Evaluation of occupational stress and burnout syndrome in nurses of an intensive care unit: a qualitative study 

Avaliação do estresse e da síndrome de burnout em enfermeiros que atuam em uma unidade de terapia intensiva: um estudo qualitativo 

Maria do Carmo Polônio Afecto1.   Marina Borges Teixeira1

1Universidade Guarulhos/ SP 

ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate occupational stress factors experienced by nurses working in an Intensive Care Unit (ICU), and to identify the existence of signs and symptoms of the Burnout Syndrome in nurses of an Intensive Care Unit. There is currently great concern about the physical and emotional health of workers employed in hospital institutions. Among the hospital staff, the largest number consists of nursing personnel, being nurses a high percentage of the total amount. These nurses work under a heavy load of physical and emotional fatigue. The Intensive Care Unit (ICU), designed to treat critical patients, also generates exhausting physical and emotional situations, which leads us to try to understand better the situations which generate nurses’ professional-occupational stress. Thus, a descriptive, transversal exploratory field research was conducted in a major hospital with 26 nurses of a general Intensive Care Unit with 32 beds for adults. The collection of data was undertaken by the researcher; one questionnaire to categorize the population and two self-reported inventories were used. One of them evaluates stress and is composed of two parts: the first one is the Nursing Stress Inventory (NSI) and the second one is called Job Satisfaction. The other inventory, MBI-Maslach Burnout Inventory, was used in this study to assess signs and symptoms of the Burnout Syndrome. The data were analyzed according to the categorization of the population, and the forms were divided into specific subscales, being evaluated and discussed according to the greater incidence of answers. The results obtained showed that this kind of population must cope with stressful situations at work, presenting some signs and symptoms that might lead the professional to develop Burnout Syndrome. However, until the time of data collection, this population demonstrates a feeling of professional achievement, and 71.5% of them are satisfied with their job.      

Keywords: Burnout Professional; Nurses; Intensive Care Unit; Stress Physiological 

RESUMO:Este estudo teve como propósito avaliar os fatores de estresse ocupacional, e  identificar a existência de sinais e sintomas da Síndrome de Burnout em enfermeiros que trabalham em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Há uma grande preocupação atualmente com a saúde física e emocional do trabalhador que atua em instituições hospitalares. Dentre os profissionais hospitalares o maior número pertence à enfermagem e, um percentual importante é de enfermeiros. Esse enfermeiro convive com uma carga grande de desgaste físico e emocional. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo destinada ao tratamento de pacientes críticos é também geradora de situações exaustiva física e emocional, o que nos impulsiona a tentar entender melhor estas tais situações geradoras de estresse profissional ocupacional do enfermeiro. Para tanto foi realizado uma pesquisa exploratória descritiva, transversal e de campo com 26 enfermeiros de uma Unidade de Terapia Intensiva geral, de atendimento de adulto, de um hospital de grande porte, que consta com 32 leitos. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora, sendo utilizado um questionário para a categorização da população e dois inventários auto aplicados, um que avalia o estresse, composto por duas partes: a primeira denominada de Inventário de Estresse para Enfermeiros (IEE) e, a segunda denominada Sentimento pelo Trabalho. O outro inventário usado foi o MBI- Maslach Burnout Inventory, empregado neste estudo para avaliar sinais e sintomas da Síndrome de Burnout. Os dados foram analisados de acordo com a categorização da população e os formulários divididos em sub-escalas próprias, avaliados e discutidos de acordo com a incidência maior das respostas. Os resultados obtidos demonstram que esta população experiência situações estressantes no seu trabalho, vivenciando alguns sinais e sintomas que podem levar o profissional a desenvolver a Síndrome de Burnout, porém até o momento da coleta de dados esta população demonstrou se sentir realizado profissionalmente com uma porcentagem de 71,5 % sentindo satisfação no trabalho.                                                                                                     

Palavras chaves: Burnout Profissional; Enfermeiros; Unidade de Terapia Intensiva; Estresse Psicológico. 

INTRODUÇÃO 

 O dia a dia de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) requer atenção, qualidade técnica, agilidade, conhecimento e controle emocional, pois é nela que se cuida de pacientes graves com risco de morte, sofrimento, dor, medo, incertezas e solidão.

