Major causes of domestic accidents in children: a descriptive-exploratory study

Principais causas de acidentes domésticos em crianças: um estudo descritivo-exploratório
 

Regiane Paiva de Lima1, Lorena Barbosa Ximenes1, Emanuella Silva Joventino1, Luiza Jane Eyre de Souza Vieira2, Mônica Oliveira Batista Oriá1

1UFC, CE, Brasil; 2UNIFOR, CE, Brasil

Abstract. Domestic accidents can be considered a public health problem due to their high morbidity and mortality rates. The aims of this descriptive-exploratory study with a quantitative approach were to identify domestic accidents involving children in their first infancy, and to know their major causes. The sampling enrolled 65 families of children registered in two day-care centers in Fortaleza-CE, during 2004-2005. Parent’s interviews were conducted at the domiciles, using forms to assess demographic and domestic accident referrals. No significant association was found between the child sex and the type of accident. However, significant associations were found between the type of accident and age and between the kind of accident suffered and the part of the body injured. Thus, knowing the major accidents that reach the children at the domiciliary context and their causing effects are critical for nurses to develop efficiently health educative strategies towards accident prevention and child health promotion.

Keywords: Accidents, Home; Child; Family 

Resumo: Os acidentes domésticos podem ser considerados um problema de saúde pública devido às elevadas taxas de morbi-mortalidade que provocam. Os objetivos deste estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa foram identificar os principais acidentes ocorridos no contexto domiciliar com crianças na primeira infância, além de conhecer seus principais agentes causadores. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa. A amostra constituiu-se de 65 famílias de crianças matriculadas em duas creches, em Fortaleza-CE, em 2004-2005. Realizaram-se entrevistas com os pais, nos domicílios, utilizando-se formulários com assuntos referentes às condições sociodemográficas e distribuição de acidentes domésticos. Não se verificou associação estatística significante entre o sexo e o tipo de acidente ocorrido no domicílio. No entanto, houve associação estatística significante entre o tipo de acidente e faixa etária de ocorrência desses; entre tipo de acidente sofrido pela criança e a parte do corpo atingida. Assim, conhecer os principais acidentes que vitimam as crianças no contexto domiciliar e seus agentes causadores são fatores indispensáveis para que a enfermagem possa atuar mais eficazmente, oportunizando estratégias de educação em saúde que levem à prevenção de acidentes e à promoção da saúde infantil.

Palavras-chave: Acidentes domésticos; Criança; Família  

INTRODUÇÃO

Crianças pertencentes à primeira infância, fase compreendida entre o primeiro e sexto ano de vida, necessitam de maior cuidado e atenção, no intuito de alcançarem crescimento e desenvolvimento favoráveis. Entretanto, por se encontrarem em fase de maturação dos sistemas orgânicos, bem como por estarem adquirindo habilidades locomotoras e manuais, tornam-se mais propensas a contraírem doenças e a serem vitimadas por acidentes(1-4), ou seja, tornam-se mais vulneráveis às condições do meio(5).

Nos países desenvolvidos, após os avanços no controle das doenças infecciosas, os acidentes passaram a representar uma das principais causas de morbi-mortalidade na infância(6). No que se refere ao Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as causas externas são responsáveis por 19,5% da mortalidade na faixa etária até a adolescência, sendo a principal causa de morte no grupo etário de 5 a 19 anos(7).  No Ceará, em 2004, as causas externas, que incluem os acidentes, foram responsáveis por 20 óbitos em crianças menores de 1 ano, 65 em crianças na faixa etária de 1 a 4 anos e 105 mortes em crianças com idades entre 5 e 9 anos, estando entre as principais causas de morbi-mortalidade nessas faixas etárias(8).

De acordo com a literatura, verifica-se que a maior prevalência de acidentes a crianças se dá naquelas do sexo masculino, na faixa etária de um a cinco anos de idade, tendo como ambiente potencial de tais acidentes o lar e os principais grupos de acidentes são quedas, envenenamentos, atropelamentos e queimaduras(9,10), podendo este fato ser justificado pela grande altivez e curiosidade da criança e por sua longa permanência em casa.

