Prevalence of post-menopausal symptoms in aged women who are staying at homes for old people: a descriptive study
Prevalência de sintomas pós - menopausais em idosas em situação asilar: estudo descritivo
Lydia Vieira Freitas 1, Thais Marques Lima 1, Maria Leonor Costa de Moraes 1, Maria Levânia Benevides Dias 1, Priscila de Souza Aquino 1, Ana Karina Bezerra Pinheiro 1
1Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil
ABSTRACT. The study aimed at identifying the Blatt-Kupperman Menopausal Index (BKMI) and verifying the post-menopausal symptoms which are more prevalent in aged women who live in homes for old people. It’s a quantitative descriptive, research, accomplished with institutionalized aged women from, Fortaleza/CE. The data were collected during the gynecologic consultation with the nurse, accomplished at the same institution in 2007. The results showed that the elderly were illiterate, unmarried, and had reached their menarche as they were 15 years of age. 17 women (63.0%), and 16 older women (59.3%) had reached menopause between 40 and 55 years of age. 24 women (88.9%) had presented light BKMI, with the absence of various symptoms, which may be the consequence of hormonal stability, result of a considerable time of menopause. The most prevalent symptoms were depression, nervousness, dizziness, arthralgia/myalgia and headache. We so conclude that the BKMI represents a valuable tool in the identification of post-menopausal symptoms and that its application in older institutionalized women allows the detection of factors often not approached in nursing consultation.
Key words: Geriatric Nursing; Post menopause; Homes for Old People.
RESUMO. O estudo objetivou identificar o Índice Menopausal de Blatt e Kupperman (IMBK) e verificar os sintomas pós-menopausais mais prevalentes em idosas em situação asilar. Pesquisa quantitativa, descritiva, realizada com idosas institucionalizadas de Fortaleza/CE. Os dados foram coletados no momento da consulta de enfermagem em ginecologia, realizada na própria instituição, em 2007. Os resultados evidenciaram que as idosas, em sua maioria eram analfabetas, solteiras, com idade da menarca até 15 anos, 17 mulheres (63,0%), e menopausa entre 40 e 55 anos, 16 idosas (59,3%). Apresentaram IMBK leve, 24 mulheres (88,9%), com vários sintomas ausentes, o que pode ser conseqüência da estabilidade hormonal, resultado de um tempo de menopausa considerável. Os sintomas mais prevalentes foram: depressão, nervosismo, vertigens, artralgia/mialgia e cefaléia. Concluímos que o IMBK representa um instrumento valioso na identificação de sintomas pós-menopausais e que a aplicação do mesmo em idosas institucionalizadas permite a detecção de fatores muitas vezes não abordados na consulta de Enfermagem.
Palavras-chave: Enfermagem Geriátrica, Pós-menopausa, Instituição de longa permanência para idosos.
INTRODUÇÃO
O climatério consiste no período entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva da mulher, culminando com a menopausa. Admite-se como menopausa o marco causado pela última menstruação da mulher, seguida de um ano de amenorréia, considerada um evento fisiológico de extrema importância.(1)
Não existe idade determinada para a ocorrência da menopausa, mas a idade média considerada é de 50 anos, podendo advir antes dos 40 anos ou após os 55 anos, definidas como menopausa precoce e tardia, respectivamente.(2) Diversos fatores podem estar associados à idade menopausal, como os hormonais e psico-sócio-culturais, que podem causar uma diversidade de sintomas pós-menopausais.(3)
Uma das formas mais utilizadas para se mensurar o nível de menopausa é o Índice Menopausal de Blatt e Kupperman (IMBK).(2) Baseados neste índice, é possível relacionar a menopausa à ocorrência de fatores condicionantes para a adequada manutenção da qualidade de vida nesse período, como a depressão, a insônia, a presença de artralgias e mialgias, dentre outras.
Os sintomas que surgem no período de climatério e menopausa devem-se ao hipoestrogenismo, que gera fogachos, secura vaginal, alterações psíquicas (de intensidade variável), mastalgia, edema e desconfortos em membros inferiores.(4) Compreendemos que todos esses sintomas afetam a qualidade de vida das mulheres que enfrentam essa fase, especialmente quando o período vivenciado é concomitante com a terceira idade.
