Quality of life and health promotion through the perspective of the users of the family health strategy
Qualidade de vida e promoção da saúde na perspectiva dos usuários da estratégia de saúde da família
Maria de Lourdes Denardin Budó1, Fernanda Carlise Mattioni2, Tiago da Silva Machado3, Lúcia Beatriz Ressel4, Luís Felipe Dias Lopes5
1 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria – RS, Brasil; 2 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria – RS, Brasil; 3 Secretaria Municipal de Saúde do Município de São Pedro do Sul – RS, Brasil; 4 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria – RS, Brasil; 5 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria – RS, Brasil
ABSTRACT: This study is a field research with a quantitative and qualitative approach in the region of a Family Health Unit in Santa Maria in the state of Rio Grande do Sul. This work aimed to know the demographic, socio-cultural, political-economic and sanitary context of the population of the region, and to learn the local necessities in order to organize the attention to health. The quantitative analysis classified the data into four indicators: the population indicator with the population ranging from 20 and 39 years of age, and mainly of the female sex; the socio-economic indicator with low levels of education and income; the health indicator with appropriate sanitary conditions; presenting risk areas in some regions and a high prevalence of chronic non-transmissible illnesses, and finally, the indicator of offer of health services revealed the Family Health Unit as being the main form of access to these services. The data determined the population’s life conditions, which are important factors affecting the quality of life, and it is essential to consider them so that practices of health promotion are conducted in the community.
Keywords: Family Health, Health Promotion, Quality of Life
RESUMO: Trata-se de pesquisa de campo, descritiva, com abordagem quanti-qualitativa na região da Unidade de Saúde da Família Bela União, Santa Maria/RS, cujos objetivos foram conhecer o contexto demográfico, sócio-cultural, político-econômico e sanitário da população da região e apreender as necessidades locais para organizar a atenção à saúde. A análise quantitativa classificou os dados em quatro indicadores: indicador populacional com população concentrada entre 20 e 39 anos, predominantemente do sexo feminino; indicador sócio-econômico com baixo nível de instrução e renda; indicador de saúde com condições sanitárias adequadas, apresentando áreas de risco em algumas regiões e maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis; indicador de oferta de serviços de saúde demonstrou a Unidade de Saúde da Família como principal forma de acesso a estes. Consideraram-se esses dados determinantes das condições de vida da população, fatores importantes na qualidade de vida, sendo essencial considerá-los, para realizar práticas de promoção da saúde na comunidade.
Palavras-chave: Saúde da Família, Promoção da Saúde, Qualidade de Vida.
INTRODUÇÃO
A qualidade de vida é um parâmetro intensamente utilizado quando se considera o conceito ampliado de saúde, previsto na carta de Ottawa1 e na VIII Conferência Nacional de Saúde. Nessa lógica, a Organização Mundial da Saúde propôs, em 1995, que a qualidade de vida conceitua-se como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações."2:1405
A noção de qualidade de vida está relacionada ao modo, condições e estilos de vida, inclui as idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana e relaciona-se ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais. No que concerne à saúde, as noções se unem em uma resultante social da construção coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada sociedade estabelece, como parâmetros, para si. Dessa forma, existe uma relação intrínseca entre condições e qualidade de vida e saúde. O patamar material mínimo e universal para se falar em qualidade de vida diz respeito à satisfação das necessidades mais elementares da vida humana: alimentação, acesso à água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer, considerados elementos materiais que têm como referência noções relativas de conforto, bem-estar e realização individual e coletiva.3
Pode-se afirmar que os níveis de qualidade de vida possuem uma estreita relação com a prática da promoção da saúde, a qual teve sua concepção impulsionada por Marc Lalonde, ministro da saúde canadense, ao publicar o documento “Uma Nova Perspectiva para a Saúde dos Canadenses”,4 em 1974, que ficou popularmente conhecido como o Relatório Lalonde. Seguiram-se uma série de iniciativas, por parte da OMS, no sentido de discutir a temática promoção da saúde. Os exemplos mais expressivos dessa movimentação foram a Assembléia de Alma Ata, em 1977 e a I Conferência Internacional em Promoção da Saúde, em 1986, que originou a Carta de Ottawa. Esta define a promoção da saúde como “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”.1:1
Assim, para que seja possível estabelecer uma vida saudável, é preciso que o indivíduo possa satisfazer suas necessidades, relacionadas às diferentes dimensões que o constituem. Essa satisfação é entendida como a possibilidade de constituir as condições necessárias para o que se convencionou chamar de qualidade de vida.