Em Fortaleza-CE, as principais causas externas de morte em crianças menores de um ano e entre 1 e 4 anos foram quedas, choques elétricos e intoxicações, seguidos de acidentes de trânsito. Além disso, a mortalidade por acidentes e violências representa 20% do total de óbitos anuais por causas externas, sendo a principal causa de morte em crianças a partir de cinco anos de idade(11). Um terço dessas crianças costumam ser vítima de algum acidente e dois terços destes acidentes ocorrem no domicílio, sendo que a maioria poderia ter sido prevenida(4). Estudo realizado em São Paulo mostrou que a maioria dos acidentes por queimaduras relacionou-se com atividades realizadas no próprio ambiente doméstico, atingindo, principalmente as crianças(12).

O ambiente doméstico pode e deve ser um meio de promoção da saúde, entretanto, muitas vezes, torna-se propiciador de doenças e/ou agravos à saúde, sendo considerado um local de risco elevado, pois a casa geralmente é pequena, de poucos cômodos, onde residem várias pessoas, com área física restrita faltando espaço para que as crianças realizem suas atividades de lazer(13). Além disso, geralmente, nesse local existem instrumentos cortantes, móveis, janelas, panelas contendo alimentos fumegantes, fósforo, garrafas de detergentes e produtos tóxicos deixados embaixo da pia da cozinha, os quais constituem-se atrativos especiais para crianças, contribuindo de modo efetivo para aumentar o número de crianças lesionadas com resultados nefastos(14).

A família deve ser responsável por promover a saúde e o bem-estar de seus membros, realizando atividades de proteção e prevenção de agravos à saúde, principalmente das crianças(15). Entretanto, nem sempre isto acontece na prática cotidiana, por isso, torna-se necessária a intervenção de profissionais de saúde que proporcionem apoio e orientações à unidade familiar com o intuito de levar as crianças a uma melhor qualidade de vida(16).

Pode-se verificar uma subnotificação dos acidentes domésticos, pois muitos quantificam apenas aqueles que tiveram atendimento médico, omitindo assim informações relevantes em relação a lesões menos graves que ocorrem, tornando-se, então, oportuno a realização de estudos no cotidiano das famílias para registrar estes tipos de acidentes(17), além disso, os estudos nacionais sobre a temática ainda são incipientes(18).

Portanto, os objetivos deste estudo foram identificar os principais acidentes ocorridos, no contexto domiciliar, com crianças na fase toddler (1 a 3 anos) e pré-escolar (3 a 6 anos); além de conhecer seus principais agentes causadores. 

 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa(19), envolvendo uma população de 113 famílias de crianças na fase toddler (1 a 3 anos) e pré-escolar (3 a 6 anos) que se encontravam matriculadas em duas creches da Secretaria Executiva Regional V do município de Fortaleza-Ceará. A amostra foi calculada baseada na fórmula estatística para populações finitas, resultando em 65 famílias. A seleção deu-se de forma aleatória simples, tendo sido realizada após acesso às fichas das crianças que estavam matriculadas nas creches, adotando os seguintes critérios de inclusão: crianças na faixa etária de um a seis anos e que freqüentavam as creches. Esses critérios resultaram em uma amostra homogênea, pois as famílias das crianças tinham condições socioeconômicas e culturais semelhantes.

Os dados foram coletados no período compreendido entre dezembro/2004 e julho/2005, por meio de entrevista realizada com as famílias das crianças em seus domicílios, a partir de um formulário que abordava características sociodemográficas das famílias, os tipos de acidentes sofridos pelas crianças em seus domicílios e seus principais agentes causadores. Realizou-se apenas uma visita em cada família, tendo em vista as dificuldades encontradas durante a coleta dos dados, relacionadas ao acesso aos domicílios, à existência de endereços errados e/ou incompletos, além da ausência dos pais e/ou responsáveis no momento da visita.

