The communication between nursing team and the families of intensive care patients: qualitative study.

 A comunicação entre a equipe de enfermagem e os familiares de pacientes em terapia intensiva: estudo qualitativo.

 La comunicación entre el equipo de enfermería y los familiares de pacientes en cuidados intensivos: un estudio cualitativo.

 

Sabrina Guterres da Silva1, Adelina Giacomelli Prochnow1, José Luís Guedes dos Santos2, Soeli Teresinha Guerra1, Sueli Gói Barrios1

 1 Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil; 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil 

Abstract: The communication improves the interaction among professionals, patients and their families; making care actions more humanized, diminishing doubts and anxiety in the process of hospitalization in Intensive Care Units. This study aimed to understand the opinion of relatives of patients in intensive care on the process of communication with the nursing team. It is an exploratory-descriptive research with a qualitative approach. The data were collected through semi-structured interview with ten relatives of the patients under intensive care, being analyzed in accordance with the theme analysis approach. The participants of the study referred to difficulties in talking and clearing doubts with nursing professionals, since they quite often are not present in the unit for visiting the patient. As strategies to improve communication, family members suggested a closer relationship between nursing team and spatial organization for guidance and doubts through a simpler and understandable language. The research contributed to provide data for the review on the communication approach given by nursing team to the family of patients in Intensive Care. 

Key words: Communication; Intensive Care Units; Nursing, Supervisory; Nurse's Role.  

Resumo: A comunicação potencializa a interação entre profissionais, pacientes e seus familiares, tornando as ações de cuidado mais humanizadas, dirimindo as dúvidas e angústias que perpassam o processo de hospitalização nas Unidades de Terapia Intensiva. Este estudo teve como objetivo conhecer a opinião dos familiares de pacientes em terapia intensiva acerca do processo de comunicação com a equipe de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva que percorreu a trajetória metodológica qualitativa. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada com dez familiares de pacientes em terapia intensiva e analisados seguindo as diretrizes da análise temática. Os participantes do estudo referiram dificuldade para conversar e esclarecer suas dúvidas com os profissionais de enfermagem, pois eles, muitas vezes, não estão presentes na unidade durante o horário de visitas. Como estratégias para melhorar a comunicação, os familiares sugeriram maior proximidade da equipe de enfermagem e organização de espaços destinados ao esclarecimento de dúvidas e orientações por meio de uma linguagem simples e de fácil compreensão para eles. A pesquisa contribui no sentido de fornecer subsídios para revisão das práticas comunicativas da equipe de enfermagem com os familiares dos pacientes em terapia intensiva. 

Palavras-chave: Comunicação; Unidades de Terapia Intensiva; Supervisão de Enfermagem; Papel do profissional de enfermagem. 

Resumen: La comunicación potencializa la interacción entre profesionales, pacientes y sus familiares, volviendo las acciones de cuidado más humanizadas, solucionando las dudas y las angustias que traspasan el proceso de hospitalización en las Unidades de Cuidados Intensivos. Este estudio tuvo como objetivo conocer la opinión de los familiares de pacientes en cuidados intensivos acerca del proceso de comunicación con el equipo de enfermería. Se trata de una investigación exploratoria y descriptiva que recorrió la trayectoria metodológica cualitativa. Los datos fueron recolectados por medio de una entrevista semiestructurada con diez familiares de pacientes en cuidados intensivos y analizados según las directrices del análisis temático. Los participantes del estudio declararon tener dificultades para conversar y aclarar sus dudas con los profesionales de enfermería, pues estos, muchas veces, no están presentes en la unidad durante el horario de visitas. Como estrategias para mejorar la comunicación, los familiares propusieron que haya una mayor proximidad del equipo de enfermería y que se organicen espacios destinados a la aclaración de dudas y orientaciones por medio de un lenguaje simple y de fácil comprensión. La investigación contribuyó en el sentido de ofrecer subsidios a la revisión de las prácticas comunicativas del equipo de enfermería con los familiares de los pacientes en cuidados intensivos.   

Palabras-clave: Comunicación; Unidades de Terapia Intensiva;  Supervisión de Enfermería; Rol de la Enfermera. 

