The technologies on the process of the nurse work – a literature review
As tecnologias no processo de trabalho do enfermeiro – uma revisão bibliográfica

 

Tatiana Ibrahim de Serpa Pinto Rocha1, Ana Lúcia Abrahão2

1.  Aluna do curso de Mestrado Profissionalizante Enfermagem Assistencial, Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil , 2. Professora Titular da Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil.

 

Abstract: It is a bibliographic review about the concept of technologies on the process of the nurse work on the academic literature. The objective was to identify articles published between 1994 a 2007 and the identification of the use of “technology” on the work of this professional. The search was done over an indexed data base on the following key words: technology, nurse and work. Were selected 30 articles from them we chose 10 that were relevant to our purpose. This articles showed a diversity of concepts that expression technologies is been used, as well considerations over its utilization.

Key-words: technology, nurse and work

Resumo: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre o conceito de tecnologia no processo de trabalho do enfermeiro presente na literatura acadêmica. O objetivo desta pesquisa consistiu na identificação do conceito ‘tecnologia’ empregado no processo de trabalho do enfermeiro na produção científica da área de saúde no período de 1994 a 2007. O levantamento foi realizado em bases de dados indexados a partir dos seguintes descritores: tecnologia, enfermagem e trabalho. Foram selecionados 30 artigos, dos quais 10 artigos seguiram os parâmetros traçados para este estudo. A análise do material aponta a diversidade de conceitos com que a expressão tecnologia vem sendo abordada, bem como considerações a respeito de sua utilização.

Palavras-chave: tecnologia, enfermagem e trabalho. 

            Introdução 

No processo de trabalho da enfermagem, observamos que o enfermeiro desempenha distintas funções, dentre elas destacamos as educacionais, de pesquisa, assistencial e gerencial. Esta última ocupação articula a atividade de gerente de unidades com a gestão do cuidado, baseado na idéia de que os enfermeiros ao gerenciar recursos de qualquer natureza, sejam eles de ordem organizacional ou relacionado diretamente com o usuário, conformam um conjunto de atividades voltadas ao processo assistencial. Logo o trabalho do enfermeiro não deve se distanciar da busca pela qualidade da assistência (1).

Tendo a concepção que o enfermeiro é um dos profissionais responsáveis pela assistência prestada ao cliente, torna-se necessário a fusão da função administrativa com a função assistencial para que não ocorra a fragmentação do cuidado. A articulação destas funções proporciona ao enfermeiro maior visibilidade do seu processo de trabalho, ao mesmo tempo, em que toma o usuário como eixo central de suas ações.

Contudo, o processo de trabalho em saúde depende de uma série de saberes, que podemos denominar de tecnologias. Este termo tecnologia é empregado de modo a ampliar o entendimento sobre ele. Neste sentido, podemos identificar, pelo menos dois grandes blocos distintos de saberes presentes no termo tecnologia. As tecnologias materiais e as não-materiais(2) .

A tecnologia não é confundida exclusivamente como instrumento tecnológico, pois damos a esse termo uma imagem de saberes que permitem em um processo de trabalho específico operar sobre recursos na realização de finalidades deste processo produtivo” (3:127).

O uso das tecnologias no trabalho em saúde se dá de forma articulada, ou seja, as diferentes tecnologias são empregadas no processo visando à resolução dos problemas apresentados (2). O uso destas tecnologias chamadas também de ferramentas tecnológicas ocorre de acordo com os objetivos estabelecidos no interior dos processos de trabalho para o atendimento ao usuário. Cada profissional possui sua valise, ou caixa de ferramentas, que é utilizada no ato da produção, permitindo ao profissional processar o recorte necessário à sua intervenção.

Na enfermagem o cuidado é apresentado como a essência da profissão, seu núcleo de saber. Implicando, no seu exercício aspectos da ordem dos sentidos e da sensibilidade entre o enfermeiro e o cliente. Para que o cuidado realmente ocorra na sua plenitude, a cuidadora deve expressar conhecimento e experiência na performance das atividades técnicas na prestação de informações e educação ao paciente e sua família. A isso deve conjugar expressões de interesse, consideração, respeito e sensibilidade demonstrados por palavras, tom de voz, postura, gestos e toque(4).

