Nursing care to elderly in the Intensive Care Unit: qualitative exploratory research

Cuidado de enfermagem ao idoso no centro de terapia semi – intensiva: pesquisa qualitativa exploratória

 Juliana Mendes1, Mariluci Alves Maftum1, Maria Ribeiro Lacerda1, Maria de Fátima Mantovani1, Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues2. 

1Universidade Federal do Paraná, PR, Brazil; 2Universidade de São Paulo, SP, Brazil. 

Abstract: Qualitative and exploratory research, developed in a Semi-Intensive Care Unit (SICT), on a Public Teaching Hospital in Curitiba, Paraná, in 2008. The objective is to know how the nurses perceive the nursing care to the elderly hospitalized in the SICT. Seven nurses which work in the SICT participated the research. Data were collected through semi-structured interview and they were treated with the technique of thematic analysis. Three categories were unveiled: Elderly singularities affecting nursing care, nurse’s perceptions on the care delivered to the elderly; nurse’s preparation for caring of the elderly. For the research subjects, changing on the profile of the SICT clients, there’s a need to deliver a differentiated care, because of the increasing number of elderly in this Units, and due of the singularities of this specific phase of the life cycle, as well as their vulnerability to chronic and transmissible diseases, and complications during treatments. They stated that they face some difficulties on caring because of the lack of knowledge on Gerontology Nursing. So, there’s evidence that nursing professionals should know about elderly issues, as well as about the public policies to deliver the gerontological care. 

Keywords: Elderly, Care, Nursing. 

Resumo: Pesquisa qualitativa do tipo exploratória, desenvolvida em um Centro de Terapia Semi-Intensiva (CTSI), de um Hospital Público de Ensino de Curitiba, Paraná, em 2008. O objetivo foi conhecer como o enfermeiro percebe o cuidado de enfermagem ao idoso internado no CTSI. Participaram da pesquisa sete enfermeiras que trabalham no CTSI. Os dados foram obtidos mediante entrevista semi-estruturada e tratados com a técnica de análise temática. Obteve-se três categorias: Singularidades do idoso que influenciam no cuidado de enfermagem; Percepção do enfermeiro sobre o cuidado que desenvolve ao idoso; O preparo do enfermeiro para cuidar do idoso.  Para os sujeitos a mudança no perfil da clientela atendida no CTSI com aumento do número de idosos e, pelas especificidades próprias desta fase da vida, acrescidas pela vulnerabilidade às doenças crônicas não transmissíveis e as complicações no tratamento implica em desenvolver um cuidado diferenciado. Enfocaram que se deparam com dificuldades pelo desconhecimento da Enfermagem Gerontológica, o tempo disponível ser escasso e a infra-estrutura inadequada.  Assim, evidencia-se que os profissionais de enfermagem necessitam conhecer a respeito do idoso, bem como das políticas públicas para prestar o cuidado gerontológico.

Palavras-chave: Idoso; Cuidado; Enfermagem.

Introdução 

Os idosos representam uma parcela crescente da população, que necessita de internação hospitalar ou de cuidados especializados em serviços de saúde. No entanto, a equipe de saúde não se encontra suficientemente preparada para prestar cuidado condizente às necessidades e demandas dessas pessoas. Ressalta-se, ainda, que a população brasileira, na sua maioria, dispõe de escassos recursos financeiros, sendo por vezes, os serviços públicos, a única referência quando necessita de atendimento emergencial1.

As estatísticas epidemiológicas mostram que a faixa etária que mais cresce na maioria dos países em desenvolvimento está acima dos 60 anos, enquanto a população geral mundial cresce 1,7%, a população acima de 65 anos de idade, aumenta 2,5% ao ano. Em todo mundo havia uma expectativa de aumento de 605 milhões para 2000, o que foi constatado e, chegando a 1,2 bilhões, no ano de 2025, levando em consideração a idade de 60 anos nos países em desenvolvimento e 65 nos países desenvolvidos2.

