Nursing assessment: Research/Care through the sensible listening in the heart failure clinic.
Consulta de enfermagem: Pesquisar/Cuidar através da escuta sensível em uma clínica de insuficiência cardíaca.
Consulta de enfermería: Investigar/Cuidar través de la escucha sensible en una clínica de insuficiencia cardiaca.
Liana Amorim Corrêa 1, Iraci dos Santos 1, Denilson Campos de Albuquerque 1.
1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
ABSTRACT: Assuming that nursing assessment for heart failure clients help us to face the changes in your daily, we enquire what the contribution of sensible listening applied to nursing assessment. The purpose is to identify the needs of care creating a new way to care/research sensibly through nursing appointment. The methodology of quantitative character and exploratory applied in the form of evaluation was performed by 50 clients in an hospital in Rio de Janeiro. It was found that 100% of the people have lack of knowledge about HF, followed by diet and medicines. Analyzing social field, there is a majority of 38% with no commitment to treatment, 36% with poor economic conditions and 32% related to bad nutrition. Nursing interventions were applied to solve problems identified beyond medicative therapy, allowing the client to have an exclusive treatment extended to its mental/intellectual and spiritual dimensions.
Keywords: Clinical Nursing Research; Holistic nursing; Nursing care; Nursing Diagnosis
RESUMO: Pressupondo que a consulta de enfermagem aos clientes com insuficiência cardíaca (IC) os ajuda a enfrentar mudanças no seu cotidiano, indaga-se a contribuição da escuta sensível aplicada nessa consulta. Objetivo: identificar necessidades de cuidado dos clientes de uma modalidade de pesquisar/cuidar sensivelmente através da consulta de enfermagem. A metodologia de caráter quantitativa e exploratória aplicada na forma de avaliação foi realizada em 50 clientes , num ambulatório do Rio de Janeiro. Constatou-se que todos possuem déficit de conhecimento sobre a IC, seguindo-se dieta e medicamentos. Nos diagnósticos do domínio social predominam 38% de falta de adesão ao tratamento, 36% de condições econômicas precárias e 32% de má nutrição. Concluiu-se que a interação possibilitada pela escuta sensível favoreceu a expressão verbal das pessoas quanto ao seu sofrimento convivendo com IC, pela sua finitude, limitação de mobilidade, inclusive, social. Intervenções de enfermagem resolveram problemas identificados além da terapêutica medicamentosa, permitindo ao cliente um tratamento extensivo às suas dimensões mental/intelectual e espiritual.
Palavras – Chave: Pesquisa em Enfermagem Clínica, Enfermagem Holística, Cuidados de Enfermagem, Diagnóstico de Enfermagem.
RESUMEN: Presuponiendo que la consulta de enfermería a lo enfermo con insuficiencia cardiaca (IC) contribuye para su enfrentamiento de los cambios de su cotidiano, se cuestiona la contribución de la aplicación de la escucha sensible en esa consulta. Objetivo: identificar las necesidades de cuidado de los clientes través una modalidad de investigar /cuidar sensiblemente en la consulta de enfermería. La metodología quantitativa e exploratoría aplicada en forma de evaluación fue aplicado en 50 clientes , en una clínica de Rio de Janeiro- Brasil. Se verificó que todos poseen déficit de conocimiento sobre la IC, dieta y medicamentos. En los diagnósticos del dominio social ha predominado 38% de no conformidad al tratamiento, 36% de condiciones económicas desfavorables y 32% de mala nutrición. Se concluyó que la interacción posibilitada por la escucha sensible favoreció la expresión verbal de las personas cuanto al su sufrir conviviendo con la IC. Eso debido la finitud, limitación de la movilidad, incluso, social en esa enfermedad. Las intervenciones de enfermería han resuelto los problemas identificados además de la terapéutica medicamentosa, permitiendo al enfermo un tratamiento extensivo à sus dimensiones mental /intelectual y espiritual.
Palabras – Clave: Investigación en Enfermería Clínica, Enfermería Holística, Cuidados de Enfermería, Diagnóstico de Enfermería.
