Importance of the Supportive-educative System of Orem Model in the patient compliance – Reflexive study

Importância do Sistema Apoio-Educação do Modelo de Orem na adesão – estudo reflexivo

 

 Alexsandra Rodrigues Feijão1, Marcos Venícius de Oliveira Lopes2, Marli Teresinha Gimeniz Galvão2

1. Hospital São José de Doenças Infecciosas – HSJ / CE; 2. Universidade Federal do Ceará – UFC / CE

Abstract: The study aims to analyze critically the importance of the Supportive-Educative Systeml of Orem model to the therapy following, that is, compliance. The model of analysis we have chosen was proposed by Chinn and Kramer and it embraces processes for critical reflection of a theory, from which we used the criterion importance. It has twelve (12) questions as a guide. Among them, we have chosen three, which were related to the aspect of nursing practice, and they were adapted to the study objective. They are: 1. Does the theory have power to influence nursing actions in order to educate and stimulate therapy following? 2. How specific are the theory purposes? Do they provide a general structure for nursing action on compliance? Do they subsidize the presumption phenomena? 3. Will the application of this theory help in the solution of problems related to the compliance? Reflecting on these questions and on the aspects which are inherent in nursing care in relation to compliance, we considered the importance of the Supportive-Educative System to help the nurse in the encouragement and support for the therapy following by the patients. This system is based on dialogue, interaction, interdependence and co-responsibility between the subjects involved, what provides structural archetype for planning, behavior and evaluation of nursing assistance in the incentive and support for the therapy following.

Key-words: Nursing; Self Care; Nursing Theory; Health Promotion 

Resumo: O estudo objetiva analisar criticamente a importância do Sistema Apoio-Educação do Modelo de Orem em relação ao seguimento da terapêutica, ou seja, adesão. O modelo de análise escolhido foi proposto por Chinn e Kramer que abrange processos para a reflexão crítica de uma teoria, do qual utilizou-se o critério importância, que possui como guia doze (12) questões. Dentre estas, foram escolhidas três relacionadas à prática da enfermagem, sendo adaptadas ao objetivo do estudo, a saber: 1. A teoria tem potencial para influenciar ações de enfermagem com a finalidade de educar e incentivar o seguimento terapêutico? 2. Quão específicos são os propósitos da teoria? Eles fornecem uma estrutura geral para ação de enfermagem em relação à adesão? Subsidia a presunção fenômenos? 3. A aplicação desta teoria auxiliará na resolução de problemas relacionados à adesão? Refletindo sobre estes questionamentos e os aspectos inerentes ao cuidado de enfermagem em relação à adesão, ponderou-se que o Sistema Apoio-educação é importante para auxiliar o enfermeiro no estímulo e apoio ao seguimento da terapêutica por parte dos pacientes. Este Sistema é baseado no diálogo, interlocução, interdependência e co-responsabilização entre os sujeitos envolvidos, fornecendo arquétipo estrutural para o planejamento, conduta e avaliação na assistência de enfermagem no incentivo e apoio ao seguimento da terapêutica.

Descritores: Enfermagem, autocuidado, teoria de enfermagem, Promoção da Saúde.

 Introdução:

Teoria é uma abstração da realidade entendida como uma organização de palavras ou outros símbolos que representam experiências perceptuais de objetos, propriedades ou eventos. Tal como um mosaico, uma teoria possui organização e padrões e, enquanto abstração sistemática da realidade, ela também é orientada por propósitos1.

O uso de teorias na Enfermagem reflete um movimento da profissão em busca da autonomia e da delimitação de suas ações. Durante sua história, a Enfermagem esteve sempre dependente de outras ciências sem que houvesse um corpo de conhecimento próprio, o que fomentou o desejo nos enfermeiros de conhecer sua verdadeira natureza e construir sua identidade2.

Considerando que teorias são fundamentos para a prática, o desenvolvimento destas na enfermagem contribuiu para a definição dos papéis da enfermagem enquanto profissão, suas especificidades e seus saberes, como também para o desenvolvimento do caráter científico e autônomo de uma profissão que até recentemente era considerada uma ramificação do saber médico.

Embora o desenvolvimento do ensino teórico na prática de enfermagem tenha sido focalizado na enfermagem na última década, a conexão prática/teoria ainda necessita ser mais explorada e articulada. Da mesma forma, dentro da educação em enfermagem, teoria é muitas vezes apresentada como um corpo de conhecimentos aprendidos além da arena da prática, isolando-a do trabalho cotidiano da enfermagem3.

