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Reading as a method of humanized care in the pediatric neurological clinic: A qualitative study

A leitura como método de cuidado humanizado na clínica neurológica pediátrica: um estudo qualitativo 

Regina Célia Carvalho da Silva1, Emanuela de Norões Brito Oliveira2, Maristela Inês Osawa Chagas1, Sandra Maria de Melo Sousa2, Thamy Braga Rodrigues2, Dayse Paixão e Vasconcelos2.

1Universidade Estadual Vale do Acaraú, Ce, Brasil; 2Santa Casa de Misericórdia de Sobral,Ce,Brasil.

Abstract. Problem: Humanizing in health care, is the act of understanding each person in terms of individuality. The humanized care requires new organizational arrangements that must give account of this new reality and technologies relationships necessary for the development of comprehensive health care. Objective: The objective of this study was to know the opinion of the accompanying parent of children and health professionals about the influence of the reading circle on the treatment of the hospitalized children’s. Methods: The study with qualitative approach which the participants were four mothers with hospitalized children along with 10 health professionals who assisted directly the hospitalized kids. The activities were reading and telling stories complemented by drawings. In order to finish the data collection we used the semi-structured interview, observation and the medical records. Results: It was noticed that mothers considered the reading as a strategy of facing the hospitalization, transforming the children behavior. The health professionals exposed their belief in reading therapeutic assistance in the children’s recovery. Conclusion: The therapeutical function of reading proved to be an effective tool. In terms of facing the health problem and in the relief of the tension that the hospitalization event cause to the children and to the accompanying parents.

Keywords: Humanization of Assistance; Pediatric Nursing; Reading 

Resumo. Problema: Humanizar na atenção à saúde é entender cada pessoa em sua singularidade. O cuidado humanizado requer novos arranjos organizacionais que devem dar conta dessa nova realidade e de tecnologias das relações necessárias ao desenvolvimento da assistência integral à saúde. Objetivo: O objetivo deste estudo foi conhecer a opinião dos acompanhantes das crianças e dos profissionais de saúde sobre a influência do círculo de leituras no cuidado à criança internada. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa, onde os sujeitos foram quatro crianças e seus acompanhantes além de 10 profissionais de saúde que assistiram diretamente estas crianças. Tais atividades foram através de leitura e contação de histórias complementadas por desenhos. Para a coleta de dados utilizamos a observação participante, entrevistas semi-estruturadas e registro dos profissionais nos prontuário. Resultados: Evidenciou-se que as mães consideraram a leitura como estratégia para o enfrentamento da hospitalização, transformando o comportamento da criança hospitalizada, já os profissionais de saúde demonstraram acreditar na leitura como auxílio terapêutico na recuperação da criança. Conclusão: A função terapêutica da leitura mostrou-se uma ferramenta eficaz no enfrentamento da doença e no alívio às tensões que o evento da hospitalização traz para a criança e acompanhantes.

Palavras-chave: Humanização da Assistência. Enfermagem Pediátrica. Leitura.

1. Introdução

Humanizar na atenção à saúde é entender cada pessoa em sua singularidade, tendo necessidades específicas, e, assim, criando condições para que tenha maiores possibilidades para exercer sua vontade de forma autônoma. É tratar as pessoas levando em conta seus valores e vivências como únicos, evitando quaisquer formas de discriminação negativa, de perda da autonomia, enfim, é preservar a dignidade do ser humano1.

Em se tratando de humanização do ambiente hospitalar, tem-se observado esforços dos hospitais em amenizar o cotidiano da criança internada. O uso de cores, mobiliário infantil, ilustrações decorativas, brinquedotecas são estratégias que os hospitais têm adotado para adequar o ambiente hospitalar às necessidades psicossociais da criança. No entanto, os aspectos relacionais da integralidade do cuidado têm sido tarefa difícil na implementação de políticas de humanização mais efetivas.

A hospitalização, no entanto, pode ser uma experiência mais negativa para a criança do que a doença. Devido a mudanças da rotina e do sono, higiene e hábitos alimentares, o hospital pode desencadear sentimentos como angústia, medo e ansiedade, tornando-se um fator de risco para a saúde mental da criança2. Dessa forma inúmeros estudos2,3,4,5 têm demonstrado a importância da expressão lúdica como importante estratégia de aproximação dos profissionais de saúde com o mundo da criança no momento do sofrimento. Além de permitir que a criança compreenda seu próprio sofrimento a partir da significação como um ser capaz de expressar-se.

