Health clients profile and knowledge about arterial hypertension.

Caracterização dos usuários e o conhecimento sobre a hipertensão arterial.

 Maria de Fátima Mantovani¹, Juliana Veiga Mottin², Elis Martins Ulbrich³, Suzana Pinotti4

1,,2,3,4Universidade Federal do Paraná, PR, Brazil

 Abstract: arterial hypertension is one of the main risk factors as to the development of cardiovascular and renal disease and reaches a great part of the Brazilian population. The objectives of this study are: describe the profile of hypertension people and identify their knowledge about the disease. This is a descriptive research and has started in November 2005, in a Health Unit in the city of Curitiba and it was authorized by the ethical committee of the institution involved in. It is part of the sample 46 active users enrolled on the hypertension programme aged between 18 e 65 years old. The data were collected at the users’ house by the application of a semi-structured recorded interview. The data were tabulated by an Excel table. The sample consists of 70% of women, who had an increase of arterial pressure in a 41 to 50 age range. 39% of the sample has related co-morbidity, predominating the Melitus Diabetes. The average pressure level of 47% of the population is over 110 mmHg. It was verified that 78% of the sample don’t have knowledge about hypertension. This deficit contributes as not to adhere to long term treatment and to early appearance of hypertension complications.

Descriptors: hypertension; quality of life; health profile. 

Resumo: A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e renais e atinge parcela considerável da população brasileira. Os objetivos deste estudo são: caracterizar o perfil dos hipertensos e identificar o seu conhecimento sobre a doença. Esta pesquisa é de natureza descritiva e iniciou-se em novembro de 2005, em uma unidade de Saúde do Município de Curitiba e foi autorizada pelo Comitê de ética da Instituição envolvida. Fazem parte da amostra 46 usuários ativos inscritos no Programa de hipertensão com idade entre 18 e 65 anos. Os dados foram coletados no domicílio do usuário mediante a aplicação de uma entrevista semi-estruturada gravada. Os dados foram tabulados por meio da planilha de Excel. A amostra é composta por 70% de mulheres, estas tiveram um aumento da pressão arterial na faixa etária de 41 e 50 anos. 39% da amostra possuem comorbidades relacionadas, predominando o Diabetes Melitus. Os níveis pressóricos médios de 47% da população está acima de 110 mmHg. Verificamos que 78% da amostra selecionada não possui conhecimento a respeito da hipertensão. Esse déficit contribui para a não adesão ao tratamento em longo prazo e para o surgimento precoce de complicações hipertensivas.

Descritores: hipertensão; qualidade de vida; perfil de saúde. 

INTRODUÇÃO 

A hipertensão arterial é considerada um problema de saúde pública por sua dimensão, risco e dificuldades no seu controle. É também reconhecida como um dos mais importantes fatores e risco para o desenvolvimento do acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio. Neste sentido, destaca-se o papel da enfermagem como parte fundamental dentro da equipe de saúde, pois ela assume a responsabilidade das ações do cuidado para a promoção da saúde e prevenção desta doença. O enfermeiro, por meio do conhecimento científico e do seu papel de educador, tem a possibilidade de instrumentalizar o portador da doença para tratamento e a melhorar a sua qualidade de vida. 

Em função de ser a doença mais freqüente na população é, atualmente, um dos principais problemas de saúde, pois acomete a população economicamente ativa e está presente em 25 a 30% dos adultos brasileiros (1).  

 No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, atingindo 37% quando são excluídos os óbitos decorrentes de causas mal definidas e ou ainda por conseqüência da violência. Entre os fatores de risco para mortalidade, a hipertensão arterial explica 40% das mortes por acidente vascular cerebral e 25% daquelas por doença coronariana (2).  

 A hipertensão arterial corresponde a 15,2% das intervenções realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) e de 20 a 30% dos casos de emergência médica com sugestivas complicações (3).  É um dos fatores de risco mais importantes de morbi-mortalidade no mundo atualmente e, associada (ligada) ao tabagismo, é a principal causa de mortalidade da população mundial. As doenças cardiovasculares, no seu conjunto, são responsáveis por aproximadamente 30% de todas as mortes no mundo em países ricos e pobres. No entanto, nos países ricos, a mortalidade por essas doenças ocorre na faixa etária acima de 60-70 anos, enquanto nos países pobres essa mortalidade ocorre precocemente, em uma fase na qual o indivíduo é economicamente ativo, representando grande ônus social e econômico (4).

Para fins desta investigação, adotou-se o valor para definir hipertensão como igual ou maior que 140x90mmHg, verificado em pelo menos duas aferições em momentos diferentes (2).

