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Health promotion and nurse facing newborn pain in the neonatal unit: an exploratory-descriptive study

 Promoção da saúde e o enfermeiro frente à dor do recém-nascido na unidade neonatal: estudo exploratório descritivo

Ana Luiza Paula de Aguiar Lélis1, Leiliane Martins Farias1, Cristiana Brasil de Almeida Rebouças1, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso1.

1 Universidade Federal do Ceará, CE, Brasil.

 Abstract. Introduction: Health promotion in neonatal intensive care unit (NICU) can be disclosed from the humanized care to the newborn. Objective:The objective was to analyze the nurse's perception about the pain of the newborn through the VAS and PIPP scales during venipuncture. Method: Exploratory-descriptive study and observational, held in the NICU of a public hospital in Fortaleza-CE, in may/2010. The subjects were 19 newborns and 18 nurses, venipunctures totaled 54. The collect took place from the systematic observation and non-participatory. Results:There wasn't equivalence in 68.5% of the responses between VAS and PIPP scales values, showing that the perception of nurses regarding pain in neonates is not associated with actual pain demonstrated. Implications on nursing: It's necessary that nurses improve their knowledge about pain management and pain scales, thus leading to greater awareness about the pain in the newborn painful procedures.

Keywords: health promotion; pain; infant, newborn; nursing.

Resumo. Introdução: A promoção da saúde na unidade terapia intensiva neonatal (UTIN) pode ser desvelada a partir do cuidado humanizado ao recém-nascido (RN). Objetivo: analisar a percepção dos enfermeiros acerca da dor do RN através das escalas VAS e PIPP durante a punção venosa. Metodologia: Estudo exploratório-descritivo e observacional, realizado na UTIN de um Hospital Público de Fortaleza-CE, em maio/2010. Os sujeitos foram 19 recém-nascidos e 18 enfermeiras, as punções venosas totalizaram 54. A coleta realizou-se a partir da observação sistemática e não participativa. Resultados: Os valores com base na PIPP e VAS não demonstraram equivalência entre as respostas em 68,5%, mostrando que a percepção das enfermeiras frente à dor do RN não se relacionou com a dor real demonstrada. Implicações para enfermagem: a necessidade dos enfermeiros em aprimorar seus conhecimentos sobre o manejo da dor, e por sua vez nas escalas levando assim a uma maior percepção quanto à dor do RN em procedimentos dolorosos.

Palavras-chave: promoção da saúde; dor; recém-nascido; enfermagem.

 

Introdução

 O internamento em unidade hospitalar, de maneira geral, é um momento permeado de preocupações e anseios, onde se busca principalmente a cura e a recuperação da saúde sem sofrimento ou complicações significativas1.

 Para o recém-nascido (RN) internado, o ambiente da unidade de terapia intensiva (UTIN) é necessário para manter sua sobrevida. Entretanto, existe uma incongruência quando se percebe que essa unidade é um ambiente inóspito, barulhento, com intensa luminosidade e desconforto, onde o RN é submetido a procedimentos invasivos e dolorosos para fins diagnósticos e terapêuticos2.

 Entre os numerosos procedimentos que envolvem o internamento do RN na UTIN, a punção venosa periférica é um dos mais realizados, devido à constante necessidade de coletar sangue para exames, infusão de medicamentos e soroterapia. As punções representam, aproximadamente, 85% de todas as atividades executadas pelos profissionais de enfermagem3.

 Por isso, a necessidade do profissional enfermeiro saber reconhecer os sinais de dor e desconforto vivenciado pelos bebês no momento da punção venosa. Tal reconhecimento sofre limitação pelo caráter subjetivo do sintoma da dor. Por isso, foram criadas as escalas de dor, cujos métodos multidimensionais permitem a avaliação e busca do máximo de informações a respeito das respostas individuais a dor, através das interações com o ambiente4.

Destacam-se as escalas Visual Analogue Scale (VAS) e a Premature Infant Pain Profile (PIPP). A escala VAS é um instrumento de medida em que o paciente sugere sua percepção a partir da evolução das categorias (nenhuma, moderado e severo) a partir de uma linha horizontal de 100 mm (10 cm), onde nas extremidades estão ancoradas as palavras “sem dor” e “dor extrema”. Pode ser usada com qualquer público, sendo uma forma de comunicação de percepção de dor entre paciente e enfermeiro5.

