Pregnancy and quality of life: assessment during the gestational trimesters

Gravidez e Qualidade de Vida: avaliação nos trimestres gestacionais. 

Embarazo y calidad de vida: evaluación en los trimestres de embarazo.

 Rosa Áurea Quintella Fernandes1, Milena Butolo Vido2

1.Universidade Guarulhos/SP. 2.Fundação Ermínio Ometto, Araras/SP. 

Abstract: An exploratory and descriptive study whose objectives were: to identify the Quality of Life Index (QLI) for pregnant women, in the first, second and third trimesters using an adaptation of the Ferrans & Powers instrument. The sample consisted of 198 pregnant women. who had undergone prenatal exams in basic health units of inland cities of the State of São Paulo. The mean of the General QLI was 23.84 ( maximum 30). Analyzing the General QLI, there was a statistical difference between the pregnant women of the first trimester with relation to the ones of the second. Pregnant women of the first trimester presented higher indexes of quality of life. There was no significant difference in the comparison between the pregnant women of the second trimester and the ones of the third semester, similarly to those between the first and third trimesters.

Key words : Quality of life, Pregnancy, Women’s Health.  

Resumo: Estudo descritivo exploratório com abordagem quantitativa, teve que como objetivos: identificar o Índice de Qualidade de Vida(IQV) para gestantes, utilizando uma adaptação do instrumento de Ferrans & Powers; identificar o índice de qualidade de vida para mulheres  no 1º, 2º e 3º trimestres gestacionais; analisar se o IQV das gestantes variou no 1º, 2º e 3º trimestres. A amostra foi constituída por 198 gestantes. A média do IQV Geral foi 23,84 (Máximo 30).Analisando o IQV Geral, houve diferença estatística entre as gestantes do 1° trimestre com relação às do 2°, as gestantes do 1° trimestre apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Não houve diferença significante na comparação das gestantes do 2° trimestre com as do 3°, assim como entre as do 1° e 3° trimestre. Embora, os resultados deste estudo não possam ser generalizados para todas as  gestantes, eles podem colaborar para compreender dimensões importantes  para as mulheres nesta fase.

Palavras-chave: Qualidade de vida, Gravidez, Saúde da mulher. 

Resumen: Estudio descriptivo exploratorio con abordaje cuantitativo, tuvo que como objetivos: identificar el Índice de Calidad de Vida(ICV) para gestantes, utilizando una adaptación del instrumento de Ferrans & Powers; identificar el índice de calidad de vida para mujeres en el 1er, 2º y 3er trimestres de embarazo; analizar si el ICV de las gestantes varió en el 1er, 2º y 3er trimestres. La muestra fue constituida por 198 gestantes. El promedio del ICV General fue 23,84 (Máximo 30).Analizando el ICV General, hubo diferencia estadística entre las gestantes del 1er trimestre con respecto a las del 2°, las gestantes del 1er trimestre presentaron índices mayores de calidad de vida. No hubo diferencia significante en la comparación de las gestantes del 2° trimestre con las del 3°, así como entre las del 1er y 3er trimestre. Aunque, los resultados de este estudio no puedan ser generalizados para todas las gestantes, ellos pueden colaborar para comprender dimensiones importantes para las mujeres en esta fase.
Palabras claves : Calidad de vida, Embarazo, Salud de la Mujer. 

Introdução 

A gravidez marca um processo de intensas transformações na vida da mulher em sua preparação para a maternidade.Apesar de se tratar de um fenômeno biológico, cada mulher lida com as mudanças advindas da gestação de uma forma muito particular. A gravidez altera o seu senso físico, e exige uma reorganização de vários aspectos de sua identidade, como a relação com o seu corpo, com o pai da criança e com o seu plano de vida.

Neste processo, destaca-se a influência de alguns fatores como a história de vida pregressa, o desejo ou não da gravidez, o contexto existencial, socioeconômico, emocional, assistencial, bem como as características próprias da evolução da gravidez a que cada mulher está exposta.

