Care management in nursing under the complexity view
Gerência do cuidado de enfermagem pelo olhar da complexidade
Gerencia del cuidado en enfermería por la mirada de la complexidad
Alacoque Lorenzini Erdmann1, Dirce Stein Backes2, Hanaí Minuzzi3
1 Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil; 2 Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil; 3 Universidade de Caxias do Sul, RS, Brasil.
Abstract: Bibliographic study which is exploratory has aim the conceptions analyze to nursing care management under the complexity view. The study was made by means of the search in articles, being the search source, the two thematic volumes of the national periodic papers about Nursing. These papers refer to the last three years, and their theme is about Health and Nursing Administration or Management. The 43 articles were found was submitted to an attentive reading und were analyzed according to Bardin, therefore emerging nucleus ideas which are: Care management, Care management versus Nursing management and Nurse’s managerial competences. These categories show that the care management centers in people as complex human beings, in the complexity of the care system, in the enhanced and integrated nursing and health teams, and in the managerial competences as being inherent to the nurses’ professional activities.
Keywords: Management; Nursing, Team; Nursing Care
Resumo: Estudo bibliográfico de caráter exploratório tem por objetivo analisar as concepções da gerência do cuidado de enfermagem pelo olhar da complexidade. O estudo foi realizado mediante a busca em artigos, tendo como fonte de pesquisa os dois volumes temáticos de periódicos nacionais da área da enfermagem, referentes ao último triênio, cuja temática versa sobre - Administração ou Gestão em Saúde e Enfermagem. Os 43 artigos encontrados foram submetidos a uma leitura atenta e analisados segundo Bardin, dando origem as seguintes idéias nucleadoras: Gerência do cuidado, Gerência do cuidado versus Gerência de enfermagem, e Competências gerenciais do enfermeiro. Estas categorias mostram que a gerência do cuidado centra-se nas pessoas como seres humanos complexos, na complexidade do sistema de cuidado, nas equipes de saúde potencializadas e integradas e nas competências gerenciais como inerentes às atividades profissionais dos enfermeiros.
Palavras-Chave: Gerência; Equipe de Enfermagem; Cuidados de enfermagem
Resumén: Estudio bibliográfico de carácter exploratorio ten por objetivo analizar la concepción de la gerencia del cuidado de enfermería por la mirada de complejidad. El estudio fue realizado mediante la busca en artículos teniendo como fuente de investigación los dos volúmenes temáticos de periódicos nacionales del área de Enfermería referentes al último trienio, cuya temática trata sobre – Administración o Gestión en Salud y Enfermería. Los 43 artículos fueron sometidos a una lectura atenta y analizados según Bardin, dieran origen de las siguientes ideas nucleadoras: Gerencia del Cuidado, Gerencia del cuidado versus gerencia de la enfermería, y competencias gerenciales del enfermero. Estas categorías muestran que la gerencia del cuidado se cintra en las personas como seres humanos complejos, en la complejidad del sistema de cuidado, en los equipos de salud potencializadas e integradas y en las competencias gerenciales como inherentes a las actividades profesionales de los enfermeros.
Palabras-Clave: Gerencia; Grupo de Enfermería; Atención de Enfermería
Introdução
Para compreender o processo gerencial é importante conhecer, mesmo que em síntese, os dois grandes modelos tradicionais. O primeiro - modelo racional - tem como foco o indivíduo e as organizações e o segundo - modelo histórico-social - tem como foco as práticas sociais1.
O modelo racional fundamenta-se, mais especificamente, na Teoria Geral Administrativa. Neste, a tarefa da administração é interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ações organizacionais através do planejamento, da organização, da direção e do controle de todas as áreas institucionais. Este modelo gerencial deixa evidenciar, no entanto, as constantes disputas corporativistas que limitam a intervenção na prática pelo fato de estar centrado na organização e na produção em massa. Influenciado pela teoria taylorista, este modelo é caracterizado como sendo fragmentado e verticalizado (1-2).
O modelo histórico-social, com foco nas práticas sociais busca, de outro modo, responder as contradições e tensões presentes no cotidiano dos serviços e volta-se, particularmente, para a satisfação das necessidades de saúde da população, com base na autonomia dos sujeitos envolvidos no processo do cuidado.