A relação da pressão arterial com as doenças cardiovasculares é proporcional; isso significa que quanto maior for o nível da pressão, maior será a probabilidade de infarto agudo do miocárdio, morte súbita, acidente vascular encefálico, edema agudo de pulmão e insuficiência renal, mesmo quando os níveis permanecem “normais”. Por ser uma doença crônica degenerativa do sistema cardiovascular, provocou mudanças no perfil de morbi-mortalidade da população e o seu controle tornou-se um desafio para os profissionais de saúde, pois seu tratamento envolve a participação ativa dos hipertensos e mudanças de comportamento para reduzir os fatores prejudiciais à condição clínica (5).

A hipertensão arterial ocasiona transformações expressivas na vida dos indivíduos, sejam elas na esfera psicológica, familiar, social ou econômica pela possibilidade de agravo em longo prazo (6) . Deste modo, essas mudanças geralmente provocam uma ruptura com o estilo de vida anterior, sendo necessário, portanto, incorporar a doença ao seu processo de vida e conviver com ela. O processo que impõe a necessidade de mudar o estilo de vida e de tratar a doença sem interrupção é devido ao caráter crônico da hipertensão.

 Este se caracteriza por uma história natural prolongada, uma multiplicidade de fatores de risco complexos que, em sua constituição interage fatores etiológicos e biológicos conhecidos e desconhecidos, de curso clínico prolongado e permanente com manifestações clínicas e períodos de remissão e exacerbação evoluindo para graus variados de incapacidade e morte (7)

Diante desta problemática, ressalta-se que a hipertensão pode ser controlada desde que o paciente envolva-se e dê importância tanto para o tratamento medicamentoso (de forma regular) como para o não medicamentoso (controle do peso, ingestão de dieta hipossódica, realização de atividade física, abandono do tabagismo, redução do consumo de bebidas alcoólicas), sendo também necessário o acompanhamento das co-morbidades, geralmente encontradas nesses pacientes, tais como diabetes, dislipidemia e obesidade. Desta maneira, há uma redução nas complicações dos órgãos-alvo e das conseqüências da hipertensão ao longo dos anos.

Portanto, o investimento na prevenção da hipertensão pelas instituições de saúde, em nível federal, estadual e municipal, tem sido fator relevante, pois visa uma melhor qualidade de vida para os hipertensos, reduzindo os agravos decorrentes do aumento da pressão arterial (6).

Em meio a este contexto, destaca-se a importância do papel do enfermeiro, pois ele tem um compromisso social com estas pessoas, de modo a auxiliar na promoção de uma educação consciente e de um “viver saudável” (8).  É importante considerar a importância das peculiaridades individuais e contextuais na relação paciente/profissional/família, valorizando sua satisfação com a terapêutica e a percepção de que seu envolvimento no autocuidado deve estar presente na construção de uma abordagem de acompanhamento que atenda as suas necessidades, crenças, valores e compromissos com a saúde (9).  

Frente ao exposto, os objetivos do estudo são: caracterizar o perfil dos hipertensos inscritos no Programa de Hipertensão Arterial de uma unidade de saúde da Prefeitura Municipal de Curitiba/ PR e identificar o conhecimento do hipertenso sobre a doença. 

METODOLOGIA 

A pesquisa é de natureza quantitativa e está sendo desenvolvida em uma unidade básica de saúde (UBS) da Prefeitura Municipal de Curitiba que possui o Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS).  A população em estudo foi constituída por 1678 usuários inscritos no Programa de Hipertensão em outubro de 2005. Para a composição da amostra foram desconsiderados os usuários inativos, os com idade acima de 65 anos e também os com idade inferior a 18 anos, totalizando 606 usuários.

Realizada esta pré-seleção, houve a delimitação da amostra por meio de um sorteio, seguindo sua ordenação natural e sistemática (10). Assim, a amostra composta totalizou 175 usuários inscritos no Programa de Hipertensão da referida UBS, o que corresponde à cerca de 30% de todos os inscritos ativos no programa, com idade entre 18 a 65 anos, porém a amostra é de 46 usuários até o momento. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Setor de Ciências da Saúde em outubro de 2005, sob o número 008008509105.

Após esclarecimentos e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foi solicitada a permissão para a gravação da entrevista, conforme preconizado pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Esta trata das questões éticas, garante o sigilo e anonimatos dos participantes, bem como a possibilidade dos mesmos desistirem em qualquer fase do estudo, ou se recusarem a participar do mesmo. As entrevistas foram gravadas no próprio domicílio, bem como a pressão arterial, altura, peso e circunferência abdominal foram aferidos.

