Ana Paula Hermann1, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin1, Aida Maris Peres1, Lillian Daisy Gonçalves Wolff1, Adriano Furtado Holanda1, Maria Ribeiro Lacerda1
1 Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil.
Abstract. In view of the seven years of creation of the Program of Post graduation degree in Nursing of the Federal University of Paraná (PPGENF-UFPR), this study has as main objective to describe the methodological lines used in the master's degree, in the period from 2002 to 2008. Through bibliographical research, the production of 64 dissertations was verified. The Qualitative Approach was used in 53 of them, in exploratory-descriptive and descriptive studies, in which the predominant philosophical line was the phenomenological. The instruments of data collection more used were semi structured interview and observation. Already the more applied techniques of data analysis were the content analyses and the phenomenological. The quantitative approach was used in seven dissertations, with prominence for descriptive traverse studies, with application of questionnaires and interviews with structured script, and the use of the program Epi-Info for analysis of data. Other four dissertations united the two approaches. The knowledge production generated in PPGENF-UFPR points an effective contribution of the university to the society, with the masters' formation whose dissertations focus several contexts of the nursing practice, from the promotion of the health, prevention of diseases, treatments, rehabilitation until the most complex care.
Key-Words: methodology; academic dissertations; nursing; research in nursing.
Resumo. Tendo em vista os sete anos de criação do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (PPGENF-UFPR), este estudo tem como objetivo principal descrever as linhas metodológicas utilizadas no mestrado, no período de 2002 a 2008. Por meio de pesquisa bibliográfica, constatou-se a produção de 64 dissertações. A abordagem qualitativa foi empregada em 53 delas, em estudos exploratório-descritivos e descritivos, nos quais a linha filosófica predominante foi a fenomenológica. Os instrumentos de coleta de dados mais utilizados foram entrevistas semi-estruturadas e observação. Já as técnicas de análise de dados mais aplicadas foram as análises de conteúdo e a fenomenológica. A abordagem quantitativa foi utilizada em sete dissertações, com destaque para estudos transversais descritivos, com aplicação de questionários e entrevistas com roteiro estruturado e o uso do programa Epi-Info para análise de dados. Outras quatro dissertações uniram as duas abordagens. A produção de conhecimento gerada no PPGENF-UFPR aponta uma efetiva contribuição da universidade à sociedade, com a formação de mestres cujas dissertações focalizam diversos contextos da prática de enfermagem, desde a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamentos, reabilitação até o cuidado mais complexo.
Palavras Chave: metodologia; dissertações acadêmicas; enfermagem; pesquisa em enfermagem.
Introdução
Com o compromisso social da Universidade na formação de mestres e pesquisadores, o PPGENF-UFPR tornou-se uma conquista para os docentes do Departamento de Enfermagem, após sete anos desenvolvendo suas atividades.
Ele tem como objetivo principal formar mestres aptos a exercer o ensino voltado à prática profissional de Enfermagem, congregando a interdisciplinaridade, capacitando-os a desenvolver, praticar e avaliar tecnologias de ensino e de cuidado de enfermagem, por meio de diferentes vertentes do conhecimento. Igualmente objetiva preparar os mestres para a produção de pesquisas vinculadas à prática profissional da Enfermagem, com vistas a aprender e ensinar pesquisando. Têm como área de concentração a Prática Profissional de Enfermagem e como linhas de pesquisa Os Fundamentos Teórico-Filosóficos do Cuidar em Saúde e Enfermagem; Políticas e Práticas de Saúde, Educação e Enfermagem e Saúde e Qualidade de Vida1.
No PPGENF-UFPR são produzidas dissertações, compreendidas como uma das modalidades de literatura científica, que nos últimos anos, com as bibliotecas digitais têm seu acesso facilitado. Portanto, cabe ao pesquisador o compromisso de produzir e divulgar os resultados de suas pesquisas, de aumentar as publicações e de interagir2.
Assim,
para que o conhecimento originado pelas dissertações possa ser considerado
científico, torna-se necessário determinar o método, o conjunto de procedimentos
intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento3.