É justamente neste aspecto que se insere a promoção da saúde, configurando-se como um importante instrumento dos serviços de saúde e também de ações intersetoriais no intuito de proporcionar as condições para que a qualidade de vida possa ser estabelecida e, em conseqüência, a saúde das pessoas.
Sendo assim, é possível aproximar a proposta da promoção da saúde à integralidade, que é uma diretriz fundamental para a construção e o fortalecimento do SUS, pois sua inserção na organização dos serviços e das práticas de saúde rompe com as dicotomias no modo de pensar e fazer saúde.5 Pode-se dizer que promoção da saúde e integralidade andam lado a lado, pois é a prática da integralidade que permite que as reais necessidades de saúde de uma comunidade sejam atendidas.6 É ela quem prevê a abordagem dos diversos aspectos constituintes do ser humano, preconizando a totalidade em detrimento da fragmentação. Ao mesmo tempo, a promoção da saúde sugere a satisfação dessas necessidades, no intuito de melhorar as condições de vida das pessoas.
Neste contexto, torna-se imprescindível a utilização de dados condizentes com a realidade local da comunidade para a elaboração de um planejamento em saúde, pois este constitui-se em um poderoso instrumento de gestão. O planejamento possibilita aos profissionais a capacidade de analisar de forma sistemática as organizações, os sistemas e as variáveis significativas do contexto, as necessidades e as possibilidades de atendê-las, pensando estrategicamente os rumos e os caminhos a serem seguidos.7
Para tanto, é imprescindível que os profissionais da área da saúde conheçam as necessidades das comunidades que atendem, possibilitando assim, uma assistência integral, capaz de promover a saúde e gerar qualidade de vida através das ações provenientes do planejamento em saúde. Nesse sentido, deve-se destacar também, a importância do trabalho em equipe, onde a interdisciplinaridade irá contribuir para ações mais integradas no que diz respeito aos aspectos organizacionais, proporcionando a presença da integralidade nas ações em saúde.5
Assim, embasados no que apregoa a legislação vigente no tocante às políticas públicas de saúde, na formação de profissionais em saúde e em idéias que sustentam a necessária articulação entre universidade e serviços de saúde, surgiu a proposta de construção de uma parceria entre a UFSM e a Secretaria de Saúde do município de Santa Maria/RS. A partir desta parceria desenvolveu-se a pesquisa “Diagnóstico de saúde de uma região sanitária de Santa Maria/RS”, cujo objetivo foi conhecer a realidade sócio-cultural, político-econômica e sanitária da região da Unidade de Saúde da Família Bela União, tendo em vista intervir neste contexto a partir de um planejamento em saúde, construído conjuntamente pela equipe da Estratégia de Saúde da Família, pelos pesquisadores envolvidos e, principalmente, com a participação da comunidade atendida. Além disso, buscou-se uma formação profissional dos estudantes envolvidos na pesquisa, comprometida com o perfil epidemiológico da realidade nacional e loco-regional e com a minimização de fatores que respondem pelos atuais indicadores sócio-sanitários brasileiros.
METODOLOGIA UTILIZADA
Realizou-se uma pesquisa de campo, descritiva, com abordagem quanti-qualitativa. Para apreensão dos dados foram utilizados dois métodos de coleta: a Estimativa Rápida Participativa (ERP)7 e a coleta de dados nos domicílios, na forma de inquérito em base populacional-territorial.8:65 A ERP é uma metodologia proposta pelo Instituto para o Desenvolvimento da Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), e sugerido para os gestores em saúde no planejamento de área. Nela, faz-se uma apreensão das condições referentes à saúde, a partir de banco de dados dos serviços de saúde, da observação da área e de entrevistas com os informantes-chave que, nessa pesquisa, foram os profissionais da equipe de saúde e moradores que conheciam a história e as características da comunidade. Esse método é interessante, pois possibilita a apreensão das reais necessidades de saúde da população atendida. A maior contribuição desse método residiu no fato de possibilitar a evidência “dos problemas que afetam a população e seus determinantes, sociais, econômicos e ambientais”. 7:13-14
O universo empírico dessa pesquisa foi a população residente na área de abrangência da Unidade de Saúde da Família Bela União, localizada na região norte de Santa Maria – RS. O território possui aproximadamente 900 moradias, sendo dividido em cinco micro-áreas, com diferenças sócio-econômicas e culturais marcantes. Das cinco micro-áreas, por razões de segurança dos entrevistadores, foram pesquisadas quatro, perfazendo um total de 720 moradias.
