Analysis about production of nursing knowledge on health education and aging

Análise da produção do conhecimento de enfermagem sobre educação em saúde e envelhecimento

 

Maria Isabel Pinto Coelho Gorini1, Isis Marques Severo2, Maria Cristina Sant’Anna da Silva3  

1Doutora em Educação. Professora adjunta. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil; 2Mestranda em Enfermagem. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil; 3Mestre em Enfermagem. Escola de Enfermagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS, Brasil. 

ABSTRACT: It is an exploratory and qualitative study carried out by means of a systematic review with the objective of identifying the Nursing production regarding health education and aging in Brazilian publications from 2000 to 2006. In order to search for articles, the online BDENF data bank was utilized and the selected descriptors were: health education, aged, aging, behavior and nursing. Out of eight identified articles, five were selected from the following periodicals: Revista Brasileira de Enfermagem (two), Revista Latino-Americana de Enfermagem (two) and Cogitare Enfermagem (one). The discussion on the selected articles was based on the technique of analysis content. Results evidenced that the Brazilian Nursing has made few approaches on the subjects of health education and elderly people over the studied period of time in the researched data base while group activity stood out as the predominant methodological strategy for health education. Regarding this activity, actions aimed at promoting the autonomy of elderly people have been valued. It is recommended that the themes of the study be approached over new investigations since the population aging is a reality showing expansion trend. The increment of studies in this field is therefore justified considering that significant health education is relevant for the process of human aging with quality.
Keywords: health education, aged, aging, behavior, nursing. 

RESUMO: Este estudo é exploratório, de natureza qualitativa, desenvolvido através de revisão sistemática com o objetivo de identificar a produção da Enfermagem, relacionada à educação em saúde e ao envelhecimento, em publicações nacionais, no período de 2000 a 2006. Para a busca dos artigos, utilizou-se o banco de dados online BDENF e os descritores: educação em saúde, idoso, envelhecimento, comportamento e enfermagem. Foram identificados oito artigos e selecionados cinco, os quais encontram-se nos seguintes periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem (dois), Revista Latino-Americana de Enfermagem (dois) e Cogitare Enfermagem (um). A discussão dos artigos selecionados baseou-se na técnica de análise de conteúdo. Os resultados demonstraram que os temas educação em saúde e pessoas idosas foram pouco abordados pela Enfermagem brasileira, neste período, na base de dados consultada, destacando-se a atividade grupal como estratégia metodológica predominante de educação em saúde. Em tal atividade, as ações promotoras da autonomia dos indivíduos idosos foram valorizadas. É recomendável que os temas do estudo sejam abordados em novas investigações, uma vez que o envelhecimento populacional é uma realidade que tende à expansão. Justifica-se, portanto, o incremento de estudos nessa área, pois uma significativa educação em saúde é relevante para o processo de envelhecimento humano com qualidade. 

Palavras-chave: educação em saúde, idoso, envelhecimento, comportamento, enfermagem. 

INTRODUÇÃO 

No Brasil, vivencia-se o aumento da população idosa, bem como o da expectativa de vida. Conforme o último censo brasileiro1, o número de pessoas idosas na população, em termos proporcionais, passou de 6,1%, em 1980, para 8,6%, em 2000, enquanto a expectativa de vida ao nascer passou de 62,6 anos para 70,4, no mesmo período de tempo.

 Este aumento remete a debates e reflexões tanto na população em geral quanto no meio acadêmico, principalmente quanto à forma de proporcionar qualidade de vida a essa população. Frente a isso, entende-se como relevante o preparo do profissional de saúde para atuar nessa área.

As pessoas idosas, devido ao processo de envelhecimento, aos fatores genéticos e aos comportamentos de saúde nocivos ao longo da vida, apresentam maiores chances de desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, osteoporose, entre outras. Tais doenças podem prejudicar o desempenho funcional para as atividades do cotidiano e comprometer a autonomia desses indivíduos, trazendo, conseqüentemente, prejuízos à sua qualidade de vida.

Os profissionais da área da saúde podem intervir neste processo por meio da educação em saúde. Isso se dá pela orientação sobre promoção da saúde da população em geral e pelo auxílio das pessoas idosas no enfrentamento dos problemas oriundos do processo de envelhecimento humano, seja pelo estímulo à adaptação e ao autocuidado, seja pela prevenção de agravos.

