The influence of the work in the life of  users assisted by attention psicosocial 's center (CAPS- Integration) of Campinas – SP.

A influência do trabalho na vida dos usuários atendidos pelo centro de atenção psicosocial (CAPS- Integração)  de Campinas - SP.

Samuel Rodrigues de Paula1

1 Hospital das Clínicas da UNICAMP,Campinas e Professor da Universidade Paulista – UNIP, Campinas, SP.

 Abstract. This work had as main objective to study the users of service mental health behavior that, through the work they seek the inclusion in the society, participating directly or supervised by technicians Center for Psicossocial Care (CAPS) Integration of the city of Campinas - SP, that has collectively for goal to assist the users starting from their needs, involving whenever possible to the family of the same ones. It was sought mainly, to analyze and to understand the significance of the work for those users. The population of the study is constituted of 30 users of the services of CAPS, that agreed in participating in the research. The results show that the users meet satisfied in could work in CAPS, and that the work there accomplished has if constituted for the same ones, as an encouragement to their immediate needs, making them feel her useful not only to themselves, but their .

  Key-words: Psychiatric Nursing; Mental Health; Psychosocial Support Systems. 

Resumo. Este trabalho teve como objetivo principal estudar os sentimentos dos  usuários de  serviço de saúde mental que, através do trabalho procuram a inclusão na sociedade, supervisionados por técnicos  do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Integração da cidade de Campinas -SP, que tem por meta atender aos usuários coletivamente a partir de suas necessidades, envolvendo sempre que possível à família dos mesmos. Procurou-se principalmente, analisar e compreender a significação do trabalho para esses usuários. A população do estudo constitui-se de 30 usuários dos serviços do CAPS, que concordaram em participar da pesquisa . Os resultados mostram que os usuários encontram-se satisfeitos em poder trabalhar no CAPS, e que o trabalho lá realizado tem se constituído para os mesmos, como um alento às suas necessidades imediatas, fazendo-os sentirem-se úteis não só a si mesmos, mas à  seus familiares e à própria sociedade. O estudo permitiu perceber grandes mudanças no modo dos usuários encararem  a vida, comparando  seu existir antes e depois do início do atendimento no  CAPS, demonstrando assim que essa forma de atenção  à saúde mental  que  veio em  bom tempo substituir o obsoleto sistema de internação hospitalar, tem proporcionado aos seus usuários uma esperança de vida e de transformação social com a superação dos obstáculos causados pela doença que os afligem.

Palavras-chaves: Enfermagem Psiquiátrica, Saúde Mental, Centros de Apoio Psicossocial.  

Introdução

A discussão em torno da necessidade de reformulação da assistência ao doente mental consiste em uma necessidade colocada e discutida já há várias décadas.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira foi precedida por movimentos iniciados  em outros países que apontavam distorções no tratamento psiquiátrico incluindo a exclusão dos doentes da sociedade sendo estes encarcerados em manicômios, como se fossem criminosos.(1,2) A reestruturação da psiquiatria parte do principio da necessidade de desinstitucionalização e da desospitalização garantindo os direitos de cidadania aos doentes mentais, necessitando para isto  da participação do Estado, dos usuários e seus familiares e do compromisso dos profissionais de saúde englobando comunidade como um todo. (3)

Em Campinas a forma assistencial proposta pela Reforma Psiquiátrica, é diferente do modelo simplesmente assistencial, isso porque neste município houve a construção e implantação de vários Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com objetivo  de ampliar a terapêutica utilizada  desenvolvendo junto aos usuários atividades reabilitadoras, dando à  eles  a possibilidade de recuperação de todas as suas potencialidades (4)

A reabilitação psicossocial de um cidadão é objetivo da equipe multiprofissional e deve ser visualizada sob três aspectos: casa, trabalho e lazer, sendo, porem unanimidade que o trabalho é o melhor instrumento dessa reabilitação. (2)

Para os profissionais que trabalham na área de saúde mental, a maneira como se desenvolve o trabalho e qual é o significado do mesmo para os usuários, faz parte do seu dia-a-dia.

O enfermeiro,  tendo em foco a reabilitação psicossocial , desenvolve  junto aos usuários dos CAPs atividades como: grupo de reeducação alimentar, orientação para os grupos de socialização e principalmente relacionamento terapêutico individual, familiar ou grupal. É durante este tipo de intervenção que são construídos os projetos terapêuticos onde são trabalhados os problemas do usuário e planejado em conjunto as ações para solucioná-los. (5)

A presente pesquisa pretende possibilitar por meio dos objetivos a seguir conhecimentos que se constituam em subsídios para o desempenho das ações de enfermagem.

             Objetivos: Avaliar o significado da atividade produtiva para o usuário-trabalhador; identificar as dificuldades e facilidades no desempenho do trabalho; verificar mudanças no relacionamento familiar e social após o início do trabalho.