A coleta de dados nos domicílios, com base em formulário e entrevistas, foi realizada no período de 28 de fevereiro a 04 de março de 2005 e proporcionou a identificação das necessidades de saúde dos grupos distintos que constituem a população, permitindo a elaboração do perfil epidemiológico. Para que a amostra representasse de forma fidedigna a população residente na região, utilizou-se um tratamento estatístico, segundo o conhecimento prévio das famílias residentes no local. A amostra foi constituída de 30% dos domicílios de cada microárea, perfazendo um total de 217 residências.
Os dados apresentados nesse artigo referem-se à qualidade de vida, condições e promoção da saúde dos moradores, sendo analisados quanti-qualitativamente.
Procurando assegurar e valorizar uma condução ética durante todo o processo da pesquisa, o projeto foi registrado no Gabinete de Projetos/UFSM, sob o número 15941 e no Comitê de Ética/UFSM, sob a carta de aprovação nº049/04. Apoiamo-nos nas orientações e disposições da Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde, que descrevem as diretrizes e normas que regulamentam os processos investigativos envolvendo seres humanos, sendo atendidas em todas as fases da pesquisa.9
RESULTADOS
Os resultados apresentados no presente artigo referem-se àqueles obtidos na coleta de dados nos domicílios através de preenchimento de formulários e entrevistas semi-estruturadas. Após a análise dos dados, esses foram organizados a partir de quatro indicadores de saúde: populacional, sócio-econômico, saúde e oferta de serviços de saúde. Pode-se, a partir dessa classificação identificar as diferenças nas condições de vida das pessoas, nas diferentes micro-áreas visitadas, apontando assim, para as prioridades a serem estabelecidas em um planejamento em saúde.
Qualidade de vida, condições e promoção da saúde
Essa abordagem teve o intuito de contemplar o espectro de abrangência dos fatores que influenciam a qualidade de vida das pessoas, especialmente no que se refere às condições de vida destas.7 Para tal, cabe lembrar que a qualidade de vida é um conceito polissêmico, que abrange diversos aspectos da vida, constituindo uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar3.
Indicador Populacional
No Indicador Populacional observou-se uma população total, obtida pela amostra, de 710 pessoas, sendo o sexo feminino em maior número, representando 52,39% da população. A faixa etária que concentra o maior número de pessoas abrange a idade que vai de 20 a 39 anos, compreendendo 31,13% da população, seguida da faixa etária entre os 40 e os 59 anos, representando 21,55%. Assim, mais da metade da população (52,68%), encontra-se em idade economicamente ativa, revelando uma tendência a um menor número de jovens, e um aumento progressivo do número de pessoas em idade adulta e idosa.
Percebe-se que as características demográficas da comunidade convergem com o quadro populacional brasileiro. Este apresenta uma significativa mudança na sua pirâmide etária entre os anos 1980 e 2000, revelando uma acentuada diminuição da proporção de jovens e um expressivo envelhecimento da população.10
Dentre os fatores que interferiram na mudança do perfil demográfico brasileiro, pode-se citar a queda da fecundidade, a redução da natalidade, o aumento da esperança de vida e o progressivo envelhecimento da população,11 o que também pode ser constatado nos dados empíricos desta pesquisa.
Indicador Sócio-econômico
O indicador sócio-econômico possibilitou a percepção das condições referentes à moradia, sendo que a maior parte delas era propriedade dos moradores, representando 83,64% dos domicílios. Pouco mais da metade das casas (52,99%) são de alvenaria, sendo que existe uma discrepância entre as características das residências, de forma que boa parte apresenta condições favoráveis a vida. Em contrapartida, encontram-se, nessa comunidade, várias regiões onde as moradias são paupérrimas, não oferecendo condições mínimas para a sobrevivência dos moradores.