Porém, acreditamos que o profissional envolvido no processo de cuidar deva participar ativamente da construção de uma proposta de cuidado humanizado, tendo consciência da realidade, do seu estado existencial e de sua própria capacidade transformadora. Quando o profissional de saúde é capaz de refletir sobre as condições e relações de trabalho e o seu modo de agir, pode inserir-se na realidade de uma maneira mais crítica e consciente.

O trabalho em saúde não pode ser expresso, apenas, através dos equipamentos e dos saberes tecnológicos estruturados. Há uma necessidade de expressão através das tecnologias das relações, de encontro de subjetividades, o que permite um grau de liberdade significativo na escolha do modo de fazer6.

Destacamos tecnologias que, utilizadas nos serviços de saúde, não têm custo e fazem diferença no cuidado, com interesse cada vez maior de focalizar a humanização, estimulando a reflexão sobre formas ao mesmo tempo efetivas e afetivas de cuidar7. As histórias infantis são ótimas ferramentas e podem ser utilizadas para trabalhar aspectos da psicologia infantil (imaginação, raciocínio, criatividade etc), para transmitir valores (ética, amor, respeito, paz, cooperação etc), promover a cultura e disseminar informações. Desse modo, contar histórias pode assumir uma dimensão que vai muito além do simples entretenimento8.

O objetivo deste estudo foi conhecer a opinião dos acompanhantes das crianças e dos profissionais de saúde sobre a influência do círculo de leituras no cuidado à criança hospitalizada.

2. Metodologia

Estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa realizada na Unidade Pediátrica do Serviço de Neurologia da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Os sujeitos do estudo foram quatro mães acompanhantes e 10 profissionais de saúde que atuaram diretamente no cuidado às crianças hospitalizadas.

Participaram do círculo de leitura as crianças com idade escolar internadas na Unidade de Neurologia Pediátrica. Foram excluídas as crianças que estavam em situação de coma ou outras enfermidades graves e que possuíssem incapacidade auditiva. Houve solicitação de consentimento livre e esclarecido para os pais das crianças envolvidas no estudo.

As técnicas utilizadas para coleta de dados foram os registros fotográficos realizados durante as leituras, notas de diário de campo com registros sistemáticos sobre o funcionamento do círculo de leitura e entrevistas com os profissionais de saúde e a mãe acompanhante.

No total foram realizadas 14 entrevistas, sendo quatro com mães acompanhantes e 10 com profissionais da equipe de enfermagem do Serviço de Neurologia. As informações das entrevistas obtidas foram gravadas, transcritas e analisadas por meio da elaboração de categorias temáticas, as quais reúnem e organizam os principais temas e assuntos comuns encontrados nas respostas dos diversos sujeitos da pesquisa9,10.

Foram respeitados os aspectos éticos e legais da pesquisa e apresentado o termo de consentimento pós-informação para os sujeitos do estudo. Em consonância com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde11, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acaraú (através do protocolo de pesquisa de número 605), recebendo parecer favorável.

3.  Apresentação e Discussão dos Dados

A análise dos discursos das mães possibilitou a construção de duas categorias temáticas: a leitura como estratégia para o enfrentamento da hospitalização e influências dos círculos de leitura nas crianças e em seus acompanhantes.

         Com relação à opinião das mães acompanhantes, percebemos claramente que elas consideraram a leitura como estratégia para o enfrentamento da hospitalização, uma vez que as mesmas atribuem às atividades realizadas momentos de prazer, conforto e descontração. Como podemos perceber no depoimento que se segue:

É importante, assim, porque as crianças brincam e se divertem. Às vezes tem menino triste, que pensa na história e se anima, se esperta. Ajuda na internação pro tratamento, porque eu vejo como é lá em casa, eu vejo ela triste e canto logo pra ela se animar, aqui nos hospital com essas coisas que foi feita, ela se animou mesmo. Ajuda, porque acho que a tristeza pode até piorar o problema. [M1]

 

Para as mães, a leitura e as atividades relacionadas, como pintura e desenhos, auxiliaram as crianças, tanto na aceitação da necessidade de estarem hospitalizadas para o restabelecimento da sua saúde, como tornando a experiência menos traumatizante.