Neste sentido, a incorporação de teorias na prática profissional, por parte dos enfermeiros, permanece incipiente. A dificuldade em compreender os elementos e a estrutura de uma teoria de enfermagem pode ser um dos motivos para isto4. A análise de teorias é fundamental para melhorar a compreensão da relação entre teoria, prática assistencial, ensino e pesquisa, bem como auxilia no julgamento da adequação de teorias nas mais diversas realidades e situações de cuidado. Para tanto, existem modelos que estabelecem critérios voltados para a apreciação crítica de uma teoria, analisando sua convergência com a realidade que se apresenta.

Ao se refletir acerca da aplicabilidade de uma teoria em uma determinada prática, um dos aspectos que podem ser analisados é a importância da teoria, que é intimamente ligada à idéia de sua significância clínica ou valor prático1. A importância relaciona-se com a possibilidade de uma teoria criar uma realidade relevante para a enfermagem.

Neste sentido, lança-se o olhar para a Teoria de Orem, a qual é amplamente utilizada em estudos científicos, sendo frequentemente citada enquanto uma teoria importante para a enfermagem, no entanto são escassos os trabalhos que abordam a temática. Portanto, este estudo se propõe a analisar criticamente a importância do Sistema Apoio-Educação do Modelo de Orem em relação ao seguimento da terapêutica, ou seja, adesão.

 Percurso Metodológico:

Estudo do tipo teórico-reflexivo, desenvolvido no período de setembro a novembro de 2008, onde analisou-se o Sistema Apoio-Educação da Teoria de Orem e sua relação com o seguimento terapêutico sob o aspecto importância do modelo de análise de teoria de Chinn e Kramer.

Tal modelo contém cinco critérios de avaliação teórica: clareza, simplicidade, generalidade, acessibilidade e importância. Em cada critério emergem questões que guiam a reflexão crítica, demonstrando que aspectos devem ser avaliados para compreender a relação da teoria com a prática, pesquisa ou atividades educacionais1.

Para o desenvolvimento deste estudo, utilizou-se o critério importância, o qual possui como guia doze (12) questões. Dentre estas, foram escolhidas três relacionadas ao aspecto prático da enfermagem, sendo adaptadas ao objetivo do estudo, a saber: 1) A teoria tem potencial para influenciar ações de enfermagem com a finalidade de educar e incentivar o seguimento terapêutico? 2) Quão específicos são os propósitos da teoria? Eles fornecem uma estrutura geral para ação de enfermagem em relação à adesão? Subsidia a presunção fenômenos? 3) A aplicação desta teoria auxiliará na resolução de problemas relativos à adesão?

Estes questionamentos foram aplicados durante a análise reflexiva do Sistema apoio-educação da Teoria de Sistemas de Enfermagem de Dorothéa Orem. A Teoria Geral de Enfermagem de Orem se constitui de um modelo, o qual compreende três teorias inter-relacionadas: Teoria do Autocuidado, Teoria do Déficit de Autocuidado e Teoria de Sistemas de Enfermagem. Todos os construtos teóricos vislumbram o autocuidado (AC) como cerne. Porém, na Teoria de Sistemas de Enfermagem, Orem determina o grau de dependência à enfermagem referente ao autocuidado do indivíduo5.

Orem considera três classificações de sistemas de enfermagem: (1) Sistema de enfermagem totalmente compensatório; (2) Sistema de enfermagem parcialmente compensatório; (3) Sistema de enfermagem Apoio-educação6. Esta classificação representa a definição e relação dos papéis da enfermagem e do paciente, conforme as condições que os pacientes possuem para desenvolver AC.

Esta relação inerente ao Sistema Apoio-educação foi analisada reflexivamente, com auxílio do referencial teórico e da literatura pertinente sob o prisma da adesão. Dessa forma, os resultados foram apresentados em três tópicos principais: (1) Teoria de Sistemas de Enfermagem e o Sistema Apoio-Educação; (2) Adesão: conceitos e perspectivas; (3) Análise da importância do Sistema Apoio-Educação na adesão. Sendo que este último responderá as questões acima propostas.

 Resultados e Discussão:

1. Teoria de Sistemas de Enfermagem e o Sistema Apoio-Educação

De acordo com Orem6, em geral todas as ações desempenhadas por enfermeiros em suas relações com os pacientes constituem-se em um sistema de ação. Ações de enfermagem com enfoque social, interpessoal e tecnólogico-profissional, em termos de análise podem ser divididas e consideradas como subsistemas.