A escala PIPP apresenta sete fatores a serem observados, cada um deles variando de 0 a 3 pontos: idade gestacional, estado comportamental, aumento da freqüência cardíaca, queda da saturimetria, protuberância da testa, olhos espremidos e sulco nasolabial. A soma aritmética da pontuação de cada um dos sete fatores será o resultado final, variando de 0 a 21 pontos. Maiores números indicam dores mais acentuadas, a diminuição em dois ou mais pontos nessa escala pode ser considerada clinicamente relevante6.

A partir do paradigma de que a enfermagem cuida do bebê de maneira integral, a qualidade de vida no cenário neonatal pode ser desvelada ao compreender a integralidade como um dos pilares de se promover saúde em qualquer contexto. Promoção da saúde no ambiente hospitalar significa a transformação do cuidado de cunho individualista e centrado na doença para o paradigma fundamentado no cuidado holístico do RN. Dessa forma, os profissionais interagem com a criança e sua família, desenvolvendo o vínculo com o sujeito e melhorando a qualidade de vida desta clientela7.

A perspectiva do reconhecimento do sofrimento e da dor do RN como instrumento de humanização do cuidado, insere-se na promoção do bem-estar dessa criança no ambiente neonatal. Nesse contexto, tendo por base conhecimentos de promoção da saúde apreendidos durante a disciplina Enfermagem e as Bases Teóricas da promoção da saúde do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), surgiu o interesse em avaliar como a equipe de enfermagem trabalha o princípio da integralidade na UTIN.

Nessa problemática, suscitam-se alguns questionamentos: O profissional enfermeiro tem a percepção real da dor do RN? Como ele reconhece a dor do RN?

Por isso, o presente estudo se propõe a analisar a percepção do profissional enfermeiro acerca da dor do RN através das escalas VAS e PIPP durante a punção venosa; e comparar o resultado de avaliação da dor no RN com base na escala VAS e PIPP.

Metodologia

Estudo do tipo exploratório e descritivo. Realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de um hospital público de referência em neonatologia da cidade de Fortaleza-Ceará, no mês de maio de 2010.

Os sujeitos consistiram em 19 recém-nascidos internados e 18 enfermeiras atuantes na UTIN. Avaliou-se 54 punções venosas para a coleta de sangue do RN. Destaque-se que alguns RN foram selecionados mais de uma vez para observação, pois como a finalidade do estudo foi analisar a percepção da enfermeira acerca da dor do RN, a repetição da criança não interferiu em sua percepção no reconhecimento da presença dos sinais de dor demonstrados pelo RN durante a punção. Ressalte-se que a repetição da coleta de sangue no mesmo RN não foi intencional, e sim pela necessidade de saúde e da rotina do serviço em estudo.

Pode-se constatar que todas as 54 punções venosas para coleta de sangue observadas na UTIN em estudo foram realizadas por enfermeiras. Observamos que, conforme a rotina do serviço neonatal do hospital, técnicos e auxiliares de enfermagem não desempenham esse procedimento.

Para a seleção, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: enfermeira que estivesse de plantão na unidade estudada no momento da coleta; RN internados na UTIN, independente de seu diagnóstico, idade gestacional e tempo de internação, que necessitaram de punção para coleta de sangue durante o período de internação; RN monitorizados com oxímetro de pulso; RN com Apgar superior a seis no quinto minuto de vida; RN clinicamente estáveis.

Como caráter de exclusão foram considerados os RN com doenças congênitas do sistema nervoso, malformações ou prejuízos neurológicos; RN em uso de medicamentos que interferissem na percepção da dor (nocicepção), tais como analgésicos opióides; RN cujas mães estivessem em uso destes medicamentos, em caso de amamentação e RN cuja mãe era usuária de drogas.

 A caracterização dos participantes foi apresentada de forma descritiva. Os dados dos recém-nascidos foram baseados nas informações retiradas dos prontuários, como data de nascimento, Apgar, peso ao nascer, sexo, idade gestacional, hipótese diagnóstica e tempo de internação. Por sua vez, a caracterização das enfermeiras foi obtida mediante as informações da categoria profissional, tempo de serviço na UTIN e cursos pós-graduação em enfermagem.

Para a coleta de dados referentes à percepção das enfermeiras na identificação da dor dos RN durante a punção venosa, foi utilizada pelas autoras a escala VAS, e como escala comparativa foi usada a PIPP junto aos RN que foram puncionados pelas enfermeiras em estudo. Foi adotada a técnica de observação direta não participativa e sistemática.

