Growth of premature children with very low weight coming from the neonatal unit - a descriptive study
Crescimento de crianças prematuras de muito baixo peso egressas da unidade neonatal- estudo descritivo
Crecimiento de niños prematuros de muy bajo peso egresados de la unidad neonatal- estudio descriptivo
Márcia Maria Coelho Oliveira* Paulo César de Almeida ** Maria Vera Lúcia Moreira Leitão Cardoso *
*UFC; **CCS/UECE.
ABSTRACT. One aimed to investigate the growth of premature children with very low weight coming from neonatal unit, through anthropometrical measures (weight, height, and cephalic perimeter) and verify associations between these one and the hospitalization period. Longitudinal, descriptive study, conducted in a maternity hospital and in the child’s home, in Fortaleza, from December/2004 to April/2005. A questionnaire was applied with 33 children, and monthly, the measures were got, which were evaluated according the percentiles of the child`s card, suggested by the Ministry of Health. The data weren’t statistically significant for weight and height percentile but was observed significance to the cephalic perimeter. These measures associated with the hospitalization time showed influences on weight, height, and cephalic perimeter percentiles. One concludes these children overcome the difficulties of hospitalization and present a deficit of growth in the first year of life. It is pertinent the systematic assessment of children’s growth to detection of possible health alterations.
Keywords: Birth weight, Child care, Pediatric nursing.
RESUMO. Objetivou-se investigar o crescimento da criança prematura de muito baixo peso egressa da unidade neonatal, por meio das medidas antropométricas (peso, comprimento e perímetro cefálico) e verificar associação entre essas com o período de internação. Estudo descritivo, longitudinal, realizado numa maternidade e no domicílio da criança, em Fortaleza, de dezembro/2004 a abril/2005. Aplicou-se um questionário a 33 crianças, e mensalmente, aferiram-se as medidas, avaliaram-se os respectivos percentis do Cartão da Criança, preconizados pelo Ministério da Saúde. Os dados não foram estatisticamente significantes aos percentis do peso e comprimento, porém, observou-se significância para o perímetro cefálico. Na associação dessas medidas com o tempo de internação, houve influências nos percentis de peso, comprimento e perímetro cefálico. Conclui-se que essas crianças sobrevivem às intempéries da internação e apresentam um déficit de crescimento no primeiro ano de vida. Torna-se pertinente a avaliação sistemática do crescimento infantil para detectar possíveis alterações na saúde.
Descritores: Peso ao nascer, Cuidado da criança, Enfermagem pediátrica.
RESUMEN. Se objetivó investigar el crecimiento del niño prematuro de muy bajo peso egresado de la unidad neonatal, por medio de medidas antropométricas (peso, largura e perímetro cefálico) y verificar asociación entre ésas con el periodo de internamiento. Estudio descriptivo, longitudinal, realizado en una maternidad y en el domicilio del niño, en Fortaleza, de diciembre/2004 a abril/2005. Se aplicó un cuestionario a 33 niños, y mensamente, se han conferido las medidas, evaluando los respectivos percentiles del Carta de la niño, preconizados por el Ministerio de Salud. Los datos no fueron estadísticamente significante en percentiles del peso y largura, pero, se lo observó significancia para el perímetro cefálico. En la asociación de esas medidas con el tiempo de internamiento, hubo influjo en los percentiles de peso, largura e perímetro cefálico. Se concluye que ésas niños sobreviven a intemperies del internamiento y presentan un déficit de crecimiento en el primer año de vida. Se torna pertinente la evaluación sistemática del crecimiento infantil para detectar posibles alteraciones en la salud.
Descriptores: Peso al nacer, Cuidado del niño, Enfermería pediátrica.
INTRODUÇÃO
O número de internações dos recém-nascidos (RNs) nas unidades neonatais é considerado elevado, em decorrência dos diagnósticos da prematuridade, muito baixo peso ao nascer, anóxia perinatal, dentre outros, que predispõem a tratamentos especializados para sobreviverem. Considera-se, no entanto, que as condições de nascimento são fortes fatores que influenciam na adaptação e na evolução da vida pós-natal.
A prematuridade é uma das principais causas de morbimortalidade perinatal, com uma incidência entre seis e doze por cento, sendo responsável por 75% das mortes perinatais. Essas conseqüências são decorrentes da imaturidade anatômica e fisiológica associada às condições do nascimento e os cuidados subseqüentes(1). Entretanto, considera-se que quanto menor a idade gestacional (IG), maior a prematuridade e as complicações, tais como episódios de apnéia, síndrome de angústia respiratória aguda, infecções adquiridas e hemorragia intracraniana(2).