No entanto, muitas vezes, a educação em saúde ainda é entendida como transmissão de conhecimento acerca de conteúdos predefinidos pelos profissionais da área da saúde, modelo que, por vezes, não atende satisfatoriamente às necessidades de aprendizagem do público, nem jovem, nem idoso. Isso ocorre porque, para educar alguém, é preciso ir ao encontro dos interesses do educando, oferecendo conteúdos e práticas que estejam em consonância com suas necessidades. Somente dessa forma é que as ferramentas oferecidas pela ação educativa poderão servir para intervir na realidade dos sujeitos envolvidos na ação.

Sabe-se que a educação em saúde pautada no discurso impositivo e normativo não conduz a mudanças no comportamento, mostrando-se, portanto, ineficaz. Assim, a abordagem educativa sobre o processo saúde-adoecimento tem maior possibilidade de proporcionar o desenvolvimento da capacidade de análise crítica das situações vivenciadas quando valoriza e respeita a subjetividade individual, as representações sociais dos indivíduos e a diversidade entre eles2, bem como a ação participativa e criativa dos mesmos3. A partir desses requisitos, estabelece-se um ambiente que predispõe ao desenvolvimento do sujeito, e que possibilitará mudanças comportamentais passíveis de favorecer sua qualidade de vida.

Uma das metas da educação em saúde é a melhoria das condições de vida e de saúde das populações, mantendo estreita relação com a aprendizagem4. Para tal, torna-se necessário que esteja voltada para a realidade da população a qual se destina. Isso posto, considera-se a educação em saúde uma ferramenta efetiva para trabalhar junto às pessoas idosas, o que motivou a busca pela produção científica sobre esse tema. Assim, buscou-se analisar artigos brasileiros de enfermagem sobre educação em saúde e envelhecimento no período de 2000 a 2006.  

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 

Este estudo é exploratório, de natureza qualitativa, e foi desenvolvido sob forma de revisão sistemática, permitindo caracterizar o conhecimento científico produzido na área de educação em saúde de pessoas idosas na enfermagem brasileira e, com isso, oferecendo informação para outros estudos. Em virtude da ampla divulgação de materiais bibliográficos em formato eletrônico, a pesquisa realizada por meio de base de dados e sistemas de busca assume grande importância5 .

Para localizar periódicos nacionais da área da enfermagem, selecionou-se aqueles publicados no período de 2000 a 2006, a escolha desse período justifica-se pela atualidade das publicações. Para tal, utilizou-se os seguintes descritores: educação em saúde, idoso, envelhecimento, comportamento e enfermagem. Os critérios de inclusão foram: artigos nacionais, online, completos, que envolvessem indivíduos com 60 anos de idade ou mais e os publicados na Revista Gaúcha de Enfermagem. Nessa, foi realizada busca manual no suplemento com os índices de 1999-2005 e nas edições de 2006, sendo que, a versão completa foi localizada na biblioteca da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para a busca dos artigos online foi utilizado o banco de dados BDENF, pois contém periódicos nacionais de enfermagem indexados e de acesso gratuito.

O levantamento bibliográfico e a impressão dos artigos ocorreram no período de dezembro de 2006 a fevereiro de 2007. Após a leitura completa, foram selecionados os que obedeceram aos critérios de inclusão e, posteriormente, identificados com a letra A, seguida do número com que o artigo foi classificado pelas autoras. Para a organização dos mesmos, foi elaborada uma ficha com as informações: nome do artigo, autores, área temática, periódico, ano de publicação, tipo de estratégia educativa. Como técnica metodológica, utilizou-se a análise de conteúdo6, e, para a relevância, os descritores, por ordem de freqüência, educação em saúde, idoso e envelhecimento.  

RESULTADOS E DISCUSSÃO   

Foram encontrados oito artigos no total, sendo selecionados cinco, os quais estão nos periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem (dois), Revista Latino-Americana de Enfermagem (dois) e Cogitare Enfermagem (um).  Os temas encontrados, após a análise das informações, foram: a educação em saúde e os idosos, ensinando/aprendendo os cuidados de saúde, educação em saúde e qualidade de vida.  