O período pós-menopáusico representa também para a idosa uma fase de grandes mudanças para o indivíduo. O grau de dependência tende a ser maior nessa fase da vida, o que acarreta repercussões no âmbito bio-psico-social. Segundo a Organização das Nações Unidas, nos países em desenvolvimento, o limite mínimo para ser considerado idoso é de 60 anos, enquanto que nos países desenvolvidos, esse limite sobe para 65 anos. No Brasil, o Estatuto do Idoso referenda o limite de 60 anos.(5) Observa-se ainda que, dentro da equipe de saúde que o idoso necessita, o enfermeiro possui um importante papel na atenção aos idosos no que diz respeito à prevenção de doenças ou complicações de doenças pré-existentes.(6) Isto ocorre por conta de ser este o profissional que presta uma atenção ininterrupta aos pacientes, de forma a acompanhar melhor a evolução de cada um deles.
O aumento na população de idosos gera o processo de asilamento, que pode estar relacionado a fatores como: o reduzido número de integrantes na família, a ausência de condições físicas, financeiras e psicológicas dos cuidadores, a inserção da mulher no mercado de trabalho, que a impede de ser a cuidadora dos idosos, e o desejo do idoso em morar em um lugar que não perturbe a família.(7)
Alguns traços de personalidade das idosas podem auxiliar na compreensão da evolução de determinados sintomas do climatério, bem como os fatores que estão envolvidos.(8). Assim, faz-se relevante uma atuação profissional voltada para a identificação dessa sintomatologia com vistas a promover intervenções eficazes, concernentes com a promoção de uma melhor qualidade de vida, papel desempenhado geralmente pelos enfermeiros.
A compreensão do período de pós-climatério associada à institucionalização das mulheres que vivenciam essa fase requer da assistência de Enfermagem um direcionamento das ações para as necessidades emergentes desse período, o que facilita sobremaneira a manutenção da situação de saúde e promoção da saúde dessas mulheres.
Assim, realizamos o presente estudo com o objetivo de identificar o Índice Menopausal de Blatt-Kupperman e verificar os sintomas pós-menopausais mais prevalentes em idosas em situação asilar.
MÉTODOS
Estudo quantitativo, com abordagem descritiva e delineamento transversal. No estudo quantitativo, o pesquisador parte do ponto inicial de um estudo para o ponto final, em uma seqüência lógica de passos. A finalidade dos estudos descritivos é observar, descrever e documentar os aspectos da situação. Os delineamentos transversais descrevem o fenômeno ou as relações entre os fenômenos em um ponto fixo do tempo.(9)
O estudo foi realizado em uma instituição de Fortaleza, referência na acolhida de idosos. Esta é uma instituição que promove cuidados gerais à saúde dos idosos, além de prezar pelo bem-estar dos moradores do local. A instituição abriga aproximadamente 250 idosos, entre homens e mulheres.
A população do estudo foi composta por todas as idosas residentes no local de estudo, tendo sido excluídas 50 mulheres por serem acamadas e/ou desorientadas dada a dificuldade em realizar o exame preventivo. A amostra foi composta por 27 idosas institucionalizadas.
A coleta de dados foi realizada no momento da consulta de Enfermagem em ginecologia, na própria instituição. O exame ginecológico é considerado como doloroso e desconfortável, não descartando o fato de invadir a privacidade das mulheres, necessitando assim de incentivos para a sua realização e da desmistificação dos desconfortos por ele gerados.(10) No momento antecedente ao exame físico e ginecológico, as idosas responderam um formulário composto por questões referentes aos dados de identificação, antecedentes familiares, pessoais e à determinação do IMBK.
Este índice avalia o nível de sintomas climatéricos segundo alguns indicadores, sendo estes: ondas de calor, insônia, parestesias, nervosismo, depressão, vertigens, fadiga, artralgia/mialgia, cefaléia, palpitação e zumbido. Estes sintomas são avaliados segundo quatro níveis: ausente, leve, moderado e intenso, com valores respectivos de 0, 1, 2 e 3 pontos. Ressaltamos ainda que o quesito ondas de calor possui peso 4 e parestesias, insônia e nervosismo peso 2, com os outros fatores apresentando peso 1 no cálculo do índice.(2)
Os dados obtidos foram armazenados e analisados através do programa Statistical Package for Social Sciences for Personal Computer (SPSS-PC), versão 13.0, e discutidos de acordo com aspectos da literatura pertinente. As informações foram apresentadas em tabelas ilustrativas, com o objetivo de facilitar a visualização e compreensão das mesmas.