Neste sentido, os pressupostos que fundamentam a Teoria de Sistemas estabelecem que a enfermagem é um esforço prático, isto é, um serviço humano de saúde, que pode ser entendida como arte e qualidade intelectual de enfermeiros em conceber e produzir enfermagem para outras pessoas, articulando operações de alcance de resultados com as características interpessoais e sociais da enfermagem.

Em relação às ações de AC, à enfermagem cabe o desempenho de operações essenciais, como diagnósticos, prescrições e avaliação ou tratamento de enfermagem, sob uma perspectiva tecnológica. Partindo destes conceitos, a descrição de sistemas de enfermagem abrange diagnósticos de enfermagem relacionados à natureza e causa dos déficits de AC, à estimativa das demandas de cuidado terapêutico, e à identificação fidedigna das capacidades de AC e limitações de ação dos pacientes.

Quanto à classificação dos sistemas de enfermagem, seus elementos concretos são as pessoas, consideradas possuidoras de atributos e poderes que legitimam a ocupação do status de enfermeiro e o status de paciente da enfermagem. A teoria dos sistemas também está baseada nas necessidades de autocuidado e nas capacidades do paciente para desempenhar as atividades.

Dessa forma, Orem determinou o grau de dependência à enfermagem no que tange ao AC do indivíduo, classificando essa relação em três sistemas de enfermagem. O Sistema Totalmente Compensatório é representado pela situação em que o indivíduo é incapaz de engajar-se nas ações de autocuidado, seja pela limitação ou pela restrição às atividades da vida diária. O Sistema Parcialmente Compensatório inclui tudo que o indivíduo consegue fazer, mas ainda precisa de auxílio de terceiros para atingir o seu bem-estar. No Sistema Apoio-educação o indivíduo é capaz de desempenhar, ou pode e deve aprender a desempenhar as medidas exigidas pelo autocuidado8.

Este último sistema denota uma relação de interdependência e co-responsabilidade. Ações importantes nestas situações incluem a associação de apoio, orientação, promoção de um ambiente propício para o desenvolvimento, e ensino. Vale destacar que existem algumas variações neste sistema. Na primeira, um paciente pode realizar medidas de cuidado, mas necessitam de orientação e apoio. Na segunda variação, há necessidade de ensino, ou seja, o paciente necessita aprender para desenvolver. O provimento de um ambiente propício para o desenvolvimento é requisitado na terceira variação como método de ajuda. A quarta, trata-se de uma situação na qual o paciente é competente para realizar seu AC, mas requer periódica orientação que ele mesmo busca; nesta variação o papel da enfermagem é essencialmente consultivo.

2. Adesão: conceitos e perspectivas

A adesão ao tratamento pode ser definida como compromisso de colaboração ativa e intencionada do paciente, com a finalidade de produzir um resultado preventivo ou terapêutico desejado9. Nessa perspectiva, a aquisição e manutenção da conduta de adesão ao tratamento são fundamentais para a obtenção de bons resultados terapêuticos.

O fenômeno da não-adesão ao tratamento tem sido considerado universal, particularmente entre pessoas com doenças crônicas. Estudos sobre fatores associados ao tratamento com anti-retrovirais (ARV) em países desenvolvidos têm confirmado que a adesão ao tratamento é um fenômeno complexo e multicausal9. Diversos fatores preditivos para a não-adesão ao tratamento têm sido apontados e podem ser agrupados em: fatores relacionados à pessoa sob tratamento; à doença; ao tratamento; aos serviços de saúde e suporte social10.

Percebe-se que para haver o adequado seguimento de uma terapêutica implementada, as relações entre paciente-profissional e as condições favoráveis ou desfavoráveis devem ser levantadas e consideradas durante a consulta. Estudos11,12,13,14 demonstram a influencia de diversos fatores na decisão do paciente em seguir determinada terapêutica. Cita-se, por exemplo, idade, escolaridade, confiança no profissional, aceitação da doença ou agravo, quantidade de medicamentos ou medidas a serem tomadas, longos tratamentos (doenças crônicas), efeitos colaterais de medicações, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, fatores econômicos, sociais e culturais, além do nível de conhecimento e capacidade de compreensão sobre a doença e tratamento.