Para além dos modelos tradicionais mencionados desponta, na contemporaneidade, a abordagem da complexidade com foco nos sistemas gerenciais dinâmicos e flexíveis centrados em pressupostos sistêmicos altamente interativos e inseparáveis, capazes de integrar, ao mesmo tempo, ordem-desordem-organização, isto é, de driblar as situações adversas do cotidiano e potencializar as diferenças pessoais, profissionais e organizacionais.
Trata-se, em outras palavras, de uma nova abordagem gerencial cujos objetos são os sistemas dinâmicos não-lineares, logo, de comportamento imprevisível, que atravessa os modelos tradicionais do mecanicismo clássico com conceitos inovadores e desencadeadores de um novo pensar e fazer gerencial (3-4).
O pensamento complexo significa o que foi tecido junto; assim, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo, tais como: o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si e entre a unidade e a multiplicidade (4).
Sob esse enfoque, o sistema gerencial da enfermagem será tanto mais complexo, quanto maior a sua capacidade de operar com a desordem e com as incertezas inerentes ao cotidiano hospitalar, visto que esta abordagem procura levar em conta o máximo de informações reais; assim como conhecer e reconhecer o variado, o incerto e o aleatório.
O olhar da complexidade amplia, portanto, o olhar sobre o processo gerencial de enfermagem e passa a conceber o cuidado a partir de uma rede ou teia de processos e produtos que envolvem relações, interações e associações entre os profissionais, usuários, gestores enquanto sujeitos que compões o sistema de saúde.
Este novo olhar sobre a organização do cuidado gerencial de enfermagem, como produto de múltiplos processos interativos e como movimento que estrutura as redes de ações e atitudes em defesa da vida e/ou do viver melhor, configura o cuidado como um “sistema de cuidados” dependente e interdependente dos demais sistemas gerenciais e/ou organizacionais. Nesse, há trocas, coexistem seres humanos e sistemas de idéias que se alimentam e se auto-organizam a partir dos mecanismos de sobrevivência dos sistemas sociais e gerenciais, para o qual, o enfermeiro se configura como a pessoa central (5).
A organização, dinamização e gerenciamento do cuidado, sob este novo olhar, implica em reconhecer o ser humano como um ser complexo e singular e, igualmente, reconhecer a interatividade entre as equipes de enfermagem, as equipes de saúde, os clientes e familiares, os gestores internos e externos, os colaboradores ou fornecedores, os grupos sociais e tantos outros que integram a vida da instituição.
Gerenciar o cuidado de enfermagem hospitalar na perspectiva da complexidade significa, para além da dimensão técnico-administrativa, pensar na articulação das diferentes funcionalidades profissionais, na articulação dos diferentes sistemas institucionais e operacionais e na articulação destes com o meio social. Significa, também, aceitar que exista uma contradição que necessita ser confrontada e superada, sem necessariamente reluzi-la.
A gerência do cuidado de enfermagem à luz do pensamento complexo, não pode ser apreendida como um modelo prescritivo, normativo ou explicativo a ser seguido, visto que o processo é muito peculiar ou singular e a cada situação há sempre um novo olhar para esta realidade de múltiplas e complexas relações, interações e associações. Nesse sentido, o gerente atua em conformidade com a situação específica em que se encontra e os recursos disponíveis para a execução de tal processo (5). Esta atuação implica em atitudes do profissional expressadas por competências em mobilizar conhecimentos para tomada de decisão no seu saber ser, saber fazer e saber apreender com ética e responsabilidade na gerência do cuidado de enfermagem. Todavia, parece que necessitamos avançar nos discursos acerca das concepções de gerência do cuidado de enfermagem sob o olhar da complexidade.
Objetivo
Na expectativa de ampliar o campo de visão e as discussões em torno da temática, o artigo tem por objetivo analisar as concepções de gerência do cuidado de enfermagem pelo olhar da complexidade.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, efetuada por meio de uma busca em periódicos da área de enfermagem, classificados no Qualis Capes, cuja temática versa sobre Administração ou Gestão em Saúde e Enfermagem. Os periódicos temáticos encontrados foram: Revista Brasileira de Enfermagem (volume 57, número 4, jul/ago de 2004 - Administração); periódico Qualis IC; 26 artigos, e a Revista Texto & Contexto Enfermagem (volume 15, número 3, jul/set de 2006 - Gestão em Saúde e Enfermagem); periódico Qualis IB; 17 artigos.