Esta coleta de dados foi realizada no domicílio com a presença de um agente comunitário de saúde (ACS) da unidade, que auxiliava na busca ativa dos usuários selecionados.  Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizado uma entrevista semi-estruturada, contendo dados de identificação e questões abertas a respeito do conhecimento que os usuários possuem em relação à doença. Este modelo de entrevista pode ser chamada de assistemática, antropológica ou livre – “quando o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada”, podendo desta forma explorar mais amplamente a questão (11: 279). .

Para verificação da pressão arterial (PA) optou-se pela utilização do aparelho automático para tentar reduzir a possibilidade de erros. Para a aferição da PA, o usuário manteve-se sentado por 5 minutos. Foi estabelecido o braço esquerdo para todas as aferições, sendo mantido fletido e apoiado na altura do coração. O manguito foi posicionado dois centímetros acima da fossa antecubital com a bolsa centralizada sobre a artéria braquial. Foram realizadas duas verificações da pressão após intervalo de pelo menos 2 minutos (12, 2).  

Após a gravação das entrevistas, os depoimentos foram ouvidos, transcritos integralmente e, posteriormente, analisados e tabulados por meio da planilha eletrônica Excel e aqui apresentados descritivamente. 

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 

Para traçar o perfil dos usuários inscritos no programa de hipertensão em uma unidade de saúde, foram utilizados os seguintes dados: idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda familiar, hábitos e vícios, antecedentes familiares, tipo de tratamento já utilizado para hipertensão ou em uso, conhecimento dos fatores de risco e das complicações, conhecimento das complicações já instaladas da doença, presença de comorbidades, aferição de pressão arterial, peso e altura.     

A amostra é composta por 46 usuários, sendo a maioria do sexo feminino, totalizando 70%. Destes, 34% encontram-se na faixa etária de 41 a 50 anos. A variável idade demonstrou que tanto para o sexo feminino quanto para o masculino, houve aumento da incidência da doença entre 41 e 50 anos. Para as mulheres, este fato pode ser atribuído às mudanças do seu comportamento frente à sociedade. Estas possuem muitas responsabilidades, tais como: cuidar de sua vida profissional, familiar e pessoal, o que justifica o aparecimento de doenças cardiovasculares em mulheres jovens, ou seja, devido, principalmente, à maior participação no mercado de trabalho, à agregação de hábitos nocivos à saúde como tabagismo, alcoolismo e o uso de pílulas anticoncepcionais (13).

             A pressão sistólica tende a aumentar com a idade e a diastólica eleva-se até os 50 anos em homens e até os 60 anos em mulheres, com tendência a declinar após essa faixa etária (14).  O aumento da pressão arterial em idades mais avançadas geralmente está associada ao desenvolvimento da arteriosclerose, que leva a diminuição da complacência das artérias, ocasionando principalmente a hipertensão arterial sistólica isolada (15)  fato observado em 36% da mostra masculina.

            Quanto à variável nível de escolaridade, 54% dos usuários entrevistados estudaram até a 4ª série do ensino fundamental e 24% possuem 1º grau completo. O nível de escolaridade pode contribuir para a falta de conhecimento, bem como de engajamento para o tratamento da doença, segundo pesquisa já realizada (6).

            Conforme a análise dos dados referente ao número de filhos, 57% dos usuários possuem de 1 a 3 filhos, o que significa que estes portadores de hipertensão arterial têm grande responsabilidade na sustentação de sua família tanto econômica quanto estruturalmente. Esta situação pode levar ao aumento do fator de risco estresse, pois os filhos representam uma dependência pela necessidade de apoio emocional, educativo, econômico e social.

            Em relação aos fatores de risco foram analisados os seguintes itens: história familiar, tabagismo, etilismo, hábitos alimentares, obesidade, diabetes, hiperlipidemia, sedentarismo e estresse.

A história familiar positiva para hipertensão arterial orienta o diagnóstico etiológico, pois a hipertensão arterial essencial tem características hereditárias (4). Nesta variável, podemos perceber que 80% da amostra possuem história pregressa familiar de hipertensão arterial. Outra evidência de que fatores genéticos interferem no desenvolvimento da hipertensão arterial são os estudos familiares, entre pais, filhos e irmãos. Existe uma associação mais importante entre os níveis pressóricos em irmãos biológicos, comparados ao de irmãos adotivos e estudos com gêmeos mostram uma concordância maior entre gêmeos monozigóticos do que com gêmeos dizigóticos, outra evidência de que os níveis de pressão arterial são, em parte, geneticamente determinados (16).