 Unidade de Terapia Intensiva (UTI)  é uma unidade hospitalar que se destina ao tratamento de pacientes graves, porém recuperáveis, através de uma combinação de cuidados intensivos de pessoal médico e de enfermagem especializados, aplicando terapias modernas, incluindo a utilização de equipamentos e materiais sofisticados, capazes de manter a fisiologia vital, bem como a sobrevida de pacientes de alto risco promovendo, assim, o restabelecimento das funções vitais do organismo, de modo mais eficaz do que em qualquer outra área hospitalar.  É considerado um dos setores de maior gravidade e  complexidade,  caracterizando-se por numerosas  ações e técnicas que  se desenvolvem  no  decorrer das 24 horas 1,2,3,4.

Enfermeiros que trabalham em UTI relatam freqüentemente altos níveis de estresse e a principal causa é provavelmente a assistência contínua à pacientes graves que necessitam de supervisão constante. Outras fontes de estresse mencionadas são as cargas de trabalho muito grandes, responsabilidade excessiva, má comunicação com a equipe médica e equipes de outras unidades 5.

Hans Selye, médico vienense inseriu em 1936, o termo estresse no campo das ciências biológicas, com a intenção de captar a situação ativa em que se encontrava um ser vivo ante ao estímulo de alarme, conceituando esse termo de reação de estresse, descrevendo essa reação, de fundamental para o funcionamento do corpo e que é conseqüência do ato de viver.

Na teoria, o estresse está descrito em duas fases: a primeira denominada de “Síndrome de Adaptação Geral” – (SAG), considerada como conjunto de respostas específicas de defesa e de adaptação orgânica ao estressor; e a segunda, chamada de “Síndrome de Adaptação Local” – (SAL), onde o estressor persiste e o organismo não consegue se adaptar, impossibilitando o retorno à homeostase, ocorrendo a sobrecarga de um órgão ou de um sistema resultando em somatização ou doença 6,7,8,9,10.

Dentre os diferentes trabalhadores, os mais afetados pelo estresse são os da área da saúde; entre estes se destacam as enfermeiras, isso se deve ao conteúdo de trabalho, à responsabilidade, ao conflito, ao contexto social e ao clima vivenciado nas organizações de saúde11.

A enfermagem como profissão é estressante, pois o trabalho com pessoas doentes que requer compaixão, sofrimento e simpatia pode levar os membros da equipe e, particularmente, a enfermeira a se sentir irritável deprimida e desapontada6.

O sofrimento psíquico, relacionado com o estresse ocupacional, caracteriza-se por uma perturbação que acomete o ser humano, após excessiva mobilização de sua energia de adaptação para enfrentamento das solicitações do ambiente de trabalho9.

Quando os métodos de enfrentamento falham ou foram insuficientes, o indivíduo pode apresentar a síndrome de burnout, que é a resposta a um estado prolongado de estresse. Enquanto o estresse pode apresentar aspectos positivos e negativos, o Burnout tem caráter negativo (distresse). Por outro lado, o burnout está relacionado com o mundo do trabalho, como o tipo de atividade laboral do individuo12.

A síndrome de burnout, é caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo. É um quadro clínico resultante da má adaptação do homem ao seu trabalho13. É compreendida como uma reação de estresse crônico e se caracteriza por reações como exaustão emocional e física, perda de sentimento de realização no trabalho com produtividade diminuída, despersonalização extrema com respeito às outras pessoas, manifestando-se através de atitudes negativas para com as pessoas no trabalho, sendo, portanto uma experiência pessoal de esgotamento11.

Apesar de qualquer pessoa poder vir a sofrer de estresse ocupacional em função das atividades desenvolvidas, o burnout incide principalmente nos que ajudam, prestam assistência ou são responsáveis pelo desenvolvimento de outros, tais como: médicos, enfermeiros, professores, assistentes sociais, psicólogos, dentistas, bombeiros, agentes penitenciários, policiais, enfim, cuidadores em geral12,14,15,16,17.  O processo do burnout é individual, sua evolução leva anos e até mesmo décadas. Seu surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em severidade, não sendo percebido pelo individuo, que geralmente se recusa a acreditar estar acontecendo algo de errado com ele15.

