige ações fundamentadas na avaliação holística do estado de saúde do indivíduo, sendo o diagnóstico de enfermagem referência facilitadora para a decisão de intervenções.

O processo de enfermagem é um método para a organização e prestação da assistência, composto por cinco etapas (avaliação inicial, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação) que buscam identificar as necessidades assistenciais do paciente, estabelecendo um plano de cuidados para a satisfação dessas necessidades. A fase diagnóstica, do processo de enfermagem, tem tornado possível uma postura mais madura dos profissionais, por meio da prática de uma profissão mais estruturada (6). Esta fase envolve um processo de investigação cuidadosa e direcionada, com exame e análise descritiva dos dados da pessoa e das condições e circunstâncias de sua vida, na tentativa de se explanar ou entender a natureza de suas condições existentes. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo identificar os diagnósticos de enfermagem mais frequentes em um grupo de doentes crônicos assistidos no domicilio, integrantes do projeto Serviço de Assistência e apoio ás famílias de pacientes crônicos no domicílio, e selecionar as intervenções de enfermagem específicas para este estudo.  

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo exploratório realizado com vinte indivíduos participantes do projeto de Extensão: “Serviço de Assistência e apoio as famílias de pacientes crônicos no domicílio”, o qual é vinculado ao NEPAAF (Núcleo de Estudos, Pesquisa, Assistência e Apoio à família). O referido projeto é desenvolvido por professores, alunos de graduação e pós-graduação de enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. São incluídos no projeto indivíduos com doença crônica que passaram por um episódio de internação hospitalar. Seu objetivo é assistir o indivíduo e ao mesmo tempo instrumentalizar adequadamente a família para o cuidado cotidiano de modo a evitar reinternações decorrentes de um cuidado inadequado.

Os indivíduos e suas famílias são assistidos por meio de visitas domiciliares, por um período médio de seis meses, realizadas por duplas de acadêmicos de enfermagem e supervisionadas a distância por um enfermeiro. Em casos especiais, quando há necessidade de assistência, o enfermeiro acompanha os alunos na visita. Além disso, o projeto conta com a participação de outros profissionais, como nutricionista e fisioterapeuta. As primeiras visitas são semanais e visam o acolhimento da família e do indivíduo, a abertura para a escuta e a formação de vínculo enfermeiro-família-indivíduo e a iniciação da assistência conforme as necessidades apresentadas pela família. Posteriormente, as visitas se seguem de acordo com o plano de assistência estabelecido para o paciente e para a família. Após cada visita as atividades desenvolvidas durante a assistência são registradas no prontuário da família e são levadas em pauta e discutidas com professores e alunos da pós-graduação.

O prontuário da família é constituído de duas partes: a primeira contém dados de caracterização do indivíduo doente e sua família (identificação, composição familiar, informações sobre a doença e tratamento, hábitos familiares e individuais e aspectos psicossociais). A segunda contém dados da assistência, registrado na forma de evoluções de enfermagem. Sendo assim, em todas as visitas são registrados dados da situação atual (problemas de enfermagem), ações propostas (intervenção) e avaliação da evolução. Nesta pesquisa foram utilizados os dados contidos em ambas as partes deste instrumento.

A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a junho de 2010. Os dados referentes ao nome, idade, sexo, diagnóstico médico, atividade ocupacional, tipo de estrutura familiar (nuclear ou extensa), grau de dependência relacionado à mobilidade e os problemas de enfermagem identificados a cada visita aos pacientes foram digitados em planilha para melhor organização e interpretação. A partir de então foram identificados os problemas de enfermagem mais frequentes e que eram comuns entre os pacientes do projeto.

Na tentativa de verificar a aplicabilidade desse sistema, levantaram-se diagnósticos de enfermagem de acordo com a classificação da NANDA (7), através dos registros realizados após as visitas domiciliares e avaliação do paciente em seu domicilio.

O estudo foi desenvolvido em consonância com as diretrizes disciplinadas pela Resolução 196 do Ministério da Saúde (Brasil, 1996). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá (parecer nº 68/2008).  A solicitação de autorização para realização do estudo foi feita pessoalmente por ocasião da inclusão dos indivíduos e sua família no projeto de extensão.