Assim, procurando compreender o emprego da tecnologia no processo de trabalho do enfermeiro, nos propomos a realizar uma dissertação argumentativa, a partir da pesquisa bibliográfica.

Os dados nos mostraram que o tema tecnologia vem sendo discutido com mais intensidade recentemente, e principalmente por docentes. O conceito é abordado de diferentes formas, sendo na maioria das vezes resumido a equipamentos. Dentro do processo de trabalho foram identificados 03 tipos de tecnologias: as tecnologias leves, leves-duras e duras, sendo a tecnologia leve, para a maior parcela dos autores investigados, a base do processo de trabalho em saúde, tornando-se fundamental para que o cuidado aconteça. 

Metodologia

Este estudo se propõe a uma dissertação argumentativa, a partir da pesquisa bibliográfica. O assunto em debate é discutido e suas idéias são interpretadas. Com o propósito de identificar como o conceito de tecnologia no processo de trabalho em enfermagem é empregado na produção acadêmica, no período de 1994 a 2007.

A pesquisa bibliográfica foi realizada, no período de abril a junho de 2007, em teses de doutorado, dissertações de mestrado, livros e artigos publicados em revistas Qualis A e B nacional e internacional. Os espaços para a investigação foram à biblioteca da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa – UFF, além de bases de dados indexadas como BDENF, LILACS e Scielo Brasil. Os descritores utilizados para a primeira classificação foram: enfermagem, tecnologia e trabalho.

Como critério para seleção dos artigos usamos: a) material publicado no período de 1994 a 2007; b) material que apresentassem o autor, o local da publicação e metodologia bem definida c) apresentar o trabalho na íntegra.

Inicialmente foram encontrados 30 artigos, sendo submetidos à leitura para apreciação do conteúdo e para verificação dos elementos que serviriam de base para a análise pretendida. Após esta leitura foram selecionados 10 trabalhos que atendiam aos critérios de inclusão, dentre eles cinco artigos, uma tese de doutorado e quatro capítulos de livros.

Procedeu-se, então, à digitação de todos os trechos do material que foram destacados durante a leitura e, em seguida, os trechos digitados foram analisados individualmente. Desta aproximação, procedemos à leitura de cada texto a fim de organizar os dados. Posteriormente, realizamos leituras cuidadosas do material selecionado extraindo conceitos abordados e questões que respondessem ao objetivo deste estudo, tomando como base o instrumento de coleta de dados, formatado em forma de fichas para identificar os elementos chave para o estudo. Este instrumento consta de um roteiro com dados tais como titulação dos autores, ano de publicação, periódico, metodologia, objetivos, resultados encontrados e conclusão.

Após a leitura de cada texto selecionado, deu-se início à fase de análise dos mesmos. As informações extraídas do material foram organizadas segundo a categoria profissional dos autores, o periódico e ano de publicação, além de responder a questões relacionadas com a temática proposta pelo estudo, tais como: qual o conceito de tecnologia e o emprego da mesma no processo de trabalho do enfermeiro?

A pergunta em destaque permitiu uma última leitura analítica do material e a discussão do conceito presente nos trabalhos estudados. 

Discussão a partir dos dados da pesquisa           

Os dados foram agrupados em duas partes. Na primeira parte os dados estão tabulados mostrando questões quanto à categoria profissional dos autores, tipo de material e ano de publicação. Na segunda parte os dados apresentam-se sob a forma descritiva e analítica trazendo uma discussão sobre conceitos de tecnologia bem como a utilização deste no processo de trabalho do enfermeiro.

            Os resultados mostram que nos 10 trabalhos selecionados encontramos vinte e dois autores, pois muitos eram de responsabilidade de mais de um autor, e três textos possuíam a mesma autoria. Com relação à ocupação dos autores, vinte são docentes, e dois atuam na assistência, ou seja, os artigos apresentam resultados de pesquisas implementadas pelas autoras vinculadas a universidade, como apresentado no quadro 1.  

Quadro 1– Apresentação numérica, segundo a categoria profissional, dos autores dos periódicos científicos.    