A escolha dos periódicos, mais especificamente do último triênio, se deu por estes volumes retratarem as mudanças atuais da concepção de gerência do cuidado de enfermagem.
A leitura atentiva dos artigos selecionados possibilitou seletivar informações referentes às concepções de gerência do cuidado de enfermagem enfocadas no referencial do paradigma da complexidade, as quais foram submetidas à análise de conteúdo e, a seguir, extraídas as idéias nucleadoras e/ou as categorias de referência (6). A finalidade da análise de conteúdo consiste em deduzir estas mensagens de forma lógica e com justificativa, complementando e validando os resultados da interpretação. Esse processo “consiste na classificação dos elementos em diferentes pastas, estabelecendo uma ordem de assuntos, que vai depender da escolha de tais critérios de classificação" (7:364).
Dos 43 artigos lidos e analisados, em profundidade, 25 retrataram a temática da gerência do cuidado de enfermagem sob o olhar da complexidade, por isso, citados com maior freqüência ao longo do texto. Deste processo de análise evidenciou-se as seguintes idéias nucleadoras: Gerência do cuidado, Gerência do cuidado versus Gerência de enfermagem e Competências gerenciais do enfermeiro.
Considerou-se como aspecto ético significativo à fidedignidade na transcrição dos textos selecionados, quer pela autoria, quer pelas palavras que compõe a redação do texto transcrito.
Análise e discussão dos resultados
As categorias ou idéias nucleadoras que emergiram do processo de análise, retratam a complexidade das práticas gerenciais, sobretudo, na área da enfermagem onde se misturam, ao mesmo tempo, as múltiplas interações profissionais, os diferentes sistemas organizacionais e a complexidade do cuidado, por excelência. São elas: Gerência do cuidado, Gerência do cuidado versus Gerência de enfermagem e Competências gerenciais do enfermeiro.
Gerência do cuidado
O cuidado de enfermagem é por si só, um cuidado complexo, dialógico e multidimensional, por centrar-se na pessoa humana – ser de cuidado – também complexo. No processo de cuidar é preciso levar em conta, a priori, que tanto o cuidador como a pessoa sob seu cuidado se reveste de uma dinamicidade singular motivada pelas múltiplas relações, interações e associações, como demonstram os achados a seguir.
O ser humano é um ser do cuidado, complexo, singular e plural, ser de consciência, cognoscente, político, trabalhador do conhecimento, ator e construtor das relações, interações e associações no exercício do cuidado para o viver mais saudável, a promoção da saúde e a valorização da vida. É capaz de promover mudanças nos serviços e práticas de saúde através da suas potencialidades para relações, interações e associações. É um ser social, de relações sócio-afetivas-político-culturais, é produto e produtor das práticas de saúde (8:489).
[...] o cuidado ao “ser humano”, é a atividade central do enfermeiro, ou seja, todas as demais atividades são importantes, mas existem para garantir o cuidado ao sujeito-do-cuidado, sendo que o ato de cuidar constitui-se no processo de trabalho da enfermagem (9:394).
Nos rastros da complexidade, não estamos apenas diante de um novo modelo gerencial, mas, principalmente, diante de um novo indivíduo. No lugar de um sujeito seguro, baseado nas certezas absolutas (fundado no modelo tradicional), está hoje um sujeito interrogante, questionador que busca o conhecimento como forma de superação dos seus limites sejam eles de ordem física, emocional e/ou social. Assim, é preciso explorar as contradições, os temores, as dúvidas que são inerentes ao processo saúde-doença.
[...] é necessário explorar as contradições ante a complexidade do ser humano e do exercício da gerência do enfermeiro, questões relativas ao fazer, ao saber, ao desejo, ao grupo (10:456).
[...] o ser humano é complexo e plural... Na sua incompletude, busca o conhecimento como forma de superação de seus limites, reconhecendo sua interdependência e se fortalecendo pelas relações, interações e associações com seus pares e recursos da natureza (8;490).