Deste modo, tem-se como objetivo principal desse trabalho descrever as linhas
metodológicas utilizadas no delineamento das dissertações de mestrado do
PPGENF-UFPR.
Metodologia
A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, isto é, desenvolvida a partir de material já elaborado3, com a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. Compreende oito fases distintas: escolha do tema; elaboração do plano de trabalho; identificação; localização; compilação; fichamento; análise/interpretação e redação4.
Assim, seguindo as etapas propostas por Marconi e Lakatos4, após a escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, identificação e localização dos objetos de estudo, iniciou-se a compilação dos dados, realizada de maio a julho de 2009, por meio da Biblioteca Digital de Dissertações e Teses da UFPR, na qual constam todas as produções do PPGENF-UFPR. A coleta de dados ocorreu da seguinte forma: acesso ao site do PPGENF-UFPR, ao link dissertações e a cada uma delas. Durante a leitura cuidadosa do caminho metodológico percorrido na dissertação, procedia-se à anotação dos dados referentes ao método, instrumentos de coleta de dados e técnicas de análise de dados em uma tabela. Após o término da leitura, esses dados foram organizados e, na sequência, verificou-se a frequência com que apareceram e, posteriormente, foram discutidos com literatura correlata.
Apresentação e Discussão dos Dados
Desde a sua criação em 2002 até o final de 2008, o PPGENF-UFPR contava com 64 dissertações defendidas, dado explicitado no Quadro 1.
Quadro 1. Número de dissertações defendidas no PPGENF-UFPR de 2002 a 2008
Ano |
2004 |
2006 |
2007 |
2008 |
Total |
Dissertações defendidas |
20 |
18 |
16 |
10 |
64 |
Constatou-se que em 53 dissertações, a abordagem foi qualitativa; em sete delas a abordagem foi quantitativa, e em quatro foram utilizadas ambas as abordagens. A seguir, os resultados serão detalhados de acordo com cada abordagem.
Abordagem Qualitativa
Foi na década de 70 que a abordagem de pesquisa qualitativa ganhou relevância5, ao partir do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. Nela o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado6.
Dentre os profissionais com formação universitária na área da saúde, são os pesquisadores da área de enfermagem que têm apresentado grande produção científica no campo da pesquisa qualitativa7. Esse fato revela o interesse da profissão em entender a subjetividade da clientela assistida, em compreender o significado das experiências relativas ao processo saúde-doença vividas nas diversas fases do ciclo vital, o que se reflete na assistência oferecida pelo enfermeiro5.
O tipo de pesquisa e a frequência empregadas nas dissertações de abordagem qualitativa de 2002 a 2008 do PPGENF-UFPR está descrita no Quadro 2.
Quadro 2. Frequência absoluta de como foi classificado o tipo de pesquisa em dissertações de abordagem qualitativa no PPGENF-UFPR, 2002 a 2008
Tipo de pesquisa em dissertações de abordagem qualitativa |
Frequência |
De abordagem fenomenológica |
09 |
Exploratória- descritiva |
09 |
Descritiva |
08 |
Convergente Assistencial |
05 |
Exploratória |
04 |
Etnográfica |
03 |
Estudo de Caso |
02 |
História oral |
02 |
Pesquisa Cuidado |
02 |
Pesquisa Ação |
02 |
Pesquisa Social |
02 |
Participativa |
01 |
Teoria Fundamentada nos Dados |
01 |
Histórica |
01 |
Relato de Experiência |
01 |
Sem especificação |
01 |
Total → |
53 |
Observa-se um predomínio de pesquisas com abordagens fenomenológicas, exploratórias descritivas e descritivas.
A fenomenologia surgiu no início do Século XX, na Alemanha, por Edmundo Husserl, que recebeu influências do pensamento de Platão, Descartes e Brentano. Vários autores foram influenciados por Husserl: Martin Heidegger, Alfred Schutz, Jean Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty. Além da Europa, teve repercussão nos Estados Unidos e, na atualidade, existe em todos os continentes8.