Introdução 

A comunicação é um processo de compartilhamento e compreensão de mensagens enviadas e recebidas inerente à vida do ser humano desde o nascimento, permitindo a sua existência e o seu desenvolvimento, pois é por meio dela que os indivíduos se relacionam, influenciam e são influenciados pelos contextos em que vivem e as pessoas com as quais convivem(1,2).

Nas práticas de saúde no âmbito hospitalar, a comunicação potencializa a interação entre profissionais, pacientes e seus familiares, tornando as ações de cuidado mais humanizadas, dirimindo as dúvidas e angústias que perpassam o processo de hospitalização. Entretanto, como enfermeiros e docentes de enfermagem temos observado que o ato de se comunicar é um desafio para muitos profissionais da enfermagem, especialmente àqueles que cuidam de pacientes em situações críticas de vida, como, por exemplo, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). 

No Brasil, a implantação e difusão das UTIs ocorreram principalmente na década de 70 do século XX, gerando a necessidade de formar pessoal especializado e familiarizado com os equipamentos existentes e as patologias comumente apresentadas pelos indivíduos internados nessas unidades. A principal característica dessa área de atuação é o emprego de grande aparato tecnológico e a gravidade e instabilidade do quadro clínico dos pacientes, os quais demandam atenção constante e cuidados complexos da equipe de saúde, em especial dos profissionais de enfermagem que estão junto ao paciente ao longo das 24 horas do dia e realizam a maioria das ações assistenciais(3).

A equipe de enfermagem no cuidado ao individuo em situações críticas nas UTIs pode concentrar maior atenção às situações que requerem a utilização de equipamentos, máquinas e insumos de diferentes naturezas, em detrimento das necessidades de cuidado relacionadas à interação, escuta e vínculo, o que pode tornar, muitas vezes, a assistência impessoal e desumanizada. Somam-se a isso outros fatores que podem influenciar as práticas comunicativas e interativas dos profissionais com os familiares de pacientes em UTIs, como as dificuldades relacionadas ao lidar com a morte, ao grau de desconhecimento da evolução clínica do paciente pelos profissionais que nem sempre têm acesso a todos os dados contidos no prontuário, ao trabalho em equipe, à falta de recursos materiais, à sobrecarga de atividades, ao estresse e ao cansaço(3-5).

Por outro lado, o grupo familiar dos pacientes em unidade intensiva merece atenção especial da equipe de enfermagem. A família tem se mostrado responsável por vários aspectos positivos relacionados à recuperação de seu familiar internado em uma UTI, satisfazendo muitas das suas necessidades e contribuindo com informações significativas a respeito do paciente, o que tem favorecido a tomada de decisões quanto à realização de procedimentos(6). Entretanto, o senso comum que perpassa o imaginário social dos familiares/acompanhantes dos pacientes em unidade intensiva é marcado pelo sentimento de proximidade da morte associado à visão negativa criada pela quantidade de aparelhos que são empregados para manter os pacientes vivos nessas unidades, o que gera angústia, medo, incerteza e insegurança entre eles(7,8).

Diante desse cenário, são crescentes as ações destinadas a promover a humanização da assistência hospitalar no âmbito das UTIs. O Ministério da Saúde, por exemplo, através da Portaria nº 881, de 2001, instituiu o Programa Nacional de Humanização Hospitalar, no âmbito do Sistema Único de Saúde, desencadeando um processo de discussão e implementação de projetos de humanização do atendimento a saúde e de melhoria da qualidade do vínculo estabelecido entre os trabalhadores da saúde, pacientes e familiares(9,10).

Assim, com base nessas assertivas e considerando a comunicação uma competência essencial à equipe de enfermagem no desenvolvimento de práticas calcadas na humanização surgiu o interesse em desenvolver este estudo, cujo objetivo é conhecer a opinião dos familiares de pacientes em terapia intensiva acerca do processo de comunicação com a equipe de enfermagem. 

Trajetória metodológica 

 Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva com abordagem qualitativa, desenvolvida na UTI de um hospital universitário do interior do estado do Rio Grande do Sul (RS). Essa unidade possui nove leitos distribuídos em três ambientes: um salão onde estão dispostos seis leitos e duas salas de isolamento, na quais estão organizados os outros três leitos. De acordo com as suas normas e rotinas, não é permitida a permanência da família nas dependências da unidade, de modo que há três momentos diários para a visita dos familiares. No turno da manhã, a visita acontece das 10h30min às 11h; à tarde, das 16h às 16h30min; e, à noite, entre ás 20h e 20h30min.