A relação estabelecida entre a gestante e o feto é absolutamente pessoal. Habitando o corpo da mulher, ele assume, o imaginário de cada uma delas, de  diferentes formas. A necessidade de vivenciar adequadamente esse novo momento da vida exige adaptações constantes que podem gerar conflitos, medos, angústias, alternados com momentos de satisfação, alegria e prazer.

Em razão desse processo intenso de transformações internas e externas, se faz necessária, a presença do profissional de saúde como um ponto de apoio e de acolhida à gestante e a sua família, considerando o momento específico de cada uma delas, respeitando-a acima de qualquer julgamento e buscando entender seu  contexto, sócio-econômico, cultural e familiar.

Com o passar do tempo, a evolução tecnológica acabou de certa forma distanciando o profissional e a gestante, fortalecendo a dicotomia mente e corpo e dificultando a compreensão e a percepção das necessidades, das dificuldades e anseios da mulher. Por isso a comunicação entre o profissional de saúde e a gestante é fundamental para que se estabeleça um relacionamento interpessoal  adequado, envolvido por sentimentos de respeito e confiança a fim de melhorar a assistência prestada e a qualidade de vida dessas mulheres.

Qualidade de Vida é um fenômeno complexo, com uma gama variada de significados, com diversas possibilidades de enfoque e inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas1.

O conceito de Qualidade de Vida refere-se ao resultado de percepções individuais, que podem variar de acordo com a experiência pessoal e o momento que cada pessoa está vivendo. Muito provavelmente as modificações que ocorrem na estrutura física e psicológica das mulheres grávidas interfiram na sua percepção de si mesma e de sua qualidade de vida2.

A Organização Mundial de Saúde (OMS),define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo, de sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”3.

Embora, a gravidez seja um evento comum na vida reprodutiva da mulher, pouca atenção tem sido dada às modificações normais percebidas nos domínios físico e psicológico de seu estado de saúde e em  sua percepção quanto a sua qualidade de vida, ou seja, as interferências das alterações próprias da gravidez em sua qualidade de vida.

Para se conhecer tais aspectos é fundamental  a própria mulher definir suas expectativas sobre a gravidez de modo a prover dados para identificar fatores de risco para grandes ou persistentes declínios no estado funcional da gestante.

O presente trabalho tem como finalidade colaborar para mensurar o conceito de Qualidade de Vida, no que diz respeito à satisfação, e a importância na perspectiva das mulheres gestantes, considerando seus valores e crenças durante o processo gestacional. Dada à incipiente bibliografia a respeito desta temática nesta importante fase da vida da mulher, procura-se, neste estudo, não só buscar um novo enfoque para a qualidade de vida, resgatando o significado deste conceito, elaborado pelas próprias mulheres durante todo o período de transformação e de construção do seu papel de mãe, mas também contribuir para melhorar a prática assistencial.

O conhecimento produzido sobre Qualidade de vida poderá resultar em mudanças nas práticas assistenciais e na consolidação de novos paradigmas do processo saúde-doença, o que pode ser essencial para a superação de modelos de atendimento eminentemente biomédicos, que negligenciam aspectos socioeconômicos, psicológicos e culturais importantes nas ações de promoção, prevenção e tratamento e reabilitação em saúde.4

A par da importância da qualidade de vida para todas as áreas do conhecimento, existem poucos estudos que contemplem a temática gestação e qualidade de vida. Por isto, entende-se importante os resultados obtidos nesta pesquisa que teve como  objetivos: identificar o Índice de Qualidade de Vida  de mulheres no 1º, 2º e 3º trimestres de gestação utilizando-se uma adaptação do instrumento criado por Ferrans & Powers, para mensurar Qualidade de Vida e comparar os índices obtidos em cada um dos três trimestres gestacionais. 

Qualidade de Vida: instrumentos de medida 

Os primeiros instrumentos destinados a medir a QV apareceram na literatura na década de 1970 e, desde então, têm mostrado um desenvolvimento considerável.