A filosofia fenomenológica manifesta a crise do conhecimento, ao se perceber que os dados objetivos não explicavam o mundo psíquico, emocional. Surgiu, portanto, para suprir esta lacuna. Neste sentido, a fenomenologia critica a filosofia positivista, que reconhecia apenas como correto o conhecimento exato, objetivo, neutro. Consequentemente, a fenomenologia busca redescobrir o sentido global de existir no mundo, ao ressaltar a importância do sujeito no processo da construção do conhecimento9.
Para a Enfermagem, a fenomenologia contribui significativamente ao considerar o homem em seu todo e não em partes9. Com o uso da fenomenologia, a enfermeira pode atuar de uma maneira holística, contribuindo para a qualidade da assistência prestada. Essa aproximação com a fenomenologia aproxima os profissionais do cuidar autêntico, na perspectiva da busca e valorização do ser8.
A segunda classificação mais adotada foi a união das pesquisas exploratórias e descritivas. As pesquisas exploratórias aproximam o pesquisador de determinado fato, são realizadas especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e é necessário desenvolver e esclarecer conceitos e ideias a respeito3.
Já as pesquisas descritivas procuram descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis3.
As pesquisas exploratórias, juntamente com as descritivas, são realizadas habitualmente pelos pesquisadores sociais que estão preocupados com a atuação prática3.
A união dessas duas abordagens foi amplamente utilizada nas dissertações do PPGENF-UFPR de 2002 a 2008, o que evidencia a preocupação dos pesquisadores em explorar situações pouco conhecidas e descrevê-las, concomitantemente, sendo que a terceira classificação mais adotada foi a abordagem descritiva, somente.
Em relação à técnica de coleta de dados utilizadas nas dissertações de abordagem qualitativa, apresentadas no Quadro 3, constata-se que houve um predomínio da entrevista, que é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas no âmbito das ciências sociais e por profissionais que tratam de problemas humanos3.
Quadro 3. Frequência absoluta de técnicas utilizadas na coleta de dados dos estudos qualitativos do PPGENF-UFPR de 2002 a 2008
Técnica na coleta de dados |
Frequência |
Entrevista semi-estruturada |
27 |
Observação, participação, reflexão + entrevista etnográfica |
03 |
Entrevista semi-estruturada + observação não participante |
02 |
Reuniões |
02 |
Grupo focal |
01 |
Entrevistas livres |
01 |
Entrevistas + observação participante + discursos nas oficinas |
01 |
Entrevista semi-estruturada + grupo focal |
01 |
Entrevista + leitura do prontuário + observação |
01 |
Entrevista semi-estruturada + leitura do prontuário + anotações de campo |
01 |
Entrevista semi-estruturada + leitura do prontuário + ficha de registro + observação não participante |
01 |
Entrevista + questionário + observação |
01 |
Entrevista semi-estruturada + reuniões |
01 |
Observação participante + seminários realizados com a equipe |
01 |
Observação sistemática + questionário + análise documental |
01 |
Questionário + círculo de cultura de Paulo Freire |
01 |
Questionário + grupo focal |
01 |
Aplicação do Programa de Enriquecimento Instrumental |
01 |
Discussão de grupo |
01 |
Gravações dos momentos de cuidado em campo + diário do pesquisador |
01 |
Leitura de artigos científicos |
01 |
Leitura do prontuário + prestação dos cuidados + visitas domiciliares |
01 |
Não houve coleta de dados por tratar-se de um relato de experiência |
01 |
Total → |
53 |
A entrevista foi utilizada em 40 das 53 dissertações com abordagem qualitativa, sendo que, em 27 delas, foi o único instrumento para a coleta de dados. Nas demais, esteve associada a outros instrumentos como o grupo focal, observação, questionário, leitura de prontuário entre outros. Todas as entrevistas abordaram aspectos específicos ao seu estudo e algumas utilizaram o próprio instrumento como referencial teórico, como a entrevista fenomenológica e a etnográfica.
A entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado para coletar dados por meio de perguntas3, ela é um dos métodos mais comumente utilizados na coleta de dados10.