Em relação à instrução, sobressai-se o número de pessoas com o ensino fundamental incompleto, representando 66,05% das pessoas com mais de 18 anos. O percentual de pessoas não alfabetizadas compreende 8,42% destes e o número de pessoas com curso superior completo é de 0,26%.
Esses valores evidenciam o baixo nível de instrução dos moradores da comunidade, confirmando os índices nacionais, principalmente no que se refere ao acesso ao ensino superior, de forma que apenas 8% dos jovens com idade entre 20 e 24 anos estão matriculados em um curso superior no Brasil.12 Esses dados demonstram o quanto se restringe o acesso à informações e ao conhecimento aos moradores, que deveriam ser disponibilizados à estes através da escola e da universidade. Assim, nega-se aos cidadãos um direito constitucional, limitando o crescimento intelectual destes em virtude do Estado não fornecer acesso universal à escola e à universidade. Essa situação altera a capacidade de compreensão do sujeito acerca da sua realidade, interferindo no protagonismo que poderia desenvolver no processo de transformação do ambiente em que vive.
Na população em estudo, 37,7% das famílias possuem renda mensal que varia de um a três salários mínimos; 36,5% das famílias com renda mensal de 3 a 5 salários mínimos; 9,68% das famílias com renda mensal de 5 a 10 salários mínimos. Foi observado, ainda, que 7,37% das famílias sobrevivem com menos de um salário mínimo por mês.
Comparando esses percentuais, percebe-se que a renda familiar mensal da comunidade é, em geral, relativamente mais elevada do que nos mostram os valores encontrados no restante do país. No Brasil, 43,5% da população sobrevive com renda familiar mensal de até meio salário mínimo por mês. Na região sul, esse percentual cai para 39,5%10. Como já foi citado, na comunidade em estudo, esse valor é de 7,37%. No entanto, pode-se afirmar que a renda familiar desta comunidade, ainda está bastante aquém do necessário para satisfazer as diversas necessidades do ser humano. Estes dados são fundamentais para perceber-se que em países periféricos, especialmente o Brasil, a má distribuição de renda, entre outros fatores, são determinantes para as condições de vida que serão estabelecidas.13
Nesse sentido, nota-se que a renda média, tanto dos moradores da comunidade, como do restante do país, estabelece um cenário em que a desigualdade social recebe papel de destaque. Torna-se explícita uma realidade onde a concentração de renda em uma pequena parcela da população impõe ao restante condições miseráveis de sobrevivência, sendo excluída qualquer possibilidade de se estabelecer uma vida com qualidade. Na comunidade estudada, isso fica evidente nas diferenças de renda das famílias e nas condições ambientais discrepantes entre algumas regiões da área.
Quando questionados a respeito das formas de lazer utilizadas, a mais citada foi “assistir televisão”, representando 19,85% das opções. Apareceram também, como as mais referidas, “ouvir rádio”, “passear” e “dormir, descansar”.
Percebe-se neste ponto, a falta de diversidade no lazer realizado pelos moradores. É possível relacionar essa situação ao acesso restrito aos meios alternativos de lazer, como teatro, cinema, esporte, entre outros. De forma geral essas atividades não são oferecidas pelo Estado, ficando a cargo da iniciativa privada realizá-las, possuindo, geralmente, um alto custo. Por isso, dificilmente essas atividades serão incluídas nas prioridades orçamentárias da população de baixa renda.