Existem inúmeros instrumentos utilizados para medir a QV, em 1988 já haviam sido identificados  446 instrumentos, num período de 60 anos, sendo que 322 destes apareceram na literatura a partir dos anos 80, este crescimento nas duas últimas décadas atesta os esforços voltados para o amadurecimento conceitual e metodológico do uso do termo na linguagem científica5.

Alguns instrumentos podem ser mencionados com destaque como o SF- 36 (The Medical Outcomes Study 36 itens)  um instrumento genérico, atualmente um dos mais utilizados internacionalmente, aplicável a diversos tipos  de doenças  e o  WHOQOL-100 itens (The World Health Organization Quality of Life Assessment)3, criado pela Organização Mundial de Saúde cuja versão em português foi desenvolvida por Fleck6 para avaliar Qualidade de Vida numa perspectiva transcultural.

No âmbito médico, desenvolveram-se também instrumentos de avaliação de qualidade de vida, focalizados, primeiramente, na idéia de complementar as análises de sobrevida.7

No âmbito específico da enfermagem, destacam-se os trabalhos da Dra.Carol Estwing Ferrans, pesquisadora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de IIIinois, Chicago, que, desde 1982, vem desenvolvendo estudos sobre qualidade de vida, em colaboração com outros pesquisadores.

O instrumento desenvolvido por Ferrans & Powers destina-se a medir a qualidade de vida tanto de pessoas sadias quanto daquelas com algum tipo de doença, é constituído de duas partes e apresenta 34 itens em cada uma delas, sendo que a parte I mensura a satisfação nos vários aspectos da vida, e a parte II a importância desses mesmos aspectos. Os 34 itens do instrumento estão distribuídos por quatro  domínios: Saúde / Funcionamento, Psicológico / Espiritual, Sócio / Econômico e Família, este instrumento foi traduzido para o português e validado por Kimura.8

Fernandes; Narchi; Cianciarullo9 adaptaram o instrumento original de Ferrans &Powers de modo a possibilitar a mensuração da qualidade de vida de gestantes. Para tanto, as autoras adaptaram alguns itens e introduziram outros, que consideraram específicos para a mulher, nesta etapa da vida, tendo em vista que, nesta fase do ciclo vital ocorrem modificações no organismo feminino que podem interferir em sua qualidade de vida ou na percepção que a mulher tenha de si.

Os itens acrescidos ao instrumento original foram: “Sua gravidez” item 2; “As mudanças de humor que você sente (tristeza e alegria)” item 5; “A intensidade de irritação que você sente” item 6 e “A possibilidade de ter uma criança” item 29.  

Material e Método 

Trata-se de pesquisa descritiva exploratória, quantitativa, que foi desenvolvida com mulheres gestantes que realizam Pré-Natal em Unidades Básicas de Saúde de municípios, no interior Paulista.

A amostra foi por conveniência e participaram 198 mulheres que estiveram em acompanhamento Pré-Natal, independentemente da idade cronológica, classificação de risco, número de gestações anteriores ou semana do trimestre gestacional. Os critérios de inclusão para que as gestantes integrassem a amostra foram: ter Pregnosticon positivo até 12º semana de gestação, para as mulheres que estivessem no 1º trimestre de gestação; não ter participado da amostra do trimestre anterior quando no 2º ou 3º trimestres de gravidez; saber ler e escrever; aceitar participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos. O primeiro possibilitou traçar o perfil sócio- demográfico e obstétrico das gestantes. O segundo instrumento  referiu-se ao Índice de Qualidade de Vida (IQV) de Ferrans & Powers adaptado por Fernandes; Narchi; Cianciarullo9.

As gestantes presentes, na Unidade Básica de Saúde, para consulta médica tanto no período da manhã, quanto da tarde foram abordadas e receberam orientação em relação à pesquisa. Após aceitarem participar da mesma, receberam orientação individual quanto ao Termo de Consentimento Livre Esclarecido, a seguir foram entrevistadas para obtenção dos dados do primeiro instrumento e solicitado a elas que respondessem ao IQV.