O burnout é definido como uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica no trabalho. Trata-se de uma experiência subjetiva interna que gera sentimentos e atitudes negativas no relacionamento do individuo com o seu trabalho (insatisfação, desgaste, perda de comprometimento), minando o seu desempenho profissional e trazendo conseqüências indesejáveis para a organização (absenteísmo, abandono de emprego, baixa produtividade)18. É caracterizado pelas dimensões; exaustão emocional, que refere à sensação de esgotamento tanto física como mental, levando o indivíduo a se sentir sem energia para absolutamente nada. Esse sentimento pode se desenvolver pelo envolvimento emocional em demasia e pelo fato do profissional ter que se confrontar com pessoas que padecem necessidades, problemas e sofrimentos. Despersonalização onde, para evitar o esgotamento emocional, o indivíduo reduz seu contato com pessoas ao mínimo, distanciando-se, evitando envolver-se emocionalmente, esquivando-se do trato individual, mantendo relações frias e distantes com os pacientes.

Nem sempre os profissionais conseguem por um limite adequado nesse distanciamento, chegando a desenvolver atitudes impessoais, insensíveis e cínicas. Isso não significa que o indivíduo deixou de ter sua personalidade, mas que esta sofreu ou vem sofrendo alterações, podendo ser uma resposta de enfrentamento aceitável, ao provocar razoável distanciamento interpessoal do profissional em relação ao seu cliente e  diminuição da realização profissional, onde o profissional demonstra sentimento de insatisfação com as atividades desenvolvidas no trabalho que vem realizando, passando a duvidar de sua capacidade e habilidade para ajudar e de se relacionar com seus pacientes, desenvolvendo sentimentos de frustração, baixa auto-estima, fracasso profissional, desmotivação, bem como depressão12,19,20.

Para avaliar a Síndrome de Burnout, Cristina Maslach e Susan Jackson desenvolveram um inventário denominando de Maslach Burnout Inventory (MBI) sendo, hoje, o instrumento mais utilizado neste tipo de avaliação, independentemente das características ocupacionais estudadas19.   

OBJETIVOS

- Avaliar os fatores de estresse ocupacional enfrentados por enfermeiros que trabalham em uma Unidade de Terapia Intensiva.

- Identificar a existência de sinais e sintomas da Síndrome de Burnout em enfermeiros de uma Unidade de Terapia Intensiva 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, transversal e de campo, realizada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral, de atendimento a adultos, de um hospital geral de grande porte que atende a rede privada da cidade de São Paulo, é composto por 32 leitos, sub-divididos em 16 leitos cada lado. Os leitos são individualizados alguns em salão aberto separados por divisórias, outros em forma de quarto que são destinados a pacientes em isolamento ou com menos grau de gravidade.  A população do presente estudo foi composta por: 26 enfermeiros sendo 1 gerente  e 25 enfermeiros assistenciais.

Para coleta de dados foram utilizados um formulário, responsável pela caracterização da população e dois inventários:  

IEE Inventário de Estresse para Enfermeiros, foi elaborado e validado por Stacciarini 1999 e, é dividido em parte A,  que avalia fatores de estresse para o enfermeiro, devendo o indivíduo responder com que freqüência sentiu o conteúdo da pergunta nos últimos seis meses. O inventário é composto por 44 perguntas que devem ser respondidas com valores que variam de (1) nunca e (5) sempre. A estrutura fatorial do Inventário de Estresse para Enfermeiro (IEE) compreende quatro categorias: Fatores Intrínsecos ao Trabalho; Relação no Trabalho; Papéis Estressores da Carreira e Estrutura e Cultural Organizacional e parte B que é composto por 22 itens que avaliam como o (profissional) enfermeiro se sente em relação ao seu trabalho, devendo o respondente assinalar, em uma escala com valores que variam de (1) muita insatisfação a (6) muita satisfação. Esta escala avalia o grau de satisfação experimentada pelo profissional, de acordo com a pergunta realizada 18.

MBI - Maslach Burnout Inventory. O Inventário de Burnout de Maslach e Jackson foi traduzido, adaptado e validado por Tamayo19, sendo composto pelas dimensões: Exaustão Emocional, Diminuição da Realização Profissional e Despersonalização, formadas por 22 itens relacionados com sentimentos pelo trabalho. O individuo deve responder, de acordo com uma escala que varia de (1) nunca e (5) sempre, com que freqüência experimenta o descrito no conteúdo sugerido pelo item.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Centro Universitário São Camilo, sob o nº 134/07. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Analisando e discutindo os resultados obtidos na pesquisa observa-se na caracterização da população, que há prevalência do sexo feminino com 80,7%.