As diferentes fontes de estresse vivenciadas pela criança hospitalizada são a ansiedade da separação, como também o medo da dor, dos procedimentos, de ficar longe da mãe e a falta de controle sobre as situações, inclusive de seu corpo12. No centro desta questão está representada a vulnerabilidade da criança na vivência da hospitalização. Abrangem aspectos inevitáveis da experiência e as dificuldades que a acompanham, como a convivência com a dor e o mal-estar, a submissão a restrições e a realização de inúmeros procedimentos dolorosos, invasivos e geralmente desconhecidos.

A partir dessa interpretação, a promoção da leitura, na ótica dos nossos entrevistados, pode ser uma ferramenta significativa para lidar com questões, tais como: a adesão ao tratamento, o estabelecimento de canais que facilitem a comunicação entre a criança e o profissional de saúde, e a manutenção dos direitos da criança13, proporcionando, inclusive, o ambiente mais aceitável para a percepção da criança.

Ela se divertiu muito. Tava tão triste, depois que ouviu a historinha e brincou com você se tornou mais alegre. Acho que até esqueceu que tava no hospital. Ajuda porque ela vai se sentir mais alegre. Hoje até a comida ela comeu melhor. Acho que não é só remédio que trata. Fica muito mais feliz e até aprende mais. [M3]

 

A forma como a experiência da hospitalização é manejada pela equipe hospitalar, aliada à incapacidade da criança em lidar com o abstrato, com a temporalidade dos fatos e com as relações de causa e efeito, fazem com que a experiência seja de difícil compreensão e, portanto, misteriosa e aterrorizante, levando a criança, que já é fisicamente muito menos que o adulto, a perceber-se realmente como pequena perante a essa experiência12.

O brincar facilita o acesso à atividade simbólica e à elaboração psíquica de vivências do cotidiano infantil. Mediante os jogos simbólicos, a realidade externa pode ser assimilada à realidade interna, nesse caso específico, auxiliando a criança a lidar com o seu adoecer e a hospitalização, e revelando novas possibilidades para uma assistência mais criativa e humanizada4.

No hospital, o livro deve ser utilizado para recrear, estimular, socializar e também cumprir sua função terapêutica. Assim, por meio da leitura de contos, a criança alivia a ansiedade gerada por experiências atípicas para sua idade, que costumam ser ameaçadoras e requerem mais do que recreação para resolvê-las, devendo ser usado sempre que ela tiver dificuldade em compreender ou lidar com a experiência.

Acho que ficar no hospital ficou mais fácil, porque quanto mais minha filha tá lendo, mais tá aprendendo. Tudo ajuda a tratar. Porque o tempo que tão lendo e desenhando, tão aprendendo mais. Ficam mais consciente do que tão fazendo ali e esquecendo a saudade de casa. Saudade de pai e mãe atrapalha. [M4]

 

Cultivar o imaginário ajuda a minimizar a dor da criança. Interagir com os personagens, vibrar com suas conquistas, emocionar-se com os contos, faz com que as crianças percebam que, assim como seus heróis, elas também têm que enfrentar grandes desafios, que no caso é a hospitalização.

         Sobre o comportamento das crianças envolvidas nos círculos de leituras, as acompanhantes destacaram que a criança hospitalizada revelou alterações positivas no ânimo e comportamento após atividades de leitura e desenho realizadas na enfermaria neurológica pediátrica, como podemos observar nas verbalizações que se seguem.

Com certeza o jeito dela mudou. Mesmo sendo uma menina especial, fica mais alegrinha, mais feliz. [A1] 

Eu notei que ele ficou mais alegre e “intertido”. Gostou bastante. Acho que vai perder o ano da escola, mas fez gostar de novo dos livros. Ela fica mais alegre né, assim que ela chegou tava triste. Agora ela tá mais contente aqui. [A2] 

         Percebemos que com atividades que ofereçam suporte e acompanhamento humanizado, as crianças hospitalizadas podem vivenciar o momento da internação de forma amena, com melhor preservação de sua integridade emocional.