A educação em saúde e os idosos  

O tema A educação em saúde e os idosos foi abordado em cinco artigos cuja ênfase está voltada à autonomia do indivíduo idoso. Isso é expresso quando os autores escrevem que:

O respeito à autonomia e à individualidade é fundamental para o envolvimento das pessoas nas ações educativas em saúde (A2) e [...] um processo educativo em saúde, um dos enfoques que pode ser encontrado é o do poder e da autonomia (A3).

Nos artigos selecionados, os autores consideram a educação em saúde uma estratégia necessária à prática profissional do enfermeiro que, realizada através da troca de experiências e de informações com os indivíduos idosos, contribui para ampliar o conhecimento de ambos. A construção de um processo de ensino-aprendizagem crítico, significativo e emancipador com os indivíduos idosos é uma forma de potencializar sua autonomia7. Para isso, o enfermeiro deve incentivar as potencialidades desses sujeitos, estimulando-os para o seu autogoverno, conforme foi constatado no texto: “É ressaltada a sua importância quando perceberem-se no controle de sua situação e, para isso, é preciso que estejam constantemente aprendendo” (A5).

Assim, salienta-se a importância da educação em saúde como estratégia de desenvolvimento humano e de auto-realização, pois proporciona a manutenção de indivíduos inseridos e ativos na sociedade8. E isso contribui para o envelhecimento bem-sucedido, o qual resulta da conjugação de fatores físicos, psíquicos, espirituais, econômicos e sociais. 

Propiciar que o indivíduo idoso disponha de maiores possibilidades de tomar decisões – ou seja, ter autonomia – pode ajudar na promoção da capacidade funcional, do autocuidado, da auto-estima e da relação interpessoal, ou seja, do envelhecimento ativo, como pode ser observado: “A autonomia tem um significado bastante importante para quem, muitas vezes, não tem condições de promover seu autocuidado e até mesmo de decidir sobre seus caminhos” (A5).

Outrossim, o desenvolvimento da autonomia é também um dos objetivos da teoria da andragogia – modelo pedagógico voltado à aprendizagem de adultos, por meio do desenvolvimento da autogestão no processo de aprendizagem9. A andragogia recomenda que sejam valorizados o conhecimento e a experiência dos educandos, seu contexto e motivação.

Os fatores mencionados devem ser considerados quando são traçadas metas para a aprendizagem em saúde do indivíduo idoso. Só através do processo dialógico e libertador, e do reconhecimento dos benefícios da aprendizagem para a aplicação prática no cotidiano, visando a resolver problemas, o indivíduo é capaz de aprender9-10. E o profissional de enfermagem, ao valer-se desses pressupostos, atuará como facilitador do processo de educação em saúde das pessoas idosas, pois, “a educação é a ferramenta básica para a obtenção do saber e deve estar coerente com o contexto cultural e social do indivíduo” (A3).

Como profissionais da saúde, não devemos esquecer que o ser humano, em especial o idoso, faz parte de um contexto, o qual influencia bastante suas formas de cuidado e autocuidado, assim como influencia seu modo de perceber a educação em saúde.

Ensinando/aprendendo os cuidados de saúde 

O tema Ensinando/aprendendo os cuidados de saúde relaciona-se às categorias o processo de ensino do cuidado de saúde e estratégias educativas. 

O processo de ensino do cuidado de saúde 

Nesta categoria, destacam-se alguns requisitos para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem em saúde de pessoas idosas, bem como possíveis estratégias a serem utilizadas, observando que “não cabe ao profissional dar sempre respostas prontas às indagações da clientela assistida” (A2).

Os indivíduos idosos mantêm a capacidade de aprendizagem, uma vez que a educação é um processo permanente, ocorrendo ao longo da vida. Também é um processo interativo e histórico11. Ou seja, ocorre dentro de um contexto específico, no tempo e no espaço, o qual precisa ser levado em consideração para que a ação educativa seja significativa. Pelo conhecimento do contexto e das necessidades explicitadas pelos sujeitos, visibilizados através do diálogo, o educador procura estabelecer maior aproximação/interação com o indivíduo idoso, não impondo sua opinião e suas determinações. Tal postura facilitará o processo de ensino do cuidado de saúde, uma vez que, nessa forma de relação, de mão dupla, o enfermeiro procura superar o modelo biologicista e normativo, ainda comumente empregado pelos profissionais da área. Assim, deve-se “partilhar com ele a busca de recursos para o enfrentamento da doença e dos novos eventos inerentes ao curso da vida” (A2).