No âmbito da história do trabalho feminino, para ajudar na renda familiar, as mulheres resolveram deixar de prestar somente os cuidados domiciliares e ir para o trabalho remunerado. Essa saída se deu por meio de profissões, tais como enfermagem e magistério, em que a mulher aparece com funções de cuidado e ensino remitidas ao universo familiar21.     

No que se refere à faixa etária, a população estudada apresentou um  percentual de  (53,8%) com idade inferior a 40 anos  e de  (46,2%) com  idade entre  41 a 60 anos.

É esperada, para o setor UTI, uma população de enfermeiros jovens, visto que, durante a graduação, os mesmos são motivados à prestação de assistência a pacientes críticos, pelo fato de que esses pacientes exigem uma quantidade maior de cuidados, com maior complexidade técnica podendo colocar em risco a saúde do trabalhador21.

Por outro lado com relação a enfermeiros que atuam em UTI, observa-se  que no que se refere  ao estado de ansiedade e estado de estresse, as pessoas mais velhas demonstram-se menos ansiosas ou estressadas. É possível que exista uma tendência de diminuir a ansiedade com o aumento da idade, uma vez que as pessoas tendem a avaliar a vida de modo mais ponderado com o passar do tempo21.

A maioria (84,6%), dos enfermeiros pesquisados, possui pós - graduação, principalmente Especialização em UTI e Emergência, demonstrando que estes enfermeiros estão  buscando novos conhecimentos, aperfeiçoamento  e,  também por  gostarem  da área que atuam.

A capacitação representa para o profissional domínio de conhecimentos específicos que resultam de formação, treinamento, experiência para que possa exercer determinada função. Quanto melhor o profissional for capacitado, maior é a probabilidade de serem competentes no exercício de suas funções22.

O tempo de trabalho destes profissionais nesta unidade é considerado elevado, pois 13 (50,0%) atuam de 06 a 20 anos na mesma instituição, o que pode demonstrar satisfação no trabalho realizado, pois o fato de permanecer um período longo na mesma empresa e no mesmo local pode significar que o profissional se sinta reconhecido e valorizado profissionalmente, por outro lado esse pode ser um fator de estresse para o profissional.

Quanto ao tempo de trabalho em UTI há divergência na literatura, pois, há quem acredite que o tempo prolongado de trabalho em UTI propicia maior ajuste ao ambiente e conseqüentemente menor estresse e outros que afirmam ao contrário, acreditando que, o longo tempo de trabalho, torna os profissionais mais estressados21.

Outro fator que chamou atenção foi o número significativo de profissionais que trabalham em mais de um emprego 11 (42,3%), e deste total, 09 (81,8%) trabalham em dois períodos podendo ser (M/T, M/N, T/N, N/N) e 02 (18,2%) trabalham em três períodos (M/N/N), o que pode evidenciar um desgaste muito grande visto que, a atividade desenvolvida pelo enfermeiro é considerada desgastante e estressante na maioria das vezes, e este profissional tem um período muito curto de descanso, levando ainda em consideração que a maioria é mulher e algumas com filhos e/ou casadas.

Os profissionais convivem com a dinâmica das organizações no desenvolvimento das suas atividades, ao mesmo tempo em que gerenciam suas vidas23.

Ao analisarmos o IEE – INVENTÁRIO DE ESTRESSE PARA ENFERMEIROS, buscou-se avaliar e discutir em  cada categoria os itens que tiveram maior incidência de resposta verificando que dentre as categorias do IEE a que obteve maior incidência foi a que diz respeito aos Fatores Intrínsecos ao Trabalho, como demonstrado  a seguir.

Ao analisarmos o IEE – INVENTÁRIO DE ESTRESSE PARA ENFERMEIROS, buscou-se avaliar e discutir em  cada categoria os itens que tiveram maior incidência de resposta.  

Tabela 1- Distribuição das respostas do Inventário de Estresse para Enfermeiros (IEE) segundo incidência nas categorias do vivenciado muitas vezes e sempre. Guarulhos/2007.