Os dados foram tabulados em planilha eletrônica (EXCEL) e processados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 13.0. Para a análise de proporções em tabelas de contingências, empregou-se o teste de c2(19). Os resultados foram considerados estatisticamente significantes quando p < 0,05 para posteriormente serem discutidos de acordo com a literatura pertinente.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), e atendeu às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde(20).

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A grande maioria das famílias apresentava condições sociodemográficas desfavoráveis, com condições sanitárias precárias e com domicílios compostos por poucos cômodos, favorecendo a aglomeração de pessoas. Encontrou-se uma média de 4,89 pessoas por domicílio, tendo esse número variado de 2 a 11 moradores.

Das 65 famílias participantes, 17 (26,15%) apresentaram renda familiar inferior a 1 salário mínimo e 39 (60%) tinham renda entre 1 e 2 salários mínimos, logo, 86,2% das famílias apresentaram renda total de até 2 salários mínimos, demonstrando a desfavorável situação econômica das mesmas. Nas 65 famílias visitadas, observou-se um total de 108 crianças com idades compreendidas entre 1 e 6 anos. Constatou-se o envolvimento de 57 crianças na ocorrência de 101 acidentes, tendo sido 73 (72,28%) sofridos por crianças do sexo masculino e somente 28 (27,72%) por crianças do sexo feminino.

Nas tabelas a seguir tentou-se estabelecer a associação entre as variáveis sexo, faixa etária, tipos de acidentes, parte do corpo atingida, agente causador e local de ocorrência do acidente.

Os dados apresentados na Tabela 1, evidenciam que não houve associação estatística significante entre as variáveis sexo e o tipo de acidente ocorrido no domicílio (p=0,319). Além disso, com exceção dos afogamentos, o percentual de todos os outros acidentes sofridos por crianças do sexo masculino foi maior que o do sexo feminino.

Tabela 1. Distribuição dos tipos de acidentes de acordo com o sexo da criança.
Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

TIPO DE ACIDENTE

SEXO

TOTAL

MASCULINO

FEMININO

n (%)

n (%)

Queda

26

(63,41)

15

(36,59)

41

(40,6)

Corte

08

(66,67)

04

(33,33)

12

(11,88)

Queimadura

09

(64,29)

05

(35,71)

14

(13,86)

Choque

11

(100)

-

-

11

(10,89)

Intox/Enven

09

(90)

01

(10)

10

(9,9)

Mordedura

03

(75)

01

(25)

04

(3,96)

Sufocação

05

(83,33)

01

(16,67)

06

(5,94)

Aspiração

01

(100)

-

-

01

(0,99)

Afogamento

01

(50)

01

(50)

02

(1,98)

TOTAL

73

(72,28)

28

(27,72)

101

(100)

X2=9,288 < 15,5073   p= 0,319    P(X 2)= 68,1% (NS)

 Entretanto, é interessante destacar que os acidentes mais freqüentes nos domicílios visitados foram quedas (40,6%). A perceptível diferença de ocorrência de quedas entre os sexos pode dever-se ao fato de que crianças do sexo masculino realizam atividades mais dinâmicas além de os meninos, em geral, ganharem liberdade mais cedo que as meninas, estando, portanto, mais expostos aos riscos no ambiente doméstico(21,22). Outros acidentes bastante freqüentes foram as queimaduras (13,86%) ocorrências, e os cortes (11,88%) sempre atingindo mais o sexo masculino conforme identificado por outros estudos(21,23).

Observa-se na Tabela 2, que houve associação estatística significante entre as variáveis tipo de acidente e faixa etária da criança (p=0,000). Pode-se constatar que dos 101 acidentes, a faixa etária mais acometida foi a de 2 anos (40,6%). Em seguida ficaram as crianças de 1 ano (28,71%).

 Tabela 2. Distribuição dos tipos de acidentes de acordo com a idade da criança. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

X2 = 225,993 >164,2162   p= 0,000    P(X2)= 100 (S)

 Na fase toddler, o desenvolvimento biológico é caracterizado pela aquisição das habilidades motoras grossas e finas, sendo a locomoção a principal habilidade motora grossa adquirida, permitindo que as crianças possam dominar uma variedade maior de atividades. A liberdade irrestrita adquirida por meio da locomoção, associada a uma desatenção para os perigos do ambiente, constitui um importante fator para os acidentes na primeira infância(4).