Por sua vez, a prematuridade é diagnosticada de acordo com a avaliação da IG, cujo conceito é toda criança nascida até 36 semanas e seis dias e recém-nascido de muito baixo peso (RNMBP) é todo aquele que apresenta um peso inferior a 1.500g ao nascer(3). Conforme a avaliação e os riscos detectados, o RN deve ser encaminhado para Unidade de Internação Neonatal (UIN), que requer monitorização contínua, procedimentos técnicos, vigilância clínica, além de uma equipe treinada e capacitada que propicie um ambiente adequado para o crescimento e desenvolvimento, principalmente, quando ainda se encontram no ambiente hospitalar(4).
A esse respeito, reconhecem-se as possibilidades para o surgimento das conseqüências provenientes da própria condição fisiológica do RN, assim como àquelas provocadas no decorrer da internação. Neste cenário da assistência, o seguimento das crianças de MBP condiz amplo conceito de desfecho, que envolve as possíveis seqüelas, monitorização do crescimento e desenvolvimento, bem como encaminhamento aos serviços de reabilitação.
Neste estudo, dá-se ênfase ao crescimento físico que se considera, internacionalmente, o indicador do estado nutricional, visto que a nutrição adequada permite atingir o crescimento normal, enquanto a combinação das medidas antropométricas (peso e comprimento) produz os índices que permitem interpretar o crescimento(5). Define-se crescimento como um processo biológico, de multiplicação e aumento do tamanho celular e corporal e, portanto, ele cessa com o término do crescimento linear. De modo mais amplo, pode-se dizer que o crescimento do ser humano é dinâmico, contínuo, e ocorre desde a concepção até o final da vida, considerando-se os fenômenos de substituição e regeneração de tecidos e órgãos(6).
Frente a esses conceitos, acredita-se que o início de um atendimento em tempo hábil, facilitando a ação terapêutica, pode-se evitar a instalação de problemas secundários ao problema primário. Portanto, a detecção precoce dos desvios é fundamental(7). Em se tratando desse grupo, torna-se essencial, após a alta hospitalar, o acompanhamento no ambulatório de follow-up.
Com estas considerações, realizou-se o presente estudo, buscando responder as questões: O período de internação interfere com o crescimento da criança de muito baixo peso (MBP) egressa da UIN? Como se avalia o crescimento dessas crianças prematuras?
Tais indagações causam inquietações para quem atua nas unidades neonatais. Assim, os profissionais de Enfermagem acreditam que sua participação na promoção da saúde infantil, na redução dos índices de morbimortalidade perinatal, na diminuição de custos dos serviços de saúde, bem como a alta precoce e a satisfação do cliente (família) são fatores que desafiam o enfermeiro a otimizar a assistência, como um meio de propiciar o crescimento adequado no período pós-natal.
Existem evidências suficientes de que quanto mais precoce for o diagnóstico de atraso e a intervenção terapêutica, menor será o impacto desse problema na vida da criança(8). Logo, percebe-se a relevância da continuidade da assistência à criança egressa da UIN, a fim de que sejam tomadas as condutas necessárias, minimizando os riscos de agravos a sua saúde.
OBJETIVOS
· Investigar o crescimento das crianças prematuras de muito baixo peso, egressas da unidade neonatal, por meio das medidas antropométricas: peso, comprimento e perímetro cefálico.
· Verificar associação das medidas antropométricas da curva de crescimento e o tempo de internação da criança prematura, de muito baixo peso, na unidade neonatal.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo longitudinal que se constitui de uma correlação entre variáveis, através de observações repetidas dos mesmos itens. O estudo longitudinal objetiva a realização da produção do dado em múltiplas ocasiões num longo período de tempo(9).
O estudo foi desenvolvido em dois cenários de atenção à criança: na maternidade e no domicílio, no ano de 2005. Em uma instituição pública federal de grande porte, de nível terciário, considerada centro de referência para cidade de Fortaleza e o Estado do Ceará, escolheu-se o campo de estudo - ambulatório do follow-up, onde se realiza o acompanhamento das crianças egressas da UIN.