Ressalta-se que nos Estados Unidos cerca de 5,3% das admissões hospitalares estão associadas à não adesão aos tratamentos farmacológicos prescritos, enquanto os custos anuais diretos e indiretos decorrentes deste comportamento são de 25 bilhões e 100 bilhões de dólares, respectivamente. Estas estimativas incluem os custos com medicamentos não utilizados, consultas adicionais, atendimentos de emergência, hospitalizações e testes diagnósticos15.

Neste âmbito e de forma reducionista, os profissionais de saúde tendem a responsabilizar os pacientes pela não adesão ou a associar a falta de adesão apenas com falta de conhecimento. Soma-se a isto o paternalismo e o poder profissional de coerção enraizado culturalmente nos sistemas de saúde, que assume em tom autoritário a necessidade de seguir determinada terapêutica, o que tem se revelado de pouca efetividade na realidade do cotidiano. Sabe-se que a participação ativa do paciente na tomada de decisão para a adesão fundamenta-se na aliança terapêutica, cooperação, respeito, co-responsabilização e concordância, não só na simples ação prescritiva16.

3. Análise da importância do Sistema Apoio-Educação na adesão.

A importância de uma teoria, no modelo da análise de Chinn e Kramer, está intimamente ligada à idéia de significância clínica ou valor prático. Para ser considerada importante, uma teoria necessita ser útil e acessível para a prática. Pode-se questionar a importância de uma teoria pela reflexão acerca de seus pressupostos básicos, seus propósitos e conceitos, observando sua contribuição para os cuidados de enfermagem1. Com base neste aspecto do modelo de análise de teoria supracitado, analisou-se o Sistema Apoio-Educação de Orem em relação à adesão por meio dos questionamentos que se seguem.

- A teoria tem potencial para influenciar ações de enfermagem com a finalidade de educar e incentivar o seguimento terapêutico?

Apesar de não ser o único, a falta de conhecimento é um dos fatores que influenciam a adesão. A escolha é a chave do autocuidado, portanto sem a adequada educação e suporte da enfermagem os pacientes dificilmente entenderão que possuem opções além do seguir totalmente ou não seguir a terapêutica. Neste sentido, o desafio para enfermagem se configura em fornecer subsídios para ajudar os pacientes a escolherem o que será melhor para eles, por meio da escolha genuína, ou seja, escolha informada17.

O Sistema Apoio-educação aponta que há necessidade de ensino, ou seja, o paciente necessita aprender para desenvolver suas habilidades para autocuidar-se. A assistência de enfermagem, neste aspecto da teoria, está voltada para a orientação, apoio e ensino para que o paciente desenvolva a capacidade de tomar decisões conscientemente.

Orem manifesta a necessidade de educação em saúde na Teoria do Autocuidado, na Teoria do Déficit de Autocuidado, mas é sedimentada no Sistema Apoio-educação da Teoria de Sistemas. Neste sentido, o planejamento das ações da enfermagem devem estar vinculadas ao suporte educacional, para que o paciente atinja a proficiência para autocuidar-se de maneira eficiente.

Portanto, na teoria, o AC envolve um aprendizado onde o paciente se empodere da capacidade de cuidar de si e direcionar seu tratamento em harmonia com o profissional. Com isso, os pacientes adquirem a capacidade de julgar se a ação de autocuidado é benéfica para eles, e esse julgamento ocorre de acordo com as orientações internas e/ou externas, ou seja, relacionadas com seus modos de viver e cultura associada com o conhecimento adquirido no cuidado de enfermagem. Dessa forma, infere-se que a capacidade de julgar o que é melhor com a participação direta do paciente no plano de cuidados, facilita a adesão à terapêutica, pois o haverá a integração ativa do paciente na tomada de decisão.

 - Quão específicos são os propósitos da teoria? Eles fornecem uma estrutura geral para ação de enfermagem em relação à adesão? Subsidia a predição de fenômenos?

Os propósitos da Teoria de Sistemas de Orem6 postulam que os destinatários legítimos da enfermagem são pessoas, participantes de grupos, com poderes para autocuidar-se, sendo que o planejamento e produção de um sistema de enfermagem requer que enfermeiros verifiquem se possuem a informação necessária para fazer julgamentos sobre as demandas de autocuidado e poderes de autocuidar-se e prestar cuidado a outros (cuidadores).

Neste sentido, a natureza compensatória dos sistemas de enfermagem para indivíduos em seu espaço e tempo é direcionada para identificação imediata de suas necessidades, de demandas de autocuidado terapêutico e de inabilidades existentes para realizar as ações requeridas. E a superação da limitação para a ação no sistema de enfermagem relaciona-se com as limitações pessoais de autocuidar-se que podem ser vencidas pelo aprendizado e desenvolvimento de habilidades.