 Nesta ocasião foram informados os objetivos do estudo, os procedimentos a serem adotados, o tipo de participação desejada, a livre opção em participar ou não sem qualquer prejuízo para a assistência ao paciente e/ou familiares, a possibilidade de retirar esta autorização em qualquer momento que desejasse, o compromisso em garantir sigilo e anonimato das informações, o número de visitas inicialmente previstos e o tempo provável de duração de cada visita. Após o esclarecimento de dúvidas, os indivíduos que concordaram em participar do projeto, foram convidados a assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias. Para garantir anonimato dos participantes foi-lhes atribuído nomes fictícios. 

Resultados e discussão

Os vinte indivíduos com doenças crônicas, acompanhados pelo projeto e incluídos no presente estudo tinham idade entre 50 e 85 anos; sendo mais da metade sexo feminino. Seis famílias eram do tipo nuclear (constituídas apenas pelo casal) e as demais do tipo extensa, sendo que em todos os casos um dos progenitores foi morar com a família do filho, situação esta decorrente do fato de um dos conjugues já ter falecido ou devido à separação.

Os diagnósticos médicos de doenças crônicas entre os participantes referiam-se a distúrbios cérebro-vasculares: hipertensão arterial sistêmica (HAS), acidente vascular cerebral, Alzheimer, Insuficiência Cardíaca Congestiva e Parkinson; e distúrbios metabólicos: Diabetes Mellitus II e dislipidemias. É interessante observar que dos vinte indivíduos, 10 tinham HAS associada ao diabetes, dos quais oito eram do sexo feminino.

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) exercem papel muito importante no perfil atual de saúde da população humana. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as DCNTs já são responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo e por 45,9% da carga global de doença. No Brasil, as DCNTs respondem por 62,8% do total das mortes por causa conhecida. Séries históricas de estatísticas de mortalidade disponíveis para as capitais dos Estados brasileiros indicam que a proporção de mortes por DCNTs aumentou em mais de três vezes entre as décadas de 30 e 90 (8).

Em relação às condições para o desempenho de atividades de vida diária observou-se que oito indivíduos apresentavam dependência parcial (dificuldade de deambulação); sete apresentavam dependência total (eram acamados) e somente cinco eram independentes. A dependência total significa uma condição a qual se caracteriza por degenerescência decorrente de doenças crônicas ou de outras patologias, que lhe ameaçam a integridade física, social e econômica, diminuindo ou impedindo a capacidade do indivíduo para atender suas necessidades. Já a dependência parcial existe quando o ser humano consegue realizar parcialmente algumas de suas necessidades humanas básicas, necessitando de auxílio de um membro da família para ampará-lo (9).

Na consulta aos prontuários das famílias/pacientes foram encontrados 40 diagnósticos de enfermagem, sendo ressaltados neste estudo os que apareceram com maior frequência. O diagnóstico de enfermagem “mobilidade física prejudicada” esteve presente em 15 pacientes.  Este diagnóstico refere-se ao estado em que o indivíduo apresenta ou está em risco de apresentar limitações na habilidade para movimentos físicos independentes, mas não está imóvel. Descreve o indivíduo com uso limitado dos braços ou pernas, força muscular limitada, limitação no movimento físico independente do corpo ou de uma ou mais extremidades (10).

Algumas intervenções de enfermagem relacionadas a este diagnóstico consistiram em (11):

- Evitar que o paciente repouse sobre a extremidade paralisada por muito tempo.

- Orientar quanto à necessidade de manter o alinhamento correto do corpo com o auxílio de um travesseiro quando assumir as posições: dorsal, lateral e ventral.

- Estimular a utilização de coxins de forma a evitar úlceras de pressão ou até mesmo rotação externa de quadril.

- Estimular a realização de exercícios de amplitude de movimento e exercícios terapêuticos, sob a supervisão ou orientação de um profissional.

- Encorajar a utilização de apoios para a movimentação.

- Orientar o paciente e a família quanto à importância da realização de exercícios/movimentos quando possíveis.