A parte do instrumento referente ao IQV foi auto-aplicado, ou seja, a própria gestante respondia ao questionário após orientação prévia. As gestantes foram divididas em 3 grupos de acordo com o trimestre da gravidez, (1º 2º ou 3º), em que se encontravam, no período da coleta de dados, e não participaram da amostra mais de uma vez.

De modo a cumprir as exigências éticas estabelecidas pela Resolução 196/96 para o desenvolvimento de pesquisa em seres humanos, foi solicitado às mulheres, que aceitaram participar do estudo, que assinassem o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Guarulhos (SISNEP/ 68) e, foi solicitada autorização formal ao Secretário da Saúde do Município, onde as Unidades Básicas estão instaladas. 

Tratamento dos dados 

Foram utilizados na tabulação e análise estatística dos dados coletados, os softwares: MSOffice Excel versão 2000 para o gerenciamento  do banco de dados; SPSS for Windows versão 10.0 - Statistical Pachage for the Social Science, para a execução dos cálculos estatísticos.Para as variáveis quantitativas utilizou-se médias e medianas com intuito de resumir as informações e o desvio-padrão, mínimo e máximo, para indicar a variabilidade dos dados.

 A confiabilidade do instrumento IQV de Ferrans e Powers adaptado foi testada pela análise de consistência interna em cada domínio e em geral utilizando-se o coeficiente Alfa de Cronbach10.

 Com relação à distribuição da freqüência das variáveis qualitativas entre os grupos (1°, 2° e 3° trimestre de gestação) utilizou-se para compará-las o teste Qui-Quadrado de Pearson11. O teste exato de Fisher foi utilizado nas situações onde os valores esperados das variáveis foram inferiores a 5. Empregou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov 12 e utilizou-se a metodologia de Análise de Variância - ANOVA 13 para a comparação das mulheres gestantes nos três trimestres com relação a variável Idade, e o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para a renda e para comparar os escores de qualidade de vida geral e por domínios com relação ao trimestre.  Para todos os testes foi assumido o nível de significância de 5%. 

Resultados e Discussão 

As 198 gestantes que participaram da amostra estavam assim distribuídas: 32,3% encontravam-se no primeiro trimestre gestacional, 33,8% no segundo e 33,8% no terceiro.

O perfil sócio-demográfico das gestantes que compuseram a amostra demonstrou que em todos os trimestres de gestação o grau de escolaridade de maior porcentagem foi o ensino médio completo (52,50%) não havendo diferença estatisticamente significante entre as mulheres nos três trimestres gestacionais com relação a esta variável.

No que se refere ao estado civil das gestantes houve diferença estatisticamente significante entre as mulheres principalmente no 1° trimestre, onde 84,4% delas eram casadas. Dados semelhantes são verificados em estudo realizado com mulheres gestantes na Capital Paulista onde 89,6% tinham parceiro fixo englobando neste percentil as casadas14. Percebe-se, assim que as mulheres, ainda buscam relações conjugais estáveis.

No que tange a variável, emprego houve diferença estatisticamente significante entre os grupos de mulheres, no 1º trimestre 64,1% das gestantes encontravam-se empregadas, no 2º trimestre 53,7% tinham emprego, entretanto no 3º trimestre a situação foi inversa 67,2% das gestantes não estavam empregadas.

Nas comparações múltiplas observou-se que existe diferença das idades e da renda das mulheres, apenas quando comparadas as gestantes do 1°trimestre com as do 3°. Das gestantes que participaram do estudo a média de idade entre os três trimestres gestacionais foi  de 25,69 anos, (DP=5,8) sendo que a idade mínima encontrada foi de 13 anos e a máxima de 46 .

A média da idade das mulheres deste estudo é semelhante à média de idade encontrada em outros estudos de Qualidade de Vida envolvendo gestantes 14,15.

Ao que se refere à Renda Familiar a média geral foi de R$ 423,48 (quatrocentos e vinte e três reais e quarenta e oito centavos), o que correspondia à época a 1,1 salários mínimos.  Avaliando as médias da renda Familiar por trimestre nota-se que no 1º trimestre, estas são maiores e vão decaindo a cada trimestre, dados estes compatíveis com os dados de emprego destas mulheres, pois  a maioria das gestantes do 1º trimestre estava empregada (64,1%).