Categoria Profissional

N.º

Enfermeira (o) docente

20

 

Enfermeiras (os) assistenciais e demais profissionais

 

02

Fonte: Ibrahim e Abrahão, 2007

Quanto aos periódicos, identificamos a Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Latino Americana de Enfermagem, a Revista da Escola de enfermagem Anna Nery; tese de doutorado da Unicamp, e livros publicados pela editora Hucitec.(quadro 2), quanto ao ano das publicações encontramos desde 1994 até 2007.(quadro 3).  

Quadro 2: Apresentação do tipo de publicação, segundo o número de textos identificados para o estudo. 

Periódico e editora

Revista Brasileira de Enfermagem

02

Revista Latino Americana de enfermagem

01

Revista Eletrônica de Enfermagem

01

Revista da Escola de Enfermagem Anna Nery

01

Editora Hucitec

04

Unicamp

01

Fonte: Ibrahim e Abrahão, 2007

 Quadro 3: Apresentação do ano de publicação, segundo o número de trabalhos identificados para o estudo.

Ano de publicação

1994

02

1997

01

2002

02

2003

01

2004

03

2007

01

Fonte: Ibrahim e Abrahão, 2007

As figuras acima nos mostram que o periódico com maior número de publicação relativa à tecnologia no processo de trabalho do enfermeiro é a Revista brasileira de Enfermagem, e que todos os livros consultados foram editados pela mesma editora. Podemos perceber também que o assunto vem sido discutido desde 1994, sendo que ao maior número de publicações ocorreu recentemente.

O intenso fluxo de publicação a respeito desta temática, localizar-se recentemente, remete a discussão e o incentivo de políticas de saúde, tais como a Política nacional de humanização, entre outras que colocam no centro do debate o modelo de atenção, principalmente na mudança do processo de trabalho em saúde, fato que reflete na produção acadêmica da área.

Se considerarmos positivamente, esse movimento pode ganhar contornos de fomentar junto à assistência um novo modo de atenção à saúde. Logo, podemos dizer que aí se constitui um novo campo de possibilidades: tanto para o aumento da qualidade da assistência quanto para uma nova ordem no campo das relações. 

Discutindo conceitos... 

Na literatura diversos estudos (5-6-7) nos trazem diferentes conceitos sobre a tecnologia.

Muitas vezes a concepção de tecnologia tem sido usada de forma enfática no cotidiano, porém, equivocadamente, pois tem sido concebida somente como um produto, uma máquina, uma materialidade. A banalização mais comum está exatamente no fato das pessoas generalizarem a concepção de tecnologia e resumirem-na aos procedimentos técnicos de operação e seu produto(5).

A marca característica do pensamento contemporâneo a respeito da tecnologia, em qualquer âmbito do saber, em todo campo de prática, é a redução do significado do termo ao conjunto de coisas, de objetos materiais, denotando principalmente sua função técnica nos processos produtivos. Nada de especial haveria nessa restrição, se ela não correspondesse a um movimento de omissão do aspecto essencial desses instrumentos, agora ditos tecnológicos, de só virem a ganhar existência concreta no trabalho enquanto expressarem relações, provisoriamente adequadas, estabelecidas entre os homens e objetos sobre os quais trabalham relações cuja adequação não se estabelece por referência à capacidade produtiva ou à eficácia útil dos instrumentos, mas com respeito às relações sociais de produção organizados conforme as quais os homens então modificam a natureza e a história (5).

Percebe-se então, que com esta omissão no conceito de tecnologia existe somente o entendimento das tecnologias vinculadas a equipamentos, havendo um certo distanciamento das tecnologias que são empregadas em outros espaços, como as relações. Estas últimas aparecem como fundamentais dentro do processo de trabalho em saúde. O fato de se negligenciar a potência de tais tecnologias, acaba por escamotear o movimento das mesmas em conjugar novos modos e práticas sobre os processos de saúde.

Temos tratado a tecnologia como algo novo e moderno, que estaria contida nos equipamentos, nos aparelhos e instrumentos. Com isso, esquecemos que os equipamentos são produtos de um determinado saber tecnológico que se ateve à construção de um determinado procedimento eficaz em função de um determinado objetivo (7).