Os participantes da pesquisa foram dez familiares de pacientes internados na unidade há pelo menos cinco dias e maiores de 18 anos de idade. Essa amostra foi delimitada com base no critério da saturação dos dados.

A colheita das informações ocorreu entre os meses de abril e maio de 2008, por meio de entrevista composta por perguntas abertas, que possibilitaram aos entrevistados discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo entrevistador(11), a partir das seguintes questões norteadoras: Como percebe a comunicação entre você e seus familiares com a equipe de enfermagem? Você recebe informações/esclarecimentos por parte da equipe de enfermagem sobre seu familiar internado na UTI? Você compreende essas informações? Quais são as dificuldades de manter uma comunicação adequada com a equipe de enfermagem? E as facilidades? Como você acha que deveria ser a comunicação com a equipe de enfermagem? Quais suas sugestões para aprimorar esse processo?

As entrevistas foram realizadas individualmente, na sala de espera do setor ou na capela do hospital, após ou durante os horários de visita. Para garantir a fidedignidade das informações coletadas elas foram gravadas, sob consentimento prévio dos participantes e após foram transcritas na íntegra. Visando preservar o anonimato dos participantes do estudo foram adotados códigos para identificação dos depoentes, por meio do uso da inicial “F” referente à familiar, aliada a um número, entre 1 e 10, atribuídos de acordo com a sequência das entrevistas (F1, F2,..., F10).

Para análise de dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática que se constitui de três etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Esse método permite a inferência de conhecimentos referentes às condições de produção/recepção das mensagens e do significado latente das palavras manifestas(11). Os dados foram classificados e agregados, estabelecendo-se três categorias empíricas: (1) Percepções dos familiares sobre o ambiente terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva; (2) A comunicação com a equipe de enfermagem; (3) A atuação do enfermeiro na visão dos familiares de pacientes em terapia intensiva. Neste artigo, são apresentados os resultados referentes à segunda categoria.

Quanto aos aspectos bioéticas, o projeto foi autorizado pela instituição em que ele foi desenvolvido e aprovado por um comitê de ética em pesquisa (CAAE: 0007.0.243.000-08). Além disso, os participantes do estudo foram informados sobre a finalidade da investigação e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme preconiza a Resolução nº 196/96(12).  

Apresentação e discussão dos resultados 

Os familiares de pacientes em terapia intensiva que integraram este estudo mostraram-se satisfeitos com cuidado prestado pela equipe de enfermagem; no entanto, a comunicação e o relacionamento interpessoal com os profissionais de enfermagem foram classificados como limitados e, muitas vezes, insuficientes. Eles declaram que para obter informações sobre o estado de saúde do seu parente precisam procurar pelos integrantes da equipe de enfermagem e solicitar esclarecimentos sobre o que desejam saber. As falas a seguir ilustram o exposto.  

Eles não falam muita coisa. Só se nós perguntarmos mesmo, porque se não perguntarmos eles não falam nada. (F1) 

Eu não percebo comunicação entre eu, minha família e o grupo de enfermagem. Quando vamos visitá-lo, elas nunca chegam pra conversar [...] ou dizer alguma coisa sobre o paciente. (F6) 

Nunca chegou alguém assim e se dispôs a falar, dizer hoje foi assim e assim, entende? É sempre nós que vamos à equipe perguntar. (F10) 

 Com base nesses depoimentos, percebe-se que é necessário potencializar o trabalho da enfermagem no que se refere à comunicação na assistência à família, sendo imprescindível cuidá-la, questioná-la sobre suas dúvidas, observar suas reações, comportamentos e entender suas emoções, assim como sugerem outros estudos(13). Tais necessidades foram referidas por um dos integrantes do estudo no seguinte relato: 

Acho que os enfermeiros têm que estar mais atentos quando chega o familiar do paciente, porque é lógico que o familiar está preocupado, vai querer tirar dúvidas, esclarecer alguma coisa. Então tem que partir nessa hora do quadro de enfermagem dar informações. É notável a angústia do familiar. Acho que falta, às vezes, empatia por parte do grupo de enfermagem. (F 6) 

Salienta-se que a empatia é fundamental para um processo de comunicação adequado e eficaz, pois orienta para o caminho da verdade e do entendimento(13,14). Nesse sentido, é importante que a equipe enfermagem busque identificar as necessidades de atenção dos familiares dos pacientes e estabeleça um relacionamento empático, por meio de sensibilidade e de escuta atenta. Os encontros, mesmo que rápidos, são fundamentais para os familiares, desde que a atenção esteja presente,  pois são uma das formas de contato mais próxima com os profissionais responsáveis pelo cuidado de seu ente querido.