Quanto aos dados obstétricos, a maioria das mulheres (62,62%) apresentou mais de uma gestação, 39,89% delas eram primíparas e a maioria (81,81%) nunca abortou, sendo que em relação ao número de filhos vivos 42,92%, tinham 1 filho. Identificou-se, ainda que a maioria  das mulheres (95,9%) era gestante de baixo risco. 

Índice de Qualidade de Vida 

Apresenta-se na Tabela 1 os resultados obtidos pela consolidação dos escores de satisfação e importância atribuídos pelas gestantes. 

Tabela 1. Estatística descritiva das médias dos escores de qualidade de vida englobando satisfação e importância. São Paulo, 2006.

Qualidade de Vida

N

Média

Mediana

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

QV1

198

26,17

30,00

6,90

0,00

30,00

QV2

198

27,81

30,00

5,66

0,00

30,00

QV3

193

26,87

30,00

7,11

0,00

30,00

QV4

192

18,96

21,75

7,81

0,00

30,00

QV5

196

18,88

22,50

9,29

0,00

30,00

QV6

195

15,17

17,50

9,38

0,00

30,00

QV7

197

19,43

22,50

9,35

0,00

30,00

QV8

192

23,05

24,00

8,13

0,00

30,00

QV9

196

24,68

30,00

7,92

0,00

30,00

QV10

196

27,69

30,00

5,55

0,00

30,00

QV11

196

26,63

30,00

6,55

0,00

30,00

QV12

141

28,46

30,00

5,08

0,00

30,00

QV13

195

27,53

30,00

5,85

0,00

30,00

QV14

198

26,67

30,00

7,18

0,00

30,00

QV15

196

25,84

30,00

7,13

0,00

30,00

QV16

198

24,10

25,00

7,47

0,00

30,00

QV17

189

27,18

30,00

5,64

0,00

30,00

QV18

196

26,01

30,00

5,96

0,00

30,00

QV19

195

25,34

27,50

6,66

0,00

30,00

QV20

191

17,74

18,00

8,58

0,00

30,00

QV21

196

26,03

30,00

6,64

0,00

30,00

QV22

195

21,67

22,50

6,90

0,00

30,00

QV23

192

21,41

24,00

7,69

0,00

30,00

QV24

151

19,05

22,50

10,22

0,00

30,00

QV25

144

11,22

12,00

11,33

0,00

30,00

QV26

190

19,36

23,25

10,18

0,00

30,00

QV27

187

19,28

22,50

9,99

0,00

30,00

QV28

198

21,81

24,00

8,72

0,00

30,00

QV29

196

28,50

30,00

4,23

2,50

30,00

QV30

196

26,53

30,00

6,49

0,00

30,00

QV31

198

28,83

30,00

3,80

0,00

30,00

QV32

193

24,77

24,00

6,89

0,00

30,00

QV33

198

26,41

30,00

5,61

0,00

30,00

QV34

196

25,97

30,00

5,17

6,00

30,00

QV35

196

24,40

24,00

6,50

0,00

30,00

QV36

198

25,04

24,00

5,99

0,00

30,00

 Os escores variam de 0 a 30, sendo que quanto maior o escore melhor a qualidade de vida. Segundo os valores apresentados na Tabela 1, verifica-se que os itens que obtiveram as maiores médias dos escores em relação a Qualidade Vida, em ordem decrescente foram:o itens 31 “Sua fé em Deus”com escore de 28,83 ; o 29 “Ter essa criança;” (28,50); o 12 “Seus filhos”( 28,46) e o 2 “Sua gravidez” (27,81).

O item com maior média de escore e, portanto, com importante influência na vida das gestantes que participaram do estudo foi a “Sua fé em Deus” (28,83).