 A escala VAS foi aplicada à enfermeira do serviço após a punção, que marcou um X ao longo da linha horizontal de 10 cm, o que representou em sua opinião a intensidade da dor do RN no momento da coleta de sangue, em seguida com uma régua pode-se quantificar o escore de dor em cm, e representá-la em porcentagem (%)8.

A escala PIPP baseou-se em escores que variaram de 0 a 21, de acordo com o somatório da pontuação sugerida para cada indicador. Total de escores entre seis e doze pontos indica dor leve, enquanto que escores superiores a 12 pontos apontam a presença de dor moderada a intensa.

Com base na comparação dos resultados das escalas, buscou-se avaliar se a manifestação da enfermeira, por meio da escala VAS apresentou resposta igual a apresentada pela escala PIPP. Caso essa relação entre as respostas acontecesse, mostraria uma concordância de percepção à dor do RN durante a punção venosa para coleta de sangue.

Os resultados das avaliações de dor pelas escalas citadas, bem como as comparações dos resultados de dor dos RN nas punções venosas realizadas pelas enfermeiras, foram organizados através de tabelas e gráficos, e analisados através de literatura relacionada ao tema.

Para uma análise estatística de uma possível relação linear entre os valores encontrados na escala PIPP na escala VAS, realizou-se um teste de correlação linear por meio do coeficiente r de Pearson9. Utilizou-se para os cálculos o software Microsoft Excel versão 2000.

A proposta de pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição em estudo, com parecer nº 050505/10, respeitando-se os princípios éticos da pesquisa com seres humanos. Ressalta-se que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi aplicado tanto para as enfermeiras com também para as mães dos recém-nascidos selecionados para punção venosa.

Resultados

Caracterização dos participantes do estudo

Dos 19 RN, 13 eram do sexo feminino e 6 do masculino, com média de 1594g de peso ao nascer. A idade gestacional variou de 28 a 38 semanas e 4 dias.  Predominou o diagnóstico médico de prematuridade e a síndrome do desconforto respiratório (SDR).

Em relação às 18 enfermeiras que realizaram as punções venosas, estas apresentaram uma média de cinco anos de experiência na unidade neonatal, variando entre dois meses e 19 anos. Quanto à titulação, 16 possuíam especialização, sendo sete delas em neonatologia; uma é mestranda em enfermagem.

 Percebeu-se também que a maioria das enfermeiras possui pós-graduação em neonatologia, o que possivelmente, pode favorecer o cuidado de enfermagem ao RN, com maior conhecimento sobre os sinais de dor demonstrados pelos RN durante procedimentos dolorosos.

Avaliação da dor pelas enfermeiras segundo a escala VAS

No gráfico 1, observa-se a avaliação da dor realizada pelas enfermeiras com o uso da escala VAS.

Gráfico 1 Avaliação da dor pelas enfermeiras segundo a escala VAS. Fortaleza, 2010. 

Baseando-se no gráfico 1, nota-se que entre 54 coletas realizadas, em 87% dos casos as enfermeiras marcaram na escala VAS que o RN demonstrou sentir alguma dor. Nota-se assim uma percepção quase que generalizada quanto à presença da dor no evento de punção venosa. Em relação à intensidade da dor, entretanto, houve uma maior divergência nos resultados. Em 61% dos casos indicou-se a intensidade da dor como leve, 17% relataram dor moderada e 9% dor intensa. Percebe-se, portanto que a maioria das enfermeiras percebeu a presença de dor no RN durante o procedimento, considerando-a de intensidade leve.

Avaliação da dor dos recém-nascidos de acordo com a escala PIPP

A escala PIPP foi escolhida para ser usada no momento da coleta de sangue pelas pesquisadoras com o objetivo de avaliar a dor do RN durante a punção venosa para a coleta, por tratar-se de um instrumento útil, específico e sensível para a avaliação da dor no paciente neonatal10.

Observou-se os seguintes parâmetros nos RN durante a coleta de sangue: estado de alerta e valores basais nos 15 segundos antes da coleta, e nos 30 segundos após a inserção da agulha na pele como a frequência cardíaca (FC) máxima, SPO2 mínima, testa franzida, olhos espremidos e sulco nasolabial aprofundado. Baseadas nesses indicadores pontuaram-se os escores de dor conforme sugere a escala PIPP.