Os dados mencionados conclamam com a necessidade de desenvolver o olhar atento, especialmente dos profissionais de saúde para que os idosos não sejam considerados como uma categoria à parte na sociedade. Do mesmo modo, é importante reconhecer as pessoas idosas como “únicas, com necessidades, talentos e capacidades individuais, e não um grupo homogêneo devido à idade”3:459.

Nesta perspectiva, as políticas de saúde necessitam ser implementadas efetivamente para que o acesso aos serviços de saúde seja garantido para toda população de idosos. Isso possibilitará atendimento diferenciado e condizente com suas demandas, que passa pela qualificação da equipe de saúde, visto que essa constitui um dos aspectos determinantes para o desenvolvimento de um cuidado efetivo. Destarte, um cuidado eficaz para o idoso requer que seja contemplada a multidimensionalidade do ser humano, isto é, as dimensões física, psicológica e espiritual e também os aspectos ambientais4. Ainda, esses cuidados específicos profissionais, próprios dos enfermeiros, necessitam de ações planejadas e avaliadas constantemente para responderem as necessidades de saúde dos idosos.

Diante do exposto, esta pesquisa teve como objetivo conhecer como o enfermeiro percebe o cuidado de enfermagem ao idoso internado em Centro de Terapia Semi-Intensiva. 

Metodologia 

Trata-se de pesquisa qualitativa do tipo exploratória, desenvolvida em 2008, em um Centro de Terapia Semi-Intensiva (CTSI), de um Hospital Público de Ensino de Curitiba, Paraná. Participaram da pesquisa sete enfermeiras assistenciais, que desenvolvem cuidados diretos aos pacientes internado no CTSI. A obtenção das informações ocorreu mediante entrevista semi-estruturada a qual contemplou dados de identificação do informante e uma questão guia para que o mesmo discorresse a respeito de como percebe o cuidado de enfermagem desenvolvido ao paciente idoso internado no CTSI.

Em relação aos aspectos éticos, primeiramente obteve-se a autorização da Direção do Hospital para a realização da pesquisa no CTSI e, na seqüência a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética do referido hospital sob o protocolo de nº CAAE 0204.0.208.000-07, Registro CEP: 1523.188/2007-09. Ainda, foram respeitados os preceitos éticos de participação voluntária, esclarecida e consentida segundo a Resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde, por meio do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo participante do estudo, ao qual foi garantido o direito de desistir da participação em qualquer momento5.

            Os dados provenientes das entrevistas foram analisados de acordo com a proposta de análise temática6 que inclui as fases de: ordenação dos dados, classificação dos dados e análise final dos temas emergentes. 

Resultados e discussão 

A idade dos sujeitos variou de 26 a 49 anos; o tempo de trabalho no serviço de um a 16 anos, três sujeitos possuem vínculo empregatício com outra instituição e quatro trabalham somente no CTSI; o tempo de formação acadêmica variou de cinco a 20 anos, duas possuem curso Técnico em Enfermagem, duas  com especialização na área de enfermagem e cinco mais de uma especialização, entretanto, nenhuma voltada ao idoso.

Percebe-se um investimento das entrevistadas em relação à qualificação profissional, porém, existe uma lacuna de conhecimento no que se refere ao tema idoso e isto pode ser em virtude da ênfase dos estudos desta temática ser relativamente recente tanto na graduação como na pós-graduação.

Das informações obtidas, emergiram três categorias temáticas: Singularidades do idoso que influenciam no cuidado de enfermagem; Percepção do enfermeiro sobre o cuidado que desenvolve ao idoso; O preparo do enfermeiro para cuidar do idoso, as quais serão descritas a seguir: 

Singularidades do idoso que influenciam no cuidado de enfermagem 

Nesta categoria emergiram as mudanças demográficas (idade) e no perfil do paciente atendido no CTSI. Percepção das enfermeiras quanto ao aumento no número de idosos internados na unidade e as especificidades relacionadas a esta clientela, conforme exemplificado no relato a seguir: 

[...] o número de pacientes idosos no nosso setor tem aumentado, é bem visível e isto me preocupa. [...] está mudando, a gente vê na mídia, em todo lugar a preocupação com o idoso, então se começa a questionar. É uma coisa que passava despercebida às vezes (S.4). 