            No que diz respeito ao tabagismo e etilismo, observamos em relação às duas práticas, que mais da metade da amostra, tanto feminina quanto masculina, refere não possuir esses vícios. Tanto o etilismo quanto o tabagismo aumentam o risco de doença cardiovascular (17).. No primeiro, o etanol estabelece um efeito deletério sobre o sistema cardiovascular, provocando a elevação dos níveis tensionais, particularmente da pressão sistólica e prevalência de hipertensão arterial. No segundo, a nicotina estimula a liberação da norepinefrina das terminações nervosas adrenérgicas.  Adicionalmente, a nicotina e outros componentes do cigarro lesam o endotélio dos vasos sangüíneos, provocando arteriosclerose, o que diminui a complacência vascular e propicia o aumento dos níveis tensionais  (18) , levando a maior incidência das doenças coronária, cerebrovascular e vascular de extremidade (19).

Quando interrogados a respeito do fator estresse, observamos que 63% dos entrevistados admitem conviver com fatores estressantes diariamente. O estresse pode ser de natureza física, psicológica ou social. A sobrecarga deste fator de risco pode causar danos à saúde do indivíduo, agravar uma patologia já existente ou facilitar o aparecimento da mesma desde que o indivíduo tenha predisposição para o desenvolvimento da patologia (20). Emoções podem elevar agudamente a pressão arterial e situações conflitantes prolongadas podem manter a pressão arterial acima dos níveis habituais (4).

            No que se refere à dieta, os dados da pesquisa demonstram que grande parte da amostra possui dieta rica em sal e gordura. A redução do consumo de sal para 4 colheres de café rasas influencia na redução de 2 a 8 mmHg aproximadamente nos níveis de Pressão Arterial Sistólica (PAS) (2). Para tanto, recomenda-se reduzir o sal adicionado aos alimentos, evitar o saleiro à mesa e reduzir ou abolir os alimentos industrializados, como enlatados, conservas, frios, embutidos, sopas, temperos, molhos prontos e salgadinhos. 

Em relação à obesidade percebe-se que 69% dos entrevistados se encontram em situação de obesidade, sendo este um fator de risco para doenças cardiovasculares. Os dados de Índice de Massa Corporal (IMC) demonstram que 28% dos hipertensos entrevistados estão em situação de obesidade leve, 39% possuem obesidade elevada e 2% possuem obesidade mórbida. Dados preocupantes, uma vez que o excesso de peso aumenta de duas a seis vezes o risco de hipertensão arterial (19) . A distribuição desfavorável da gordura corporal, com deposição excessiva de gordura abdominal, pode ser usada como um indicador de risco para doenças cardiovasculares, o que foi recentemente confirmado em estudo realizado com indivíduos da zona rural de Belo Horizonte, no qual a gordura abdominal revelou-se como um dos fatores de risco para o aumento dos níveis tensionais da pressão arterial (18).

            A prevalência de hipertensão em diabéticos é pelo menos duas vezes maior do que na população em geral e são condições que favorecem a ocorrência de doenças cardiovasculares e complicações da diabete (19). Os dados demonstram que 39% da amostra possuem comorbidades relacionadas, predominando, entre estas, Diabetes Melitus.

A dislipidemia caracteriza-se pela presença de níveis baixos de HDL-colesterol e níveis elevados de triglicérides (19). Diante dos dados coletados, percebemos que apenas 13% dos entrevistados apresentam este distúrbio metabólico. Os portadores de dislipidemia possuem um risco elevado de doença cardiovascular quando comparados àqueles sem a mesma, sendo que o risco individual dependente da associação com outros fatores de risco.

            O sedentarismo é outro fator de risco para as doenças cardiovascular e foi evidenciado em 50% da população em estudo. Existe uma relação inversa entre o grau de atividade física e a incidência de hipertensão. O exercício físico regular reduz a pressão arterial sistólica e diastólica em normotensos, o que justifica sua prática (19). Assim, percebe-se que a prática regular de exercícios físicos pode auxiliar na redução dos níveis pressóricos, devendo ser aderido ao tratamento não medicamentoso da hipertensão arterial.

A pressão arterial média dos componentes da amostra pesquisada variou de 80 a 200 mmHg, sendo que 47% da população pesquisada possui pressão arterial média acima de 110 mmHg. É considerado hipertenso o indivíduo que apresenta pressão arterial média acima do limite superior aceito para a normalidade. A pressão arterial média acima de 110 mmHg, em condições de repouso, é entendida como sendo hipertensiva (21).  