Quanto ao vínculo empregatício das pessoas que pertencem à faixa etária economicamente ativa, destaca-se a opção “trabalhador do lar” com 26,55% das respostas. Em segundo lugar, aparece a opção “empregado com carteira assinada”, com 25,31% e, em terceiro lugar, a opção “autônomo”, com 14,39%. O percentual de desemprego é de 7,2%, o qual se encontra abaixo do percentual nacional, que varia entre 10% e 12% e condizente com o percentual da região sul, estimado em 8%10. Observou-se, no entanto, uma dissonância entre a renda referida e o percentual de desemprego, de forma que a primeira deveria ser mais elevada, de acordo com o percentual evidenciado. Pode-se atribuir essa dissonância à concepção de desemprego, sendo que muitas mulheres em idade economicamente ativa, que expressaram o desejo de possuir um emprego, classificam-se como trabalhadoras do lar e não desempregadas. Além, disso, o grande número de trabalhadores informais (11,66%), justifica a baixa renda. Assim, conclui-se que o desemprego pode ser considerado como fator determinante nas condições de vida das pessoas, afetando-as de maneira econômica e psicológica, pois é o trabalho o principal fator que confere dignidade aos indivíduos ao passo que através dele é garantido o atendimento de suas necessidades básicas. Deve-se atentar ainda, para as condições de trabalho estabelecidas, tais como, segurança, jornada diária e realização profissional. Nesse sentido, tanto desemprego, quanto as condições do trabalho, interferem diretamente nos fatores objetivos e subjetivos que constituem o conjunto de elementos determinantes da qualidade de vida.3
É importante citar ainda que 10,7% da população geral são aposentados/pensionistas, número esse que vem ratificar o crescente aumento da demanda atendida pela previdência social, principalmente em virtude do processo de envelhecimento da população brasileira.
Indicador de Saúde
No indicador de saúde, foram analisadas as condições de saneamento e meio-ambiente, e os índices de morbidade referida pelos moradores da comunidade. A água consumida por estes é, em sua maioria, proveniente da rede pública de abastecimento, representando 94,9% dos domicílios. Os 5,1% de domicílios restantes compreendem o abastecimento de água realizado por poço ou nascente.
Com relação ao destino do lixo, predomina a coleta realizada pela prefeitura do município, estando presente em 93,08% dos domicílios. Dos domicílios pesquisados, 8,75% dos moradores referiram queimar o lixo; 2,76% enterrá-lo; 1,38% o colocavam a céu aberto; 17,5% o encaminhavam à coleta seletiva.
Tais resultados expressam condições de saneamento e meio-ambiente condizentes com a possibilidade de se estabelecer um espaço físico saudável, capaz de prevenir o aparecimento de doenças endêmicas. Porém, deve-se, mais uma vez, ressaltar as diferenças observadas no território, sendo evidente a existência de áreas de risco, onde as condições ambientais são precárias e propícias ao desenvolvimento de doenças.
Quando questionados sobre a presença de animais domésticos (cães, gatos, vacas, cavalos, porcos, galinhas, entre outros) no domicílio ou próximos a ele, 89,86% dos moradores responderam afirmativamente. Esse resultado evidencia a necessidade de se desenvolver ações de caráter educativo, no intuito de capacitar os moradores quanto à maneira de manter tais animais saudáveis, além de orientar quanto à importância de conservar o ambiente limpo, no intuito de evitar doenças parasitárias/infecciosas, bastante recorrentes em locais onde existem animais domésticos.
Os dados coletados através da morbidade referida pelos moradores foram classificados em três categorias: condição de saúde, doenças crônicas não transmissíveis e doenças infecto-contagiosas. Nas condições de saúde referidas pelas pessoas, evidenciou-se que 15,35% da população mencionou ser fumante; 3,52% ser etilista; 0,99%, fazer uso de drogas ilícitas. Dentre o número de mulheres em idade reprodutiva (10 – 49 anos)14, 3,6% apresentavam-se gestantes; 2,7% referiram ter sofrido aborto nos últimos seis meses; 34,23% realizavam planejamento familiar, através da utilização de métodos contraceptivos. Do número total de mulheres, 6,45% afirmaram estarem na fase do climatério.
As doenças crônicas não transmissíveis foram referidas por 35,2% das pessoas, compreendendo o conjunto de doenças mais citadas pelos moradores. Nessas, sobressaíram-se a hipertensão arterial sistêmica, referida por 11,69% da população, seguida de cardiopatia, com 5,47%, diabetes, com 3,94%, depressão, com 3,8% e obesidade, com 3,1% das respostas. Esses dados nos mostram novamente o acompanhamento dos percentuais da comunidade aos nacionais, principalmente por evidenciar-se que as doenças cardiovasculares constituem o grupo de patologias mais prevalentes. Nesse sentido, pode-se afirmar que a grande relevância dada pelo Ministério da Saúde a essas patologias, através de programas específicos de prevenção e tratamento, inseridos no contexto da Estratégia da Saúde da Família, faz jus às implicações decorrentes dos seus agravos que, nos casos mais exacerbados, provocam a queda da qualidade de vida e a incapacidade de exercer função social nas pessoas acometidas. Esse fato, além de gerar sofrimento aos portadores dessas doenças agravadas, retira do mercado de trabalho um contingente grande de pessoas economicamente ativas, que deixam de gerar riquezas a sua localidade e precisam ser financiados pelo Estado, através da seguridade social.