Foram considerados os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, de acordo com o preconizado pela Resolução 196/96. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, mediante parecer Nº 141/07. Vale ressaltar que a não participação no estudo não interferiu na realização da consulta de Enfermagem.
RESULTADOS
As informações fornecidas pelas 27 idosas participantes do estudo foram agrupadas em variáveis, referentes à caracterização social, dados ginecológicos, e sintomas contidos no IMBK.
Com relação à caracterização social, constatou-se que 16 participantes (59,2%) encontravam-se na faixa etária entre 60 e 69 anos. Porém, foram encontradas 07 mulheres entre 70 e 80 anos (26%), 01 mulher menor de 60 anos (3,7%), 01 mulher maior de 80 anos (3,7%) e 02 idosas (7,4%) não responderam a este questionamento.
Estudos apontam que a idade aceita para que a mulher experimente os sintomas associados ao climatério é a partir dos 40 anos. Aproximadamente 12% da população é constituída de mulheres nessa idade ou mais velhas.(11)
Verificou-se que a maioria das idosas participantes do estudo encontrava-se na faixa etária de idosos jovens e eram fisicamente capacitadas, contudo viviam em instituição asilar que em sua essência priva o residente de um maior convívio familiar e social, o que pode favorecer a incidência ou o agravo de sintomas como depressão e nervosismo característicos do período menopausal.
Encontramos uma baixa escolaridade nas participantes do estudo, pois 13 idosas (48,2%) referiram nunca ter estudado, além de uma considerável parcela, 10 mulheres (37,0%) apresentar escolaridade entre 05 e 08 anos. O baixo nível de escolaridade tem sido constatado como um dos fatores existentes nas mulheres que possuem sintomas menopausais mais intensos, bem como a baixa renda familiar. Isto pode estar relacionado à ansiedade e apreensão causadas por estes fatores.(12)
A escolaridade contribui para uma maior compreensão das mudanças corporais inerentes ao climatério, o que pode reduzir a ansiedade nesse período, estimulando o autocuidado e o aumento na qualidade de vida, que pode ser influenciada por fatores biológicos, culturais e também psicossociais.
Nesse sentido, as mulheres podem também diminuir a distorção da percepção acerca dessa etapa da vida, diminuindo as dificuldades emocionais prévias.(13)
Ao indagarmos o estado civil, verificamos que a maioria é solteira, sendo estas 16 mulheres (59,3%). Esse dado pode estar relacionado ao fato de essas mulheres não terem constituído família durante sua vida, culminando na institucionalização por estarem sozinhas. Estudo realizado com 254 idosas evidenciou que os sintomas climatéricos não tiveram associação estatística significante com a idade e o estado civil.(12) Verificou-se ainda que 07 (25,9%) das idosas eram viúvas.
As estatísticas demonstram que um terço das mulheres responsáveis pelos domicílios tem mais de 60 anos de idade e grande parte destas mulheres são viúvas. Sem dúvida, o fato de a expectativa de vida das mulheres ser mais elevada que a dos homens tem grande influência nesta constatação.(14)
Ao serem indagadas acerca do motivo de realização da consulta, percebemos um elevado número de mulheres ressaltando o exame de rotina, 23 (85,2%). Poucas enfatizaram queixas isoladas como prurido, dor pélvica, desconforto inguinal e prolapso uterino, cada sintoma sendo citado por uma mulher.
O estudo foi corroborado pelos achados de que a maioria das mulheres procuram o serviço de saúde para a realização da consulta ginecológica por rotina e apenas 18,2% o procuram por queixas ginecológicas.(15)
Este é um importante fator para a prevenção do câncer de colo uterino, pois na medida em que as mulheres procuram o serviço para realizar o exame rotineiramente, demonstram cuidado com a sua integridade física. A realização periódica do exame ginecológico leva à detecção precoce de lesões precursoras do HPV, bem como do câncer de colo uterino, sendo este responsável por 12% de todos os tumores malignos na mulher, e por cerca de 470 mil casos novos e óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por ano.(16)
Os dados referentes à história ginecológica e sintomas climatéricos para a determinação do IBMK encontrados nas participantes do estudo foram dispostos na tabela a seguir.
Tabela 1 – Distribuição dos dados ginecológicos e Índice Menopausal de Blatt e Kupperman apresentado por idosas institucionalizadas no momento da consulta de Enfermagem. Fortaleza, 2007.