Desenvolver novas tecnologias gerenciais centradas no cuidado significa compreender a dialética e o movimento presente nas diferentes interações humanas, profissionais e sociais que envolvem o sistema de cuidados. O cuidado deve ser compreendido como um processo dinâmico que se move, particularmente, em busca da promoção da vida, visto que este não se limita ao espaço hospitalar, mas se amplia e configura por dimensões varias de cuidado, como refletem as falas a seguir:
[...] a noção de sistema de cuidado passa pela visão abrangente e multifacetada do cuidado como conteúdo ou essência da vida dos seres da natureza ou processo dinâmico produtor e protetor da vida. Configura-se por dimensões variadas de cuidado: o cuidar de si, o cuidar de si junto com o outro, o ser cuidado pelo outro, o sentir o sistema pessoal processar o cuidado do corpo por si próprio, o ser/estar no sistema de relações múltiplas de cuidado e o cuidado com a natureza integrando-se com os demais sistemas sociais/naturais, fortalecendo o sentimento de pertença, aproximando os seres na busca de melhor sobrevivência, vitalidade, viver a vida com civilidade humana, promovendo o viver mais saudável (8:490).
[...] nas suas relações sócio-afetivas-político-culturais, inerentes ao seu desenvolvimento, e nas suas formas de ação/reação/interação no mundo em que vive, o ser humano é singular e ser do cuidado. O entendimento de tais movimentos passa a ser relevante à medida que demonstra capacidade de conformar práticas de promoção da saúde (8:484).
Quanto mais complexo, portanto, o sistema de cuidados tanto maior a sua capacidade de operar com a desordem, com a doença e/ou com os diferentes limites impostos pelos sistemas institucionais e sociais. Esta forma de pensar, contudo, requer um raciocínio sistêmico, ou seja, não se pode pensar ou reformar um modelo gerencial, sem uma prévia reforma das mentes, ou sem uma prévia reforma dos sistemas interligados por fios invisíveis.
[...] o raciocino sistêmico é importante para podermos entender que os trabalhos realizados pelo homem são sistemas interligados por fios invisíveis de ações relacionadas entre si e que levam anos para se desenvolver plenamente, mas que, se vistas e desenvolvidas dessa forma, são duradouras (11:410).
A gerência do cuidado necessita, em suma, extrapolar os limites institucionalizados do cuidado tradicional e/ou pautado em processos administrativos fundados no pensamento positivista e determinista. É preciso que a gerência do cuidado encontre um novo apoio, um novo centro e/ou uma nova ordem capaz de lidar com as incertezas e contradições. É preciso, igualmente, compreender as conexões e a rede de interações mobilizadas, em cenários ou espaços que não se restringem à unidade/leito em que o usuário e o trabalhador se encontram para concretizar o processo de cuidar.
Gerência do cuidado versus gerência de enfermagem
A gerência do cuidado e a gerência propriamente dita se constituem em práticas do enfermeiro cuja distinção parece não ser muito nítida. Vários autores versam sobre estas questões, trazendo a tona aspectos relacionados às funções administrativas e as funções assistenciais, freqüentemente, intimamente relacionados. Reconhecem, que estas questões são mutáveis pelo fato de estarem, continuamente, sofrendo as influências do meio social. Sob esse enfoque, o pensamento da complexidade possibilita apreender o mesmo objeto – gestão - sob diferentes olhares, isto é, permite visualizar a sua unidade na totalidade e por meio dos processos que integram o ser, o pensar, o fazer como sinalizam as falas a seguir.
[...] a classificação das ações de enfermagem relativas ás funções administrativas são aquelas que envolvem a coordenação da assistência e concorrem para o adequado atendimento do paciente. Sabemos que para a realização dessas funções a administração do tempo é algo fundamental (12:417).
[...] as práticas de saúde na contemporaneidade vêm sendo foco de atenção diante das novas concepções de ser humano, vida, saúde, sociedade, cuidado de saúde, dentre outras, remetendo à construção de tecnologias de processos de gestão que integram o ser, o pensar, o fazer, o estar mobilizando ações de cuidado humano (8:484).
O enfermeiro pelo exercício das atividades administrativas tem assegurado o exercício do poder, entendendo ser este um instrumento que lhe possibilita coordenar as ações com segurança e manter uma filosofia de cuidado institucional. Dito de outro modo, o enfermeiro tem assegurado o poder para, ao mesmo tempo, estar próximo do cliente e da sua equipe, determinar as ações multiprofissionais de modo cooperativo, potencializar e priorizar as ações a serem desenvolvidas e, ainda, dar conta da complexidade das atividades indiretamente relacionadas ao cuidado. Mas, de que poder se está falando? Sob que olhar? O poder na enfermagem pode ter várias conotações e até mesmo contradições, mas este somente terá significado, à luz do pensamento complexo, quando for capaz de mobilizar as pessoas a um novo lugar.