Essas intervenções foram realizadas pelas duplas de acadêmicos juntamente com o paciente, sua família e/ou cuidador principal. Cabe neste instante exemplificar com o caso de B.S., 85 anos, sexo feminino, acamada com diagnóstico de sequela de Acidente Vascular Encefálico há três anos, Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial e Reumatismo. Numa das primeiras visitas em seu domicílio, B.S. encontrava-se confusa, pouco comunicativa, desorientada e chorosa, referindo dor em todo o corpo. Nesta visita, sua neta, (principal cuidadora) foi orientada pelos alunos quanto à necessidade de adesão a este plano de ação, para contribuir com o estado geral de B.S., com seu conforto e bem-estar. Quinze dias depois, em outra visita, a paciente estava utilizando coxins (travesseiros) em proeminências ósseas, e ao lado de sua cama havia uma cadeira adaptada com almofadas para que ela pudesse, com o auxílio da neta, sentar-se após o banho. B.S. estava comunicativa, sorridente e alegre com a visita, referindo estar melhor, com menos dores no corpo e sentindo-se menos sozinha, pois a neta ia mais vezes ao quarto, o que demonstra a efetividade das ações propostas e a importância do apoio recebido pela família.

O autocuidado é a prática de atividades iniciadas e executadas pelos indivíduos, em seu próprio benefício, para a manutenção da vida, da saúde e do bem-estar. O diagnóstico de Enfermagem “Déficit do autocuidado” é foco da atuação da enfermeira, pois esta possui conhecimento, perspicácia e habilidade para identificar quais eventos, condições e circunstâncias caracterizam pessoas sujeitas a incapacidades em seu cuidado de saúde, cabendo a ela desenvolver maneiras seguras e eficazes de cuidar. Para isso, adotará métodos fundamentados no agir ou fazer pelo outro, guiando-o e apoiando-o para que torná-lo capaz de satisfazer suas próprias necessidades de acordo com suas demandas atuais e futuras e considerando seus potenciais (12).

Este diagnóstico foi baseado em diversas condições apresentadas pelos indivíduos como: o desinteresse em perder peso, sendo que doze dos vinte indivíduos do estudo encontrava-se com sobrepeso, a manutenção do tabagismo (nove indivíduos fumavam), não priorização de comportamentos que beneficiam a condição clínica, desinteresse por realização de banho\higiene dental, estilo de vida sedentário e a intolerância a atividade física. Tais condições reforçam a necessidade do intervir em enfermagem através da abordagem educativa, priorizando bons hábitos de vida e bem-estar, potencializando o tratamento não-farmacológico das DCNTs.

As intervenções de enfermagem consistiram em (11) :

- Motivar o paciente, de modo que ele sinta vontade de realizar ações diárias sozinho, identificando os limites de segurança para a atividade independente.

- Incentivar e estimular a utilização de um dispositivo de auto-ajuda, se necessário.

- Encorajar a interação social, para promover um autocuidado positivo.

- Orientar o paciente e a família quanto à necessidade de medidas como banho, higiene dental diária, o que proporciona maior conforto ao paciente além de contribuir para seu estado de saúde.

- Estimular ao paciente a realizar ações independentes, como pentear os cabelos de modo que ele volte a desenvolver o interesse de manter seu autocuidado dentro das novas condições.

- Estimular e orientar a realização de atividades físicas, como caminhadas, alongamentos e outros exercícios, se necessário com acompanhamento profissional.

Um dos pacientes que recebeu esse diagnóstico foi A.S.B., 50 anos, sexo masculino, portador do vírus HIV, com diagnóstico médico de Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial. Sua filha era a cuidadora principal e referia que o mesmo não se importa com sua saúde, ilustrando com o fato de que há sete anos, precisou amputar o hálux direito, devido a uma ferida de difícil cicatrização, advinda da má higiene dos pés e das unhas e do uso de sapato apertado. Em Junho de 2009, após chegar de uma de suas viagens, A.S.B. apresentou outra lesão no mesmo pé. Apesar da experiência anterior não demonstrou interesse em procurar solucionar o problema de forma que a lesão encontrava-se em processo avançado, com pontos de necrose e orientação médica de amputação de membro. Além disso, a esposa informou que A.S.B. não estava fazendo adequadamente o controle da glicemia, sendo que o dia que ele acordava se sentindo bem não aceitava a insulina. Devido a essa situação, os alunos do projeto produziram um folder explicativo com informações sobre os sinais e sintomas do diabetes, assim como a importância do tratamento e do controle da doença, sendo o mesmo entregue à família e ao paciente e utilizado para a orientação dos mesmos. Após uma semana, em outra visita domiciliar, A.S.B. não estava em casa, pois havia ido com a filha à Unidade Básica de Saúde buscar materiais para o cuidado com os pés e a troca diário do curativo, denotando a efetividade da ação educativa.