As doenças infecto-contagiosas, por sua vez, foram referidas por 10,41% das pessoas. 38,3% dos moradores não referiram nenhum tipo de morbidade, tampouco alguma condição de saúde em especial. Ressalta-se que muitas pessoas referiram mais de uma condição de saúde e/ou morbidade.
Pode-se perceber que a maior prevalência das doenças crônicas não transmissíveis em relação às doenças infecto-contagiosas sugere uma mudança no perfil epidemiológico historicamente encontrado nos países periféricos. Essa mudança acompanha uma tendência mundial, estando presente na maior parte das comunidades onde há acesso aos serviços públicos de saúde. Nestas localidades, as doenças infecto-contagiosas podem ser combatidas com medicações e medidas de saneamento e controle de vetores de doenças, que vêm sendo realizadas, em campanhas nacionais protagonizadas pelo Ministério da Saúde. Já as doenças crônicas não transmissíveis, constituem as patologias da modernidade e estão relacionadas à qualidade de vida que as pessoas podem estabelecer.10
Nessa perspectiva, a promoção da saúde configura-se como o elemento que fundamentalmente proporciona a qualidade de vida, devendo ser abordada sobre dois vieses. O primeiro diz respeito às ações educativas e que permeiam hábitos passíveis de serem modificados pelas pessoas. Refere-se, portanto, ao comportamento dos indivíduos sendo predominantemente influenciado por sua cultura. O segundo viés refere-se aos fatores determinantes sobre as condições de saúde. São considerados os seguintes fatores: padrão adequado de alimentação e nutrição, de habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda vida; ambiente físico limpo; apoio social para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável e um espectro adequado de cuidados de saúde. Compreende, portanto, aspectos que abrangem o âmbito ambiental, social, político, econômico e cultural, perpassando pela necessidade de implementação de políticas públicas que possibilitem o estabelecimento de condições favoráveis de vida.13
Para que estas ações sejam viáveis e efetivas é imprescindível que se realizem ações de caráter intersetorial, protagonizadas pelo Estado, profissionais e usuários do sistema público de saúde, a fim de responsabilizar os três segmentos, com o intuito de possibilitar a resolução dos diversos problemas que afetam a vida dessas pessoas, de maneira condizente com sua realidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que mais do que reformas sanitárias, são necessárias amplas reformas sociais e econômicas.13 Entende-se, portanto, que apenas uma profunda reorientação na estrutura da sociedade será capaz de promover as mudanças necessárias para que as pessoas tenham acesso a condições e a uma vida com qualidade.
Indicador de Oferta de Serviços de Saúde
O indicador de oferta de serviços possibilitou evidenciar, que a população da região possui como principal oferta de serviços de saúde uma equipe da Estratégia de Saúde da Família, além das instituições públicas de média e alta complexidade presentes no município, como pronto-socorros e pronto-atendimentos, e o Hospital Universitário. Dos domicílios pesquisados, 34,56% recebiam a visita das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) e 65,43% não se beneficiavam com esta forma de assistência. Vale ressaltar que, na época da coleta de dados, apenas duas micro-áreas possuíam o serviço das ACS. Na atualidade, as cinco micro-áreas possuem ACS para atender a população da referida USF.