Vale ressaltar que a tecnologia, nada mais é do que um saber. Uma categoria operante no trabalho em saúde que permite ao profissional ser o mediador nas relações de saberes tecnológicos, presentes no cotidiano dos serviços. No trabalho há o concurso de diversos saberes, lembrando que os saberes são campos de inscrição de ciências e de outros conhecimentos (2).

Ressalta-se, portanto, a natureza peculiar do trabalho em saúde, conferindo relevância à dimensão do saber como trabalho reflexivo presente no modo de operar as ações de saúde. Nesta perspectiva, o trabalho em saúde é dotado de muitas incertezas relativas à especificidade dos problemas que são operados neste campo, havendo descontinuidade durante o processo de trabalho. Estas descontinuidades são de diferentes ordens, desde aquelas intrínsecas ao usuário, até aquelas relativas aos saberes e mecanismos disponíveis para o cuidado em saúde, o que implica a impossibilidade do emprego de distintas tecnologias neste processo. 

Segundo Merhy(3) a tecnologia:

Não é confundida aqui exclusivamente com instrumento (equipamento) tecnológico, e nem é valorizada como algo necessariamente positiva, pois damos a este termo uma imagem dos saberes que permitem em um processo de trabalho específico, operar sobre recursos na realização de finalidades perseguidas e postas para este processo produtivo. 3:127 

Ao se olhar com atenção o processo de trabalho realizado pela equipe de enfermagem, vê-se que além das várias ferramentas - máquinas e aparelhos-mobilizam-se intensamente conhecimentos sobre a forma de saberes profissionais bem estruturados, bem protocolados, normalizados. Além destas duas situações há um terceiro saber, que podem ser consideradas como a relação intercessora do processo de trabalho em saúde (8).

            Assim, discutir tecnologia não é discutir equipamentos e nem o moderno e o novo, mas discutir o proceder eficaz de determinados saberes e suas finalidades. Em saúde, a tecnologia encontra-se nos diferentes saberes que procuram ler o nosso mundo humano do ponto de vista da saúde e da doença, do normal e do patológico, da vida e da morte, procurando constituir procedimentos eficazes de intervenção nestes processos. A tecnologia em saúde está marcada pela própria conformação de um determinado saber que permita ler, em nós a linguagem destes processos (7).

Dentro do processo de trabalho há o emprego de diferentes tecnologias, mas uma encontra-se na base deste processo, a tecnologia relacional, ou leve, pois estas podem gerar alterações significativas no modo de se trabalhar em saúde. 

A tecnologia e o processo de trabalho do enfermeiro... 

As formas de ordenamento dos serviços de enfermagem ainda, hoje seguem o modelo proposto por Florence Nightingale, que influenciada pela lógica de organização capitalista do trabalho, instituiu a divisão entre o trabalho e a hierarquização. Assim Florence instituiu as ‘ladies nurses’ e as ‘nurses’. As ladies nurses recebiam preparo em administração devendo pensar e administrar o trabalho, e as nurses deveriam apenas executá-lo (9).

Neste modelo a enfermeira desempenha a função de gerente centralizador do saber, que domina a concepção do processo de trabalho de enfermagem e delega atividades parcelares aos demais trabalhadores de enfermagem (9).

            No campo da administração, historicamente, as enfermeiras têm adotado princípios da Escola Científica e Clássica da administração para gerenciar o seu trabalho e os serviços sob sua responsabilidade. Algumas características desse estilo de gerência como a fragmentação das atividades, a impessoalidade nas relações, a centralização do poder e a rígida hierarquia ainda são marcantes no cotidiano do trabalho da enfermagem (10).

            A enfermeira gerencia o trabalho da equipe voltando-se para o cumprimento de normas, rotinas e tarefas. O poder de decisão está centralizado no enfermeiro, com ênfase na disciplina(3).

            Este estilo de gerência centralizadora dificulta o desenvolvimento do trabalhador e a sua valorização, trazendo falta de motivação, insatisfação e a falta de criatividade por parte dos trabalhadores. O trabalhador precisa visualizar o trabalho também como fonte de prazer e não somente como meio de sobrevivência.