A interação da criança com as atividades de leitura aparece como sinal de recuperação da saúde, na perspectiva das mães. Dessa forma, ver os filhos brincando permitiu às mães sentirem-se menos angustiadas podendo, inclusive, relacionarem-se de maneira mais confiante com as crianças. Isto se mostrou com mais evidência nos casos nos quais as crianças eram portadoras de doenças crônicas. O fato de brincarem representava para as mães um aspecto saudável, mesmo diante da doença. Este aspecto também pode ser observado nas crianças com neuropatias. Através do brincar a criança se vê possibilitada de transpor as limitações impostas pela doença e pela hospitalização. Dessa forma, o brincar revela o aspecto saudável da criança, o qual pode ser percebido pela mãe que, por sua vez, também se sente menos ansiosa e fortalece o vínculo com o filho e a equipe2,8.

Eu notei mais alegria nela, fica mais atenta, não procura só pela mãe ou fica perguntando pelo pai. Ela antes ficava me perguntando se eu tava com saudade de casa. Agora não mais. Acho que até esqueceu a saudade. [A4]

         A infância é um período de grande importância no desenvolvimento do ser humano, tanto nos aspectos biológicos como psicossociais e cognitivos. O desenvolvimento e o crescimento da criança não dependem apenas da manutenção biológica, mas das condições do meio ambiente14.

Internada, a criança sofre uma ruptura com seu cotidiano, desencadeadora de perda severa de segurança emocional, como se ela ficasse subitamente em déficit com o mundo: separa-se da família, da residência, do bairro, dos amigos e começa a experimentar uma incerteza. Tal experiência acarreta problemas não só para criança, mas para toda a família14.

         Com relação à análise dos discursos dos profissionais de saúde, destacou-se a crença na importância da promoção da leitura durante o período de hospitalização. A partir dessa interpretação, a promoção da leitura na ótica dos nossos entrevistados pode ser uma ferramenta significativa para que se obtenha subsídios para trabalhar com questões, tais como: a integralidade da atenção; a adesão ao tratamento e o estabelecimento de canais que facilitem a comunicação entre o profissional de saúde a criança e seu acompanhante. Como vemos nos próximos depoimentos:

Sim, porque as crianças não fazem nada, só ficam deitadas, né? Aí assim já é uma influência para cada vez mais ela a ter vontade de ir para casa, de ficar boa logo. [P4] 

Martins e Paduan apontam para a importância do brincar no ambiente hospitalar não apenas como forma de distrair ou minimizar os efeitos negativos da hospitalização, mas como importante atividade para o desenvolvimento psicossocial, e observaram, ainda, o despreparo dos profissionais de saúde para lidarem com a temática15.

Eu acho que sim, porque a gente nota principalmente as crianças que passam mais tempo sentindo dor. Ele entrou aqui não era nem sentindo dor, mas era aquela tortura, aquele desconforto de não poder fazer nada. À medida que ele vai sendo acompanhado por uma atividade assim, mais relaxante, ele melhora do quadro. [P6] 

Neste contexto, aparecem os recursos lúdicos no hospital sendo utilizados muitas vezes apenas para funções de distração e de proporcionar conforto, visto que o brinquedo, quando trazido de casa, por exemplo, torna-se uma referência da família, do ambiente do qual a criança viu-se obrigada a se separar. Contudo, este estudo vem mostrar, na perspectiva dos profissionais, que o lúdico quando utilizado como veículo de aproximação do mundo da criança pode somar-se e contribuir mais efetivamente com os demais meios terapêuticos utilizados. Para além de distrair a criança, os profissionais também consideraram a leitura como um auxílio terapêutico durante o período de hospitalização.

 

Eu acho que sim, eu acho que influencia muito no tratamento, porque a criança que fica ali deitada, triste, eu acho que ela tende até a piorar porque, com leitura desenho essa coisas, brincadeira, ela estimula mais a imaginação, isso eu acredito que influencia muito no tratamento e na recuperação. [P3]

Ajuda, com certeza ajuda. Porque qualquer maneira de cuidar, de dar atenção ao paciente, tudo isso é causa de ajuda para a recuperação do paciente, principalmente quando se fala de criança. [P6] 

O lúdico é percebido, por alguns, como instrumento para garantir a própria adesão ao tratamento. Torna-se um meio de comunicação, no sentido de levar a informação relativa ao adoecimento e tratamento numa linguagem acessível à criança e sua família.