 Além disso, os propósitos da teoria apontam que as intersecções dos sistemas de enfermagem em sistemas interpessoais mais abrangentes variam com o poder dos pacientes de interagir e comunicar com os enfermeiros e com o poder de interação e comunicação dos próprios enfermeiros.

Nota-se que estes propósitos fundamentam-se nas relações entre os agentes do AC: enfermeiro e paciente. Neste sentido, há a interlocução entre grau de dependência ou interdependência, identificação de necessidades de AC, o auxilio na superação de limitações pelo aprendizado e incentivo ao exercício do poder de auto-gerenciamento.

Evidencia-se, então, a especificidade da teoria em relação ao seguimento da terapêutica, tendo em vista que para a construção da adesão, é necessário um processo contínuo entre o profissional e o cliente, de forma que este se aproprie de seu tratamento, compreendendo e comprometendo-se com a execução das orientações fornecidas10.

Assim, a teoria conduz o enfermeiro a repensar a abordagem dos indivíduos em suas necessidades de saúde, situações que requerem o entendimento mútuo do que é importante e necessário durante um tratamento e nos cuidados à saúde, para que possa haver a possibilidade de co-responsabilização pelo autocuidado13.

Os propósitos supracitados definem quem são os destinatários dos cuidados de enfermagem, os requisitos para planejamento e implementação de um sistema de enfermagem e a direção da natureza compensatória dos sistemas de enfermagem. No entanto, quanto à estrutura, é colocado que esta varia de acordo com as demandas de autocuidado terapêutico dos destinatários, com a capacidade e vontade do enfermeiro exercer o poder de cuidar e ensinar o autocuidado e, por fim, do poder de ambos em comunicarem-se. Esta falta de padrão é condizente com o aspecto humano da teoria. Há uma evidência intensa dos aspectos relacionais entre as pessoas, inseridas em sistemas, sugerindo ações processuais e interdependentes.

Quanto ao Sistema Apoio-educação, de maneira mais específica, a estrutura é mais bem definida, pois a natureza compensatória neste sistema é baseada na interlocução, já que as demandas são inerentes ao subsídio educativo e de orientação, sem a dependência do paciente aos cuidados diretos de enfermagem.

Considerando que a Teoria de Orem trata-se de um modelo geral que subsidia a prática de enfermagem, não há como a mesma predizer fenômenos específicos para o seguimento terapêutico. No entanto, deve-se levar em conta que o Sistema Apoio-Educação é destinado a ajudar a pessoas a tomarem decisões sobre sua saúde, por meio da aquisição de conhecimentos e habilidades para mudar comportamento6, podendo-se associar tais aspectos à tomada de decisão para a adesão.

Na casuística, infere-se que quando o paciente recebe ajuda do enfermeiro no sentido de orientar, fornecer conhecimentos, habilidades para mudar seu comportamento para aderir a uma determinada terapêutica, pode-se predizer que o mesmo terá maiores chances de tomar a decisão para a adesão. Porém, ressalta-se que esta decisão é autônoma e que a relação enfermeiro-cliente é de interlocução e não simplesmente autoritária, visto que este sistema baseia-se na interação entre os sujeitos, com suas capacidades e habilidades.

Apesar de haver outros fatores influenciadores, a decisão pelo seguimento terapêutico está mais susceptível a interferências relacionadas ao conhecimento, à identificação das reais necessidades do paciente e ao apoio e incentivo para que o paciente participe ativamente e interativamente do planejamento de sua assistência16,17. Nesse contexto, pode-se considerar que o Sistema Apoio-educação fornece subsídio para predizer o fenômeno da adesão ou não-adesão, tomando como referência os aspectos supracitados.

- A aplicação desta teoria auxiliará na resolução de problemas relativos à adesão?

É evidente que para haver adesão, a concordância do paciente é necessária. E esta acarreta na divisão de responsabilidades entre o profissional e o paciente sobre o gerenciamento de seu tratamento18. Porém, esta visão é sombreada pela concepção paternalista e coercitiva da prescrição do tratamento, como algo imposto ao paciente para que ele alcance melhores níveis de saúde16.

Emergem, então, dois problemas cruciais acerca da adesão: a percepção do profissional e do paciente sobre o seguimento terapêutico. A adesão fundamenta-se na compreensão dos papéis do enfermeiro e do paciente para que seja estabelecida uma intervenção apropriada e que esta seja implementada.