Na educação em saúde, o diálogo é uma condição para a busca de meios de enfrentamento aos entraves que possam surgir, partindo dos sujeitos a problematização para a busca de alternativas ou soluções. Nessa perspectiva, além do enfermeiro atuar como instrumento de apoio, ele também sofre um processo de transformação, que deve ser incorporado à sua prática de saúde12. Com isso, usando sua capacidade de ouvir, dando voz ao indivíduo idoso, permitirá que profissional/indivíduo idoso compreendam as dificuldades surgidas no processo de aprendizagem dos cuidados de saúde e descubram, conjuntamente, caminhos para minimizá-las ou superá-las. Nesse sentido, fica explícita a possibilidade de diálogo como meio de consolidar o aprendizado, no texto: “Os participantes ressaltam a valorização do saber  popular  por  parte  das enfermeiras  do  programa,  também  destacam as  habilidades  adquiridas  e a transformação, a partir do  conhecimento  apreendido, para  realizar o cuidado” (A3).

A troca de idéias, o diálogo e o estímulo à autonomia favorecem, pelo seu caráter bidirecional, as ações educativas para a busca de melhores condições de vida – que vão além de fornecimento de informações e orientações –, pela conscientização dos sujeitos envolvidos nessas ações13. Por isso, o enfermeiro deve ter o cuidado de assim agir, sendo capaz de ouvir e trocar idéias como os indivíduos idosos, e, nessa interação, decidirem manter ou modificar a prescrição dos cuidados de saúde. Assim, “anteriormente ao desenvolvimento e a implantação de um plano de ensino ou programa educativo, a avaliação das necessidades de aprendizagem dos idosos e seus familiares são investigadas” (A4).

Com isso, ressalta-se a importância de incluir o familiar e/ou o cuidador das pessoas idosas nas ações educativas em saúde. Essa inclusão deve ser realizada sempre que a situação exigi-la, pois tais indivíduos nem sempre estão preparados para compartilharem o cuidado e também porque o contexto social é determinante para o entendimento das situações apresentadas, bem como para a tentativa de resolução ou de melhoria dessas situações.

Além disso, nas ações educativas em saúde, deve-se levar em conta as crenças, as especificidades, as expectativas e as dificuldades dos indivíduos idosos, que podem estar relacionadas aos problemas físicos (como dificuldade auditiva, visual e locomotora), cognitivos e sociais (acessibilidade), entre outros. Portanto, o enfermeiro necessita conhecer as transformações decorrentes do processo de envelhecimento humano, as quais podem interferir nas ações educativas em saúde. Por outro lado, as crenças e expectativas desses indivíduos devem ser avaliadas e as potencialidades – ou seja, as experiências psicossociais – aproveitadas, conforme observa-se a seguir:Identificar e reconhecer as emoções e as potencialidades dos sujeitos constituem condições essenciais para a educação em saúde” (A2). Mais uma vez, enfatiza-se que, no processo educativo em saúde, os profissionais da área também aprendem muito com os educandos. 

Estratégias educativas 

Nesta categoria são apresentadas as estratégias utilizadas em programas e experiências educativas em saúde, que constaram nos artigos selecionados, como: “a educação em saúde em grupos como alternativa que tem trazido resultados efetivos na promoção da saúde, do bem-estar e do viver mais plenamente suas potencialidades” (A5).

Por meio de atividades grupais, que propiciam debate e reflexão sobre problemas e necessidades do cotidiano de seus integrantes, é possível estabelecer uma rede de apoio, na qual o indivíduo idoso, reconhecendo e compartilhando situações semelhantes, encontre formas de promover sua saúde e de enfrentar seus problemas. Um aspecto a ser salientado é a utilização da combinação de ações individuais de educação em saúde com ações grupais. Nesse caso, há um somatório entre a ação direta individual e a atividade em grupo14.