O diagnóstico de enfermagem “Déficit de atividades de recreação” não representa uma alteração, mas sim uma deficiência na realização de atividades que permitam às pessoas se distraírem, eliminarem o estresse e até mesmo a solidão, além de manterem a qualidade de vida (13).

O conceito de qualidade de vida está relacionado à auto-estima e ao bem-estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive (14). Atividades de lazer são essenciais para entreter o doente. Grupos de ajuda, atividades de leitura, passeios, trabalhos domésticos, conversas, podem ser benéficos.

Dentre as intervenções de enfermagem sugeriu-se (15):

- Estimular o paciente à realização de atividades que lhe proporcionem prazer como leitura, caminhada, entre outros.

- Orientar a família quanto a importância da “distração” deste paciente, para que não se sinta sozinho, inútil, ou até mesmo um “peso”.

- Estimular a prática de exercícios físicos quando possíveis, pois assim é possível ao individuo ter uma participação social e interação com companheiros que participam das mesmas atividades.

- Orientar e estimular o paciente e a família a frequentar a igreja, grupos de ioga, meditação.

M.G.M.S., 76 anos, sexo feminino, casada, com diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Congestiva, apresentou o diagnóstico de enfermagem “déficit de atividade de recreação”. O diagnóstico foi observado em uma das visitas onde a mesma se encontrava queixosa e muito chorosa, com idéias suicidas, afirmando não ter ninguém para conversar, e que sua vida só tinha problemas. Dessa forma, buscou-se encontrar em sua comunidade grupos para idosos que poderiam interessar a ela. Foi encontrado grupos de crochê, pintura de guardanapo, grupos de orações, entre outros, e a mesma mostrou-se muito interessada. Quinze dias após esta visita, ao ser questionada sobre a ida em algum dos grupos, M.G.M.S. referiu não ter mais idade para essas coisas. Então, foi realizado contato com a enfermeira da Unidade Básica de Saúde que abrange o bairro onde a paciente reside, enfatizando a necessidade de um apoio psicológico a mesma. Semanas depois, M.G.M.S. estava sendo acompanhada pela psicóloga da UBS e referia estar se sentindo muito bem em conversar e desabafar com a mesma.

O diagnóstico de “Integridade da pele prejudicada” se deve ao fato dos indivíduos apresentarem alterações tegumentares decorrentes do próprio envelhecimento fisiológico como: ressecamento da pele, diminuição das fibras elásticas e do tecido adiposo subcutâneo, e enrijecimento do colágeno. Tal diagnóstico pode ser definido como estar em risco de alteração da pele de forma adversa, e a presença de fatores de risco externos e internos (16). No presente estudo nove dos pacientes apresentaram este diagnóstico pelo fato de  serem idosos e\ou portadores de diabetes.

Os pacientes com diabetes apresentam alteração do estado metabólico (hiperglicemia), e, por conseguinte poder apresentar neuropatia sensorial, levando à perda da sensibilidade para dor e pressão, ou neuropatia autônoma, causando ressecamento e fissuras na perna. Cabe destacar que, durante o período de atendimento, dos nove pacientes investigados dois apresentavam pé diabético, que é designado como um estado fisiopatológico multifacetado, caracterizado por lesões que surgem nos pés da pessoa com diabetes e ocorrem como consequência de neuropatia em 90% dos casos, de doença vascular periférica e de deformidades (17). Um destes pacientes teve o hálux direito amputado e durante as visitas pôde-se acompanhar o processo de cicatrização. Já o outro paciente, permaneceu com o pé diabético, sendo realizado o curativo uma vez ao dia na Unidade Básica de Saúde.