Tabela 1 – Distribuição dos valores de dor dos RN baseados na Escala PIPP em relação à quantidade de punções venosas. Fortaleza, 2010.

Valores da Escala PIPP (em escores)

Quantidade de punções observadas

              N                              %

0 – 6 (sem dor)

17

31,5

7 – 11 (dor leve)

19

35,2

12 – 21 (dor moderada a extrema)

18

33,3

Total

54

100,0

 De acordo com a tabela 1, 68,5% dos casos observados demonstraram sinais de dor. Embora a intensidade leve da dor se apresente em maior número com 35,2% (19) das observações de punção, o quantitativo da dor moderada a extrema perfizeram 33,3% (18) dos casos, o que demonstra valores semelhantes em relação a intensidade de dor experienciada pelo RN no momento da coleta de sangue com base na escala PIPP.

Comparação dos resultados da escala VAS e PIPP

Os valores da escala VAS e PIPP foram comparados por punção observada, com o intuito de analisar a concordância das respostas de dor entre enfermeiras, com escala VAS, e pesquisadoras, com escala PIPP, no mesmo procedimento da coleta de sangue.

Os resultados do comparativo das avaliações de dor dos RN por punção observada estão apresentados no gráfico 2.

 

Gráfico 2 - Comparação dos valores de dor quanto a concordância de cada caso avaliado entre as escalas VAS e PIPP. Fortaleza, 2010.  

O gráfico 2 mostra que das 54 punções, em 37 delas não houve concordância entre as avaliações realizadas pelas enfermeiras com a VAS e pelas pesquisadoras com a PIPP, o que evidência em não concordância entre as mensurações em 68,5% dos casos.

Gráfico 3 – Comparação dos valores de dor quanto os resultados das escalas VAS (%) e PIPP. Fortaleza, 2010. 

A grande questão que surge a partir do presente estudo é a seguinte: a percepção da dor do RN durante o procedimento doloroso segundo os profissionais de enfermagem está compatível com a escala PIPP?

A partir do gráfico 3, ora apresentado, percebe-se que a relação entre a escala VAS e a escala PIPP mostrou-se dispersos. Poderia se esperar que as duas escalas apresentassem uma forte correlação, ou seja, quanto maior o valor da escala VAS, maior o valor da escala PIPP. No entanto, a correlação, mostrou-se fraca.

Discussão

            Embora o avanço tecnológico proporcione a sobrevida dessas crianças através do incremento de recursos terapêuticos disponíveis no ambiente da UTIN, observa-se o crescente número de manuseios e procedimentos, sendo na maioria das vezes desnecessários e agressivos, a ponto de causarem dor, podendo alterar e desestruturar todo o sistema orgânico do RN11.

O fato da enfermeira ter pós-graduação aumenta a probabilidade desta apresentar maior conhecimento referente ao manejo da dor. Entretanto, enfatizam que mesmo com bom conhecimento teórico no manejo da dor, muitas vezes as enfermeiras não aplicam esses conhecimentos na prática clínica12.

Conforme o gráfico 1, constatou-se  que a maioria das enfermeiras perceberam a presença de dor  e a caracterizaram de intensidade leve.

Quanto à presença de dor nos RN durante procedimentos dolorosos, estudos referem que embora outrora os profissionais de saúde não acreditassem que o RN, principalmente, prematuro, sentisse dor, atualmente sabe-se que estes possuem as vias neurofisiológicas para a nocicepção de dor, desde os receptores periféricos até o córtex cerebral13-15.

Assim, estabelecer uma atitude humana na assistência de enfermagem à dor do RN é uma das alternativas de promover saúde no ambiente hospitalar neonatal, conforme ressalta a Declaração de Budapeste sobre a promoção da saúde em hospitais. Revela a carta que um dos objetivos de se promover saúde é criar ambiente de suporte através de estilo de vida mais humano e estimulante dentro da instituição hospitalar, principalmente junto a pacientes crônicos e/ou com longo período de internação16.

Nesse prisma, a falta de conhecimento das enfermeiras em relação a dor implica em uma avaliação subestimada, com inadequada interpretação, e que por sua vez determinam em intervenções insatisfatórias, submedicação para alívio e inadequado controle da dor17

 Consoante a Tabela 1, ao comparar-se os valores de dor do RN pela PIPP e pela VAS percebe-se que a avaliação realizada pelas enfermeiras identificou que, na maioria das vezes, a punção venosa causa dor e em termos de intensidade a consideram leve. Quanto aos escores da escala PIPP, observou-se uma similaridade de distribuição nas intensidades leve e moderada a extrema, evidenciando que a punção venosa também poderá ocasionar intensidade moderada a extrema e não predominantemente dor leve. Assim, entende-se que há uma distinção nas avaliações realizadas pelas enfermeiras com a VAS e das pesquisadoras com a PIPP.