Quanto às principais expectativas de comunicação e informação dos familiares dos pacientes em terapia intensiva, constatou-se que elas se relacionam, principalmente, a um histórico básico das condições clínicas do paciente, como, por exemplo, os valores da medição dos sinais vitais, e uma interpretação dos aparelhos tecnológicos aos quais os pacientes estão conectados.  

Por exemplo, aquele aparelho do coração. Nós não sabemos, mas gostaríamos de saber, né? Se está lá menos de 50 não pode, né? Mais de 150 também não. Nos 80 ou 104, 105 estaria bem. Então isso, muitas pessoas não sabem. (F2) [Familiar se referindo ao monitor cardíaco] 

Quando eu vou perguntar, procuro saber como está a pressão, se tem febre, se passou bem à noite ou se passou bem a manhã, é isso que procuramos saber. (F8) 

O quadro do meu esposo, se ele teve febre se ele não teve, se ele fez diálise ou não fez de tudo um pouco. O que eu mais pergunto é como é que ele se manteve e se ele não teve febre, as mais são essas, [...] porque a febre sempre indica uma “infecçãozinha” então queremos saber se ele teve ou não. (F9) 

As falas são objetivas e descrevem quais itens que, se esclarecidos, confortariam os familiares. As dúvidas que inquietam os familiares são relacionadas às funções basais vitais e caracterizam-se, do ponto de vista técnico-científico, como elementares. Refletem as principais preocupações que as pessoas têm com a saúde de um modo geral e o interesse em conhecer os parâmetros mostrados no visor dos equipamentos empregados na terapêutica dos pacientes.

Esses resultados são similares aos achados de outros estudos que identificaram a necessidade de saber fatos concretos sobre o progresso do paciente e noções acerca dos equipamentos e aparelhos que rodeiam seu parente como principais informações requeridas por familiares de pacientes internados em unidades de cuidados intensivos(8,13,15,16).Cabe salientar que a comunicação adequada aparece descrita na literatura como aquela em que as informações sobre o estado do paciente são transmitidas de uma maneira simples, clara e objetiva, sem o uso de termos difíceis, para a compreensão até de pessoas com menor escolaridade(8,13).

A comunicação só acontece quando há reciprocidade na compreensão das mensagens. Nesse sentido, quando as informações não são realizadas de forma clara, ou interpretadas de maneira inapropriada, torna-se ineficaz a comunicação. Desse modo, evidenciamos que o processo comunicativo entre equipe de enfermagem e familiares de pacientes em terapia intensiva ocorre de maneira falha, uma vez que os familiares referem compreender pouco do que lhes é informado. Os integrantes do estudo relataram que os profissionais de enfermagem, muitas vezes, usam linguagens técnicas ou fornecem informações incompletas, de tal modo que as dúvidas sobre o que lhes foi informado persistam ou se tornem maiores.  

Às vezes ficamos com dúvidas, porque nos dizem assim: está tudo bem com ela, não tem febre, ou tem um pouco de febre, mas que não é considerado febre. Então vamos embora sem saber ao certo como ela está. Às vezes, a gente pergunta sobre a pressão [...] e respondem que está boa, mas eu não sei quanto que está. (F8) 

Quando eu fui perguntar do estado dele, ela falou uma linguagem técnica, alguma coisa em sentido de imunologia, nomes de umas bactérias, de coisas assim, que eu fiquei pensando: o que mesmo será que ela quis me falar sobre isso? Eu meio que entendi, mas não sai bem esclarecida sobre a situação. (F10) 

Os depoimentos permitem-nos inferir que há somente um repasse de informações, uma unilateralidade da mensagem no processo de comunicação entre os familiares e a equipe de enfermagem. De forma semelhante, estudo sobre a percepção dos profissionais de saúde quanto à comunicação com os familiares de pacientes em UTIs evidenciou que diante de um paciente grave, os trabalhadores tendem a falar mais tecnicamente e de forma mais geral com os familiares, para evitar seus questionamentos(5).