Os critérios de inclusão foram os RN prematuros com peso inferior a 1.500g ao nascer, com acompanhamento ambulatorial pós-alta hospitalar, mãe e criança residirem na cidade de Fortaleza. Para se definir o tamanho da amostra, teve-se como referência o somatório de crianças de MBP egressas da unidade nos meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro/2004, ou seja, do ano anterior à coleta. Isso permitiu se traçar um panorama da realidade de egressos da instituição estudada. A amostra correspondeu a 33 crianças egressas da UIN e 31 mães. Esse número não é idêntico, em virtude de duas mães terem parto gemelar.
Para coleta de dados, aplicou-se um formulário que contemplou as variáveis inerentes à criança ao nascer, os dados maternos e o registro mensal das medidas antropométricas. Em relação às condições de nascimento, verificaram-se as medidas do peso, comprimento e perímetro cefálico, Apgar, Idade Gestacional (IG), tipo de parto, classificação quanto ao peso e IG. Quanto às intervenções terapêuticas, modalidades e tempo de uso de oxigenoterapia, surfactante, fototerapia e nutrição parenteral. Após a extração desses dados do prontuário, foram aferidas, mensalmente, as medidas que se registravam no gráfico de controle da evolução pondo-estatural de cada criança, preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para ambos os sexos(10).
Adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil, o Cartão da Criança visa acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança, por meio de um gráfico que corresponde ao padrão internacional do National Center of Health Statistics (NCHS) de 1977/78(10). Optou-se, portanto, utilizar o gráfico do Cartão da Criança, a fim de contribuir com o seguimento dessas crianças no primeiro ano de vida, principalmente, àquelas que nasceram comprometidas e requerem tratamento e internação de imediato ao nascer.
Durante um período de cinco meses, realizou-se, mensalmente, aferição e avaliação das medidas antropométricas das crianças. Quando elas não compareciam ao ambulatório, em virtude dos motivos familiares, realizava-se a visita domiciliar no intuito de traçar o seguimento da curva. A aferição nos domicílios foi possível, mediante a aquisição de uma balança digital que atende a Norma do Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO, bem como outros materiais ofertados pelos projetos financiados pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), órgão vinculado à Secretaria da Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Ceará.
Conforme o gráfico, acompanhava-se a dinâmica do crescimento, através da relação da idade corrigida com a respectiva medida. O sentido do traçado da curva (ascendente, horizontal ou descendente) é desenhado em linha contínua, a partir da ligação da medida anterior com a atual. Conforme o traçado verificava-se o percentil que a criança se encontrava na curva de crescimento.
Posteriormente, os resultados foram apresentados em tabelas. A análise bivariada foi aplicada para se verificar a associação entre o percentil da curva de crescimento das referidas medidas com o tempo de internação (meses). Nessas situações, utilizaram-se os testes de c2 e de Fisher – Freeman – Halton(11). Para todos os testes fixou-se o nível de significância de 5%. Os dados foram processados nos programas Microsoft Excel e no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 11.0.
A pesquisa foi encaminhada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará – COMEPE. Após sua aprovação, foi iniciada a coleta de dados. Atendendo à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as normas para a pesquisa envolvendo seres humanos, solicitou-se a cada respondente a concordância com assinatura do termo de consentimento.
RESULTADOS
Caracterização da amostra
Das 33 crianças prematuras, nascidas com menos de 37 semanas de IG, 13 (39.4%) nasceram entre 27 e 29 semanas de IG, e 17 (51.5%) se encontravam no intervalo de 30 a 33 semanas. No que se refere ao sexo, masculino (16 - 48.5%) e feminino (17 - 51.5%). Quanto à adequação gestacional, predominou as crianças pequenas para idade gestacional (PIG) (22 - 66.7%). Em relação às medidas antropométricas dos RN ao nascer, o menor peso foi de 580g e o maior de 1.440g, destacando-se que sete (21.2%) crianças nasceram com cerca de 580g - 999g e 26 (78.8%) encontravam-se entre 1.000g -1.440g. Quanto ao comprimento, 27 cm foi o menor e 47 cm, o maior, sobressaindo 18 (54.6%) crianças no intervalo de 35 – 40 cm. Quanto ao perímetro cefálico, a menor medida foi de 20 cm e a maior, de 30 cm, sendo que a medida predominante foi entre 26 - 28 cm de 19 (57.6%) crianças.