         Nesse sentido, a leitura passa a ser vista como um espaço terapêutico capaz de promover não só a continuidade do desenvolvimento infantil, como também a possibilidade de, através dela, a criança hospitalizada sentir-se capaz de melhor absorver esse momento específico em que vive16.

         Tratando-se de crianças hospitalizadas, acreditamos que a implementação do círculo de leitura tem um importante valor terapêutico, influenciando no restabelecimento físico e emocional, pois pode tornar o processo de hospitalização menos traumatizante e mais alegre, fornecendo melhores condições para a recuperação. No entanto, é necessário grande responsabilidade e conhecimento dos profissionais envolvidos, em especial o enfermeiro que lida direta e continuamente com a criança internada, pois não se trata de ler para passar o tempo, ler para distrair, requer compreensão da medida certa e do momento adequado de envolver a criança nas atividades.

    De jeito nenhum que tratamento é só remédio e curativo. Acho que leitura, pintura, fazer qualquer outra atividade fora ajuda. Não é só a medicação que auxilia no tratamento não. Essa outra parte melhora muito bem o desenvolvimento. [P11] 

         As ferramentas lúdicas devem ser utilizadas como coadjuvantes na busca de uma assistência humanizada, no entanto, a mudança de atitude do profissional que promove ações de cuidado centradas no bem-estar do paciente e da família é que vai caracterizar uma assistência menos tecnicista. Essas ferramentas, por sua vez, vêm auxiliar nas esferas diagnóstica e intervencionista no exercício do trabalho com crianças, pois através destes recursos, a criança não somente expressa as formas que estabelece em lidar com emoções, como também, por meio desses e com o auxílio de alguém capacitado para sugerir e clarificar estratégias, esta criança consegue elaborar os diversos significados dos conteúdos que emergem na situação de hospitalização e consegue obter melhorias na forma de lidar com suas emoções17.

Cada trabalhador, cada equipe, cada instituição deverá ter seu processo singular de humanização. Toda medida para modificar padrões de atitudes, comportamentos e valores, como são as propostas de humanização da assistência hospitalar, envolve um processo de conscientização e sensibilização, que pode ser demorado e exigir empenho conjunto de usuários, trabalhadores, governo e sociedade.

Portanto, para minimizar ou evitar os traumas da hospitalização, o ambiente hospitalar para as crianças não pode se limitar ao leito, devendo a unidade pediátrica fornecer condições que atendam às necessidades físicas, emocionais, culturais, sociais, educacionais e de desenvolvimento da criança. Daí, a necessidade de criar um ambiente recreativo, contendo livros, jogos e brinquedos seguros para estimular a autoexpressão da criança, além de promover a consciência de enfermeiros e os pais que o brinquedo terapêutico é uma parte muito importante da vida das crianças como um componente essencial dos cuidados de enfermagem holística18,19.

4. Considerações Finais

         A necessidade de se falar de humanização no atendimento em saúde surge quando se constata que a evolução científica e técnica dos serviços de saúde não têm sido acompanhadas por um avanço correspondente na qualidade do contato humano. Percebe-se que, em muitos ambientes hospitalares, o diagnóstico e os procedimentos de tratamento dispensam, definitivamente, qualquer iniciativa para melhorar o contato interpessoal, o conforto e a qualidade de vida do paciente.

Acreditamos que a implantação de programas de humanização hospitalar é uma tarefa nunca terminada, devemos buscar sempre o seu aprimoramento. Técnicas simples e complementares ao cuidado de enfermagem podem fazer diferença na assistência prestada, valorizando a atenção e a relação enfermeiro-paciente-familiar.

Como vimos, a promoção da leitura e do brincar na hospitalização infantil pode facilitar a continuidade da experiência de vida do sujeito. Para além desse significado percebido, propomos que o brincar nesse ambiente também seja um espaço revelador da vida social na qual essa criança se insere.

Destacamos, porém, que o círculo de leitura é uma das tantas outras ferramentas utilizadas na humanização do ambiente hospitalar, mas que isoladamente não evidenciará nenhum efeito positivo no cuidado. Compreendemos que humanizar ambiente hospitalar infantil requer a associação de ferramentas lúdicas, mudanças de atitudes dos profissionais e o respeito à individualidade da criança. 

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