O homem sempre procurou desenvolver um sistema global de conhecimentos que servisse para dar sentido à sua vida social. O conhecimento religioso tem este objeto, a religião existe para explicar tudo sem exceção, é tida como autoridade em todos os domínios, tem explicação para o sentido da vida, para a origem de tudo.16

A religião é forte na vida das gestantes e a fé no sobrenatural, supre a falta de entendimento do que não tem explicação, dando sentido a vida.

A possibilidade de gerar uma criança, os filhos, e a própria gravidez foram as questões subseqüentes que se destacaram com as maiores médias dos escores. Os filhos e a gravidez têm representações fortes na vida da mulher. Os dados encontrados corroboram com o significado da maternidade e da relação mãe-filho, encontrados na literatura.

Os itens, 29 (ter esta criança) e 2 (sua gravidez) que foram introduzidos no instrumento original e dizem respeito à especificidade deste momento na vida destas mulheres obtiveram, também médias altas dos escores o que  pode significar que a maioria das mulheres percebe a gravidez de maneira positiva.

Por outro lado, os itens com os quais as mulheres estão mais insatisfeitas são: o item 25 “Não ter um trabalho” que obteve a menor média (11,22) o item 6 “ A intensidade de irritação que você sente” com média dos escores de 15,17 e o item 20 “O nível de estresse ou preocupações em sua vida” (17,74).

Note-se que dois itens (5 e 6)  introduzidos no instrumento destacam-se entre os que obtiveram menores médias (15,17 e 18,88) respectivamente e, portanto, podem estar influenciando negativamente na Qualidade de Vida das mulheres.

Pela análise estatística dos escores de qualidade de vida geral e por domínios apresentada na Tabela 2, pode-se observar que em média, a qualidade de vida das gestantes é relativamente alta, tanto no geral (23,84), quanto por domínio, com exceção do domínio Sócio-Econômico, que apresentou uma média de 21,44.  

Tabela 2. Estatísticas descritivas dos escores de qualidade de vida geral e por domínios. São Paulo 2006. 

Índices de Qualidade de Vida

N

Média

Mediana

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

IQV - Saúde/Funcionamento

198

23,28

23,94

4,17

4,74

29,85

IQV – Família

198

27,24

29,38

4,54

0,00

30,00

IQV - Sócio-Econômico

198

21,44

22,33

5,20

5,56

30,00

IQV - Psicológico/Espiritual

198

26,00

27,43

4,35

4,29

30,00

IQV Geral

198

23,84

24,53

3,83

5,86

29,68

 

Verifica-se que o domínio Família apresentou o maior escore de qualidade de vida (27,24), seguido pelos domínios Psicológico/Espiritual (26,00) e Saúde/Funcionamento (23,28), o domínio Sócio-Econômico apresentou o menor escore de qualidade de vida (21,44).

Considerando o Alfa Geral (0,8348) pode-se admiti-lo como satisfatório, ao aceitar o coeficiente de confiabilidade igual ou maior que 0,50. Caso o valor de aceite, adotado para o coeficiente de confiabilidade fosse 0,70, ou seja, o maior estabelecido pela literatura, o Alfa Geral (0,8348) também seria caracterizado como satisfatório.

A Tabela 3 traz as médias dos escores de Qualidade de Vida Geral e por domínio nos trimestres de gestação.

 Tabela 3. Comparação das médias dos escores de qualidade de vida geral e  por domínio, nos trimestres de gestação. São Paulo, 2006.

 

IQV

Trimestre

N

Média

Mediana

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

p-valor

IQV – Saúde/ Funcionamento

1° trimestre

64

24,29

24,85

3,82

10,82

30,00

 

2° trimestre

67

23,03

24,21

3,79

10,74

29,65

 

3° trimestre

67

23,72

24,21

4,41

5,44

29,29

0,081

Total

198

23,67

24,35

4,03

5,44

30,00

 

IQV – Família

1° trimestre

64

28,29

30,00

3,21

15,00

30,00

 

2° trimestre

67

26,80

28,50

4,74

6,00

30,00

 

3° trimestre

67

26,69

28,50

5,25

0,00

30,00

0,029*

Total

198

27,24

29,38

4,54

0,00

30,00

 