 

Categorias do IEE

Muitas Vezes

Sempre

Total

1

Fatores Intrínsecos ao Trabalho

40

14,0%

30

10,5%

70

24,5%

2

As Relações no Trabalho

28

09,8%

39

13,6%

67

23,4%

3

Papéis Estressores da Carreira

29

10,1%

34

11,9%

63

22,0%

4

Estressores e Cultura Organizacional

44

15,4%

22

07,7%

66

23,1%

 Verificando as categorias do IEE a que obteve maior incidência foi a que diz respeito aos Fatores Intrínsecos ao Trabalho. Esta categoria tem como referência o trabalho desenvolvido pelo enfermeiro na UTI, o desgaste físico e emocional provocado pelo trabalho e a falta de recursos humanos como fator de estresse.

Esta categoria tem como referência o trabalho desenvolvido pelo enfermeiro na UTI, o desgaste físico e emocional provocado pelo trabalho e a falta de recursos humanos como fator de estresse.

Com relação à parte B que são Os Sentimentos pelo Trabalho pode-se perceber que apesar do trabalho em UTI ser considerado desgastante, conflituoso, com grande número de ações desenvolvidas ao longo do plantão, os profissionais se sentem bem trabalhando nesta unidade, pois, de acordo com as respostas obtidas, 71,5% consideram-se satisfeitos, podendo ser pelo trabalho desenvolvido ou pelo reconhecimento que a empresa dá ao seu funcionário.

A satisfação é um fator que pode favorecer a produtividade bem como agregar valores ao indivíduo para que o mantenha motivado, principalmente, ao considerar que os fatores motivacionais e de satisfação, são intrínsecos e que cada pessoa pode ter necessidade distinta, requerendo-se atendê-la, dentro da possibilidade organizacional22.

A satisfação no trabalho é um dos indicativos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e sua medida tem sido utilizada em estudos no Brasil e no mundo24.

O Maslach Burnout Inventory (MBI) avalia a possibilidade de o indivíduo estar com a Síndrome de Burnout ou vir a desenvolvê-la. Nas dimensões Exaustão Emocional (EE) e Despersonalização (DP) quanto maior a nota, maior o índice de exaustão e despersonalização, respectivamente, e na Realização Profissional (RP) quanto maior a nota, maior o grau de realização profissional20.

Na dimensão Exaustão Emocional, vemos que de acordo com as respostas, 56,5% da população estudada nesta unidade, nunca ou raramente apresenta sinais e sintomas de exaustão emocional, mas há uma parcela menor, 16,1% que está vivendo a exaustão emocional no seu trabalho e é esse percentual que merece um cuidado especial.

Temos também um número importante de pessoas 27,3% que estão em uma situação que poderíamos chamar de sinal de alerta, pois, estão provando algumas vezes a exaustão emocional. Esse sinal de alerta é importante para que a empresa possa tomar conhecimento do que está ocorrendo e assim, tomar providencias antes que a situação se instale e o profissional passa a ser uma pessoa desmotivada ao ponto de não ser mais útil a empresa e, principalmente que esse profissional venha a sofrer com quadro mais grave da doença.

A exaustão emocional, (caracterizada por total esgotamento da energia física e mental) surge quando o profissional tem um demasiado envolvimento emocional com o trabalho, é sobrecarregado de tarefas e se sente pressionado, tendo nesta situação o sentimento de que está no limite das suas possibilidades e se imagina incapaz de recuperação. Torna-se intolerante, irritável, nada generoso, insensível, de comportamento rígido e, isola-se dos colegas e clientes25.

Há variação quanto à carga de trabalho, podendo ser devido a: aumento ou diminuição quantitativa da carga de trabalho, quando se dá ao trabalhador muita ou pouca tarefas para completar num dado período de tempo (sobrecarga ou sub carga quantitativa); aumento ou diminuição qualitativa da carga de trabalho quando o trabalhador não se sente capaz de fazer determinadas tarefas ou essas tarefas não utilizam os seus conhecimentos e/ou capacidades (sobrecarga ou sub carga qualitativa). O impacto da nova tecnologia pode afetar o aumento ou a diminuição quantitativa da carga de trabalho e o aumento da carga de trabalho quantitativa ou qualitativa pode provocar necessidade de trabalhar mais horas. As novas tecnologias e automatização podem também levar à simplificação do trabalho tornando-o monótono26.

A despersonalização pode ser considerada como um elemento chave da síndrome de burnout, uma vez que, tanto o sentimento de desgaste emocional como o de incompetência, pode ser associado a outro tipo de síndrome, enquanto que a despersonalização é específica dessa27.