Conforme as condições de nascimento, 21 (63.6%) crianças foram reanimadas, e no primeiro minuto de vida, sete (21.2%) bebês apresentaram Apgar no intervalo de 1-3, 14 (42.4%) obtiveram índice entre 4 - 6 e 12 (36.4%) com um bom índice, entre 7 – 9. Quanto ao tipo de parto e números de fetos, 16 (48.5%) crianças nasceram via vaginal e 17 (51.5%) por cesariana, 28 (84.8%) fetos únicos e 5 (15.2%) fetos gemelares.
Em relação à terapêutica, 9 (27.3%) crianças permaneceram em uso de oxigênio em um menor intervalo de 1 a 14 dias, 19 (57.6%) receberam surfactante, 12 (36.4%) usaram fototerapia e 14 (42.4%) foram infundidas nutrição parenteral (NPT).
Realização da curva de crescimento
No primeiro ano de vida da criança é pertinente a monitorização do crescimento periódico, por meio das medidas antropométricas, que serão avaliadas quanto à evolução na curva-padrão, expressas no gráfico da Caderneta da Criança correspondente ao padrão internacional do NCHS de 1977/78, adotado pela OMS(10).
Em relação à curva do peso, os respectivos percentis (P) se apresentam: P3 (peso baixo para a idade); as variações: P3 <P< P10 (situação de risco ou de alerta nutricional), P10<P<P97 (crescimento esperado para a idade) e > P97 (acima do peso). Quanto à curva do comprimento e perímetro cefálico, os percentis são equivalentes e representam: <P5; os intervalos de P5< P <P50, P50 <P <P95 e < P95. Essas variações de percentis estão apresentadas nas tabelas abaixo, assim como, os números expressos que correspondem ao somatório de crianças inseridas, mensalmente, nos percentis de peso, comprimento e perímetro cefálico.
Tabela 1- Análise de tendência dos percentis das crianças de muito baixo peso, segundo o acompanhamento do peso, comprimento e perímetro cefálico. Fortaleza, dez/2004-abril/2005.
Variável |
Dez Jan Fev Mar Abr Total c2 p
|
Peso <P3 P3<P<P10 P10<P<P97 >97
Comprimento <P5 P5<P<P50 P50<P<P95 <P95
Perímetro cefálico (PC) <P5 P5<P<P50 P50<P<P95 >P95 |
4 6 6 7 7 30 0,002(1) 0,968 1 2 3 3 2 11 7 14 15 13 14 63 - 1 1 1 1 4
- - - - - - 10 15 15 14 14 68 2,21(1) 0,137 2 6 6 8 6 28 - 2 4 2 4 12
10 14 12 14 8 58 4,72(1) 0,030 1 5 10 9 15 40 - 3 3 - 1 7 1 1 - 1 - 3 |
(1)
c2
para
tendência.
Fonte:
Maternidade Escola Assis Chateaubriand – MEAC – Prontuário. n= 33
RNs
A Tabela 1 apresenta as análises de tendência dos percentis das crianças de muito baixo peso, ao longo do período de acompanhamento, a partir de Dez/2004 a Abril/2005.
Percebe-se que não ocorreu crescimento dentro das faixas dos percentis de peso (p=0,968) e nem nos de comprimento (p= 0,137). Todavia, identificou-se uma tendência de crescimento e estatisticamente significante (p= 0,030) para o PC, sendo que essa tendência ficou evidente apenas nas faixas de normalidade do percentil (P5<P<P95).
Na Tabela 2 demonstra-se a associação da variável tempo de internação em que permaneceu a criança de MBP na unidade neonatal e os respectivos percentiis encontrados na curva de crescimento. Para não se encontrar a freqüência zero, foram escolhidas as três principais variações de percentis: percentil insuficiente (inferior), percentil esperado (intermediário) e acima do percentil (superior).
Tabela 2 - Associação do tempo de internação da criança na unidade neonatal e os percentis da curva de peso, comprimento e perímetro cefálico. Fortaleza, dez/2004-abril/2005.