 Diante disso, pode-se considerar que as enfermeiras subestimaram a dor sentida pelo RN no momento da coleta de sangue, pois quando se observa os valores referentes a escala PIPP não há predomínio da dor leve, e sim uma equivalência de valores entre a dor leve e moderada.

Outra hipótese a ser levantada, seria o fato das enfermeiras se basearem em parâmetros comportamentais como o choro, gemido, agitação, flexão do membro puncionado em detrimento aos fisiológicos, como alterações da frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação de oxigênio, e, possivelmente, tenha limitado a sua avaliação acerca da dor do RN no momento da punção.

 Em relação a forma como ocorre a identificação da dor pela enfermagem, destaca-se que 79,5% reconhecem a dor através de alterações comportamentais, enquanto que apenas 20,5% percebem mediante parâmetros fisiológicos. No entanto, alertam que a avaliação da dor a partir de parâmetros isolados, sem considerar a individualidade e os estímulos que envolvem o RN no momento do procedimento, pode repercutir em julgamento inadequado diante da dor demonstrada14.

Diante disso, alerta-se sobre a necessidade da enfermagem aperfeiçoar seus conhecimentos sobre a dor do RN, tanto para melhorar sua forma de avaliação como também procurar utilizar instrumentos que potencializem suas avaliações diante da intensidade da dor aguda ou crônica sentida pelo RN.

Recomenda-se que a atuação da enfermagem na UTIN proporcione medidas que minimizem o sofrimento e a dor do RN, enfatizando a humanização por meio do reconhecimento e tratamento adequado dos agentes estressores ao binômio bebê-família18.

Nesse sentido, perceber a dor para minimiza - lá sempre que possível, auxilia no desenvolvimento de um cuidado pautado na integralidade, em que a enfermagem amplia seu olhar diante da complexidade do cuidado técnico-científico, com intuito de promover qualidade de vida durante o período de internamento do RN de alto risco.

A integralidade não pode ser definida apenas como uma diretriz básica do Sistema Único de Saúde (SUS), mas pode ser entendida como um conjunto de noções para uma assistência livre de reducionismo, com uma visão abrangente do ser humano, tratando não somente como seres doentes, mas como pessoas dotadas de sentimentos, desejos e aflições19.

De acordo com os resultados do gráfico 2 , observa-se que a percepção da enfermagem frente à dor do RN durante a punção venosa não está de acordo com os valores reais da dor experienciada pelos bebês, por considerar a discordância entre os resultados das escalas VAS e PIPP.

 Essa consideração se faz pertinente, pois a PIPP é um instrumento que analisa de forma multifatorial as manifestações de dor do RN, com parâmetros comportamentais e fisiológicos antes e após o procedimento, assegurando aos avaliadores resultados confiáveis da dor do neonato20.

As práticas das enfermeiras pediátricas no manejo da dor se apresentam distante do ideal, pois as crianças têm, muitas vezes, experimentado dor moderada a grave, sem receber intervenção efetiva frente à dor. Corroborando essa afirmação, estudiosos observaram que a falta de conhecimento sobre o controle da dor pela enfermagem tem sido considerada uma das causas de diagnósticos errôneos bem como tratamentos insatisfatórios diante da dor em pediatria12.

Em estudo realizado em Dallas nos Estados Unidos, o conhecimento e as atitudes de enfermeiras pediátricas em relação à dor foram avaliados por meio de um questionário de inquérito de dor, em que apresentou algumas lacunas de conhecimento em relação a avaliação da dor, da farmacologia dos analgésicos, e do uso de drogas analgésicas e métodos não-farmacológicos 21. Nesse contexto, reconhecer os sinais de dor demonstrado pelo RN durante procedimentos dolorosos é o mínimo que a enfermagem precisa saber para lidar com a dor. Perceber e identificar a dor do RN deve fazer parte da rotina de cuidados desenvolvidos pela enfermagem na UTIN, com a finalidade de aliviar o sofrimento experimentado, e assim minimizando o impacto do internamento para sua vida durante e após a hospitalização.