Os profissionais de enfermagem estão em constante relação com os pacientes, e essas relações nos processos de interação social e a expectativa e reciprocidade têm um papel muito importante. Existe uma relação significativa entre a percepção de falta de reciprocidade e a interação social28.

Através das respostas obtidas observa-se que 2,4% dos profissionais entrevistados possuem tendência à despersonalização. Apesar de ser um número pequeno,  é preocupante saber que o indivíduo sente essa alteração emocional e há  vivencia no seu trabalho. Será que esse endurecimento indicado ocorre como mecanismo de defesa que o profissional cria para poder se proteger de situações as quais ele não consiga resolver ou mesmo conviver? Verificamos também que apesar de um número importante deles vivenciarem a exaustão emocional, aparentemente conseguem lidar bem com a circunstância não deixando que esse estresse afete-o de forma tão contundente.

Também observamos que um número expressivo 16,1% encontra-se na faixa que chamamos de sinal de alerta, pois o vivenciam algumas vezes. Esse sinal é importante para prevenir o quadro de despersonalização, para que este não venha a se agravar.

O distanciamento afetivo que o profissional demonstra em relação às pessoas que atende, a impaciência, o desejo de abandonar o trabalho e a irritabilidade, são parte das manifestações emocionais que formam um grupo de sintomas. É também freqüente, a dificuldade de concentração devido a ansiedade experimentada, produzindo assim, uma diminuição do rendimento no trabalho, ao mesmo tempo em que surgem dúvidas acerca da própria competência profissional e conseqüentemente diminuição da auto-estima29.

Observamos que o número de respostas nesta dimensão pode indicar que o profissional percebe que está se tornando insensível com as pessoas levando-os até mesmo, a tratar os pacientes como objetos. Esse quadro, com o tempo pode se tornar mais grave se levarmos em consideração, que sua vida particular pode também estar sendo afetada, principalmente a afetiva.

A Diminuição da Realização Profissional se dá de forma inversa às dimensões anteriores, pois, quanto maior a resposta, menor será a possibilidade de o profissional apresentar a Síndrome de Burnout.

A falta ou diminuição da realização profissional é a dimensão na qual existe um sentimento complexo de inadequação pessoal e profissional ao posto de trabalho. Apresentando, conseqüentemente, uma série de respostas negativas para consigo e sua atividade laboral, típicas da depressão, moral baixo, redução de relações interpessoais, baixa produtividade, incapacidade para suportar as pressões e baixa auto-estima27.

Verificamos que os profissionais que atuam nesta unidade se sentem realizados, pois vemos que a maioria 73,0% pontua freqüentemente e sempre, nas questões do inventário que relacionam o profissional como um indivíduo que influencia positivamente a vida de outras pessoas com o seu trabalho, sente que realiza coisas importantes neste trabalho e ainda que é capaz de criar um ambiente tranqüilo para os pacientes, o que pode estar indicando que esses profissionais são seguros na realização das  atividades que desenvolvem junto ao seu paciente/cliente e também que lidam de forma positiva com situações conflituosas sem deixar se abater, nem mesmo com a sobrecarga de trabalho.

O trabalhador que atua em instituições hospitalares está exposto a diferentes estressores ocupacionais que afetam diretamente o seu bem estar. Dentre eles podemos citar: longas jornadas de trabalho, número insuficiente de pessoal, falta de reconhecimento profissional, alta exposição do profissional a riscos químicos e físicos, assim como a convivência constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte30.

Observamos que há um percentual importante no chamado sinal de alerta, pois 20,9% indicam que somente alguns se sentem realizados. Vale lembrar que esse sinal de alerta é sugestivo de uma investigação mais apurada por parte da instituição para que não ocorra baixa realização profissional, uma vez que observamos que 06,1% dos entrevistados responderam nunca ou raramente se sentirem realizados no seu trabalho ou mesmo importantes profissionalmente. 

Considera-se a síndrome de burnout como provável responsável pela desmotivação que sofrem os profissionais da saúde atualmente. Isso sugere a possibilidade de que esta síndrome esteja implicada nas elevadas taxas de absenteísmo ocupacional que apresentam os profissionais da área da saúde31;32.

Para realizar a prevenção de burnout, é necessário que a instituição adote algumas medidas, tais como: aumentar a variedade de rotinas, para evitar a monotonia; prevenir o excesso de horas extras; dar melhor suporte social às pessoas; melhorar as condições sociais e físicas de trabalho; investir no aperfeiçoamento profissional e pessoal dos trabalhadores.