Contudo, entre as ações educativas em saúde, que devem sempre ser voltadas aos interesses e às necessidades explicitadas pelos sujeitos, há de se ter o cuidado de evitar o mau uso dos folhetos ou manuais explicativos. Eles, muitas vezes, por conterem assuntos que não sejam do interesse do indivíduo idoso ou do grupo, funcionam como receitas prontas, portanto ineficazes, não resultando em educação em saúde. No entanto, tais folhetos têm um efeito positivo na construção do conhecimento quando são comentados e analisados juntamente com a clientela a qual se destinam, e evitam informações que não estejam problematizadas por ela. Nesse caso, funcionam como material auxiliar ilustrativo sobre um aspecto específico da saúde dessa clientela. Nos artigos, tal estratégia é apresentada juntamente com outras:

Um programa de preparo de alta hospitalar constitui-se em uma estratégia de Educação em Saúde, uma abordagem educativa específica (A3); [...] utilizar recursos como: fornecimento de pistas, instruções, demonstrações que facilitem a emergência de interesse e motivação, assim como a construção e apropriação de conhecimentos e de transformação (A2);  e [...] identificar os temas de interesse da clientela (A4).

Assim, reforça-se que o processo de educação em saúde deve levar em conta as necessidades, as expectativas e os interesses dos indivíduos envolvidos. Uma vez que é um processo dinâmico, permanente e interativo, o enfermeiro precisa dispor de recursos pessoais e materiais que colaborem para a consecução desse processo, visando a despertar a motivação dos indivíduos idosos para as ações educativas. Ou seja, se o indivíduo idoso não estiver interessado e partícipe na negociação das ações educativas que lhe interessem, e empenhado na realização dos acordos estabelecidos entre ele e o enfermeiro, nada vai mudar. A ação educativa não será efetivada. 

Educação em saúde e qualidade de vida 

O tema educação em saúde e qualidade de vida relaciona-se às categorias comportamentos de saúde e buscando qualidade de vida.  

Comportamentos de saúde 

Nos artigos selecionados, foram encontradas referências à educação em saúde voltada aos comportamentos de cuidado com a saúde de pessoas idosas, como pode ser observado: “A capacidade do idoso para o autocuidado deve ser estimulada ao máximo, pois encoraja a sua independência e autonomia, e promove também o senso de auto-estima” (A4).

Ao mesmo tempo em que se afirma que a dimensão educativa, contextualizada na realidade social e cultural, procura atender às necessidades e qualificar o estilo de vida dos indivíduos8, considerando seus hábitos e crenças, por outro lado, reforça-se que as pessoas idosas, como as de todas as idades, não são seres meramente receptores de conteúdos e informações. Ao contrário, devem ser sujeitos ativos do processo educativo, bem como multiplicadores da ação educativa. Dessa forma, a educação em saúde irá colaborar para a potencialização da auto-estima, da identidade e do sentimento de utilidade social desses indivíduos14, fatores que favorecem a manutenção de comportamentos saudáveis.                       

É conveniente lembrar que a saúde provém tanto de determinantes socioculturais quanto de econômicos. Assim, o educador deve evitar a simples culpabilização daqueles que não apresentem comportamentos considerados saudáveis, pois o indivíduo não é o único responsável por sua saúde. Além de problemas estruturais que dificultam ou impossibilitam a adoção e a manutenção de comportamentos saudáveis, é a autonomia conferida ao indivíduo que determina a liberdade de fazer as escolhas que ele desejar para a sua vida15. Logo, através da educação em saúde, ele tem a possibilidade de fazer escolhas informadas, significativas e saudáveis e então promover mudanças individuais e no ambiente, visando a melhorar sua saúde. Em relação ao enfoque comportamental, estão expressos nos artigos:

As intervenções educativas que podem ser feitas incluem recomendações na mudança de comportamento (A1);  [...] através do contato direto da enfermeira com o idoso, ele próprio iniciou o desenvolvimento de estratégias para a sua própria recuperação (A3).

Os comportamentos são construídos culturalmente. Envolvem poder, controle e autoritarismo, devido ao seu caráter de centralidade16. E, embora muitos referenciais teóricos determinem e normatizem os comportamentos saudáveis, salienta-se que a obrigatoriedade em segui-los pode desencadear sofrimento e adoecimento por transformar-se em imposição.                         