[...] a capacidade de influenciar pessoas pode estar diretamente relacionada ao poder de aprender a não caminhar sozinho, assumir os riscos e os desafios, transformar as idéias em ações. [...] a localização das pessoas em uma determinada intuição fornecem a esses indivíduos, diferentes graus de poder para tomar decisões. Poder, neste sentido é a capacidade de agir na busca de seus próprios objetivos e interesses e está relacionado à capacidade de intervir em uma seqüência de eventos e alterar seu curso, de tomar decisões perseguir seus fins, fazendo um bom uso do poder (13:488-9).
Na enfermagem, assim como em outras profissões, o processo de construção e/ou desconstrução do conhecimento, acompanhado pelas exigências crescentes no campo assistencial, tornou-se um grande paradigma do ponto de vista gerencial. Se a liderança sempre tem sido a força propulsora e vital no processo de mudanças, hoje, mais do que nunca, esta deverá ser reavivada e fortalecida com base em novos referenciais, a fim de desenvolver melhorias com base no conhecimento e na coerência entre o ser e o fazer, ou seja, entre o discurso e a prática.
[...] ao enfermeiro cabe entre outras tarefas diretamente relacionadas com sua atuação junto ao cliente, a liderança da equipe de enfermagem e o gerenciamento dos recursos – físicos, materiais, humanos, financeiros, políticos e de informação – para a prestação da assistência de enfermagem.
Do enfermeiro é exigido conhecimento que (conheça o que faz), habilidades (que faça corretamente) e tenha atitudes adequadas para desempenhar seu papel objetivando resultados positivos. [...] É exigido que ele seja competente naquilo que faz, bem como garanta que os membros da sua equipe tenham competência para lhe destinarem as tarefas que lhe são destinadas (14:481).
No processo gerencial é preciso levar em conta, também, as questões que dizem respeito à responsabilidade pessoal e profissional. Esta, no entanto, não pode ser atribuída somente ao enfermeiro-chefe, como tal. Todos os profissionais, nesse percurso, têm o compromisso de operar mudanças no sentido de promover à vida e à saúde dos indivíduos, tanto no âmbito hospitalar quanto no âmbito social. Pensar e agir com base no pensamento complexo é pensar e agir com responsabilidade e ética no sentido de promover ambientes mais saudáveis, independente do espaço de atuação. A fala, a seguir, chama para a responsabilidade ao enfatizar que:
[...] todos os profissionais de saúde, como trabalhadores do conhecimento, têm o compromisso de operar mudanças e transformações através da prática do cuidado à saúde e à vida. Uma prática voltada ao viver saudável permite que se reconheçam os princípios da participação, da defesa dos direitos de cidadão, da autonomia, da responsabilidade individual e coletiva para que as mudanças estruturais e sociais se potencializem. O exercício profissional voltado ao enfoque interdisciplinar, considerando os diversos olhares e facetas das situações, busca esta visão integral e dinâmica do processo saúde-doença-cuidado junto aos indivíduos, famílias e coletividade, para que possa contribuir com novos rumos e possibilidades na efetivação do processo de promoção da saúde (8:490).
A gerência do cuidado e a gerência da enfermagem são processos e contra processos circulares e contraditórios, ao mesmo tempo, conformados num cenário de ações múltiplas entre o que se espera do enfermeiro e entre o que é capaz de realizar, efetivamente, na prática. Em algumas instâncias a gerência do enfermeiro parece configurar um “faz de tudo”, visto que este necessita envolver-se com atividades que vão desde o administrar, o orientar, o controlar, o conservar até as atividades identificadas como complementares ao ato médico. Para dar conta desse movimento gerencial complexo de forma ampla e coerente é preciso que o enfermeiro se insira na realidade concreta como um sujeito pensante e interrogante.