Já na fase pré-escolar (4 a 6 anos) observa-se a ocorrência de 6 acidentes com crianças. Essa diferença na ocorrência de acidentes entre os dois grupos (toddler e pré-escolar) pode ser devido ao fato de que nos pré-escolares, as habilidades motoras grossas e finas já estão melhor estabelecidas, assim como a coordenação e o equilíbrio, tornando-os menos propensos a quedas do que as crianças menores. Eles são mais atentos do que as crianças menores, respeitam mais as regras estabelecidas pelos pais, mostram-se cientes de algumas situações que representam perigo para a ocorrência de acidentes, como o contato com instrumentos pontiagudos e objetos quentes(4).

Esse percentual de acidentes mais elevado entre as crianças pertencentes à fase toddler também foi observado em um estudo que analisou 890 casos de acidentes em indivíduos de 0 a 12 anos atendidas em um pronto-socorro pediátrico, dentre os quais 29,77% ocorreram em crianças de 1 a 3 anos(21).

Conforme dados da Tabela 3, houve associação estatística significante entre o tipo de acidente sofrido pela criança e a parte do corpo atingida (p=0,000). Do total de ocorrências, observou-se que as regiões do corpo mais acometidas foram: a cabeça (35,65%), os membros superiores (23,76%), e os membros inferiores (11,88%). Proporções semelhantes também foram encontradas em outro estudo (24).

 Tabela 03. Distribuição dos tipos de acidentes de acordo com a parte do corpo da criança atingida. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

Legenda: MMSS (Membros Superiores); MMII (Membros Inferiores); SGI (Sistema Gastrintestinal); VA (Vias Aéreas).
X
2 = 302,523 > 74,4683   p= 0,000    P(X2)= 100 (S) 

Quando se considera apenas as quedas observa-se que as partes do corpo mais atingidas foram a cabeça (68,29%) e os membros inferiores (19,51%). Essa elevada freqüência de acidentes que ocasionam trauma craniano pode estar relacionada ao estágio de desenvolvimento em que se encontram as crianças menores, que ainda não possuem a capacidade de proteger a cabeça. Já o traumatismo nos membros superiores e inferiores é, em geral, predominante em crianças maiores, por estes já terem desenvolvido o reflexo de proteção da cabeça, além de executarem atividades nas quais os membros são mais expostos, como a prática de esportes(7,24). Destaca-se, ainda, o fato de que, nas crianças menores, a cabeça é desproporcionalmente grande em comparação ao restante do corpo, o que pode dificultar o equilíbrio das crianças, favorecendo a ocorrência das quedas(13).

Quanto às queimaduras, observa-se que as partes do corpo mais acometidas foram os membros superiores (42; 86%) e o tórax (35; 71%). Em 2 (14; 29%) casos, atingiu-se o abdome e em 1 (7; 14%), o dorso da criança. Em crianças menores de 3 anos de idade, as partes do corpo mais acometidas por ocasião de uma queimadura são, principalmente, a cabeça, o tórax anterior e posterior (dorso). Esta distribuição deve-se ao fato de que nas queimaduras por líquidos quentes, a criança encontra-se próxima ao fogão, quando os mesmos são despejados sobre ela(12).

Todos os choques atingiram os membros superiores, o que pode ser explicado ao analisarem-se os agentes causadores dos mesmos, que em sua maioria foram tomadas, fios e aparelhos elétricos, que se encontravam ao alcance das crianças no momento das ocorrências, entrando em contato primeiramente com esses membros.

Todas as intoxicações deram-se por via oral, atingindo, portanto, o sistema gastrointestinal da criança. Esse fato se deve à curiosidade inerente às crianças nessa faixa etária, além das mesmas encontrarem-se na fase oral, comumente levando à boca o que encontram em seu ambiente(4).