Dessa forma, considera-se importante que o enfermeiro propicie ao indivíduo idoso uma reflexão sobre os comportamentos saudáveis, permitindo que ele encontre as melhores opções para a adoção e manutenção dos mesmos. O profissional deve valorizar as escolhas adequadas, respeitar a individualidade e considerar a capacidade de aprender e de ensinar sobre comportamentos saudáveis desse indivíduo. 

Buscando qualidade de vida 

A categoria buscando qualidade de vida é um significante almejado individualmente, e que se expande ao meio social, obtido através da educação em saúde.

Qualidade de vida é uma dimensão ampla e subjetiva. Será melhor, quanto menor for a distância entre o idealizado e o realizado, e pior, quanto maior for essa distância17. Assim, entende-se que a educação em saúde pode ser uma ferramenta facilitadora, capaz de diminuir a distância entre esses dois pólos, uma vez que por meio da conscientização é possível estimular as potencialidades dos indivíduos para a busca de melhor qualidade de vida pessoal e comunitária.

O conhecimento de medidas terapêuticas e promotoras de saúde, obtido através de espaços de esclarecimento e de discussões, pode fornecer às pessoas idosas melhores condições de cuidar de si e dos outros, facilitando o desenvolvimento e/ou a manutenção de habilidades necessárias ao processo de envelhecimento com qualidade. Isso está implícito nos artigos: “o reconhecimento de que as atividades resultam em benefícios” (A4) e o “processo de reconstrução de um viver mais saudável, com mais qualidade de vida” (A5).

Nesse sentido, a educação em saúde vai além da prevenção de doenças e de agravos, pois enfatiza a instrumentalização dos indivíduos para a busca de uma vida mais saudável, utilizando suas capacidades para a transformação individual e ambiental15, na medida do possível. Tal perspectiva permite que o enfermeiro estimule a promoção da saúde, entendida como busca de bem-estar e de felicidade, ou seja, de um viver melhor e mais harmonioso.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 Constatou-se que a produção científica da enfermagem brasileira, nos veículos analisados, aborda um pequeno número de artigos relacionados com o tema educação em saúde e envelhecimento. Talvez isso deva-se à escassa ênfase do ensino da enfermagem gerontológica e geriátrica na graduação de enfermagem de grande parte dos cursos brasileiros, o que poderia gerar pouco estímulo para o desenvolvimento de estudos sobre a temática. Outra possibilidade é que mais artigos não foram localizados por não terem os descritores em português condizentes com aqueles definidos para este estudo.

 Para retratar estratégias de educação em saúde com pessoas idosas, observou-se que quatro dos cinco artigos utilizaram relatos de experiência com grupos – o que parece ser uma boa estratégia a ser aplicada quando o assunto for ao encontro dos interesses e das necessidades de tais pessoas. Entre esses artigos, um deles também utilizou panfleto ilustrativo, como forma de abordagem educativa, sobre aspecto específico de saúde do grupo. O quinto artigo refletiu sobre a perspectiva sócio-histórica como forma de embasamento para a abordagem educativa de pessoas idosas. 

O enfoque na educação em saúde emancipatória foi outro aspecto constatado. Essa proposta valoriza o conhecimento prévio dos indivíduos, seu meio sociocultural e a troca de experiências entre eles. São pressupostos que vão ao encontro da teoria da andragogia que, diferentemente da pedagogia, trata da aprendizagem de adultos.

Finalizando, recomenda-se que este tema seja abordado em estudos da área da saúde, reforçando o seu potencial para a busca de qualidade de vida de pessoas idosas e também de outras idades, pois o envelhecimento populacional é uma realidade. Além disso, sugere-se que o enfermeiro faça uso apropriado da educação em saúde na prática profissional, utilizando tal ferramenta de forma não-impositiva, mas propiciando um processo interativo de aprendizagem, que procure satisfazer as reais necessidades de saúde dos indivíduos idosos. Nessa interação, os atores sociais – profissional de saúde, indivíduo idoso e seus familiares – têm a possibilidade de aprenderem com as experiências do outro, e as experiências apreendidas poderão ser expandidas ao meio social dos sujeitos envolvidos nesse processo educativo, que é complexo, dinâmico e permanente.  

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Received: Oct 8, 2007
Revised: Feb 27, 2008
Accepted: Mar 23, 2008