Cabendo a enfermeira responsável pela gerência, buscar cada vez mais inovações na esfera gerencial que permitam amenizar as conseqüências do modelo de gerência clássica, adotado até hoje na maioria das instituições de saúde, tornando-se necessário à busca de uma série de saberes, que podemos denominar de tecnologias.

Segundo Merhy( 3) as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde podem ser classificadas em tecnologias dos tipos leves, leves-duras e duras (10:49), e servem para organizar as ações de saúde e os processos produtivos neste campo (2:5).  As tecnologias leves são as tecnologias das relações, dos intercessores, no interior dos processos que podem gerar alterações significativas no modo de se trabalhar em saúde. Como por exemplo, a relação de acolhimento, a criação do vínculo, a produção da resolutividade e a criação de maiores graus de autonomia(7). As tecnologias leves-duras são os saberes bem estruturados, como a clínica, a epidemiologia. É uma tecnologia menos dura do que a presente nos aparelhos (11).

            As tecnologias duras são aquelas contidas nos equipamentos, nas máquinas, normas e estruturas organizacionais (11).

O uso das tecnologias no trabalho em saúde se dá de forma articulada, ou seja, durante o processo de trabalho, as diferentes tecnologias são empregadas. Por muitas vezes, elas são utilizadas em conjunto visando à resolução dos problemas apresentados. Assim, cada profissional guarda um conjunto tecnológico e opera com ele de acordo com a necessidade do emprego no cuidado em saúde (2).

Os saberes e seus desdobramentos materiais e não materiais (caixas de ferramentas tecnológicas) podem ser representados por valises. O enfermeiro, para atuar utiliza os três tipos de valises: uma vinculada a sua mão e na qual cabem os estetoscópios, os manuais de normas e rotinas. Os equipamentos entre outros que expressam uma caixa de ferramentas tecnológicas formadas por tecnologias duras; a outra está na cabeça e na qual cabem os saberes bem estruturados, que expressam uma caixa formada por tecnologias leves-duras; e, finalmente, uma outra presente no espaço relacional e que contém tecnologias leves implicadas com a produção das relações entre dois sujeitos, que só tem materialidade no ato (11).

Outros estudos (12-13) nos trazem questões quanto ao uso das tecnologias duras e a mecanização do cuidar, podendo a máquina contribuir para o processo de desumanização, tornando as relações humanas frias e distantes, fazendo com que o paciente se sinta abandonado, invisível apenas como parte de uma de uma engrenagem.

Sendo assim, entende-se que as tecnologias leves, contidas nas ações como ouvir, tocar, auxiliar, confortar, falar, compreender, entender e sentir o outro, são fundamentais para o desenvolvimento do cuidado de enfermagem(13).

Portanto, o que determina se a tecnologia desumaniza, despersonaliza ou objetifica não é a tecnologia propriamente dita, mas sim como as tecnologias individuais operam em contextos específicos do usuário, os significados atribuídos a ela, como qualquer indivíduo ou grupo cultural define o que é humano e o potencial de técnica em enfatizar a eficiência e ordem racional (13)

Considerações finais 

Procuramos neste estudo discutir o emprego do conceito de tecnologia no processo de trabalho do enfermeiro.

Constatamos a diversidade de conceitos que a expressão tecnologia vem sendo abordada, onde na maioria das vezes resumidas a equipamentos, e identificamos três tipos de tecnologias presentes no processo de trabalho: as tecnologias leves, leves-duras e duras.

Na análise do material, percebemos um maior número de publicações na revista Brasileira de enfermagem, sendo que as publicações a cerca do tema ocorreram mais recentemente sendo os autores profissionais que atuam na docência.  Esta informação remete ao debate sobre o modelo de atenção que vem sendo incentivado seja pela via das políticas de saúde, seja pela mudança nos currículos dos profissionais de saúde. Em ambos o cenário identifica com clareza a preponderância do processo de trabalho em saúde e o emprego das tecnologias nesta produção.

Sendo a tecnologia uma categoria operante no processo de trabalho do enfermeiro, torna-se necessário que a temática tecnologia seja discutida, repensada, estudada e construída, para uma maior compreensão e conhecimento das potencialidades das diferentes tecnologias, favorecendo a utilização da valise tecnológica nas diversas etapas do processo de trabalho do enfermeiro. 