As entrevistas captam a subjetividade dos participantes, são, portanto, consideradas como uma técnica especial para a coleta de informações, pois exigem interação entre pesquisador e pesquisado para contextualizar as experiências, vivências, sentidos11.
A segunda técnica de coleta de dados mais utilizada foi a observação, em 11 dissertações, porém sempre aliada a outras técnicas. A observação usa os sentidos com vistas a adquirir determinadas informações3, 4. Ocorre por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista6. Na pesquisa em enfermagem, a observação é um processo ativo pelo qual são recolhidos dados sobre as pessoas, comportamentos, interações ou eventos12.
A etapa posterior à coleta de dados é a análise de dados. Nas dissertações do PPGENF-UFPR de 2002 a 2008, diversas foram as técnicas utilizadas para análise dos dados, apresentadas no Quadro 4.
Quadro 4. Frequência absoluta das técnicas utilizadas na análise de dados das dissertações de abordagem qualitativa do PPGENF-UFPR, de 2002 a 2008
Técnicas utilizadas na análise dos dados |
Frequência |
Análise de conteúdo de Bardin |
09 |
Análise fenomenológica proposta por Martins |
07 |
Discurso do Sujeito Coletivo |
06 |
Análise de conteúdo proposta por Minayo |
03 |
Análise temática de Minayo |
03 |
Análise fenomenológica proposta por Giorgi |
03 |
Categorização |
02 |
Codificação temática |
02 |
Análise segundo método etnográfico de Spradley |
02 |
Análise textual proposta por Moraes |
02 |
Interpretação qualitativa de dados de Minayo |
01 |
Estatística descritiva + análise de conteúdo proposta por Minayo |
01 |
Análise com suporte metodológico em Vygotsky |
01 |
Análise fenomenológica proposta por Martins e Bicudo |
01 |
Análise etnográfica preconizada por Leininger |
01 |
Análise da enunciação |
01 |
Análise segundo referencial de Meihy |
01 |
Análise segundo referencial de Yin |
01 |
Arco de Maguerez |
01 |
Análise descritiva univariada + descrição e sistematização dos dados |
01 |
Distribuição de frequência + Discurso do Sujeito Coletivo + Etapas do Círculo de Cultura de Freire |
01 |
Contextualização com políticas de saúde |
01 |
Teoria Fundamentada nos Dados |
01 |
Total → |
52* |
Nessa etapa das dissertações, a análise de Conteúdo de Bardin, foi a técnica mais utilizada, presente em nove dissertações, seguida pelas propostas de análise de Minayo, utilizadas em oito delas, sendo identificadas como: análise de conteúdo, temática, interpretação qualitativa de dados de Minayo e análise de conteúdo associada à estatística descritiva.
Concebe-se que a análise de conteúdo trata e analisa as informações colhidas por meio de técnicas de coleta de dados. Pode ser aplicada a textos escritos ou de qualquer comunicação e o seu objetivo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas6.
A terceira técnica mais utilizada para análise dos dados foi a análise fenomenológica proposta por Martins, constituída por três momentos: descrição, redução e compreensão.
Abordagem Quantitativa
O positivismo, iniciado por Auguste Comte (1798-1857), era uma corrente filosófica que defendia que a ciência limitava-se a uma visão reducionista da realidade, pois levava em consideração apenas aspectos quantitativos, não se ocupando de aspectos subjetivos da realidade7. Na Enfermagem brasileira, a sua influência pôde ser percebida com a implantação de cursos de pós-graduação, que utilizaram predominantemente essa abordagem. No entanto, a partir da década de 80, surgem na produção científica da Enfermagem, outras concepções teórico-metodológicas13, fato que pode explicar a quantia reduzida de produções - apenas sete - de abordagem quantitativa no PPGENF-UFPR.
Ressalta-se que a análise quantitativa consiste em investigação de pesquisa empírica, cuja principal finalidade é o delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos, a avaliação de programas, ou o isolamento de variáveis principais ou chaves. Qualquer um desses estudos pode utilizar métodos formais, que se aproximam dos projetos experimentais, caracterizados pela precisão e controle estatísticos, com a finalidade de fornecer dados para a verificação de hipóteses. Todos eles empregam artifícios quantitativos tendo como objetivo a coleta sistemática de dados sobre populações, programas, ou amostras de populações e programas4.