IQV – Sócio-Econômico

1° trimestre

64

23,32

24,31

4,47

6,31

30,00

 

2° trimestre

67

20,48

20,88

5,20

5,56

28,31

 

3° trimestre

67

20,61

21,56

5,45

9,88

30,00

0,003*

Total

198

21,44

22,33

5,20

5,56

30,00

 

IQV - Psicológico/ Espiritual

1° trimestre

64

26,55

27,43

4,07

4,29

30,00

 

2° trimestre

67

25,41

26,36

4,13

8,57

30,00

 

3° trimestre

67

26,07

27,43

4,80

5,36

30,00

0,131

Total

198

26,00

27,43

4,35

4,29

30,00

 

IQV Geral

1° trimestre

64

24,80

25,10

3,43

9,19

29,67

 

2° trimestre

67

23,13

23,47

3,57

12,25

29,23

 

3° trimestre

67

23,65

24,43

4,24

5,86

29,47

0,015*

Total

198

23,84

24,42

3,81

5,86

29,67

 

     * estatisticamente significante (p<0,05) 

Ao analisar as médias por domínio, apresentadas na Tabela 3, observa-se que  o domínio Família  foi o que apresentou as médias mais altas em todos os três trimestres de gestação. O domínio que apresentou as menores médias, em todos os trimestres, foi o domínio Sócio-Econômico.

Quanto às médias do IQV Geral, a Tabela 3 mostra que o 1º trimestre obteve a maior média (24,80) em seguida o 3º trimestre (23,67) e finalizando o 2º trimestre (23,13). Houve diferença estatisticamente significante do Índice de Qualidade de Vida Geral, Família e Sócio/ Econômico (p> 0,005). Os domínios Saúde / Funcionamento e Psicológico / Espiritual, não apresentaram diferença estatisticamente significante.

 Tabela 4. Resultado das comparações múltiplas entre os trimestres dos domínios Família e Sócio- Econômico . São Paulo, 2006

 

Comparações Múltiplas

IQV – Família

IQV – Sócio/ Econômico

IQV Geral

1° trimestre X 2° trimestre

0,060

0,005*

0,037*

1° trimestre X 3° trimestre

0,044*

0,008*

0,252

2° trimestre X 3° trimestre

0,889

> 0,999

0,743

*estatisticamente significante (p<0,05)

 Pelos resultados obtidos destas comparações múltiplas, nota-se que no IQV domínio Família houve diferença estatística entre as gestantes do 1° trimestre com relação as gestantes do 3°. As gestantes do 1° trimestre apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Nota-se uma tendência de diferença estatística entre as gestantes do 1°trimestre em relação as do 2° (p @ 0,05). Não houve diferença significante na comparação das gestantes do 2° trimestre com as do 3°.

 O IQV para o domínio Sócio-Econômico apresentou diferença estatística entre as gestantes do 1° trimestre com relação as gestantes do 2º e 3° (p<0,05). As gestantes do 1° trimestre apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Não houve diferença significante na comparação das gestantes do 2° trimestre com as do 3° trimestre de gestação, neste domínio.

Analisando o IQV Geral, houve diferença estatística entre as gestantes do 1° trimestre com relação as do 2°. As gestantes do 1° trimestre de gestação apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Não houve diferença significante na comparação das gestantes do 2° trimestre com as do 3°trimestre, assim como as do 1° trimestre X 3° trimestre de gestação.

Em outro estudo que utilizou o mesmo instrumento adaptado, a comparação das médias dos escores de Qualidade de Vida Geral e por domínio no 2° trimestre e 3º trimestre não demonstraram diferença estatisticamente significante, ou seja as gestantes apresentaram as mesmas médias dos escores de Qualidade de Vida independente do trimestre de gestação.9 

Considerações Finais 

O estudo permitiu verificar que a Qualidade de Vida das gestantes que participaram da amostra, é relativamente boa e que os trimestres gestacionais podem ter influência em sua percepção de Qualidade de Vida.