No Brasil, percebe-se aumento relevante da população idosa e, concomitante a isso, uma demanda elevada de internações as quais se constatou no levantamento do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) referente aos meses de janeiro a julho de 2008, em que foram registradas 102.037 internações de idosos, sendo que no Município de Curitiba, Paraná foi internado 14.405 idosos7.

Saber responder às necessidades de cuidado desse segmento populacional é uma perspectiva a ser alcançada pelos profissionais de Enfermagem. Assim, é preciso instigar e realizar mudança na tradição, na cultura de cuidado ao idoso, que permita a construção de um novo modo de cuidar, alicerçado nos princípios da gerontologia, a qual é exercida por profissionais especializados com expertise ao tema da velhice.

Os sujeitos reconheceram e discorreram a respeito das especificidades do idoso, e ressaltaram principalmente as relacionadas ao biológico. Destacaram alterações e complicações que podem ocorrer em decorrência das mudanças orgânicas e que, por isso o idoso requer um cuidado atento para não causar danos maiores como pode ser evidenciado no relato a seguir: 

[...] têm muitas coisas que são peculiares para a pessoa idosa. A fragilidade até de sentimentos, de pele, de dependência de cuidados, de alimentação, de banho, a facilidade de formar úlceras de pressão, de fazer uma pneumonia [...] (S.1). 

O idoso pode apresentar-se fragilizado frente a determinadas situações como a hospitalização, a qual predispõe a ele prejuízos biopsicossociais. Devido à fragilidade que ocorre na pele, torna-se candidato de alto risco para o desenvolvimento de úlceras de pressão; principalmente quando estão em mal estado nutricional. O idoso tem a sensibilidade reduzida para a pressão e a dor e, também é afetado pela imobilidade e formação de edemas, os quais contribuem para a ruptura da pele8. Essas e outras alterações próprias do envelhecimento devem ser consideradas pelos profissionais e, entendidas como contribuintes para que o idoso seja um ser com peculiaridades próprias e que em determinadas ocasiões podem levá-lo a uma situação de fragilidade.

Os aspectos relativos às singularidades dessa fase da vida são ampliados, no sentido de que muitas vezes, o idoso se encontra envolto aos declínios e, ainda, de ser portador de doenças crônicas não transmissíveis, estar convivendo com situações de perdas contínuas, diminuição do suporte sócio-familiar, perdas econômicas as quais podem contribuir para o aumento de uma fragilidade tanto física como psicológica9-10. Desta maneira, esse paciente deve ser cuidadosamente observado pelos profissionais da equipe multiprofissional, pois a não identificação dessas manifestações pode influenciar no retardo da alta hospitalar, dificultar o tratamento e a reabilitação com conseqüente demora na sua recuperação11. Ressalta-se que o modo como o paciente é cuidado tem grande importância, pois permite ao profissional de saúde conhecer os pensamentos e os sentimentos acerca dos problemas vivenciados, do estresse que o paciente sente no processo de hospitalização12.

Destaca-se que as influências internas e externas a que está constantemente submetido o idoso no CTSI podem levá-lo a depressão, porquanto o idoso requer um cuidado gerontológico, com maior sensibilidade e perspicácia dos profissionais de saúde. Assim, os profissionais de enfermagem necessitam ter conhecimento técnico-científico e humanístico para compreender as alterações fisiológicas do envelhecimento, bem como as mudanças comportamentais que o idoso pode apresentar no decorrer do seu internamento.

            Os sujeitos entrevistados demonstraram dificuldades técnicas-científicas para identificar e definir o processo de envelhecimento normal do patológico, conforme evidenciado a seguir: 

Idoso é uma pessoa que precisa de mais cuidados. Têm coisas que acontecem que é patológico, mas têm coisas que são relativas à idade, as perdas. A perda de audição, nem sempre o idoso tem que estar doente. Ás vezes a gente pode confundir a parte da patologia com as perdas relativas à idade (S.5).    