Os métodos, instrumentos de coleta de dados e técnicas de análise de dados das dissertações de abordagem quantitativa do PPGENF-UFPR são apresentados no Quadro 5.
Quadro 5. Frequência absoluta dos métodos, instrumentos de coleta de dados e técnicas de análise de dados de dissertações de abordagem quantitativa do PPGENF-UFPR, de 2002 a 2008
Método |
Frequência |
Coleta de dados |
Frequência |
Análise de dados |
Frequência |
Transversal descritivo |
03 |
Boletim de Ocorrência e Inquérito Policial |
01 |
Programa Epi-Info |
05 |
Descritivo |
02 |
Questionário |
03 |
Programa Statistical Packages for the Social Sciences (SPSS) |
01 |
Retrospectivo exploratório, descritivo |
01 |
Entrevista com roteiro estruturado e questionário. |
03 |
Programa SPSS; + propostas de Quivy e Campenhoud |
01
|
Exploratório |
01 |
|
|
|
|
TOTAL |
07 |
|
07 |
|
07 |
Nas pesquisas de abordagem quantitativa, o método mais utilizado foi o transversal descritivo, que esteve presente em três dissertações. Esse método ocorre quando a coleta de informações acontece somente uma vez no tempo, tendo como papel, fornecer uma descrição quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado4.
O método descritivo isolado foi utilizado em duas dissertações e o retrospectivo/exploratório/descritivo foi utilizado em uma dissertação. O questionário e a entrevista com roteiro estruturado foram os instrumentos mais utilizados.
Em relação à análise, observa-se que a totalidade dos autores utilizou softwares para análise dos dados e tabelas elaboradas com auxílio de computadores, para que os dados pudessem ser organizados permitindo o teste das hipóteses estatísticas e facilitando a ordenação lógica do trabalho. Assim, facilmente partiu-se para a redação dos dados. Quando se opta pela tabulação eletrônica, os custos tendem a ser altos; porém, quando se tem uma amostra bastante numerosa e grande quantidade de dados, a tabulação eletrônica torna-se necessária para garantir sua efetiva análise num espaço de tempo razoável3.
Abordagem Qualitativa-Quantitativa
Em quatro dissertações foram adotadas as abordagens qualitativa e quantitativa. Os métodos, instrumentos de coleta de dados e técnicas de análise utilizadas em cada uma dessas dissertações são explicitados no quadro abaixo.
Quadro 6. Métodos, instrumentos de coleta de dados e técnicas de análise utilizadas nas dissertações de abordagem qualitativa-quantitativa do PPGENF-UFPR, de 2002 a 2008
Método Qualitativo |
Método Quantitativo |
Coleta de dados Qualitativos |
Coleta de dados Quantitativos |
Análise de dados Qualitativos |
Análise de dados Quantitativos |
Não cita |
Descritivo-transversal |
Entrevista semi-estruturada |
Coleta de dados retrospectivos em prontuários |
Análise de Conteúdo proposta por Minayo |
Programa Epi-Info |
Descritivo |
Estudo transversal retrospectivo |
Observação participante + entrevista |
Coleta de dados em prontuários |
Discurso do Sujeito Coletivo |
Programa Epi-Info |
Descritivo |
Descritivo |
Grupo Focal |
Entrevista semi-estruturada |
Análise de Conteúdo proposta por Bardin |
Dados tratados estatisticamente |
Descritivo |
Descritivo |
Entrevista semi-estruturada |
Levantamento de fichas de registro de atendimento |
Análise de Conteúdo proposta por Bardin |
Dados analisados descritivamente |
É possível uma complementaridade entre métodos, já que os objetos podem ser passíveis de estudo com abordagens qualitativa e quantitativa e essa abordagem dupla pode contribuir para o rigor da validade e compreensão dos achados do estudo7.