Dados ginecológicos e IMBK (n=27) |
Fa |
% |
Idade da menarca |
|
|
Até os 15 anos |
17 |
63,0 |
De 16 a 20 anos |
4 |
14,8 |
Não responderam |
6 |
22,2 |
Idade da menopausa |
|
|
Antes dos 40 anos |
1 |
3,7 |
Entre 40 e 55 anos |
16 |
59,3 |
Após 55 anos |
2 |
7,4 |
Não responderam |
8 |
29,6 |
Tempo de menopausa |
|
|
Até 10 anos |
4 |
14,8 |
De 11 a 20 anos |
4 |
14,8 |
De 21 a 30 anos |
9 |
33,4 |
Acima de 30 anos |
2 |
7,4 |
Não responderam |
8 |
29,6 |
IMBK |
|
|
Leve (01 a 19 pontos) |
24 |
88,9 |
Moderado (20 a 35 pontos) |
2 |
7,4 |
Acentuado (maior que 35 pontos) |
1 |
3,7 |
Dentre as idosas a maioria, 13 (63%), teve a sua menarca na faixa entre 10 e 15 anos de idade. Esta faixa etária é reconhecida para este evento, podendo variar de ±1,04 anos.(17)
Com relação à idade da menopausa, apenas uma (3,7%) mulher apresentou menopausa precoce, o que representa um fator de risco para doenças relacionadas ao hipoestrogenismo. Vale ressaltar que 02 (7,4%) mulheres apresentaram menopausa tardia, o que representa risco em dobro de possuir câncer de mama, ovário e endométrio, porém o risco de osteoporose e doenças cardiovasculares está diminuído.(3)
O tempo de ocorrência da menopausa influi diretamente na persistência dos sintomas climatéricos. Sabe-se que após alguns anos de menopausa, a mulher já se encontra com a sua taxa de estrogênio estabilizada, de forma a não intensificar os sintomas climatéricos que anteriormente prejudicavam a sua qualidade de vida. A maioria das mulheres já apresentava de 21 a 30 anos de menopausa, o que acarreta menos instabilidade dos sintomas referidos. A relação existente entre a menarca precoce e menopausa precoce, torna essas mulheres mais expostas a doenças relacionadas ao hipoestrogenismo.
Corroborando os achados, estudo realizado em Campinas/SP constatou a ocorrência de menopausa natural na média etária de 51,2 anos, com valores máximo e mínimo de 58 e 28 anos, respectivamente. Destacamos ainda que cerca de 5,5 % das mulheres estudadas apresentaram menopausa precoce, e 2% menopausa tardia.(3)
O tempo de exposição da mulher às mudanças decorrentes da menopausa nos configura a presença de novos riscos. Um exemplo deste risco é a osteoporose, definida como uma alteração metabólica óssea, caracterizada pela redução de massa óssea, podendo causar dores e possibilitando a ocorrência de fraturas.(2) Quanto maior o tempo de exposição a essa fragilidade óssea, mais chances ela terá de sofrer danos e alterações em sua qualidade de vida.
Com relação aos sintomas climatéricos, esses foram prevalentes, com 24 (88,9%) mulheres experimentando pelo menos um dos sintomas. Para mensurá-los, o IMBK representa uma forma objetiva de avaliar a intensidade desses. O resultado do índice é classificado em: leve (quando a pontuação resulta até 19 pontos), moderado (20 a 35 pontos) e acentuado (maior que 35 pontos). Vale ressaltar que a intensidade dos sintomas tem sido associada à qualidade de vida de mulheres no climatério.(18)
A maioria das mulheres apresentou sintomatologia leve, 24 (88,9%), corroborando com as características gerais da população idosa, que já não possui com tanta intensidade os sintomas típicos dessa fase. Os dados concernentes aos sintomas observados na população estudada foram dispostos na tabela 2.
Tabela 2 – Distribuição dos sintomas climatéricos do IMBK encontrados em idosas institucionalizadas. Fortaleza, junho de 2007.