O trabalho de enfermagem junto aos clientes com Insuficiência Cardíaca (IC), em tratamento e/ou acompanhamento ambulatorial, pode caracterizar o pesquisar/cuidar proposto por Santos que considera o cotidiano do fazer profissional como o laboratório vivo que interliga o saber à prática.1 Essa perspectiva, na área da saúde refere-se ao desenvolvimento de consultas de enfermagem, mediante a interação proporcionada pela escuta sensível descrita por Barbier para pessoas vinculadas a uma clínica ambulatorial, inserida na instituição hospitalar.2
O interesse pelo tema foi despertado através da inserção da enfermeira como pesquisadora bolsista do Programa de Apoio Técnico às atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão/UERJ (PROATEC/UERJ), integrando a equipe de saúde de uma clínica de insuficiência cardíaca de um hospital universitário que desenvolve, notadamente por uma equipe multidisciplinar de médicos, psicológos, nutricionistas e educadores físicos, um trabalho de acompanhamento de clientes sem regime de internação. Percebeu-se então neste local, que estes clientes necessitavam de algo mais, de um cuidado diferenciado que conseguisse captar outros problemas não identificados antes pela equipe , pois apesar do acompanhamento citado ainda havia um alto percentual deles com descompensação física (edema dispnéia, fadiga...) e descompensação no seu equilíbrio psicobiológico(ansiedade, medo, depressão....), devido à doença cardíaca.
Verificou-se que a atividade de cuidar não era sistematizada conforme as fases de avaliação: diagnóstico do cliente, prescrição de enfermagem e posterior avaliação dos efeitos dessa intervenção, preconizadas para a consulta. Desse modo, ela não caracterizava a atividade privativa da enfermeira amparada na legislação profissional desde 1986. Destacando-se, deste fato, um campo fértil para a realização de pesquisas sobre a contribuição das atividades profissionais da enfermeira, no seu cotidiano de trabalho, para a qualidade de vida dos clientes, resolveu-se conjugar as práticas regulares de cuidar à atividade pouco freqüente de pesquisar nesta situação.
Evidenciou-se na literatura que a insuficiência cardíaca torna-se cada vez mais um problema de saúde pública, pois sua prevalência atual varia de 1% a 2% da população em alguns países de primeiro mundo. Enquanto aproximadamente 23 milhões de pessoas, no mundo, têm IC e são diagnosticados cerca de 2 milhões de novos casos anualmente.3 Esta é a síndrome que mais cresce nos Estados Unidos.3 Nos países em desenvolvimento seu crescimento se deve, provavelmente, ao aumento de pessoas idosas e a elevação dos índices de sobrevida de pessoas que são vítimas de infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.4
Na Espanha, 15 a 65% dos casos de re-internações de clientes vítimas de IC acontece por mau cumprimento das medidas terapêuticas. Tal situação decorre em conseqüência de fatores tais como: falta de conhecimento sobre a doença, falta de motivação e apoio de familiares, número elevado de medicamentos a ser administrados e o não controle sobre os mesmos, assim como o déficit cognitivo e a presença de depressão.5
Pessoas com IC, na sua maioria, sofrem e, aceitar esta doença e sobreviver com as limitações dela decorrentes pode lhes causar desesperança. Isto porque a mesma não tem cura e, muitas vezes, a falta de acompanhamento geralmente condiciona a piora do estado de saúde e conseqüente internação hospitalar. Releva-se ainda, que a insuficiência cardíaca, no Brasil, é, já há algum tempo, a principal causa de internação de clientes a partir dos 65 anos, no SUS.6
Com a experiência prática na clínica de insuficiência cardíaca, do hospital universitário, observou-se a aderência de pessoas que ali procuram tratamento. Muitas delas participam de estudos multicêntricos, até mesmo por acharem que tal fato assegura seu atendimento. Porém, esta aderência não é de forma integral. Em muitos casos as falhas geralmente ocorrem na administração da medicação prescrita, na aderência à dieta alimentar e na prática de exercícios regulares, fato que ocasiona casos de descompensação e reinternação hospitalar. Enfermeiras americanas realizaram um estudo onde evidenciaram as mesmas falhas na adesão ao tratamento de IC e correlacionam o fato com a falta de informação que os clientes possuem sobre a sua doença.7
Considerando a problemática situacional e amplitude do problema (insuficiência cardíaca), considerou-se a oportunidade de desenvolver uma pesquisa para dissertação de mestrado neste cenário citado tentando operacionalizar a instituição de um cuidar em enfermagem, através da escuta sensível. Pois esta é uma tecnologia que privilegia o escutar/ver apoiado na empatia gerada entre o pesquisador e o cliente, estabelecendo assim uma relação de confiança mútua, onde até o mesmo o silêncio pode possibilitar e ser o desabafo do cliente. Ao mesmo tempo acreditou-se que esta tecnologia poderia contribuir para que os clientes conseguissem conviver com a IC e lutar para um determinado nível de Qualidade de Vida (QV). Neste sentido, ressalte-se que, estudiosos sobre o tema qualidade de vida admitem que ele pode ser mensurado, também, através de características relativas à: percepção da pessoa sobre a posição que ocupa na vida, no contexto de sua cultura e sistemas de valores do seu círculo social e familiar; quais objetivos pretende alcançar; quais as suas expectativas de vida, padrões e preocupações.8
Desse modo, almejando ajudar aos indivíduos com IC, em tratamento ambulatorial, a enfrentar as situações de mudança em seu viver ocasionadas por esta patologia questiona-se neste trabalho: qual é a contribuição da escuta sensível aplicada à consulta de enfermagem para a identificação de necessidades de cuidados de enfermagem?