As causas do burnout podem ser resumidas em três grandes categorias: organizacionais, extra-organizacionais e características pessoais. Portanto as intervenções para evitá-lo devem abranger as três categorias 

CONCLUSÕES 

A) Em relação à população:

# Predominância do sexo feminino (80,7%); faixa etária entre 25 e 60 anos; tempo de formado entre 01 e 30 anos; a maioria (84,6%) possui pós-graduação, mostrando uma população jovem trabalhando ao lado de uma de meia idade, o que nos leva a concluir que a troca de experiência, maturidade e segurança profissional aliada à juventude, pouca experiência e dinamismo pode ser um ponto positivo na atuação destes profissionais.

# 50,0% trabalha na instituição de 01 a 05 anos e 50,0% mais de 06 anos; 57,7% trabalham também em outro local. 

B) Em relação ao estresse profissional

Parte A- Estresse do Enfermeiro

Pelas respostas, observamos através das categorias que há alguns fatores que os profissionais apontam como causadores de estresse.

# Na categoria “Fatores Intrínsecos no Trabalho” alguns pontos se destacam:  fazer esforço físico para cumprir o trabalho, desenvolver atividades além da função ocupacional, falta de recursos humanos, trabalhar em instalações físicas inadequadas e insalubres, o trabalho noturno, o trabalho em outro local, o salário entre outras, são motivo de estresse para o profissional.

# As respostas da categoria “As Relações no Trabalho”, nos indicam que nem sempre os profissionais conseguem ter um relacionamento satisfatório: trabalhar em equipe, atender familiares de pacientes, bem como um grande número de pessoas  inclusive alunos gera momentos de ansiedade, pois na unidade atua um grande número de profissionais de diversas especialidades que se reportam constantemente ao enfermeiro e, ainda tendo que prestar assistência ao paciente grave e  em situações críticas, experienciando  portanto momentos de desgaste físico e emocional  .

# Na categoria “Papéis Estressores da Carreira”, fazer trabalho repetitivo, prestar assistência ao paciente, sentir-se impotente diante das tarefas é considerado estressante.

# Na categoria “Estressores e Cultura Organizacional”, resolver imprevistos que ocorrem no local de trabalho, administrar ou supervisionar outras pessoas, prazo curto para cumprir ordens, são situações que  podem levar o profissional a se sentir  ansioso e sobrecarregado.  

Parte B - Sentimento pelo Trabalho

         As respostas indicam que apesar dos enfermeiros apontarem alguns fatores como estressantes no seu dia a dia de trabalho, esse mesmo trabalho é motivo de satisfação, uma vez que estão habituados.  

C) Em relação à síndrome de burnout

Ao procurarmos identificar sinais e sintomas da Síndrome de Burnout nos enfermeiros desta UTI, percebemos, pelas respostas, que eles existem em uma parcela pequena da população.

         # Na dimensão Exaustão Emocional (16,1%) sente exaustão emocional, o que merece uma atenção mais aprofundada, pois, são profissionais, ou melhor, pessoas que estão sofrendo com ou no seu trabalho. Outros (27,3%) estão na faixa que indicamos como sinal de alerta, pois experenciam algumas vezes a exaustão emocional.

         # Na dimensão Despersonalização temos um percentual bem pequeno (02,4%) vivenciando algumas situações consideradas indicativas de despersonalização, entre elas é destacado o fator que indica que o profissional sente que está endurecendo emocionalmente no local de trabalho.

         Há uma porcentagem importante (16,1%) na faixa que denominamos de sinal de alerta, indicando que alguns profissionais já podem estar vivenciando momentos de distanciamento afetivo, impaciência, vontades de abandonar o trabalho, irritabilidade entre outros, que são característicos de pessoas com despersonalização. Esses sentimentos são negativos e pode levar a pessoa ao auto-isolamento, tanto no trabalho como fora dele, desenvolvendo um sentimento de culpa por essas alterações, impondo automaticamente mais sofrimento para si mesmo.

# Na dimensão Diminuição da Realização Profissional, observa-se que (73,0%) sentem-se realizados e que dos (27,0%) restantes, (20,9%) estão na faixa denominada de sinal de alerta, vivenciando algumas vezes momentos que indicam diminuição da realização profissional e (06,1%) já apresentam diminuição da realização profissional.