O idoso possui alterações no processo de envelhecimento e algumas destas o tornam propenso a desenvolver patologias, pois com a idade avançada há maiores chances de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, podendo prejudicar seu desenvolvimento funcional12. Distinguir os processos normais do envelhecimento dos processos patológicos não constitui tarefa fácil, pois há necessidade de conceituar as diferenças entre eles10-13. 

Percepção do enfermeiro sobre o cuidado que desenvolve ao idoso 

Para os sujeitos a rotina dos cuidados no CTSI, com a diversidade de faixas etárias dos pacientes, dificulta desenvolver interação e cuidado individualizado e humanizado ao idoso.  

[...] a demanda que o idoso requer de cuidados, além das rotinas que tem com todos os demais pacientes, em função do tempo, a gente não consegue ter um cuidado individualizado a esse idoso. Conversar, questionar como que ele está, como que está a alimentação, a gente acaba perdendo este cuidado com interação com o ser humano. O cuidado é feito, mas voltado para rotina, para as atividades de higiene, de banho, medicação, poucas pessoas param para ouvir o idoso, porque está todo mundo envolto nas rotinas diárias (S.6).             

            O modo como é planejado o cuidado influencia no cuidado prestado. O planejamento, execução e avaliação dos cuidados de enfermagem exigem das enfermeiras o uso do pensamento divergente, na busca de alternativas apropriadas para abordar os problemas do paciente, respeitando sua individualidade. No Centro de Terapia Semi Intensiva os profissionais se deparam com situações críticas sendo praticamente impossível controlar todas as que afetam os pacientes e os expõem a condições consideradas desumanas. A dinâmica de trabalho, o aparato tecnológico reforça a imagem da impessoalidade e automatização14. A rotinização do trabalho torna o cuidado de enfermagem mecânico e generalista, por outro lado, “o pensamento criativo libera os enfermeiros para elaborar novas soluções para problemas tidos, geralmente, como rotineiros”15-52.

            Os sujeitos relataram à importância de se comunicar com o paciente idoso, mas que devido à falta de tempo e demanda de atividades esta competência não pode ser atingida. A maneira como a enfermeira fala, os seus gestos e tom de voz podem melhorar ou dificultar o entendimento das orientações oferecidas e recebidas ao paciente, e influenciar na sua recuperação.

A enfermeira ao interpretar suas competências de modo superficial desenvolve ações voltadas ao tecnicismo e a operacionalidade e não percebe a multidimensionalidade do idoso16. Faz-se necessário que a enfermeira desenvolva competências e habilidades como: técnicas, sensibilidade, intuição, criatividade, raciocínio lógico, conhecimento científico, valores e crenças17.

Os sujeitos da pesquisa relataram algumas qualidades que são requeridas do profissional que desenvolve o cuidado ao idoso, como: paciência, identificar-se com esta clientela, conquistar sua confiança, espírito de observação, além de conhecimento específico. 

É sempre um aprendizado trabalhar com idoso. Embora às vezes seja muito difícil porque demanda mais paciência, porque, por exemplo, você vai pegar uma veia no idoso demanda tempo, você tem que ficar procurando, andando, cuidando com a pele, cuidando dele, às vezes ele fica revoltado, fica bravo, te xinga, fica confuso, desorientado, não te entende, às vezes está revoltado porque não está aceitando o tratamento, então às vezes fica mais difícil trabalhar com ele, demanda mais tempo, paciência, carinho, afeto e entender o que os olhinhos dele quer falar para a gente (S.3). 

            Existem algumas competências necessárias ao profissional que trabalha com o idoso, como: conhecimento, capacidade de empatia, paciência, tolerância, comunicação e senso de humor. O profissional de saúde mediante postura, olhar, toque e gestos positivos pode aliviar a condição de fragilidade, ajudando a manter a dignidade do paciente18. As ações de cuidados podem trazer conforto e tranqüilidade tornando o processo de hospitalização menos traumático19. Considera-se um ato de cuidar quando a enfermeira presta atendimento individualizado por meio do levantamento das necessidades biopsicossociais do paciente. Assim, o cuidar humanizado torna-se indispensável a este profissional e, deve ir além de tratar de um caso. O paciente deve ser tratado não como mero objeto do processo de cuidar, precisa transcender o cuidado propriamente dito, é preciso que a enfermeira tenha capacidade de compreender quem é esse paciente, o que o levou a ter a doença20. 