 Diante disso, acreditamos que o enfermeiro precisa fortalecer suas ações quanto ao gerenciamento do cuidado, o que inclui rever conceitos sobre comunicação e aperfeiçoar suas abordagens com a equipe de enfermagem, pois se o familiar não compreende o que lhe é informado pode-se dizer que não há comunicação, pois esta pressupõe troca e intercâmbio de mensagens(2).

É importante que a equipe de enfermagem desarme-se de seu linguajar técnico perante os familiares, orientando-os de uma maneira simples, por meio da utilização de palavras que possam ser compreendidas por eles. Contudo, isso não significa subestimar a capacidade de compreensão dos familiares, pois mesmo que utilize linguagem simples deve prestar uma informação completa, exemplificando o que foi dito e permitindo um retorno do que foi informado.

Para isso, a equipe de enfermagem precisa conhecer as percepções dos familiares, corrigir eventuais distorções, evitar transmitir informações incompletas ou dar oportunidade de dupla interpretação, incentive que os familiares manifestem suas dúvidas, e se disponibilizar a dar informações dirigindo a palavra com questões abertas. Por meio da escuta ativa, da disponibilidade e reciprocidade de mensagens será possível desenvolver um processo comunicativo dinâmico e efetivo, transmitindo mais segurança para família que depositará maior confiança nas ações da equipe(17).

Nesse ínterim, cabe ao enfermeiro a responsabilidade de conhecer o repertório do paciente e sua família para empregar um vocabulário adequado as suas condições de compreensão a fim de que a mensagem seja apreendida e entendida verdadeiramente, considerando a origem, a escolaridade, as experiências com saúde e a cultura dos envolvidos no processo comunicativo(2).

            Como estratégias para melhorar a comunicação com a equipe de enfermagem, os integrantes do estudo sugeriram, principalmente, um maior contato com a equipe de enfermagem durante o horário de visitas.

O horário de visita revelou-se como um dos principais espaços de comunicação entre equipe de enfermagem e familiares, pois é nesse momento que a família procura esclarecer suas dúvidas e receber informações acerca de seu parente internado. Nesse sentido, evidenciamos que os familiares gostariam de ter maior proximidade e interação com os profissionais de enfermagem durante o momento da visita. 

Eu acho que tinha que ter uma equipe, sempre pronta ali, [...] olhando quem é visita e estivesse disponível pra passar todas as informações para os familiares. Eu acho que seria legal se isso acontecesse, ou até perguntar se tem algum familiar que queira saber alguma coisa antes de ir embora. (F8) 

A enfermeira chefe, ou a enfermeira que está responsável pelo paciente no horário de visita, principalmente, tinha que ir lá no quarto. Claro que é muita gente para elas atenderem, eu sei que é corrido, mas eu acho que dava uns cinco minutinhos para perguntar: a senhora está com alguma dúvida? Está conseguindo compreender os aparelhos? (F9) 

A partir desses depoimentos, fica explicito a necessidade de aproximação da equipe de enfermagem com os familiares dos pacientes, a relevância do relacionamento, da presença, da comunicação e da disponibilidade como ferramenta propulsora para uma assistência humanizada. Os familiares compreendem que a UTI é um ambiente tenso e movimentado, em que os profissionais têm muitos afazeres. No entanto, eles buscam e necessitam um pouco de atenção, referindo que uma pequena fração do tempo dos profissionais de enfermagem seria suficiente para diminuir suas angústias e dúvidas. Esse achado converge com os resultados de outras pesquisas em que os familiares de pacientes em terapia intensiva expressaram o desejo de maior proximidade, acolhimento, calor humano e afeto por parte da equipe de enfermagem durante a visita(15,16).