A adesão, neste sentido, é vista como produto de um relacionamento que é construído pelo respeito, participação ativa e parceria entre paciente e enfermeiro, onde não haja comportamento coercitivo ou manipulador de nenhuma das partes19. Neste contexto, o enfermeiro deverá conhecer as reais necessidades do paciente, suas intenções de seguir ou não a terapêutica e os motivos que conduzem a esta decisão. Considerar o que o paciente já conhece sobre sua patologia e tratamento, seus medos e ansiedades em relação à terapêutica, também estão inclusos nos papéis do enfermeiro17.

Em relação a estes possíveis problemas evidenciados pela literatura acerca de adesão, o Sistema Apoio Educação de Orem tem potencial para auxiliar em sua resolução, visto que fornece instruções para o relacionamento enfermeiro/paciente com fundamento na interdependência. Neste sistema, a tomada de decisão e o controle do comportamento partem do paciente, mas são compartilhadas e auxiliadas pelo enfermeiro.

O conhecimento das demandas de AC auxilia o enfermeiro a conhecer os fatores que poderão ser determinantes para a decisão do paciente em relação a adesão. Também conduzirá ao enfermeiro enxergar os déficits ou falta de conhecimento do paciente acerca da doença ou de seu tratamento e que medidas poderão ser negociadas para melhorar ou manter a saúde.

Cita-se como exemplo, um paciente portador de HIV/Aids que recebeu uma prescrição médica de terapia antiretroviral, onde uma das medicações deve ser ingerida com alimentos. Neste caso, não basta orientar-lhe sobre a posologia da medicação, mas conhecer as possibilidades de tomar ou não o medicamento, pois caso ele tenha uma condição econômica tão precária que não tenha como alimentar-se no horário de tomar o medicamento, ele provavelmente não o fará.

Da mesma maneira, um paciente que inicie o uso de tuberculostáticos, mas que seja alcoólatra, o enfermeiro deverá se conduzir de maneira a chegar a um consenso com paciente sobre sua terapêutica e o uso ou não do álcool. Percebe-se que apenas a orientação sobre a medicação e possíveis efeitos adversos provenientes do uso concomitante ao álcool tem poucas chances de êxito. Portanto, o Sistema Apoio-educação sugere esta interlocução para o seguimento terapêutico, tendo como base a interdependência, o reconhecimento de demandas terapêuticas de autocuidado e em concordância entre os sujeitos.

Considerações Finais:

O Sistema Apoio-educação, da Teoria de Sistemas de Enfermagem de Orem, é importante para auxiliar o enfermeiro no cuidado voltado para estimular e apoiar o seguimento da terapêutica por parte dos pacientes. Chegou-se a esta consideração, pois a reflexão acerca da importância deste Sistema respondeu aos questionamentos realizados através do modelo de Chinn e Kramer.

Conforme diálogo do Sistema Apoio-educação e autores que versavam sobre adesão, ponderamos que a teoria tem potencial para influenciar ações de enfermagem com a finalidade de educar e incentivar o seguimento terapêutico. Neste sistema, as atribuições do paciente são direcionadas para tomada de decisão, controle do comportamento, aquisição de conhecimentos e habilidades. E como uma teia, interliga-se à motivação para o comportamento ativo do sujeito (paciente), o qual deverá estar envolvido no processo de planejamento e execução do AC.

Pode-se constatar que os propósitos da Teoria de Sistemas e, mais especificamente, do Sistema Apoio-educação, fornecem uma estrutura geral para ação de enfermagem em relação ao seguimento da terapêutica e subsidia a presunção fenômenos. O Sistema apresentado por Orem fornece um arquétipo relacional para a conduta de enfermagem, de maneira a estimular, facilitar e apoiar o AC.

Infere-se, ainda, que a aplicação deste Sistema tem potencial para auxiliar na resolução de problemas relacionados ao seguimento da terapêutica, pois os principais entraves relacionados à adesão são abordados no arquétipo fornecido pelo Sistema Apoio-educação, tendo como base o diálogo e o entendimento necessários entre os sujeitos envolvidos (enfermeiro, paciente, família, entre outros).

Neste contexto, o Sistema Apoio-educação tem grande potencial de subsidiar a prática da enfermagem em intervenções realizadas para adesão. A teoria possui estrutura simples e viável de ser abordada ainda na graduação em relação à sua aplicação na prática da assistência ensino e pesquisa em enfermagem.

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