Através da participação ativa, o portador de hipertensão compartilha a responsabilidade pelo sucesso da terapêutica farmacológica e não farmacológica, ou seja, cumpre os pontos do regime de tratamento no que diz respeito ao uso correto dos medicamentos; comparece aos encontros agendados e monitora o plano terapêutico e seus resultados. Além disso, realiza modificações no estilo de vida, adotando efetivamente o regime dietético prescrito, praticando regularmente atividades físicas e monitorando o estresse (22). Os dados analisados na pesquisa comprovam que 100% da amostra realizam tratamento medicamentoso, 43% utilizam medicação há menos de um ano e 57% utilizam há mais de um ano.

            Através da análise dos dados, verificamos que 78% da amostra selecionada não possuem conhecimento a respeito da hipertensão e os hipertensos que a descrevem o fazem incorretamente. Esse déficit de conhecimento contribui para a não adesão ao tratamento a longo prazo e para o surgimento precoce de complicações hipertensivas. O déficit de conhecimento é um evento comum entre as pessoas portadoras de doenças crônicas, e nos leva a refletir a respeito da educação em saúde oferecida a estas pessoas e mais uma vez sobre o papel do enfermeiro (8).  

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este estudo nos proporcionou, por meio das entrevistas realizadas, a observação de déficits no conhecimento dos hipertensos relacionado ao estilo de vida adequado ao controle da doença, principalmente no tocante à dieta adotada. Muitos desconhecem, por exemplo, que o café e os chás escuros podem causar um aumento no nível de pressão arterial. Verificou-se na ocasião, a necessidade de atividades de educação em saúde por meio do acompanhamento do estilo e hábitos de vida, pois a educação em saúde constitui a base para a adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial e é um dos principais fatores que contribui para o controle da doença (9). O enfermeiro possui como principal instrumento a educação em saúde para motivação dos portadores de hipertensão arterial visto que o compromisso assumido com estes usuários denota a relevância da atenção dispensada ao tratamento das doenças crônicas que necessitam de constante vigilância e que precisam de acompanhamento constante para adesão e possivelmente para minimizar o aparecimento de complicações (23).

Mediante, a observação do perfil caracterizado pelo estudo, acreditamos que o acompanhamento contínuo dos portadores de hipertensão arterial é indispensável, pois somente através deste conseguimos resultados progressivos na melhoria da qualidade de vida dos mesmos. Portanto, o enfermeiro, integrante da equipe multiprofissional, possui como importante função o cuidado.

Por meio desta investigação identificamos a necessidade dos sujeitos em ancorar a experiência da hipertensão a referentes como o excesso de trabalho, o estilo de vida agitado e a responsabilidade com os familiares. Os sujeitos associaram o aparecimento da doença a um agente causador, semelhante à relação causa-efeito, e esses eventos junto com os sintomas experienciados foram significantes para eles. Logo, observamos que os usuários necessitam justificar o aparecimento da doença, bem como a dificuldade no controle dos níveis pressóricos. O estilo de vida adotado por muitos destes usuários impede que os mesmos consigam adequar seu tratamento. O entendimento do caráter crônico da hipertensão arterial é essencial para que o controle dos níveis pressóricos seja ininterrupto e o tratamento obtenha progresso.    

REFERÊNCIAS 

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23. Mantovani MF, Mottin JV, Rodrigues J. Nurse Home Visity with Educational Activities in the arterial pressure treatment. Online Brazilian Journal of Nursing (OBJN- INSS 1676-4285), [Online] 2007;April 6(2). http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=769. Acesso: 20/05/2007.

 Contribuição dos autores:
¹Maria de Fátima Mantovani: Concepção e desenho, análise e interpretação, escrita do artigo e revisão crítica do artigo.

²Juliana Veiga Mottin: Escrita do artigo, análise e interpretação, coleta de dados..

³Elis Martins Ulbrich: Análise e interpretação, revisão crítica do artigo, coleta de dados.

4Suzana Pinotti: Escrita do artigo, análise e interpretação, coleta de dados.

Apoio financeiro à pesquisa:  Projeto financiado pela Fundação Araucária.  

Endereço para contato: GEMSA. Rua Padre Camargo, 280, 8º andar, Alto da Glória, Curitiba-PR, CEP 8.060-040, (41)3360-7243/ 96236242.  E-mail: mantovan@ufpr.br