Como na unidade estudada o momento da visita é o único espaço ofertado para receber informações sobre o paciente, os familiares também sugeriram que a equipe de enfermagem proporcione outros momentos, além da visita, destinados ao esclarecimento de dúvidas e orientações, como demonstra o seguinte relato: 

 Eu acho que eles tinham que fazer um tipo de aula para todos os familiares ficarem por dentro dos assuntos e não ficarem perdidos. Assim, seria mais fácil tanto para o doutor, como para as enfermeiras. (F2) 

Diante do exposto, acreditamos que o enfermeiro, como integrante da equipe de enfermagem responsável pelo gerenciamento do cuidado, deve buscar alternativas que contemplem as necessidades dos familiares dos pacientes. Para isso, podem ser elaboradas estratégias juntamente com sua equipe, com os demais profissionais que compõem a equipe assistencial do setor e com os próprios familiares, no intuito de viabilizar a organização de espaços alternativos para orientação e esclarecimento das dúvidas dos familiares de pacientes em terapia intensiva. As abordagens por meio de dinâmicas de grupo podem ser uma opção para trabalhar coletivamente a ansiedade, os temores que envolvem à hospitalização, bem como propiciar esclarecimentos sobre os procedimentos médicos e de enfermagem, a doença do paciente e as rotinas de uma UTI.

Também pode ser útil a elaboração de materiais impressos que contenham informações sobre o funcionamento da unidade, as normas para o controle de infecção, tipos de equipamentos utilizados e suas finalidades, tabelas com os parâmetros dos sinais vitais, entre outros esclarecimentos que possam ser importantes nas orientações aos familiares de acordo com cada realidade(18). No entanto, consideramos importante salientar que esses manuais não são suficientes para alcançar a família em sua humanidade, nem satisfazem, por si só, as necessidades, por exemplo, de acolhimento e vínculo que ela possui, que requerem uma relação permeada pelo diálogo e pela escuta atenciosa. 

Considerações finais  

A realização deste estudo nos permite concluir que, na opinião dos familiares de pacientes em terapia intensiva, a comunicação com a equipe de enfermagem é escassa e difícil na maioria das vezes. Os entrevistados referiram que têm dificuldade para conversar e esclarecer suas dúvidas com os profissionais de enfermagem, pois nem sempre eles estão presentes na unidade durante o horário de visitas.

Além disso, quando a comunicação acontece nem sempre ela é esclarecedora. A comunicação requer reciprocidade de mensagens e compreensão mútua, e esse fato não foi evidenciado nos relatos dos familiares, de maneira que em muitos momentos as necessidades de informações apresentadas por esses sujeitos não são sanadas tanto pela ausência do diálogo, como pela linguagem técnica utilizada pelos profissionais. Diante disso, os participantes do estudo sugeriram maior proximidade da equipe de enfermagem e organização de espaços destinados ao esclarecimento de dúvidas e orientações.

Percebe-se, assim, que o enfermeiro necessita priorizar e fortalecer suas ações quanto ao gerenciamento do cuidado, o que inclui rever seus conceitos sobre comunicação e aperfeiçoar suas abordagens. Da mesma forma, a equipe de enfermagem deve estar preparada para acolher os familiares, incluindo-os no planejamento do cuidado, utilizando a comunicação como ferramenta propulsora para alcançar esse objetivo. 

Destacamos a necessidade de o enfermeiro protagonizar ações que possibilitem a percepção, por toda a equipe, da necessidade de cuidar também da família e, além disso, criar possibilidades para o desenvolvimento de habilidades relativas a este cuidado, dentre elas a comunicação. Para isso, as práticas de educação permanente podem ser utilizadas como instrumento facilitador. O desenvolvimento de uma prática assistencial que proporcione maior satisfação aos pacientes e seus familiares perpassa pela revisão sistemática de conceitos teóricos acerca da comunicação que ganham aplicabilidade na prática. As mudanças no processo de trabalho da equipe de enfermagem, visando tornar o cuidado à família dos pacientes mais efetivo com base nos princípios da humanização, surge da vontade individual de cada profissional, da capacidade de fomentar a consciência da necessidade de mudança por parte do enfermeiro e pela adoção de medidas institucionais que garantam a efetividade dessas mudanças

Portanto, este estudo pode fornecer subsídios para mudanças nas práticas comunicativas entre a equipe de enfermagem das UTIs e os familiares dos pacientes internados, potencializando a humanização do cuidado produzido nesses ambientes, que envolve tanto a atenção à dimensão biológica, cultural e social dos pacientes, quanto o acolhimento da família que também vivencia o processo de hospitalização.  

Referências 

1.      Silva MJP. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 4. ed. São Paulo: Loyola; 2006.

2.      Stefanelli MC. Conceitos Teóricos sobre comunicação. In: Cianciarullo TI, coordenadora. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. Barueri: Manole; 2005. p. 28-46.