No tocante às mordeduras, as partes atingidas foram os membros superiores e inferiores, em igual proporção (50%). Alguns pesquisadores têm identificado incidência semelhante entre as mordeduras nos membros inferiores e superiores(25). Esses acidentes ocorrem, provavelmente, em um momento de interação com o animal no momento do ataque. Ainda, a pequena estatura da criança, a imaturidade dos reflexos, além da tentativa de se defender ou fugir, expõe a criança ao ataque dos animais, pois os mesmos não conseguem distinguir quando a criança está brincando ou tentando provocá-los(25). 

Tabela 4. Distribuição dos acidentes de quedas e cortes com relação aos agentes causadores. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

A. Piso escorregadio; B. Objetos pela casa favorecendo o tropeçamento; C. Rede ou Cama; D. Janelas, escadas e batentes; E. Criança correndo; F. Outros móveis; G. Objetos pontiagudos; H. Objetos cortantes.
X
2=667,074 > 181,7702   p= 0,000    P(X2)= 100 (S) 

A tabela 4 revela que dentre as 41 (77,36%) quedas ocorridas, em 10 (24,39%), as crianças caíram de algum móvel, como sofá e cadeira, seguido dos locais nos quais as crianças dormem (cama/rede), que foram responsáveis por 9 (21,95%) quedas, superando a incidência identificada em estudos anteriores que em apenas 8,6% dos casos de quedas ocorreram a partir de um leito, como a cama(26).

A ocorrência dos cortes em crianças (8; 66,67%) pode estar relacionada ao fato de que nessa fase elas ainda não possuem habilidade motora suficiente para o manuseio de objetos perfurocortantes, além de estarem mais expostas aos fatores de risco existentes no domicílio em que vivem, como a arquitetura e mobília do ambiente(21). Então, diante dos objetos perfurocortantes, faz-se necessário manter as crianças sempre calçadas e com esses objetos fora de seu alcance(24).  

            As queimaduras foram provocadas principalmente por líquidos e alimentos quentes (64,28%)  confirmando o que outros estudos têm encontrado(12,23). Quanto aos choques, observa-se que, dentre os 11 casos, 5 (45,46%) foram ocasionados por aparelhos elétricos, 4 (36,36%) por fios elétricos ao alcance das crianças e 2 (18,18%) por tomadas elétricas desprotegidas e ao alcance das crianças.

Apesar do reconhecimento de algumas situações de risco para acidentes por queimaduras em crianças (manipulação de líquidos quentes, produtos inflamáveis, uso de fogões improvisados, tomadas e fios elétricos ao alcance das crianças, entre outros), é necessário conhecer como esses acidentes ocorrem para que programas educativos de prevenção sejam desenvolvidos(27).

Os acidentes por intoxicação/ envenenamento, sufocação e aspiração foram responsáveis por 17 casos. Do total de intoxicações/ envenenamentos (10) identificou-se que os principais agentes causadores foram os produtos de limpeza (6; 60%) e medicamentos (4; 40%). Destaca-se ainda que, dentre os produtos de limpeza doméstica, o alvejante foi o mais freqüente e dentre os medicamentos, os analgésicos. Dados semelhantes têm sido encontrados em outros estudos(7,28).

A ocorrência de intoxicações exógenas por esses agentes tóxicos está relacionada aos hábitos culturais das famílias. Comumente alguns produtos tóxicos (exemplo, o querosene) são armazenados em vasilhames de refrigerantes, os quais as crianças levam à boca sem dar nenhuma importância ao seu conteúdo. Ainda, o hábito da automedicação está bastante difundido na sociedade, o que proporciona uma maior facilidade de alcance e manuseio dessas substâncias pelas crianças(29).

Quanto às sufocações, observou-se que 4 delas (66,67%) foram ocasionadas por alimentos e 2 (33,33%) por brinquedos pequenos que a criança introduziu na boca. Foi observado ainda que um brinquedo pequeno foi agente causador de mais um acidente, uma aspiração. Sabe-se que as aspirações são consideradas acidentes comuns em crianças de 1 a 6 anos, o que serve de alerta para que objetos pequenos sejam mantidos fora do alcance das crianças, pois as mesmas podem introduzi-los no canal auditivo, nas fossas nasais ou ingeri-los(24).