Sintomas climatéricos |
Fa |
% |
Sintomas climatéricos |
Fa |
% |
Ondas de calor |
|
|
Fadiga |
|
|
Ausente |
20 |
74,1 |
Ausente |
23 |
85,2 |
Leve |
3 |
11,1 |
Leve |
3 |
11,1 |
Moderado |
2 |
7,4 |
Moderado |
1 |
3,7 |
Intenso |
2 |
7,4 |
Intenso |
0 |
0,0 |
Parestesia |
|
|
Artralgia / mialgia |
|
|
Ausente |
17 |
63,0 |
Ausente |
13 |
48,1 |
Leve |
4 |
14,8 |
Leve |
3 |
11,1 |
Moderado |
3 |
11,1 |
Moderado |
8 |
29,6 |
Intenso |
3 |
11,1 |
Intenso |
3 |
11,1 |
Insônia |
|
|
Cefaléia |
|
|
Ausente |
22 |
81,5 |
Ausente |
14 |
51,9 |
Leve |
2 |
7,4 |
Leve |
8 |
29,6 |
Moderado |
1 |
3,7 |
Moderado |
2 |
7,4 |
Intenso |
2 |
7,4 |
Intenso |
3 |
11,1 |
Nervosismo |
|
|
Palpitação |
|
|
Ausente |
10 |
37,0 |
Ausente |
22 |
81,5 |
Leve |
6 |
22,2 |
Leve |
4 |
14,8 |
Moderado |
8 |
29,6 |
Moderado |
0 |
0,0 |
Intenso |
3 |
11,1 |
Intenso |
1 |
3,7 |
Depressão |
|
|
Zumbido |
|
|
Ausente |
12 |
44,4 |
Ausente |
16 |
59,3 |
Leve |
5 |
18,5 |
Leve |
8 |
29,6 |
Moderado |
9 |
33,3 |
Moderado |
1 |
3,7 |
Intenso |
1 |
3,7 |
Intenso |
2 |
7,4 |
Vertigens |
|
|
|
|
|
Ausente |
14 |
51,9 |
|
|
|
Leve |
5 |
18,5 |
|
|
|
Moderado |
6 |
22,2 |
|
|
|
Intenso |
2 |
7,4 |
|
|
|
De um modo geral, nenhuma idosa apresentou todos os critérios expostos no IMBK, mas todos os sintomas foram referidos na amostra estudada. Os sintomas mais freqüentes foram depressão, nervosismo, vertigens, artralgia/mialgia e cefaléia. Os menos citados foram ondas de calor, fadiga, insônia e palpitações.
Ao analisarmos os sintomas climatéricos, verificamos que mulheres na pós-menopausa estão mais sujeitas a ocorrência de ondas de calor, tendo em vista o hipoestrogenismo típico desta fase.(19) Entretanto, não foi o que ocorreu nesse estudo.
A presença de parestesias na mulher em pós-menopausa pode ser decorrente das alterações cardiovasculares típicas desta época. E este sintoma poderá acarretar conseqüências importantes para a integridade da pele, visto que a ausência de sensibilidade, principalmente em membros inferiores, poderá possibilitar lesões, especialmente em mulheres diabéticas.
A insônia apresentou-se ausente em 22 (81,5%) mulheres indo de encontro aos estudos que afirmam ser este o sintoma que persiste e, na maioria das vezes, intensifica-se com o passar dos anos que se seguem à menopausa.(13) Contudo, a diminuição do sono na terceira idade é reconhecida pela população em geral, por conta das mudanças de estilo de vida, que ocorrem juntamente com o envelhecimento.
O nervosismo esteve presente em 17 (62,9%) mulheres em diferentes intensidades. Estudo prévio evidenciou que a depressão, ansiedade, irritabilidade e cefaléia não são mais freqüentes na peri e pós-menopausa do que em qualquer outro período da vida da mulher. Um dos fatores que prediz a ocorrência desses sintomas psicológicos no climatério é o antecedente de tensão pré-menstrual.(20)
No presente estudo, os sintomas psicológicos também podem ser justificados pelo fato de que, especialmente em uma instituição asilar, os conflitos de relacionamento estão notadamente presentes, em virtude de os idosos não permitirem a violação de seus valores, bem como não tolerarem mudanças no seu estilo de vida. Isto se dá pela mudança de papéis existentes na vida dos idosos. Estes que anteriormente eram vistos com uma imagem de força e vigor, passam a ser considerados pessoas frágeis e necessitadas de cuidados especiais, tanto pela sua família como por eles próprios.