            Referências

1- Aguiar AB, Costa RS, Weirich CF, Bezerra AQ. Gerência dos serviços de enfermagem: um estudo bibliográfico. Revista eletrônica de enfermagem [periódico eletrônico]. 2005 [acesso em 18/12/2006]; 7(3): 319-327. Disponível em:  www.fen.ufg.br .

2- Abrahão AL. Produção de subjetividade e gestão em saúde: cartografias da gerência  [dissertação]. Campinas: UNICAMP, 2004.

3- Merhy EE. Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo (SP): Hucitec- Abrasco; 1997.

4- Figueiredo NMA, Viana DL. Fundamentos do uso de tecnologias na enfermagem.São

Paulo(SP): Yendis; 2006. 

 5--Gonçalves RBM. Tecnologia e organização social das práticas de saúde. São Paulo (SP): Hucitec; 1994. 

6- Nietsche EA, Backes VM, Colomé CLM, Ceratti RN, Ferraz F. Tecnologias assistenciais, educacionais e gerenciais: uma reflexão a partir da concepção dos docentes de enfermagem. Rev. Latino - am. Enfermagem [periódico eletrônico]. 2005 maio/jun [acessado em 10 de abril de 2006]; 13(3): 344-353. Disponível em: www.scielo.br. 

7- Merhy EE, Cecílio LCO, Campos GWS. Inventando a mudança na saúde. São Paulo (SP): HUCITEC; 1994. 

8- Merhy EE. O ato de governar as tensões constitutivas do agir em saúde como um desafio permanente de algumas estratégias gerenciais. Ciênc. Saúde coletiva [ periódico eletrônico].1999 jan/mar [ acesso em 01 de janeiro de 2007];.4(2): 305-314. Disponível em:  www.scielo.br  

9- Fernandes MS, Spagnol CA, Trevizan MA, Hayashida M. A conduta gerencial da enfermeira: um estudo fundamentado nas teorias da administração. Rev Lat-am enferm. 2003 mar/abr;11(2): 161-7. 

10- Rocha T, Abrahão A. A inserção das tecnologias leves, leves duras e duras no gerenciamento do cuidado pelos enfermeiros de um hospital universitário. Online Braz J Nurs [on line]. 2007 [ acesso em 30 de agosto de 2007];6(2). Disponível em: www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/articles/view/j.1676-4285.2007.1019/214  

11-Merhy EE. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo (SP): HUCITEC; 2002. 

12-Barra DCC, Nascimento ER, Martins JJ, Albuquerque GL, Erdman AL. Evolução histórica e impacto da tecnologia na área da saúde e de enfermagem. Revista eletrônica de enfermagem [periódico oeletrônico]; 2006 [ acesso em 25 de maio de 2007]; 8(3):422-430. Disponível em www.fen.ufg.br  

13-Cruz EA, Soares E. A tecnologia em centro cirúrgico e o processo de trabalho do enfermeiro. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 2004 Abr ; 8 (1): 109-115. 

 

Contribuição dos autores: Concepção e desenho: Tatiana Rocha e Ana Lúcia Abrahão; Análise e interpertação: Tatiana Rocha e Ana Lúcia Abrahão; Escrita do artigo: Tatiana Rocha e Ana Lúcia Abrahão; Revisão crítica do artigo: Ana Lúcia Abrahão; Aprovação final do artigo: Ana Lúcia Abrahão; Colheita de dados: Tatiana Rocha; Provisão de pacientes, materiais ou recursos: Tatiana Rocha; Expertise em estatística: Tatiana Rocha e Ana Lúcia Abrahão; Obtenção de suporte financeiro: Tatiana Rocha; Pesquisa bibliográfica: Tatiana Rocha e Ana Lúcia Abrahão.

Endereço para correspondência: Rua Mariano Coelho nº30, apto 6º direito, Setúbal, Portugal. CEP: 2900-485.

 Received: Oct 15, 2007
Revised: Feb 13, 2008
Accepted: Feb 28, 2008