Métodos :  Após ter sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (Parecer n.07/2006 de 23/01/2006) foi  realizada a pesquisa, tipo  exploratória, descritiva, transversal e de campo, com análise quanti-qualitativa dos dados, desenvolvida com 30 usuários trabalhadores que concordaram em participar, assinando o termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os usuários foram entrevistados individualmente em uma sala de reunião, nos dias em que vinham ao CAPS.

Após as entrevistas procedeu-se a análise dos dados: os dados de caracterização da população foram analisados quantitativamente e apresentados em forma de tabela e os dados das questões relativas ao tema foram analisados qualitativamente seguindo os passos da análise temática

  Resultados e discussão

Foram entrevistados 30 usuários, sendo13 do sexo masculino e 17 do feminino; com idades variando entre 30 e 56 anos, ou seja, na faixa etária considerada a mais produtiva da idade adulta; 60% da população entrevistada relatou menos de quatro anos de escolaridade.

Essas questões da idade, produtividade e escolaridade são importantes porque permite ao CAPS propor programas que ofereçam liberdade aos usuários de realizarem trabalhos na área de suas reais  aptidões, fazendo com que os seus assistidos possam desenvolver trabalhos que além de os levarem a sentirem-se mais úteis, também lhes proporcione uma nova atividade laboral que os levará a sentirem-se realizados.(2,3)

A situação conjugal demonstra que dos 30 usuários, 56,67% são separados ou divorciadas o que, somado à condição de viuvez, eleva o índice para 66,67%. Os problemas conjugais decorrentes das separações e de viuvez são fatores que, uma vez não superados de forma adequada podem levar a uma situação de desequilíbrio emocional que, junto a outros processos de pressões psicológicas, podem desencadear doenças mentais, dependendo apenas de um fio muito tênue, mais ou menos resistente conforme a personalidade e historia de cada indivíduo .(1,3)

Entre as ocupações que desenvolviam ao adoecer  observa-se que as mais simples, como doméstica 40% e comerciários 33,03%, são a maioria, atividades essas que não exigem uma escolaridade mais aprimorada que o primeiro grau, o que está de acordo com o grau de escolaridade dessa população.

Quanto ao tempo de doença, a maioria, 60%,está doente entre dois e dez anos, no entanto é bastante representativa a porcentagem de usuários que estão doentes há mais de vinte e um anos, 13,00%. Esse tempo excessivo de doença é revelador, uma vez que era um quadro comum no Brasil e um dos grandes responsáveis pela Reforma Psiquiátrica, pois o tratamento biológico era o único disponível para os doentes mentais e sabe-se que este atua apenas sobre os sintoma(1). A grande maioria,90%, referiu internação  em hospitais psiquiátricos sendo, que destes, 73,33% tiveram entre três e quatro internações antes de serem encaminhados ao CAPS. Estes dados comprovam que era o panorama reinante; a internação era opção oferecida aos familiares particularmente pela rede pública. Todos os participante informaram tomar medicação psiquiátrica e  isso nem poderia ser diferente porque, mesmo priorizando outros enfoques terapêuticos, o medicamento ainda é um fator muito presente e por vezes indispensável ao tratamento de doenças mentais. Dos entrevistados, 50%, participam das atividades do CAPS entre treze e dezoito meses, estando inseridos no trabalho, nas oficinas terapêuticas ou na cooperativa social.(2,3,4,6)

Da análise das respostas á questão” Quais as facilidades encontradas no trabalho?” emergiram os temas abaixo

§         A satisfação por conseguir independência financeira.

         Antes de aparecer à doença sempre trabalhei com carteira assinada de mecânico de elevadores, após o surgimento da doença não pude mais trabalhar, hoje trabalho em uma oficina de geração de renda criada pelo corpo de profissionais do CAPS Integração há mais ou menos dois anos fazendo e vendendo pastéis.

         Sempre trabalhei de domestica, aqui no projeto de geração de renda estou trabalhando há mais ou menos um ano.

§         A realização pessoal

         Acho que a maior facilidade vem da parte dos profissionais em acreditar na gente, isso é acreditar que somos capazes.

         Em desempenhar meu trabalho é uma satisfação quando o cliente olha no espelho e fala ficou lindo.

  Em relação à dificuldades sentidas nas atividades que desenvolvem no CAPs, surgiram os temas

§         O medo

         No início tinha medo de não aprender a fazer o trabalho e decepcionar o pessoal do CAPS, mas hoje eu faço tudo inclusive, o senhor pode constatar quando falou comigo no telefone para marcar a entrevista, eu tomo conta da oficina de geração de renda.

         No momento tenho medo da tremedeira devido ao remédio, mas já falei com o medico e ele disse que vai rever.

         No início a credibilidade foi o maior desafio eu tinha medo que os profissionais não acreditassem em mim que eu entrasse em crise e abandonasse tudo.