O preparo do enfermeiro para cuidar do idoso 

Os sujeitos relataram que durante a formação acadêmica não houve uma disciplina com enfoque para o cuidado ao idoso e que o conhecimento que possuem é proveniente da prática vivenciada diariamente. Ponderaram que os temas relativos ao idoso foram estudados em conjunto com os voltados para o jovem e adulto:  

Muito pouco foi falado sobre o idoso (na graduação). Nem lembro o que aprendi, o que vivencio hoje é do que aprendi com os colegas, na prática [...] (S.1).

 

Não temos uma formação voltada ao paciente idoso. Temos uma formação geral, mas não específica ao paciente idoso. Na minha época nem tinha disciplina saúde do idoso porque não tinha um país envelhecido. Hoje o país se tornou um país de idoso (S.3). 

Justifica-se a ausência do tema idoso na graduação devido ao tempo de formação das mesmas e que esta temática denotava pouco interesse à sociedade na época. O modelo de cuidado de enfermagem vem historicamente sendo desenvolvido para o adulto jovem e com a saúde da criança e da mulher por serem demandas do Ministério da Saúde nas últimas décadas do século XX, mas, o tema gerontologia, na prática cotidiana se mantém insipiente21.

No Brasil, a partir deste século, percebe-se a preocupação dos órgãos competentes com o crescimento desta faixa etária da população, que mostra a necessidade de que sejam incluídas disciplinas para atender a demanda, bem como promover a capacitação de recursos humanos para o cuidado ao idoso. A Política Nacional do Idoso pela Lei n. 8.842/9422:3 preconiza: “a necessidade de adequar currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais destinados ao idoso; inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o tema, incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores; [...] promover a capacitação de recursos para atendimento ao idoso”.

Os sujeitos afirmaram que estão despreparados para cuidar da clientela idosa internada no CTSI e percebem que a dificuldade se estende a toda equipe multidisciplinar. Reconhecem que a falta de experiência e de conhecimento gerontológico e geriátrico são fatores determinantes para a qualidade do cuidado, embora tenham externado o esforço para cuidar de acordo com as necessidades do idoso: 

Não estamos preparados para trabalhar com este tipo de paciente. Muitas vezes o encaramos como mais um paciente e esquecemos as peculiaridades que são exclusivamente do idoso. A questão do preparo e do conhecimento, de saber estes diferenciais para fazer o cuidado ou intervenção, acho que a equipe, no geral, não está preparada para prestar atendimento diferenciado ao idoso. As minhas dificuldades são até pela pouca experiência (S.1).

 

[...] procuro cuidar, dentro daquilo que conheço, do que sei, do pouco que sei, procuro cuidar o melhor possível. Tento suprir algumas coisas em relação a isso e fazer o melhor, mas às vezes sinto dificuldades até pela própria formação (S.3). 

Apesar da falta de conhecimento e experiências expressadas pelos sujeitos desta pesquisa fica evidente o esforço para cuidar de maneira diferenciada do idoso, focando a observação nos aspectos físicos e psicológicos. Destarte, uma abordagem integral do paciente ocorre quando o profissional observa “seus comportamentos, suas alterações no âmbito da psicopatologia, seus relacionamentos interpessoais, suas evoluções e ações à assistência prestada e ao seu tratamento”23.

O cuidar dos profissionais de enfermagem é, algo além da execução dos procedimentos, habilidade de utilizar instrumentos como: “observação, criatividade, curiosidade científica, comunicação, escuta, simpatia, empatia [...]”19:59 . Para que a enfermeira desenvolva a capacidade do cuidado é necessário que compreenda a importância de suas atitudes e as relacione com as peculiaridades do idoso, tornando assim o cuidado humanizado.