Para alcançar a resposta deste problema foi formulado o objetivo: identificar as necessidades de cuidado de enfermagem de clientes com IC instituindo uma modalidade de pesquisar / cuidar sensivelmente através da consulta de enfermagem.
REFERENCIAL TEÓRICO – METODOLÓGICO
Trata-se de uma pesquisa quantitativa de caráter exploratório, pois visa desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, a fim de formular problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para continuidade de outros estudos posteriores.9 Foi desenvolvida na modalidade de avaliação, que caracteriza uma forma para se descobrir como funciona um programa, tratamento, prática ou política.9 No caso desta pesquisa a intenção é avaliar a propriedade da estratégia da escuta sensível na prática de consulta de enfermagem.
Pode também ser considerada uma abordagem epidemiológica, pois nesta investigação, busca-se analisar questões do processo saúde doença utilizando a ciência epidemiológica, que pode ser influenciada por determinantes tais como econômicos, culturais e psicossociais, além dos biológicos.10
A técnica de pesquisar/cuidar considerou as fases da consulta de enfermagem como instrumento metodológico e tecnológico, haja vista sua fundamentação na escuta sensível 2 . Á enfermeira é requerido abertura holística para praticar a consulta através da instituição da escuta sensível, pois se trata de estabelecer durante o trabalho uma relação de totalidade com o outro, utilizando-se dos cinco sentidos corporais como instrumento.1
De acordo com Barbier o pesquisador deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro e buscar no íntimo as atitudes, o sistema de idéias, de valores, de símbolos e mitos. Recomenda-se ao ouvinte sensível que ele alcance um estado meditativo e de hipervigilância durante seu trabalho.
O pressuposto para aplicar a escuta sensível, na consulta-se de enfermagem é a credibilidade de que através dela o cuidador se utiliza dos cinco sentidos na sua relação com o cliente. A teoria de Barbier é um fundamento da sociopoética e da pesquisa –ação, métodos de pesquisa com grupos de pessoas.11
De uma amostra de 350 clientes cadastrados na clínica de Insuficiência Cardíaca do Serviço de Cardiologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, unidade integrante da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foram analisados 264 prontuários de clientes que freqüentavam regularmente este serviço. Foram randomizados através de sorteio eletrônico e convidados a participar deste estudo 50 clientes com insuficiência cardíaca crônica em classe funcional I à III da New York Heart Association (NYHA). Sendo esta uma amostra probabilística.
Atendendo à legislação 196/96, referente às normas de pesquisa em seres humanos, esta investigação foi aprovada pelo comitê de ética (1324-CEP/HUPE) do referido hospital , campo da pesquisa, tendo-se obtido permissão para nomeá-lo nas publicações científicas, dela decorrentes.
Registra-se que, apesar de se tratar de um pesquisar/cuidar que em sua concepção somente resultaria em benefícios para os clientes, todos eles foram informados sobre os objetivos, riscos e benefícios desta investigação. Ao início da pesquisa eles assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e permitiram a publicação de suas respostas, respeitando-se o seu anonimato.