Variável |
Tempo de internação do RN (dias) 1 a 57 58 a 195 Teste p |
Peso < P10 P10 < P < P 97 > P 97
Comprimento < P5 P5 < P < P 95 > P95
Perímetro cefálico (PC) < P5 P5 < P < P 95 > P 95
|
13 40 (1) 0,001 59 26 4 -
31 55 23,27(2) 0,001 44 13 - -
27 42 (1) 0,001 47 20 - 3 |
(1)
Teste de Fisher –
Freeman – Halton; (2) Teste de c2
Fonte:
Maternidade Escola Assis Chateaubriand – MEAC – Prontuário.
n= 33 RNs
Pode-se verificar o tempo de internação em intervalos de dias e os números que correspondem ao somatório de crianças inseridas, mensalmente (dez/2004 - abril/2005), nas variações dos percentis. Percebe-se nas três variáveis que, quanto menor o tempo de internação mais crianças se situam na faixa de normalidade dos respectivos percentis: peso (p=0,001), comprimento (p=0,001) e perímetro cefálico (p=0,001).
DISCUSSÃO
Deve-se ter a compreensão da dinâmica do crescimento das crianças nascidas prematuras e de MBP. No entanto, para se realizar uma avaliação condizente com intervenções adequadas e peculiares a essa clientela é preciso calcular a idade corrigida (IC), que traduz o ajuste da idade cronológica. Esse ajuste reduz a variabilidade do crescimento entre as crianças e permite uma avaliação mais efetiva das taxas de crescimento(12).
Recomenda-se a correção da IG, principalmente, para os prematuros de EBP e os menores que 28 semanas até os três anos, pois, aos dois anos implica 12% de diferença o desempenho nos testes de desenvolvimento, o que é suficiente para, erroneamente, classificá-lo como anormal, e, durante algum tempo, o RN ficará abaixo da curva do percentil P10, quanto mais prematuro for(13). Tal condição poderá ter implicações inadequadas na observação do crescimento e desenvolvimento, bem como na avaliação e conduta na assistência a essas crianças.
Os achados deste estudo coincidem com a literatura, ao descrever que o crescimento das medidas peso e comprimento são mais lento, comparado ao crescimento do PC. A maioria das crianças atinge seu canal de crescimento (catch-up) entre os percentis de normalidade nas curvas de referência dos 2 aos 3 anos de idade. Geralmente, ocorre primeiro o catch-up no PC, seguido pelo comprimento e depois pelo peso(12).
O termo catch-up caracteriza a velocidade acelerada de crescimento, após um período de crescimento lento ou ausente, permitindo recuperar a deficiência prévia. O catch-up dos prematuros nos primeiros anos de vida, equiparando seu crescimento ao das crianças sadias nascidas a termo, recupera o seu potencial de crescimento de peso e comprimento que se encontravam abaixo do percentil mínimo de normalidade nas curvas de crescimento pós-natal(13).
Na fase de ganho acelerado, as medidas apresentam algumas particularidades. Em relação ao peso, o RN prematuro ganha em média 300g por semana, bem como o ganho de 20 a 30 g/dia ou 10 a 20 g/kg/dia, nas primeiras 20 semanas de vida. O comprimento tem uma variação de 2,5 a 4 cm e pode na fase de crescimento acelerado ter uma média semanal de 1cm. O PC pode aumentar de 1,1cm por semana entre 30 a 40 semanas de IG(6).
A curva de crescimento do PC reflete o desenvolvimento dos órgãos cranianos. O volume cerebral passa de 25% a 60% em apenas doze meses. Em virtude de o perímetro da cabeça crescer lentamente, merece especial atenção nos primeiros anos, pois seu catch-up é precoce e geralmente ocorre até 12 meses de IC(14). O perímetro adequado é expresso na faixa de normalidade situada entre os percentis 50 e 95(15).
As crianças com BPN estão em desvantagem em relação ao crescimento físico, quando comparadas às de peso de nascimento adequado, além de serem mais vulneráveis às infecções(7 Autores de estudos recentes alertam para o pior prognóstico de desenvolvimento nos casos de crescimento inadequado nos primeiros meses de vida(12-13).
Quanto ao tempo de internamento, estudos revelam resultados semelhantes à internação prolongada(16-17). Observou-se a trajetória do RN, desde o nascimento até a alta hospitalar, e evidenciou-se uma média de um mês de internação para se adquirir condições viáveis e encaminhado para o seio familiar(16).
Nestas circunstâncias, o peso constitui uma importante variável de avaliação do crescimento e a evolução ponderal do RN prematuro é fator prioritário nos serviços de neonatologia como um dos critérios para a análise do seu crescimento e desenvolvimento, determinando a alta hospitalar(17). Em virtude das condições de nascimento e do surgimento de alterações clínicas, os RNMBP permanecem uma longa internação na unidade neonatal.