3.      Silva RC, Ferreira MA. Um deslocamento do olhar sobre o conhecimento especializado em enfermagem: debate epistemológico. Rev. Latino-Am. Enferm. 2008 Dez;16(6):1042-48.

4.      Leite MA, Vila VSC. Dificuldades vivenciadas pela equipe multiprofissional na unidade de terapia intensiva. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2005 Mar;13(2):145-50.

5.      Santos KMAB, Silva MJP. Percepção dos profissionais de saúde sobre a comunicação com os familiares de pacientes em UTIs. Rev. bras. enferm. 2006 Fev; 59(1):61-66.

6.      Silveira RS, Lunardi VL, Lunardi Filho WD, Oliveira AMN. Uma tentativa de humanizar a relação da equipe de enfermagem com a família de pacientes internados na UTI. Texto contexto - enferm. 2005;14(spe):125-30.

7.      Pinho L, Santos S. Fragilities and potentialities in the humanization attendance process in the intensive care unit: a qualitative and dialectic based-study. Online Brazilian Journal of Nursing [serial on the Internet]. 2007 April 21; [Cited 2009 May 10]; 6(1). Available from: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/853.

8.      Maruiti MR, Galdeano LE. Necessidades de familiares de pacientes internados em unidades de cuidados intensivos. Acta paul. enferm. 2007 Mar; 30(1):37-43.

9.      Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização Hospitalar. Brasília, 2002.

10.   Salicio DMBS, Gaiva MAM. O significado de humanização da assistência para enfermeiros que atuam em UTI. Rev. Eletr. Enf. [online]. 2006 [acesso em 2009 Jan 20]; 8(3): 370-76. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_3/v8n3a08.htm.

11.   Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco; 2007.

12.   Brasil. Resolução número 196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre as diretrizes e as normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde. Brasília, DF, 10 de out. 1996.

13.   Inaba LC, Silva MJP, Telles SCR. Paciente crítico e comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP. 2005 Dez;39(4):423-29.

14.   Oliveira OS, Nóbrega MML, Silva ATMC, Filha MOF. Comunicação terapêutica em enfermagem revelada nos depoimentos de pacientes internados em centro de terapia intensiva. Rev. Eletr. Enf. [online]. 2005 [acesso em 2009 Jan 20]; 7(1):54-63. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/Revista/revista7_1/original_05.htm.

15.   Gotardo GIB, Silva CA. O cuidado dispensado aos familiares na unidade de terapia intensiva. Rev enferm UERJ. 2005 Maio;13(2):223-8.

16.   Marques RC, Silva MJP, Maia FOM. Comunicação entre profissional de saúde e familiares de pacientes em terapia intensiva. Rev. enferm. UERJ. 2009 Jan;17(1):91-5.

17.   Filho WDL, Nunes AC, Pauletti G, Lunardi VL. As manifestações de ansiedade em familiares de pacientes internados em unidades de terapia Intensiva gerais. Fam. Saúde Desenv. 2004 Maio;6(2):100-9.

18.   Almeida FP, Veloso JWN, Blaya RP. Humanização em UTI. In: Knobel E, organizador. Terapia Intensiva: Enfermagem. São Paulo: Atheneu; 2006.

 

Contribuição dos autores: Concepção e desenho: todos; Análise e interpretação: todos; Escrita do artigo: todos; Revisão crítica do artigo: Adelina Giacomelli Prochnow; Aprovação final do artigo: Adelina Giacomelli Prochnow; Colheita de dados: Sabrina Guterres da Silva; Pesquisa bibliográfica: Sabrina Guterres da Silva e José Luís Guedes dos Santos; Suporte administrativo, logístico e técnico: José Luís Guedes dos Santos. E-mail para contato: Sabrina Guterres da Silva: E-mail: sabrinaguterres@yahoo.com.br

Editor´s Note:

You can interact with the authors and OBJN´s subscribers. Post a comment about this article related to:

- new insights or information about the theme (disease, procedure, drug, charting, patient safety, legal issues, ethical dilemmas, etc)

- nursing actions or registered nurse' roles.

- implications for the Registered Nurse (nursing diagnosis, interventions, and outcomes or procedures related to the client/family/community care) or to the Executive Nurse.

We all be thankful for your contribution!