Intervenções de enfermagem sugeridas (11):

- Orientar a redução de fatores de risco, como fumo, elevação dos lipídios sanguíneos, visto que os mesmos contribuem para doença vascular periférica.

- Orientar procedimentos de higiene corporal adequados e incorporar as necessidades de higiene ao programa terapêutico da família, tais como: após higienizar os pés secar entre os artelhos e hidratá-los, inspecionar rotineiramente os pés, quanto a presença de vermelhidão, fissuras, calosidades ou ulcerações, entre outros.

- Orientar realização de massagem com solução hidratante, para diminuir o ressecamento da pele e ativar a circulação sanguínea.

- Orientar o uso de vestuário e calçados adequados, por exemplo: utilizar sapatos ajustados, confortáveis e fechados, podendo utilizar palmilhas para a proteção de pontos de pressão, manter o lençol da cama esticado.

- Avaliar os fatores de risco dos pacientes em toda visita domiciliar como: força de cisalhamento, umidade, desnutrição, anemia, infecção e outros.

I.C., 72 anos, sexo feminino, com diagnóstico de Alzheimer e Acidente Vascular cerebral, acamada, apresentou a integridade da pele prejudicada com pele ressecada, lesão por contato no quadril e assadura na genitália. Foi elaborado um plano de intervenção a ser implementado juntamente com a irmã da paciente (cuidadora principal) contemplando a mudança de decúbito, curativos na lesão do quadril, troca de fraldas frequentes e boa higiene da genitália. Após a implementação desses cuidados, através do acompanhamento semanal de I.C. percebeu-se a melhora e o avanço no processo de cicatrização da lesão em quadril, e o tratamento da assadura, restaurando a integridade da genitália 

Considerações Finais

Os diagnósticos de enfermagem orientam as ações realizadas com os pacientes e proporcionam maior segurança na condução dos casos, configurando-se numa referência para o cuidado a ser prestado. Nos pacientes com DCNTs deste estudo, alguns diagnósticos de enfermagem se repetiram, demonstrando que algumas necessidades de cuidados são comuns nesses indivíduos. As intervenções propostas em cada caso mostraram-se efetivas, resultando sempre em mudanças no enfrentamento da doença pelos pacientes e suas famílias. Tal fato demonstra a importância do acompanhamento desses indivíduos, assim como do apoio e da assistência individualizada proporcionada pelo projeto.

Nesse sentido, pode-se perceber que à medida que o indivíduo e a família são esclarecidos sobre suas próprias condições de saúde e orientados quanto as suas necessidades e capacidades, estes, com o auxílio dos alunos e dos profissionais enfermeiros, buscaram atender suas necessidades, compreendendo-se como parte fundamental no processo de controle e enfrentamento da doença, o qual se mostrou mais ameno e superável através das orientações, atividades e encaminhamentos recebidos através da participação no referido projeto.

A educação em saúde pode ajudar esses indivíduos a se adaptarem a doença, prevenir complicações atender a terapia prescrita e resolver problemas quando confrontados com novas situações. Pode também prevenir uma nova hospitalização resultante de uma informação inadequada sobre autocuidado. A meta da educação em saúde é ensinar as pessoas a viverem a vida de maneira mais saudável possível.

Sendo assim, a prática do diagnóstico de enfermagem e a implementação de um plano de cuidados, se constituem numa importante ferramenta do cuidado.

 

Referências

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17. Vigo KO, Pace AM. diabético: estratégias para prevenção. Acta Paul Enferm 2005;

18(1): 100-9.

 

Contribuição dos autores:
- Concepção e desenho
: 1,2,3                                   - Análise e interpretação: 1,2,3

- Escrita do artigo: 1,2,3                                           - Revisão crítica do artigo: 1,2,3
- Aprovação final do artigo:3                                    - Coleta de dados: 1,2        

- Obtenção de suporte financeiro: 3                         - Pesquisa bibliográfica: 1,2
- Suporte administrativo, logístico e técnico: 3 

Endereço para correspondência: Elen Ferraz Teston. Rua Luiz Vignoli, 597 apto 2. Centro. Jandaia do Sul – Paraná. CEP: 86900-000. E-mail: elen-1208@hotmail.com.