Os clientes foram consultados no período de março a julho de 2006. Desse modo, a abordagem metodológica e tecnológica aos sujeitos da pesquisa, na consulta de enfermagem considerou os três tipos de escuta sensível.2
1)Científico – clínica, realizada durante a avaliação inicial do cliente visando diagnosticar suas necessidades de cuidado;
2)Poético – existencial na qual se incluem os fenômenos imprevistos resultantes do viver do cliente com a gravidade de sua patologia;
3) Espiritual-filosófica, ou seja, escutando-se os valores últimos orientadores da vida do cliente, que o liga ao seu grupo familiar, social e ou de trabalho.2
Quanto à escuta espiritual – filosófica, assevera-se2 que todos os indivíduos possuem valores norteadores de sua conduta, mesmo sem saber reconhecê-los. Portanto, no cuidar /pesquisar considerou-se que:
A disponibilidade de conhecimento do sentido e significado da humanidade das pessoas; a disponibilidade de tempo; e a disponibilidade para utilizar os sentidos corporais, a sensibilidade, emoções, intuição e solidariedade, disponibilidades estas que são características do fazer da enfermeira1, promoveriam a diferença na implementação da consulta de enfermagem, conforme anteriormente ela vinha sendo aplicada no ambulatório da clínica de insuficiência cardíaca do HUPE/UERJ, campo dessa pesquisa.
A análise de conteúdo foi utilizada para interpretar os dados produzidos a partir dos registros próprios da consulta de enfermagem, adaptados para essa investigação. Ressalte-se, que foram realizadas 50 consultas com duração média de uma hora e meia, para cada uma. Elas foram desenvolvidas em data e horário diferente das consultas médicas visando estimular uma maior interação da enfermeira com os clientes, condição indispensável para desenvolver a teoria da escuta sensível. A enfermeira precisou desmistificar-se dos conceitos puramente clínico-fisiológicos e obter, com esta teoria, uma libertação dos sentidos corporais.
No decorrer das consultas, à medida que era evidenciado déficit de conhecimento, era iniciada a intervenção de enfermagem. E assim, sistematicamente, conseguiu-se formular diagnósticos de enfermagem, havendo a proposta de os clientes passarem a ter consultas de enfermagem mensalmente, independente de avaliações de outros profissionais de saúde.
RESULTADOS
Na análise de conteúdo dos registros das consultas de enfermagem, identificou-se que existe uma real necessidade de o profissional saber escutar os clientes com insuficiência cardíaca. Assim, a escuta sensível foi imprescindível para diagnosticar suas necessidades de atendimento de saúde e de cuidados de enfermagem, pois predominantemente, eles afirmavam não ter grandes problemas, quando suas falas estavam repletas de queixas e indagações sobre o cotidiano de suas vidas.
Sabe, tenho pontadas de dor no peito, mas o eletro e o teste de esforço não deram nada, quero fazer um eco sinto cansaço quando faço exercício! (Cliente 3)
Minha esposa diz que estou broxa, acho que este problema vem com a velhice, não é mesmo? (Cliente 5)
Não entendo porque não posso comer sal, a comida sem ele não dá pra comer. (Cliente 8)
Quanto à propriedade da aplicação da escuta sensível,2 na consulta de enfermagem, sobreleva-se que a maioria delas teve a duração de duas horas, evidenciando que os clientes as utilizaram para verbalizar seus sentimentos convivendo com a IC. Portanto, desde a primeira consulta o cuidar / pesquisar se apoiou nesta estratégia que recomenda um escutar-ver, onde o pesquisador/cuidador precisa sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do cliente, visando compreender suas atitudes, valores e comportamentos.
Constatou-se que utilizando a escuta sensível, a (o) enfermeira (o) se tornou presente naquele momento de troca, e soube valorizar a fala do cliente e seus significados, sem interpretação ou julgamento, mas sim, procurando compreende-lo por “empatia” percebendo o sentido existente em cada situação. Sobreleva-se também, a propriedade do método de pesquisa na modalidade de avaliação 9, pois através dele conseguiu-se produzir este conhecimento sobre a necessidade de a enfermeira utilizar, sobretudo, sua sensibilidade, para descobrir fatos do viver do cliente, na abrangência de sua subjetividade.
Nesta pesquisa constatou-se, surpreendentemente, que os clientes não tinham certeza de como proceder se piorasse seu estado de saúde. Alguns demonstraram que em momentos difíceis se apóiam em familiares ou em membros da equipe de saúde, afirmando uma certa falta de controle sobre o seu próprio corpo.