Atualmente a dor é um parâmetro de extrema importância para a avaliação do paciente especialmente por ser considerada como o 5º sinal vital 22. Nesse momento, ter conhecimento técnico-científico sobre o manejo da dor, e por sua vez fornecer qualidade de assistência e atitude humanizada para a implementação de medidas que promovam o bem-estar do RN é fundamental para realizar cuidado de enfermagem com a finalidade de promover a saúde na UTIN.

Entende-se que a enfermagem tem papel relevante na manutenção das condições da vitalidade dos RN de risco, respaldando suas ações em conhecimentos científicos. Dessa forma, é responsabilidade do enfermeiro da UTIN organizar o ambiente, planejar e executar os cuidados de acordo com a individualidade de cada criança, exercendo assim, uma assistência integral, de qualidade e humanizada18.

Assim, o desenvolvimento da promoção da saúde como uma estratégia de relações que favoreça a re-significação dos propósitos e das ações buscando uma integralidade da assistência aprimora a construção de um novo saber e fazer, e contribui para um “novo olhar” diante do cuidado da dor do neonato na UTIN2.

No gráfico 3, para testar a hipótese9 de uma correlação linear entre a escala VAS e a escala PIPP, adotou-se o coeficiente r de Pearson. Referido coeficiente varia entre 0 (nenhuma correlação) e +/- 1 (correlação total). A correlação é positiva quando as duas variáveis crescem simultaneamente (diretamente proporcionais) e negativa quando o aumento de uma variável implica no decréscimo de outra (inversamente proporcionais). Aplicando-se a fórmula, encontrou-se o valor de 0,364 o que indica uma correlação fraca entre as duas escalas. Em outras palavras, a escala VAS não foi estatisticamente capaz de estimar a dor do RN.

Considerações finais e as implicações para a enfermagem

O estudo tratou de um assunto abrangente e complexo, que delineia a assistência humanizada ao RN, no cenário hospitalar com enfoque na promoção da saúde, utilizando-se como ferramenta duas escalas de dor, VAS e PIPP, e através das quais se buscou perceber a dor do RN no âmbito da UTIN. Considerou-se de grande importância essa análise, visto que nesse período o bebê expressa sua dor essencialmente pela comunicação não-verbal.

A percepção das enfermeiras quanto à dor dos RN não foi fidedigna quando comparada com a escala PIPP, visto que suas análises pontuaram a intensidade leve durante a punção venosa quando comparada com os valores advindos da escala PIPP, que mostrou semelhanças entre dor leve e moderada sugerindo assim uma avaliação subestimada da dor.

Acredita-se que a avaliação difere dos resultados reais devido à análise de dor pela enfermagem ser restrita aos parâmetros comportamentais, o que conseqüentemente limitou sua percepção frente à dor do RN no momento da coleta de sangue.

Essa situação se repetiu quando se comparou a concordância entre os valores das escalas por punção observada, mostrando uma divergência entre as respostas de dor na maioria das coletas. Tais resultados sugerem que a identificação da dor pelas enfermeiras a partir da escala VAS não está de acordo com os resultados mediante a escala PIPP, indicando que pode existir uma limitação quanto a reconhecimento dos sinais de dor manifestados pelos RN pela enfermagem.

Recomenda-se que as enfermeiras aprimorem seus conhecimentos sobre a dor do RN, por considerar que a decodificação da linguagem pelas enfermeiras auxilia no seu correto diagnóstico, e conseqüentemente, favorece a implementação do uso de escalas como forma de monitorizar a dor, visto que esta é considerada pela Sociedade Americana para o Estudo da Dor, como o 5º sinal vital, sendo então realizadas medidas para o alívio e tratamento da dor durante os procedimentos dolorosos.

Tal percepção, possivelmente, permitirá um cuidado de enfermagem holístico, integral e humanizado na UTIN, e por sua vez, no cenário hospitalar. O que representa a transposição do olhar para além do corpo biológico do bebê, visualizando-o também como um ser psicosocioespiritual.

Dessa forma, espera-se que o resultado da percepção da enfermagem frente à dor, motive a promoção de melhores estratégias de enfrentamento da dor durante a hospitalização do RN e família, por meio de ações mais efetivas de humanização que favoreçam a qualidade de vida na UTIN através da diminuição dos diversos estímulos que acometem o RN e que para isso, a enfermagem reveja sua percepção frente à dor nessa população.

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