Atribuímos as características depressivas não apenas ao estado de pós-menopausa, mas ainda à situação de institucionalização, pois esta acarreta a distância da família ou mesmo é conseqüência do abandono. Às vezes, essas idosas vivenciam a morte de seus companheiros de institucionalização, o que pode gerar o medo da própria morte. Esta maior tendência à depressão pode estar associada a sentimentos como o medo de envelhecer, a proximidade da morte e a carência afetiva, agravados pela sensação de inutilidade.(13)
Outro sintoma analisado foi a presença de artralgias e mialgias, presente em 14 (51,9%) mulheres da amostra. Em virtude da presença de dores no sistema locomotor, a mobilidade dos idosos pode estar prejudicada, o que aumenta o grau de dependência dos mesmos. Essa deficiência pode estar relacionada tanto às articulações do corpo, com a diminuição da amplitude normal de movimento, como à insuficiência de força muscular, ambos associados à dor.(21)
A atividade física é apontada em outros estudos como importante recurso para prevenção e reabilitação de alterações musculares e articulares. Esta prática é associada com saúde física, psicológica e social tendo um impacto positivo na qualidade de vida relacionada à saúde.(22) Em um estudo tipo caso-controle, ao examinarem os efeitos da atividade física na qualidade de vida de 48 mulheres com idade entre 55 e 72 anos, menopausadas, os autores identificaram que o grupo submetido a exercícios físicos adequados para idade e estado de saúde, durante 12 meses, teve melhora significante na qualidade de vida, assim como apresentou redução de 50% para 37,5% de mulheres com pontuação do IMK maior que 35 pontos. Comparando o grupo submetido a exercícios com o sedentário, foi identificado também um decréscimo da severidade de sintomas menopausais, de 58,3% para 66,7%.(23)
A dor crônica também pode interferir na qualidade de vida dos idosos, podendo estar associada com quadros de depressão, incapacidade física, mudanças na sexualidade, dentre outros. Nesse estudo, a cefaléia esteve presente em 13 (48,1%) idosas, estando de acordo com o estudo que aponta a dor de cabeça como a terceira dor crônica mais prevalente em idosos.(24)
A presença de zumbido (40,7%) pode estar associada à perda auditiva, mas nem sempre isso ocorre. Entretanto, este é o primeiro sintoma de doenças otológicas, daí a importância da busca precoce de possíveis alterações, através do monitoramento periódico, como forma de minimizar as perdas auditivas entre idosos.(25)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados evidenciaram que as idosas institucionalizadas em sua maioria eram analfabetas, solteiras, apesar de uma delas apresentar idade inferior a 60 anos. A idade da menarca e menopausa coincidiu com a idade apresentada na literatura, e apresentaram um IMBK leve, com muitas mulheres referindo ausência de alguns sintomas, o que pode ser conseqüência da estabilidade hormonal, resultado de um tempo de menopausa considerável.
O profissional de Enfermagem deve possuir conhecimento acerca dos fatores inerentes ao período da menopausa, para que possa realizar um atendimento direcionado às necessidades observadas, muitas vezes relacionadas aos desconfortos oriundos dos sintomas menopausais. Além disso, no tocante a idosas institucionalizadas, percebemos uma gama de fatores que podem advir sobre a qualidade de vida delas, os quais podem ser amenizados com a realização de uma abordagem integral e holística durante a consulta.
Assim, percebe-se que a consulta de enfermagem em ginecologia representa um momento ímpar de proximidade com essas mulheres, fato que propicia uma investigação detalhada sobre os fatores intervenientes na qualidade de vida. Além disso, ressalta-se a importância da consulta realizada a mulheres institucionalizadas.
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Brasília; 2004.
2. Freitas F, Menke CH, Rivoire W, Passos EP. Rotinas em ginecologia. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
3. Pedro AO; Pinto Neto AM, Paiva LHSC, Osis MJ, Hardy E. Idade de ocorrência da menopausa natural em mulheres brasileiras: resultados de um inquérito populacional domiciliar. Cad Saúde Pública, 2003; 19(1):7-25.
4. Wygoda MM, Filippo Jr RB, Gomes MAS, Clapauch R. Monitorizando a terapia de reposição estrogênica (TRE) na menopausa. Arq Bras Endocrinol Metab, 1999; 43(5):336-43.
5. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [página da Internet]. Síntese de indicadores sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira. 2007. [Acesso 2008 dez 9]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2007/notatecnicapnad.pdf.
6. Oliveira CJ, Moreira TMM. Análise das dissertações e teses de enfermagem sobre “idoso”, Brasil, 1979-2004: Estudo bibliográfico. Online Braz J Nurs [periódico na Internet]. 2007 apr 21 [Acesso 2007 dec 5]; 6(1). Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/689.