Se eu piorar tenho de procurar o doutor aqui da clínica e ele resolve meu problema.(Cliente 15)
Quando pioro logo chamo meu filho e ele decide o que fazer.(Cliente 2)
A gente só melhora quando algum doutor ou doutora daqui vê a gente, não sei o que faria se eles não existissem! (Cliente 36)
Os dados produzidos foram classificados segundo os domínios: cognitivo (relativo às necessidades de educação à saúde), físico e psicossocial. Entre as necessidades de cuidados de enfermagem diagnosticadas, classificadas no domínio cognitivo observou-se que todos (50) os sujeitos da pesquisa tinham déficit de conhecimento sobre a sua doença e sobre o tipo de dieta específica para sua situação de conviver com a IC. Quando indagados sobre as medicações que tomavam, apenas cinco souberam dizer quais eram e para que serviam. Podemos observar estes e outros dados na tabela 1.
Tabela 1: Diagnósticos de enfermagem segundo os domínios. Rio de Janeiro, HUPE/UERJ, dezembro de 2006.
Domínio Físico |
n |
% |
Falha de memória/ dificuldade de concentração |
39 |
78 |
Atividades sexuais prejudicadas |
15 |
30 |
Pressão sanguínea elevada |
34 |
68 |
Edema de MMII / Retenção Hídrica |
26 |
52 |
Fadiga |
23 |
46 |
Dificuldade para dormir / insônia |
19 |
38 |
Sobrepeso/ Dispnéia |
15 |
30 |
Dor |
13 |
26 |
Domínio Psicosocial |
n |
% |
Má nutrição |
16 |
32 |
Condições econômicas precárias |
18 |
36 |
Falta de adesão ao tratamento |
19 |
38 |
Domínio Cognitivo |
n |
% |
Déficit de conhecimento sobre a doença |
50 |
100 |
Déficit de conhecimento sobre dieta adequada |
50 |
100 |
Conhecimento sobre todas medicações ingeridas |
5 |
10 |
Estes dados vêm reforçar os resultados encontrados em pesquisa espanhola, afirmando que descompensações de clientes vítimas de insuficiência cardíaca acontece, geralmente, por mau cumprimento das medidas terapêuticas, ou como neste caso pela falta de entendimento sobre as mesmas.5
Uso só um pouquinho de sal na minha comida doutora, mas não sei dizer quanto, é muito ruim comida insosa. (cliente 24)
Eu não sabia que tinha que beber pouco água não, na televisão todo dia fala que a gente dever beber no mínimo 2 litros de água por dia! (cliente 43)
Sabe no final de semana quando vou tomar uma cervejinha não tomo meus remédios não, sabe... a gente não deve misturar bebida com remédio. (cliente 16)
Acredita-se que algumas dessas necessidades de cuidados, passariam despercebidas sem a utilização da escuta sensível pelo cuidador (a)/enfermeiro (a). Destaca-se que a expressão verbal de muitos clientes foi favorecida devido à interação permanente criada através da escuta poético-existencial, pois afirmar desconhecer sobre o que se passa consigo, quase sempre machuca ou intimida a pessoa consultada.
Este resultado ratifica a afirmativa de que o cuidado terapêutico, desenvolvido nesta pesquisa como um cuidar através da escuta sensível, caracteriza a essência da enfermagem em sua dimensão ontológica, haja vista ele ser permeado de sentimentos, emoção, envolvimento, troca de energia e afeto.12
Na classificação referente ao domínio físico, ressaltam-se os diagnósticos de enfermagem: pressão sanguínea elevada (68%); falha de memória/dificuldade de concentração (76%); edema de membros inferiores/retenção hídrica (52%); fadiga (46%); dificuldade para dormir/insônia (38%); sobrepeso / dispnéia (30%); atividades sexuais prejudicadas (30%) e dor (26%), conforme tabela 1.
Enquanto no domínio social situam-se 36% dos diagnósticos referentes a condições econômicas precárias. Infere-se que este resultado reflete no alto percentual de 38% relativo à falta de adesão ao tratamento e também no diagnóstico de má nutrição (32%), como descrito na tabela 1.
Releva-se que em estudos realizados sobre consulta de enfermagem, o ensino para o autocuidado, englobando a totalidade do ser humano, por parte das enfermeiras, junto aos clientes com doenças crônicas, é sempre recomendado.13
Os diagnósticos de falha de memória e dificuldade de concentração revelam a importância da aproximação profissional-cliente para detectá-los. Ressalte-se que sua identificação deve-se à escuta espiritual-filosófica2 e demonstra uma relação de dependência, muitas vezes negada. Por outro lado, a identificação da dor em 26% dos clientes foi possibilitada pela aplicação da escuta poético-existencial2. Tal fato pode atingir a relação do cliente com a sua família. (Ver tabela 1)
Referente à verbalização de atividade sexual prejudicada sobreleva-se que esta necessidade faz parte dos valores íntimos do cliente e, portanto, pouco explorados pelos profissionais de saúde junto a sua clientela.