Embora, os resultados deste estudo não possam ser generalizados e caracterizar a percepção de todas as gestantes sobre Qualidade de Vida, eles podem colaborar para a compreensão de certos aspectos individuais muitas vezes não percebidos ou não inferidos como importantes pelos profissionais da saúde.

No momento da gravidez muitas modificações e adaptações acontecem com cada mulher e é importante que o profissional de saúde saiba identificar e amenizar os fatores que podem influenciar negativamente neste processo. Desta maneira, há necessidade de se buscar outras populações para aplicar o mesmo instrumento, de modo a possibilitar comparações que consolidem os achados e possam enriquecer o conhecimento sobre a temática.

Vale destacar que para uma assistência de enfermagem com qualidade faz-se necessário conhecer a realidade da população e planejar o cuidado frente às  suas necessidades que envolvem, também os aspectos sociais. O papel do enfermeiro neste processo é detectar, precocemente fatores que possam alterar a qualidade de vida das mulheres sob seus cuidados.17 

Referências

1.      Vido MB; Fernandes RAQ. Quality of life: considerations about concept and instruments of measure. Online Brazilian Journal of Nursing 2007 6 (2). Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/j.1676-4285.2007.870/197

2.      Oleson M. Subjectively perceived quality of life. Image. J.Nurs Sch 1990; 22(3):187-90.

3.      The WHOQOL group. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci Med 1995; 41: 1403-10.

4.      Seidl EMF, Zannon CMLdaC. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Caderno de Saúde Pública 2004; 20(2): 580-88.

5.      Costa Neto, SB. Qualidade de vida dos portadores de câncer de cabeça e pescoço. Brasília 2002. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade de Brasília.

6.      Fleck MPA et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-100); 1997.

7.      Minayo MCdeS, Hartz ZMdeA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência e saúde Coletiva 2000; 5(1):7-18.

8.      Kimura M. Tradução para o português e validação do “Quality of life index” de Ferrans e Powers. [Tese]. São Paulo): Escola de Enfermagem, Universidade São Paulo;1999.

9.      Fernandes RAQ, Narchi NZ, Cianciarullo TI. Qualidade de vida da mulher de baixa renda na fase gravídica. In: 15TH Congress onWomen,s Healt Issues e IV Congress on Obstetric and Neonatal Nursing, São Pedro, Novembro de 2004, CD-Rom.

10.  Armitage, P. and Berry, G. Statistical Methods in Medical Research. 3 ed. Oxford: Blackwell Science, 1994

11.  Vieira, S. Introdução à Bioestatística. 3ª ed.  Rio de Janeiro: Campus; 1998.

12.  Siegel, S. and Castellan, N.J. Nonparametric Statistics. 2a ed. New York: McGraw-Hill; 1988.

13.  Neter, J., Kutner, M. H., Nachtsheim, C. J. and Wasserman, W. (1996).Applied Linear Statistical Models. 4ª ed. U.S.A.: Times Mirror Higher Education Group.1408 p.

14.  Lima M de OP. Qualidade de Vida relacionada a saúde de mulheres grávidas com baixo nível sócio-econômico [Dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2006.

15.  Hueston WJ, Kasik-Miller S. Changes in Functional health status during normal pregnancy. J Fam Pract. 1998; 47(3):209-12.

16.  Mello, LG de Antropologia Cultural: Iniciação Teoria e Temas. 11ºed. Petrópolis: Vozes; 2004.

17.  Nansel TR, Doyle F, Frederick MM, Zhang J.Quality of life in woman undergoing medical treatment for early pregnancy failure.J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2005 Jul-Aug 34(4):473-81. 

Endereço para correspondência: Rosa Aurea Quintella Fernandes. Rua Comendador Bichara Moherdaui, nº26, CEP: 05614-080, São Paulo. E-mail: fernands@uol.com.br 

Nota: Este estudo é parte da Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Enfermagem da Universidade Guarulhos em 2006.

Banca examinadora: Profas. Dras. Miako Kimura (USP) e Tamara Iwanow Cianciarullo (UnG).