Esta Unidade de Saúde da Família desempenha um papel fundamental no sentido de aproximar a comunidade ao Serviço Público de Saúde. Igualmente, ao realizar uma assistência baseada no princípio da integralidade, relevando os diferentes aspectos do ser humano, promove um impulso à qualidade e a melhoria das condições de vida, sob a perspectiva da promoção da saúde.13
CONCLUSÕES
A partir da classificação dos resultados dessa pesquisa em quatro indicadores de saúde, pode-se evidenciar, no indicador populacional, que se trata de uma população concentrada nas faixas etárias compreendidas entre 20 a 39 anos e 40 a 59 anos, sendo a maior parte das pessoas do sexo feminino. As características sócio-econômicas, traçadas pelo nível de instrução, renda, formas de lazer e o vínculo empregatício dos moradores, nos permitem afirmar que esta é uma comunidade com baixo nível de instrução e renda, sendo evidente a falta de diversidade nas formas de lazer das pessoas. Quanto ao vínculo empregatício, predomina a opção “trabalhador do lar”, seguida de “empregado com carteira assinada”. As características sanitárias nos permitem dizer, de maneira geral, que as condições de abastecimento de água e destino do lixo da localidade são condizentes a um ambiente saudável, embora existam áreas com precárias condições de saneamento. Ainda no indicador de saúde, percebeu-se a maior prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, quando se abordou a morbidade referida pelos moradores. Por fim, observou-se que a comunidade dispõe de uma equipe de Estratégia de Saúde da Família como principal forma de serviço de saúde, além das instituições públicas de média e alta complexidade presentes no município, como pronto-socorros e pronto-atendimentos, e o Hospital Universitário.
Dessa maneira, é possível dizer que a apreensão destes dados constitui-se em um importante exercício no sentido de possibilitar a identificação das principais e reais necessidades da comunidade pesquisada. Tais dados, a partir do momento em que são analisados e discutidos com os pesquisadores, gestores, equipe de saúde e os usuários do sistema, tornam-se importantes ferramentas na construção de estratégias baseadas nas prioridades apontadas pelos resultados da pesquisa, sendo subsídio para a realização de um planejamento em saúde coerente com a realidade vivenciada pela população.
Ressalta-se a importância da participação dos usuários dos serviços de saúde, pois ela é fundamental para as transformações necessárias, identificadas pela comunidade. Assim, a participação é estimulada quando uma nova relação entre os atores sociais envolvidos no SUS é estabelecida; quando há formação do vínculo entre profissionais de saúde e usuários, gerando um estímulo a atuação do indivíduo como agente de sua própria saúde e da saúde da comunidade que integra.15
Igualmente, pode-se perceber a influência determinante que as condições de vida dessas pessoas exercem sobre sua saúde. A taxa de doenças crônicas não transmissíveis (35,2%) confirma essa afirmação, de maneira que tais patologias estão intimamente ligadas à qualidade de vida que os sujeitos podem estabelecer, sendo que na comunidade pesquisada, esse fator ainda é bastante restrito.
Por isso, é imprescindível que os profissionais da saúde, além de realizarem o planejamento em saúde, pautado nas necessidades da população, estejam constantemente articulados com outros setores do poder público a fim de garantir a resolução dos limitantes ao desenvolvimento da qualidade de vida. Da mesma forma, devem exercer papel decisivo para a organização da comunidade, através dos conselhos de saúde e outras formas, a fim de que estes possam de fato, exercer o controle social tornando-se sujeitos de sua realidade. Além disso, profissionais e comunidade precisam ser capazes de compreender o ambiente em que estão inseridos e de manter uma organização e mobilização no sentido de melhorá-lo, a partir do conhecimento e reivindicação de seus direitos e da participação efetiva nas mudanças necessárias, viabilizando assim, práticas de promoção da saúde que resultem em qualidade de vida da comunidade.
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Contribuições dos autores: - Concepção e desenho: 1, 2 e 3; - Análise e interpretação: 1, 2, 3, 4 e 5; - Escrita do artigo: 1,2;- Revisão crítica do artigo: 1,2,4;- Aprovação final do artigo: 1, 2; -Colheita de dados: 1, 2, 3, 4; - Provisão de pacientes, materiais ou recursos: 1;- Expertise em Estatística: 5; - Obtenção de suporte financeiro: 1; - Pesquisa bibliográfica: 1, 2, 3; - Suporte administrativo, logístico e técnico: 1; 4, 5
- Endereço para correspondência: Maria de Lourdes Denardin Budó
Rua Appel, 800/208. 97015-030 – Santa Maria - RS
Apoio:– Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Bolsa de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq e financiamento do Fundo de Incentivo à Pesquisa - FIPE/UFSM.
Received:
Aug 8th, 2007
Revised: Dec 12th, 2007
Accepted: Jan 16th, 2008