Em relação às mordeduras, foram registrados apenas quatro casos, dos quais 3 (75%) foram causados por animais domésticos, sendo os cães os principais agressores,o que já era esperado tendo em vista que a área onde o estudo foi realizado está dentro da área urbana de Fortaleza. Outros estudos também identificaram os cães como principal causa de acidentes por mordeduras (91%)(25).

Quanto aos afogamentos, foi observado que os 2 (100%) acidentes do estudo ocorreram em recipientes com água (bacia, balde ou banheira) deixados ao alcance das crianças, que por um momento de descuido das mães ocasionaram acidentes. Alguns autores já têm alertado para a necessidade de atenção quanto a recipientes com água, como baldes, bacias, tanques, banheiras, que em momentos de distração podem ocasionar acidentes fatais em crianças(22). 

CONCLUSÃO

De acordo com o exposto foi verificado que dentre um total de 57 crianças com idades compreendidas entre 1 e 6 anos foram encontradas 101 injúrias acidentais, ressaltando-se que algumas delas sofreram mais de um acidente. Houve associação estatística significante entre o tipo de acidente e faixa etária de sua ocorrência (p=0,000), assim, observou-se um maior número de acidentes em crianças pertencentes à fase toddler.

Além disso, a relação entre tipo de acidente sofrido pela criança e a parte do corpo atingida também se revelou estatisticamente significante (p=0,000), tendo sido a cabeça a mais atingida pelos acidentes dos tipos: queda, corte e afogamento.

Os principais agentes causadores de acidentes foram: móveis (24,39% das quedas); objetos cortantes (66,67% dos cortes); líquidos e alimentos quentes (64,28% das queimaduras); aparelhos elétricos (45,46% dos choques); produtos de limpeza (60% das intoxicações/ envenenamentos); alimentos (66,67% das sufocações); brinquedos (100% - aspiração); animais domésticos (75% das mordeduras) e recipientes com água (100% - afogamentos).

Pesquisas que buscam desvendar o contexto domiciliar das crianças e sua dinâmica familiar, tendem a permitir que a Enfermagem continue trabalhando com as famílias, a partir de estratégias de educação em saúde, respeitando o seu modo de viver, buscando alternativas para que todos possam a cada dia viver de forma mais saudável, minimizando a ocorrência, em especial, dos acidentes domésticos que repercute em taxas significativas de morbi-mortalidade infantil, a fim de evitar as hospitalizações, gastos excessivos e mortes evitáveis.

Com isso, cabe a Enfermagem estabelecer estratégias para minimizar os riscos de acidentes, por meio de ações de proteção e promoção da saúde. No entanto, vale ressaltar que a eficácia dessas estratégias dependerá de um trabalho em parceria com os familiares das crianças, educadores e profissionais de saúde. 

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Contribuição dos autores: -Concepção e desenho: Regiane P. de Lima, Lorena B Ximenes -Análise e interpretação: Regiane P. de Lima, Lorena B Ximenes, Luiza Jane Eyre de Souza Vieira -Escrita do artigo: Regiane P. de Lima, Mônica OB Oriá, Emanuella S Joventino, Lorena B Ximenes  -Revisão crítica do artigo: Regiane P. de Lima, Mônica OB Oriá, Emanuella S Joventino, Lorena B Ximenes, Luiza Jane Eyre de Souza Vieira -Aprovação final do artigo: Regiane P. de Lima, Mônica OB Oriá, Emanuella S Joventino, Lorena B Ximenes, Luiza Jane Eyre de Souza Vieira -Colheita de dados: Regiane P. de Lima, Emanuella S Joventino -Provisão de pacientes, materiais ou recursos: CNPq
-Pesquisa bibliográfica: Regiane P. de Lima, Emanuella S Joventino, Mônica OB Oriá


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