A escuta sensível permitiu achados diagnósticos, classificados no domínio social que foram muito incidentes. Dos 50 sujeitos pesquisados, em 36% foi identificado o diagnóstico condições econômicas precárias que refletiu em outros dois diagnósticos com percentuais aproximados que foram: falta de adesão ao tratamento com 38% e má nutrição com 32%. Aqui ressaltamos a importância do estabelecimento de uma confiança mútua proporcionada pela escuta sensível, pois permitiu a abertura do cliente para com o profissional de forma descontraída, clara e concisa.
CONCLUSÃO
Esta pesquisa afirmou a necessidade de a educação á saúde ser promovida pela enfermeira, junto aos clientes que dela necessitam. Vem confirmar, também, que não se pode focalizar ações de saúde e enfermagem guiando-se somente por aspectos físicos da doença, pois existem outros fatores determinantes do processo saúde –doença.10
A estratégia da escuta sensível implementada na consulta de enfermagem demonstrou que a enfermeira ao utilizar técnicas sociais e de sensibilidade, consegue perceber melhor as necessidades não verbalizadas pelo cliente. A partir daí, ela pode ajudá-lo a ter um maior conhecimento sobre si mesmo.
Outro conhecimento produzido nesta pesquisa quanto às possibilidades e contribuição da escuta sensível 2, aqui aplicada na consulta de enfermagem, é que ela auxilia de forma irrefutável a comunicação entre profissional-cliente, melhorando a compreensão da situação saúde-doença, na sua integralidade.
Portanto, reforça-se que, os clientes vítimas de IC, assim como outras vítimas de doenças crônicas necessitam de um acompanhamento de enfermagem personalizado e voltado para sua realidade. “Isto porque a enfermagem caracteriza-se como uma profissão histórica e culturalmente filosófico-humanista, que potencializa a saúde do cidadão e a própria construção da cidadania”.14:269
Na atualidade, não é mais permitido à equipe de saúde, o pensamento de que é apenas necessário evitar doenças e prolongar a vida e sim, que é prioridade assegurar meios e situações que ampliem a capacidade de autonomia e padrão de bem – estar da população.
Concluiu-se que a escuta sensível contribuiu para consulta de enfermagem caracterizando um cuidar/pesquisar sob a perspectiva estética.1 Ressalte-se, que a escuta poético-existencial possibilitou a revelação de temores e sobressaltos dos sujeitos ao conviverem com a IC, pelo seu caráter de finitude ou limitação, inclusive, social. Diante das necessidades de cuidados diagnosticadas, ampliaram - se intervenções de enfermagem além da terapêutica medicamentosa permitindo ao cliente um tratamento extensivo às suas dimensões mental/intelectual e espiritual. Assim, considerou-se esta consulta de enfermagem como um cuidar próprio da tecnologia complexa a ser desenvolvida apenas por profissionais que devem ser capacitados para desenvolvê-la.
REFERÊNCIAS
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Concepção e desenho: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque. - Análise e interpretação: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque. - Escrita do artigo: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque. - Revisão crítica do artigo: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque. - Aprovação final do artigo: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque. - Colheita de dados: Liana Amorim Corrêa. - Provisão de pacientes materiais e recursos: Liana Amorim Corrêa e Programa de Apoio Técnico às atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão/UERJ - Expertise em Estatística: Bernado Tura - Pesquisa bibliográfica: Liana Amorim Corrêa. - Suporte administrativo, logístico e técnico: Liana Amorim Corrêa, Iraci dos Santos, Denílson Campos de Albuquerque.
Endereço para Correspondência:Liana Amorim Corrêa
Rua Garibaldi n°193/406 bl 2 – Tijuca – Rio de Janeiro/Brazil CEP: 20511-330 Phone: 21-25876852; 21-25729255 e FAX: 21-25672454. Email: lianauff99@yahoo.com
Notas: Recorte da dissertação de Mestrado intitulada: Qualidade de Vida de clientes com Insuficiência Cardíaca: Um estudo comparativo em uma clínica de IC. Defendida em 22/12/2006 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
Received: Aug 2nd, 2007
Revised: Jan 16th, 2008
Accepted: Feb 25th, 2008