Competências gerenciais do enfermeiro
As competências ou aptidões para o ser e o fazer do enfermeiro são aprendidas e/ou construídas, mais especificamente, por meio de sua formação. O desempenho destas são, no entanto, notadamente reconhecidas no exercício da prática profissional e no aprendizado continuo. Nessa perspectiva, a formação tem o papel de instrumentalizar os indivíduos para canalizarem, efetivamente, as suas potencialidades gerenciais e manter uma coerência destas na prática.
[...] Na graduação as DCNs apontam para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais dos profissionais de saúde: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração, gerenciamento e educação permanente. Dentre as seis competências apontadas cinco podem ser caracterizadas como competências gerenciais (15:493).
As competências gerenciais envolvem conhecimentos, habilidades e/ou atitudes para liderar, educar, estabelecer relações políticas, articuladas com os diferentes saberes, promover a integração profissional, entre outras. Nesse processo, é importante que o enfermeiro tenha, particularmente, sensibilidade para captar as necessidades emergentes, habilidade para empreender e estimular ações inovadoras e, principalmente, conhecimento e capacidade estratégica para envolver e comprometer criativamente os profissionais a partir de metodologias participativas e reflexivas, comprometidas com o ser humano integral, isto é, enquanto sujeito e agente de mudança.
[...] além das competências de técnico-especialista, administrador-gerente e educador, atribuídas aos profissionais de saúde, que continuarão sendo exigidas na sociedade do conhecimento, surgem outras competências, como as de articulador e interlocutor, que este profissional passa a demonstrar... Amplia suas funções no sentido de se tornar co-responsável pelo suprimento de suas necessidades e pelo estabelecimento de relações produtivas entre os membros da equipe (8:486).
As competências ou aptidões gerenciais estão cada vez mais associadas à gerência de pessoas, de equipes e/ou de processos direta e/ou indiretamente relacionados ao cuidado, mas que demandam o exercício do relacionar-se e construir elos de integração com credibilidade, respeito e, ainda, outros aspectos importantes no trabalho em equipe. Uma equipe, certamente, terá alto desempenho funcional e relacional à medida de suas interações e trocas e à medida que reelabora e transforma o conhecimento com a finalidade de promover melhorias e/ou práticas comprometidas com o ser humano integral.
[...] o trabalhador de saúde um ser cognoscente, co-responsável pelo suprimento de suas necessidades e pelo estabelecimento de relações entre os membros da equipe, fortalece a noção de que este sujeito lida com o conhecimento, aprende, troca, elabora, reelabora, transforma o conhecimento explícito em tácito e o tácito em explícito. Como membro de uma organização, é capaz de articular conhecimento e, nesse vai e vem das relações, melhorar as práticas de saúde e de cuidado (8:489).
A complexidade da prática gerencial do enfermeiro envolve múltiplas ações que vão desde os micro espaços do cotidiano hospitalar aos processos sociais globais, relacionados ao gerenciar cuidando e educando, ao cuidar gerenciando e educando, ao educar cuidando e gerenciando, construindo conhecimentos e promovendo a interconexão entre os diferentes sistemas e atore sociais em prol da qualidade do cuidado como direito do cidadão. São particularmente importantes, sob esse enfoque, as iniciativas que contemplam as políticas públicas e sociais com objetivos bem delimitados e focados na qualidade de vida e de saúde dos cidadãos. Gerenciar em enfermagem requer, portanto, por parte de quem a realiza, não só competência técnica e comercial, mas flexibilidade e a compreensão de que a parte está no todo, como o todo está nas partes, mas cada parte permanece mantendo sua singularidade e individualidade, mesmo que juntando estas partes teremos novamente o todo (4). Dito de outro modo requer habilidades para estabelecer atividades complementares e integradoras capazes de reconhecer o novo no velho.
[...] as funções de administração e os papéis de liderança no paradigma atual são permeados pela emergência das mudanças tecnológicas e às forças sociais; o lado comercial dos serviços de saúde; os aspectos financeiros e mercadológicos, determinando mudanças no papel do enfermeiro-chefe, com novos conhecimentos e habilidades, tendo em vista os objetivos institucionais (13:487).
[...] a gerência de enfermagem, por sua vez, pode ser vista por diferentes olhares o que permite visualizar a sua unidade na totalidade e as suas várias dimensões e facetas, orientadas pelos sistemas simbólicos representativos das composições organizacionais dos serviços de saúde, cuja noção de pluralismo possibilita a identificação das diferentes facetas desta arena social (10:451).