Acredita-se que o tempo de internação é indeterminado, pois no decorrer, variáveis como condições de nascimento, idade gestacional, uso da terapêutica podem implicar iatrogenias, desencadear maiores índices de morbimortalidade com infecções e recidivas de internações, além de comprometer os fatores do crescimento e desenvolvimento da criança, após a alta hospitalar.
Dentre os RN de alto risco existe um grupo especial, os prematuras e os de MBP, que são susceptíveis a desenvolver deficiências nutricionais, visto que a imaturidade metabólica dos órgãos, infecções, agravos cirúrgicos e terapêuticos causam perda de nutrientes e afetam negativamente o crescimento pós-natal(14). Durante a internação em unidades de alto risco, essas crianças sofrem influências do seu quadro clínico, dos estressores ambientais, aos quais elas são submetidas, bem como os diversos procedimentos dolorosos, o aleitamento materno e vínculo afetivo dos pais prejudicados, são considerados fatores pertinentes que ocasionam perda de peso e que implicarão alterações na curva de crescimento.
Para cuidar da criança prematura egressa da terapia intensiva neonatal em seu domicílio é preciso haver interação com a família e abordá-la como partícipe do cuidado prestado a criança, mas também como elemento a ser cuidado(18). Sabe-se que as condições socioeconômicas podem exercer implicações na curva de crescimento, após a alta hospitalar, pois, a criança dependerá totalmente dos cuidados da família, das condições ambientais e nutricionais que está inserida.
Nesse contexto, percebe-se que a vida pós-alta hospitalar da criança nascida pré-termo e de BPN e de sua família encontram-se vulneráveis a muitas alterações, as quais devem ser bem conhecidas tanto pelos pais/cuidadores como pela equipe de saúde que acompanha essa criança durante seu crescimento e desenvolvimento.
CONCLUSÕES
No que concerne à tendência dos percentis das crianças de MBP, ao longo do período de dez/2004 a abril/2005, percebe-se que não apresentou alterações no crescimento dentro das faixas dos percentis da variável peso e comprimento, todavia, encontrou-se uma tendência de crescimento para o perímetro cefálico, significante para a faixa de normalidade. Logo, esses dados coincidem com as literaturas, ao referirem que o crescimento das medidas peso e comprimento são mais lento, comparado ao crescimento do perímetro cefálico.
Considera-se que as medidas antropométricas revelam excelente indicador para avaliar e/ou detectar desvios no crescimento da criança. Os valores mostram que os dados antropométricos se encontram muito aquém do percentil mínimo de normalidade nas curvas de crescimento.
Torna-se essencial, no primeiro ano de vida, o acompanhamento do crescimento da criança prematura e de MBP, por meio da aferição das medidas antropométricas, a evolução nas curvas-padrão expressas em percentis, que têm auxiliado a identificar recém-nascidos de alto risco e, conseqüentemente, a prevenir possíveis problemas clínicos de forma mais precoce. Ressalta-se também a importância de se lançar curvas de crescimento adequadas para esta clientela que vivenciaram uma complexa e duradoura internação, as quais, para avaliação, consideram a idade gestacional corrigida, e não a idade cronológica.
Na associação da variável tempo de internação com os percentis peso, comprimento e perímetro cefálico apresentou, estatisticamente, nível de significância na curva de crescimento para os respectivos percentis. Infere-se, portanto, que quanto maior o tempo de internação, maior será o número de crianças abaixo do percentil de crescimento, e quanto menor o intervalo de tempo, maior o predomínio de crianças nas faixas de normalidade.
Cada vez mais crianças de MBP estão saindo das UINs com necessidades específicas, e para as quais, nem sempre, os profissionais dos serviços de atenção primária estão habilitados. A organização de ambulatórios com graus de complexidade, de acordo com os recursos existentes na unidade ou na região é um recurso para suprir a necessidade do atendimento desta população.
Almeja-se a contribuição direta na assistência de Enfermagem à criança, à mãe e à família, que possibilite o planejamento de ações dirigidas ao acompanhamento do crescimento da criança, quer seja no domicílio ou no ambulatório, ao repassar informações à família para melhor cuidar da criança, sem desconsiderar a necessidade de uma rede de apoio social.
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NOTA: Parte da Dissertação “Avaliação do crescimento de crianças prematuras de muito baixo peso egressas da unidade neonatal”. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. 2005. Fortaleza. Nota da editora:revista e atualizada para publicação.