Considerações Finais
O desenvolvimento da enfermagem brasileira consolidou-se com o ensino de Pós-Graduação. A produção de conhecimento gerada no PPGENF-UFPR contribui para uma efetiva relação entre a universidade e a sociedade, considerando a variedade de contextos da prática de enfermagem, desde a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamentos, reabilitação até o cuidado mais complexo.
A prática de enfermagem quase nunca muda baseada em apenas um estudo. É o acúmulo de resultados de vários estudos, geralmente usando diferentes desenhos de pesquisa que fornecem evidência suficiente para mudar. Cada modelo metodológico oferece uma abordagem ou plano único para responder uma pergunta de pesquisa de enfermagem.
Outros impactos do ensino de pós-graduação em Enfermagem da UFPR e que vêm contribuindo para a enfermagem brasileira são: consolidação dos grupos e núcleos de pesquisa na enfermagem; definição e consolidação das linhas de pesquisa; intercâmbio nacional e internacional de conhecimento científico com professores e pesquisadores; maior visibilidade da profissão no setor de saúde e na sociedade.
Referências
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3. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas S. A.; 2008.
4. Marconi MA, Lakatos EM. Fundamentos de metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas; 2009.
5. Praça NS, Merighi MAB. Pesquisa qualitativa em enfermagem. In: Merighi MAB, Praça NS. Abordagens teórico-metodológicas qualitativas: a vivência da mulher no período reprodutivo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003, p. 01-03.
6. Chizzotti A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 9ª ed. São Paulo: Cortez; 2008.
7. Turato ER. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 2003.
8. Silva JMO, Lopes RLM, Diniz NMF. Fenomenologia. Rev Bras Enferm. 2008 Mar./Abr.; 61(2): 254-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n2/a18v61n2.pdf. Acesso em: 08/08/2009.
9. Merighi MAB. Fenomenologia. In: Merighi MAB, Praça NS. Abordagens teórico-metodológicas qualitativas: a vivência da mulher no período reprodutivo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
10. Tod A. Interviewing. In: Gerrish K, LACEY A, editores. The research process in nursing. 5ª ed. Oxford: Blackwell Publishing; 2006. p. 337-52.
11. Silva GRF, Macedo KNF, Rebouças CBA, Souza AMA. Interview as a technique of qualitative research - a literature review. Online Braz J of Nurs [on-line]. 2006; 5(2) [access on 2009 oct 21]. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/382/88
12. Watson H, Whyte R. Using observation. In: Gerrish K, LACEY A, editores. The research process in nursing. 5ª ed. Oxford: Blackwell Publishing; 2006. p. 383-98.
13. Almeida AM, Oliveira ERA, Garcia TR. Pesquisa em Enfermagem e o positivismo. Rev Esc Enferm USP. 1996; 30(1): 25-32.
Contribuições dos autores: Concepção e desenho: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin, Aida Maris Peres, Lillian Daisy Gonçalves Wolff e Maria Ribeiro Lacerda; Pesquisa bibliográfica: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin e Maria Ribeiro Lacerda; Coleta dos dados: Ana Paula Hermann e Yonara Cristiane Ribeiro Bonin; Análise e interpretação: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin e Maria Ribeiro Lacerda; Escrita do artigo: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin, Aida Maris Peres, Lillian Daisy Gonçalves Wolff e Maria Ribeiro Lacerda; Revisão crítica do artigo: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin, Aida Maris Peres, Lillian Daisy Gonçalves Wolff, Adriano Furtado Holanda e Maria Ribeiro Lacerda; Aprovação final do artigo: Ana Paula Hermann, Yonara Cristiane Ribeiro Bonin, Aida Maris Peres, Lillian Daisy Gonçalves Wolff, Adriano Furtado Holanda e Maria Ribeiro Lacerda.
Endereço para correspondência: Ana Paula Hermann. Rua Cleto da Silva, 2596. Boqueirão. Curitiba – Paraná. CEP: 81670-450. E-mail:anaphermann@yahoo.com.br
* Uma das dissertações foi um relato de experiência que não contou com a etapa de coleta de dados.