§         O preconceito

         Relacionamento com pessoas que pareciam não se interessar por mim.

         A pessoa tem preconceito da gente acham que podemos fazer mal.

Família

Ao falarem do relacionamento familiar fica patente que a família do usuário antes de sua chegada ao CAPS não tinha orientação suficiente para entender a doença mental e suas causas.

... Meu marido um dia chegou a dizer que eu estava com “frescura”.

...Minha mãe me internava por qualquer coisa, como uma briga...

...Minha família me exclui, sente vergonha de mim, acham que é “safadeza”.

...Minha família me internava por qualquer coisa...

Em relação aos amigos:

...Antes não tinha muitos amigos.

...Ainda sinto preconceito em alguns.

Porém as mesmas falas revelaram a mudança ocorrida após o inicio da atividade produtiva desenvolvida nas oficinas terapêuticas e cooperativas sociais do CAPS integração.

...Agora (meu relacionamento com minha família) é ótimo demorou um pouco mas entenderam a doença.

...(o relacionamento melhorou), pois...agora minha mãe freqüenta o CAPS,hoje eu acho que ela entendeu a doença.

...Hoje no CAPS as coisas mudaram, meu pai vem as reuniões e agora entende a doença então meu convívio com ele é ótimo.

...Agora sou amiga de todos que trabalham comigo e do pessoal do CAPS.

Percebem-se mudanças significativas no relacionamento com familiares e amigos nos discursos.O conhecimento da doença que os familiares recebem dos técnicos no CAPS: o ver o  familiar doente produzindo e recebendo algo por isto muda a atitude da família e dos amigos.(2,5,7)

O ser doente mental não representa mais ser excluído do convívio, um ser sem esperança, os familiares  estão aprendendo  a ajudá-los em sua recuperação, ao mesmo tempo em que eles próprios são também ajudados .

No CAPS integração o discurso dos profissionais em saúde de que seu cliente é “ o doente e sua família” realmente tem sido posto em prática.(1,2,5,7)

Na reforma psiquiátrica a participação das famílias dos usuários nos equipamentos de assistência ao doente mental é imprescindível para seu sucesso.  (1,4) 

  Conclusões

Trabalhar para o usuário do CAPS Integração da cidade de Campinas significa sentir-se valorizado como ser humano e recuperar a auto-estima; o relacionamento social se tornou mais fácil pelo convívio no próprio CAPS; a  facilidade decorreu do acolhimento recebido pelos profissionais;a maior dificuldade no desempenho de seu trabalho era decorrente do medo de não ser capaz de realizá-lo e do medo de desapontar os técnicos que confiavam nele;o relacionamento familiar mudou a partir do momento em que os familiares perceberam o potencial de trabalho e recuperação de habilidades sociais do portador de doença mental e adquiriram maior conhecimento sobre a doença.

O objetivo geral deste estudo foi compreender o significado de ser usuário trabalhador atendido em um CAPS, Este objetivo só pode ser traçado neste momento da história da assistência ao doente mental, pois a reforma psiquiátrica deu a ele um novo status - o de um ser humano com potencialidades a serem descobertas e desenvolvidas; não mais excluindo da sociedade, mas dela participando e tendo a participação dela na sua assistência. 

Referências

01.Amarante P. (Org.). Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. 189 p.

02.Silva ALA. O Projeto Copiadora do CAPS: do trabalho de reproduzir coisas à produção de vida. Dissertação (Mestrado) Escola de Enfermagem – USP, São Paulo, 1997, 161p.

03.Oliveira FB. Construindo saberes e práticas em saúde mental. João Pessoa: UFPB/Editora Universitária, 2002, 227p.

04. Bassette F. Projeto de saúde mental em Campinas vira referência. Folha de S. Saulo. 02/11/2002. Disponível em: http//:www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u2973.shtml  Acesso em: 23/11/2006.

05. Peplau HE. Interpersonal Relations in Nursing. Nova York. Putnan’s sons, 1952.

06. Cavalcante TF; Guedes NG; Moreira TG; Araújo MA. Nursing care at new mental health services - experience report. Online Braz J Nurs (Online). 2006; 5(1). Available from: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/93

07. Glasner CL; Olschowsky A; Kantorski LO. Center of Psychosocial Attention (CAPS): worker’s mental health. Online Braz J Nurs (Online), 2007; 6(5). Available from:  http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/j.1676-4285.2007.1090/269

Endereço para correspondência: UnG- CEPPE – Mestrado em Enfermagem – Prédio U – 6º andar R. Dr. Nilo Peçanha, n° 81 ant 67, Centro – Guarulhos-SP, CEP: 07011-040.

 

Nota: Este estudo resulta da dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Guarulhos em 2006. Programa aprovado pela CAPES em março de 2004.

Orientadora; Marina Borges Teixeira,  Universidade Guarulhos, SP.

 

Received Jan 25th ,2008

Accepted: Jan 30th, 2008