7. Perlini NMOG, Leite MT, Furini AC. Em busca de uma instituição para a pessoa idosa morar: motivos apontados por familiares. Rev Esc Enferm USP 2007; 41(2):229-36.
8. Appolinário JC, Meirelles RMR, Coutinho W, Póvoa LC. Associação entre traços de personalidade e sintomas depressivos em mulheres com síndrome do climatério. Arq Bras Endocrinol Metab 2001; 45(4):383-9.
9. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.
10. Lucarini ACBS, Campos CJG. A procura pela realização do exame preventivo de citologia oncótica: um estudo clínico-qualitativo. Online Braz J Nurs [periódico na Internet] 2007 [Acesso 2007 dec 5]; 6(0). Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/rt/printerFriendly/671/156.
11. Pedro AO, Pinto-Neto AM, Costa-Paiva LHS, Osis MJD, Hardy EE. Climacteric women seeking medical care, Brazil. Rev Saúde Pública 2002; 36(4):484-90.
12. De Lorenzi DRS, Danelon C, Saciloto B, Padilha Jr I. Fatores indicadores da sintomatologia climatérica. Rev Bras Ginecol Obstet 2005; 27(1):7-11.
13. De Lorenzi DRS; Baracat EC, Saciloto B, Padilha Júnior I. Fatores associados à qualidade de vida após menopausa. Rev Assoc Med Bras 2006; 52(5):312-7.
14. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [página na Internet]. Perfil das mulheres responsáveis pelo domicílio no Brasil - 2000. Rio de Janeiro: IBGE; 2002. [Acesso 2007 maio 10]. Disponível em: www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfildamulher/apresentacao.shtm
15. Pinho AA, França Junior I, Schraiber LB, D'Oliveira AFPL. Cervical cancer screening in the Municipality of São Paulo: coverage and factors involved in submitting to the Pap test. Cad Saúde Pública 2003; 19(supl.2):303-13.
16. Instituto Nacional do Câncer (INCA) [página na Internet]. Cancer do colo do útero. [Acesso 2007 maio 10]. Disponível em: www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=326.
17. Biassio LG, Matsudo SMM, Matsudo VKR. Impacto da menarca nas variáveis antropométricas e neuromotoras da aptidão física, analisado longitudinalmente. Rev Bras Cienc Mov 2004; 12(2): 97-101.
18. Zahar SEV, Aldrighi JM, Pinto Neto AM, Conde DM, Zahar LO, Russomano F. Quality of life in users and non-users of hormone replacement therapy. Rev Assoc Med Bras 2005; 51(3):133-8.
19. Santos-Sá D, Pinto-Neto AM, Conde DM, Pedro AO, Oliveira SCM, Costa-Paiva LHS. Factors associated with hot flashes in climacteric women: a population-based study. Rev Bras Ginecol Obstet 2004; 26(10):765-71.
20. Pedro AO, Pinto-Neto AM, Costa-Paiva LHS, Osis MJD, Hardy EE. Síndrome do climatério: inquérito populacional domiciliar em Campinas, SP. Rev Saúde Pública 2003; 37(6):735-42.
21. Smeltzer SC, Bare BG. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
22. Silva Filho EAS, Costa AM. Avaliação da qualidade de vida de mulheres no climatério atendidas em hospital-escola na cidade do Recife, Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2008; 30(3):113-20.
23. Villaverde-Gutiérrez C, Araújo E, Cruz F, Roa JM, Barbosa W, Ruíz-Villaverde G. Quality of life of rural menopausal women in response to a customized exercise programme. J Adv Nurs 2006; 54(1):11-9.
24. Dellaroza MSG, Pimenta CAM, Matsuo T. Prevalence and characterization of chronic pain among the elderly living in the community. Cad Saúde Pública 2007; 23(5):1151-60.
25. Sanchez TG, Medeiros IRT, Levy CPD, Ramalho JRO, Bento RF. Tinnitus in normally hearing patients: clinical aspects and repercussions. Rev Bras Otorrinolaringol 2005; 71(4):427-31.
Contribuição das autoras: As autoras contribuíram em todas as etapas do estudo: concepção e desenho; colheita de dados, análise e interpretação; escrita do artigo; revisão crítica do artigo.
Endereço para correspondência: Rua Vicente Linhares, 1570/AP. 202. Bairro Cocó. Fortaleza, Ceará.