         Finalizando, diante dos resultados obtidos, analisados e discutidos podemos dizer que esta população experiencia variados momentos de estresse no seu trabalho, porém conseguem trabalhar pessoalmente bem com eles, não se deixando abalar, talvez por considerarem tais momentos como característicos da unidade que escolheram para trabalhar.

         Apesar do percentual baixo de profissionais com sinais e sintomas da Síndrome de Burnout, frisamos a importância da avaliação individualizada para cada profissional, como medida preventiva.

         Ao concluir este estudo acreditamos ser necessário continuar estudando o estresse ocupacional e a Síndrome de Burnout em enfermeiros que atuam em UTI, buscando entender melhor o assunto para propor soluções que tragam realização profissional e conseqüentemente pessoal, que serão refletidos no paciente/cliente, na equipe multiprofissional e na sua vida pessoal

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A enfermagem é considerada uma das profissões mais estressantes dentro do hospital. A UTI em especial possui uma gama de atividades de alta complexidade que requer atenção, competência e dedicação constante do profissional.

É importante relacionar as fontes de tensão no trabalho para que, através delas, se possa intervir fazendo a prevenção (sistemas de trabalho, horários, tempo livre, atividades extra-trabalho, incentivos, salários, etc)33.

Ao tratar de uma atividade multifatorial em suas origens, necessariamente a intervenção deveria ser multidisciplinar com a participação ativa de outros setores da saúde33.

Ao pensar em um plano de prevenção para evitar a ocorrência da síndrome de burnout é necessário que este seja individualizado, verificando através de pesquisa interna o que cada profissional sente no seu ambiente de trabalho e o que o mesmo relaciona como estressante e desgastante ou ainda despersonalizante, assim como  ele  percebe sua profissão e como se percebe nela.

Alguns pontos destacados a seguir merecem atenção especial, pois oferecem algumas possibilidades de melhoria para o profissional em seu ambiente de trabalho, uma convivência diária mais positiva e a possibilidade de realização profissional e pessoal.

O trabalho em equipe pode ajudar a conhecer-se e compartilhar as responsabilidades; a realização de cursos de aperfeiçoamento ajuda a incorporar conhecimentos e realizar uma pausa nas atividades diárias; atividade física e de recreação ao longo do trabalho ajudam a descontrair, assim como um espaço de reflexão sobre as tarefas diárias com os demais profissionais, poderia  permitir a possibilidade de clarificação das situações vivenciadas; o cultivo da solidariedade e do humor pode ajudar a enfrentar o desgaste, bem como o rodízio de setores onde as exigências de trabalho são menores ajudará a sobrecarga34.

Associados a estes fatores há outros, como atividade social fora do ambiente de trabalho com o grupo de profissionais da unidade; algumas alterações serem tomadas em conjunto com os profissionais da unidade; confraternização semanal ou mensal pra possibilitar ao grupo se encontrar, se não der pra ser com todos os plantões juntos, que cada plantão faça separado e no dia e horário mais apropriado; que seja oferecida ao profissional a possibilidade de troca de plantão quando o mesmo tiver algum compromisso importante e de última hora, para que o profissional possa ter uma vida social e participar da vida social da família, o que muitas vezes ele deixa de fazer (reunião ou festa do filho na escola, aniversário em família, viagem de férias com a família, nem que sejam poucos dias, etc); deixar que a equipe faça sua própria escala mensal de folga, dando a possibilidade de adequar à sua necessidade e ao seu lazer, isso tudo dentro de regras para que não desfalque o setor; dar folga extra quando o setor se destacar pelas suas atividades.

A Síndrome de Burnout é uma patologia nova, com muitos fatores que facilitam o seu surgimento e sintomas que muitas vezes os profissionais desconhecem, deste modo não percebe quando estão desenvolvendo-a. Sabemos que essa síndrome hoje, está presente em todas as profissões, sendo necessários mais estudos a seu respeito para entendê-la melhor, possibilitando assim,  condições de trabalho mais adequadas para que todos os profissionais, quer da área da saúde ou não, sentiam satisfação no trabalho que estão desenvolvem.               

REFERÊNCIAS  

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Endereço para correspondência: Rua Artur de Oliveira, nº 365, aptº 63B – Pq Peruche- SP – CEP: 02530-010. E-mail: mc-polonio@uol.com.br  

Nota: Este estudo é parte da Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Enfermagem da Universidade Guarulhos em 2008.