O cuidado é, por excelência, um fenômeno dinâmico e multifacetado e/ou um encadeamento de medidas assistenciais, administrativas e legais, que tanto podem estar restritas a uma estrutura organizacional, como podem extrapolar as políticas sociais e as vontades individuais, por meio de um movimento dinâmico de construção e reconstrução. Para tanto, é preciso perseguir uma proposta capaz de enfrentar os desafios do conhecimento e criar novas formas de entendimento acerca do mundo, do ser humano, do cuidado a serem planejadas e gerenciadas com base em novos referenciais (16). Assim, pensar a complexidade dentro de um sistema organizacional e/ou gerencial é pensar no processo como um organismo vivo, com peculiaridades e movimentos circulares, mesmo que contraditórios e antagônicos.
Considerações finais
O presente estudo propiciou a busca de algumas concepções da gerência do cuidado de enfermagem à luz do pensamento complexo. Os dados apontam que a enfermagem é o motor que mobiliza, articula, movimenta a rede de interações complexas que compõem o sistema de cuidados. Em outras palavras, é o enfermeiro quem assume a gerência do cuidado e se constitui no elo de comunicação e viabilização das políticas de saúde e atenção aos interesses pessoais e coletivos.
As categorias que emergiram do processo de análise, mostram que a gerência do cuidado centra-se nas pessoas como sujeitos complexos mobilizadores das relações, interações e associações do sistema complexo de cuidados em suas equipes de enfermagem e de saúde de modo geral. As categorias retratam, ainda, a complexidade da prática gerencial do enfermeiro envolvendo múltiplas ações no gerenciar cuidando e educando, no cuidar gerenciando e educando, no educar cuidando e gerenciando, construindo conhecimentos e articulando os diversos serviços hospitalares e não hospitalares em prol da qualidade do cuidado como direito do cidadão. Gerenciar o cuidado significa gerenciar o serviço de enfermagem, nas suas múltiplas dimensões ou nas suas políticas organizativas.
Pensar na gerência de enfermagem à luz da complexidade, não significa, apenas, pensar em uma ação administrativa o que não passaria de uma concepção reducionista. Pensar na gerência de enfermagem, de outro modo significa mobilizar as pessoas para um novo lugar, promover ambientes mais saudáveis, religar os diferentes saberes e ser capaz de lidar com as contradições e a desordem, com o propósito de instaurar uma nova ordem.
Instaurar uma nova ordem gerencial e/ou assistencial implica, em suma, pensar de forma ampla e multidimensional, agir de forma coerente e responsável e, acima de tudo, promover um cuidado que vá além do saber fazer. Implica, ainda, ir além dos modelos gerenciais de equilíbrio e ordem e apostar num novo sujeito capaz de pensar, cuidar e planejar as ações gerenciais e assistenciais, com base na sensibilidade, na ética e no engajamento concreto.
Enfim, pensar a gerência do cuidado à luz do pensamento complexo significa adotar uma nova postura diante da vida e dos elementos/eventos nas quais ela se configura. Significa navegar por mares revoltosos e caminhos incertos sem perder a beleza do aprender a viver, do aprender a cuidar, do aprender a gerenciar, do aprender a aprender continuamente.
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Contribuição dos autores: Análise e interpretação: Dirce Backes e Hanaí Minuzi Escrita do artigo: Dirce Backes e Hanaí Minuzi - Revisão crítica do artigo: Alacoque Lorenzini Erdmann -Aprovação final do artigo: Alacoque Lorenzini Erdmann - Colheita de dados: Dirce Backes e Hanaí Minuzi - Provisão de materiais ou recursos: Dirce Backes, Hanaí Minuzi e Alacoque Lorenzini Erdmann - Obtenção de suporte financeiro: Sem financiamento - Pesquisa bibliográfica: Dirce Backes e Hanaí Minuzi - Suporte administrativo, logístico e técnico: Alcoque Lorenzini Erdmann
Endereço para correspondência:
Dirce Stein Backes
R. antenor Mesquita, N. 145, Apto 903B - CEP: 88015-150 Florianópolis SC
Telefone: (048) 88235548 - e-mail: backesdirce@ig.com.br
Received:
Jul 09, 2007
Revised: Oct 19, 2007
Accepted: Dec 13, 2007