Os sujeitos referiram a necessidade de capacitação, aperfeiçoamento ou atualização e que há falta de treinamento específico, para cuidar do idoso. Demonstraram interesse por este tema e referiram que as obtenções destes conhecimentos poderiam melhorar o cuidado prestado e modificar o olhar ao idoso:   

A gente precisa sempre procurar se atualizar. Como a gente está vivendo numa profissão em que o idoso está vivendo mais, tem que se atualizar para trabalhar melhor com ele (S.4).

 

[...] uma capacitação ajudaria até a mudar a visão, a forma de como ver o idoso e de como cuidar. Acho válido para que mude essa visão, esta forma de olhar o idoso. Acho que vai mudar os óculos que a gente vê o idoso e provavelmente o cuidado vai ser melhorado (S.6).  

O déficit de conhecimento da gerontologia enfocado pelas enfermeiras pode ter relação com o cuidado prestado, o que reforça a necessidade de capacitação desses profissionais. Para que o indivíduo possa tornar-se agente de mudança, é necessário, primeiramente, que possua capacitação para tal e uma das formas de adquirir estes conhecimentos é por meio da formação profissional, que busca habilitá-lo para atender com qualidade e criticidade à sua clientela24. Desta maneira, faz-se necessário que aliado aos interesses políticos e ao aumento da demanda da população idosa, os profissionais de saúde busquem conhecimento para cuidar de modo integral respeitando as singularidades desta clientela. 

Conclusão 

Esta pesquisa evidenciou que o cuidado gerontológico precisa ser diferenciado em razão das peculiaridades e singularidades do idoso e que o profissional de enfermagem necessita de conhecimento gerontológico para prestar cuidado integral a esta clientela. O cuidado por vezes é realizado de modo mecânico o que favorece à sua rotinização dificultando a percepção do enfermeiro a respeito das especificidades do idoso.

Evidenciou ainda, que a formação na graduação em Enfermagem dos sujeitos não contemplou efetivamente uma disciplina específica para o idoso, entretanto as políticas de saúde e as diretrizes da educação estabelecem a formação de grupos de estudos com apoio tecnológico e financeiro para o desenvolvimento de pesquisas, cursos de pós-graduação e educação permanente nas instituições. Isso aponta uma necessidade que para além das diretrizes haja no local de trabalho espaço de cuidado para o idoso. Para que o profissional utilize todos estes investimentos é necessário que haja interesse pelo tema e busque aperfeiçoamento, participando dos cursos ofertados e quando possível integrar-se aos grupos de pesquisa referente ao idoso.

Assim, evidencia-se que os profissionais de enfermagem necessitam conhecer a respeito do idoso, bem como das políticas públicas para prestar o cuidado gerontológico compreendendo esta clientela com suas peculiaridades e singularidades, atendendo em sua dimensionalidade na busca da promoção do envelhecimento saudável, manutenção e melhoria da capacidade funcional do idoso.  

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Nota: Artigo a partir da dissertação “Cuidado de enfermagem ao idoso no centro de terapia semi-intensiva”. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem – Mestrado da UFPR. Defesa: 12.12.2008 

Contribuição dos autores: Concepção e desenho: Juliana Mendes, Mariluci Alves Maftum – Análise e interpretação: Juliana Mendes, Mariluci Alves Maftum - Escrita do artigo: Juliana Mendes, Mariluci Alves Maftum – Revisão Crítica do artigo: Juliana Mendes, Maria Ribeiro Lacerda, Maria de Fátima Mantovani, Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues– Aprovação final do artigo: Juliana Mendes, Maria Ribeiro Lacerda, Maria de Fátima Mantovani, Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues – Colheita dos dados: Juliana Mendes - Pesquisa bibliográfica: Juliana Mendes.  

Endereço para correspondência: Mariluci Alves Maftum – Rua João Clemente Tesseroli, 90 – Curitiba – Paraná – Cep. 81520-190. E-mail: maftum@ufpr.br  

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