Women resident in a female student housing: verse and reverse of self-care 

Mulheres residentes em uma casa de estudantes: o verso e o reverso do autocuidado 

Tatiana Brusamarello 1, Débora Fegadoli 2, Drª Liliana Maria Labronici 3, Drª Maria de Fátima Mantovani 4.

 1-4 Universidade Federal do Paraná, PR, Brasil.

 Abstract: Cancer is the most frequently occurring neoplasia among women worldwide, followed by cervix uteri cancer whose main agent is the human papilloma virus. This research had as general goal: get to know women’s health self-care among female undergraduates who live in a public university housing in Paraná State/ Brazil. Specific goals were as follows: to survey the frequency of breast self-exam, of gynecologic appointments, of colposcopic exam; to identify sexual life-related activities, preventive methods concerning sexually transmitted diseases (STDs) and contraception. This study has a quantitative approach and was carried out with a sample of 71 women. Data were gathered by means of a questionnaire and descriptively analyzed. The analysis evidenced that women ranged 18 to 33 years of age; 71.83% can undertake breast self-exam but 86.36% are unwilling to do that. It was still evidenced that 24.19% did not undergo the colposcopic exam after they became sexually active; 87.32% said they were previously sexually active; 53.22% disclosed that they did not always use any preventive methods for STD and 33.87% reported that they did not use them through the sexual intercourse. It can be concluded that those female students have access to information, however they are not risk-aware to undertake self-care.

 KEY WORDS: Self-care, Women’s health, Nursing.

 Resumo: O câncer de mama é a neoplasia mais freqüente entre as mulheres de todo o mundo, seguido pelo câncer de colo do útero que tem como seu principal agente causal o vírus do papiloma humano. Esta pesquisa teve como objetivo geral: conhecer como se dá o autocuidado relacionado à saúde da mulher, com universitárias residentes em uma casa de estudantes feminina de uma universidade pública do Estado do Paraná. Os fins específicos foram estes: levantar a freqüência do auto-exame das mamas, de consultas ginecológicas, de exame colpocitopatológico oncótico; identificar atividades relacionadas à vida sexual, métodos referentes à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e anticoncepção. Esta pesquisa é de abordagem quantitativa e foi realizada com uma amostra de 71 mulheres. Os dados foram coletados por meio de um questionário e analisados descritivamente. Após a análise constatou-se que estas mulheres estão na faixa etária de 18 a 33 anos; destas 71,83% sabem realizar o auto-exame das mamas, mas 86,36% não o realizam por comodismo. Verificou-se ainda que 24,19% não fizeram o exame colpocitopatológico oncótico, após terem iniciado a sua vida sexual; 87,32% expuseram ter vida sexual prévia; 53,22% referiram que nem sempre usaram método de prevenção para DST e 33,87% relataram não utilizarem do começo ao fim da relação sexual. Conclui-se que essas mulheres estudantes têm acesso a informação, mas falta-lhes a conscientização para realizarem o autocuidado.  

Palavras-chave: Autocuidado; Saúde da Mulher; Enfermagem.

 

INTRODUÇÃO

A mulher durante seu desenvolvimento passa por várias fases distintas que exigem cuidados específicos para a saúde. Estes cuidados foram evoluindo nos diferentes cenários e épocas; mas, na década de 80, as mulheres manifestaram seu desejo de uma atenção à saúde integral, surgindo o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Este programa propunha desenvolver atividades que atendessem às questões relacionadas à prevenção do câncer de mama e cérvico-uterino, planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e conhecimento do corpo da mulher(1). Apesar da implementação dessas ações, das campanhas educativas realizadas pelo governo e da divulgação na mídia, essas patologias embora preveníveis continuam não apenas afetando as mulheres na sua multidimensionalidade, como também, no limite, levando-as à morte.

É importante destacar que uma das questões de maior relevância na área da Saúde da Mulher é a que se refere à prevenção do câncer de colo do útero. Apesar desse exame ser de fácil execução, ser oferecido gratuitamente na maioria dos postos de saúde e permitir a redução significativa da mortalidade, ainda existe grande número de mulheres que não o realizam(2). Talvez este seja um dos motivos pelo qual a incidência do câncer de colo do útero é alta nas mulheres brasileiras, e responsável anualmente por cerca de 471 mil casos novos e pelo óbito de aproximadamente 230 mil mulheres por ano(3).

O desenvolvimento de doenças como o câncer de colo do útero e de mamas, além das DST é influenciado tanto pelo estilo de vida como pelos hábitos de saúde(4). Isto significa que os riscos de adquirir tais doenças são altos, uma vez que a atividade sexual se inicia cada vez mais cedo.

O câncer de mama, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), permanece como o segundo tipo mais freqüente no mundo e o primeiro entre as mulheres. O segundo mais comum é o câncer de colo do útero, que atinge mulheres na faixa etária entre 20 e 29 anos; anualmente é responsável por cerca de 471 mil casos novos e pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por ano. Estima-se para o ano de 2006 no Brasil 48.930 novos casos de câncer de mama e 19.260 novos casos de câncer de colo do útero(3). O principal agente causal do câncer de colo do útero é o vírus do papiloma humano que é transmitido sexualmente. A Organização Mundial de Saúde estima que ocorram cerca de 340 milhões de casos de doenças sexualmente transmissíveis por ano no mundo(5). Estes dados incitaram a realização deste estudo com as mulheres residentes em uma casa de estudantes feminina, uma vez que são vulneráveis às DST, câncer de mama e de colo do útero.

Diante do exposto esta pesquisa teve como objetivo geral: conhecer como se dá o autocuidado relacionado à saúde da mulher, com universitárias residentes em uma casa de estudantes de uma universidade pública do Estado do Paraná; e mais os seguintes fins específicos: levantar a freqüência do auto-exame das mamas, de consultas ginecológicas e de exame colpocitopatológico oncótico; identificar atividades relacionadas à vida sexual e métodos referentes à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST). 

METODOLOGIA 

            Trata-se de pesquisa quantitativa, realizada no período de junho a novembro de 2006, com uma amostra de 71 mulheres entre 18 e 33 anos, de uma população de 108 residentes em uma casa de estudantes feminina de uma universidade pública do Estado do Paraná.

Os dados foram coletados mediante a utilização de um instrumento estruturado, auto-aplicado, com 21 questões a respeito do conhecimento e da realização do autocuidado, no qual não constava o nome da entrevistada, mas apenas um número de identificação, depois de preenchido foi devolvido pessoalmente às pesquisadoras.

A  análise foi realizada descritivamente, de acordo com os seguintes temas: auto-exame das mamas, consultas ginecológicas, atividades relacionadas à vida sexual, métodos referentes à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e exame colpocitopatológico oncótico, a fim de atingir os objetivos desta pesquisa.

O projeto foi aprovado em junho de 2006 pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, sob o número 251 SI 026-06-05. 

ANÁLISE DE DADOS 

O câncer de mama tem sido um dos protagonistas pelos maiores índices de mortalidade no mundo, tornando-se um dos principais problemas de saúde pública no que diz respeito à saúde da mulher(6). As participantes da pesquisa foram questionadas a respeito de saber e/ou realizar o auto-exame das mamas. Obtiveram-se 71,83% das respostas, afirmando o conhecimento de como realizar o auto-exame; porém apenas 38,03% o realizam freqüentemente. Ao serem indagadas sobre os motivos pela não realização do auto-exame das mamas, verificou-se que o comodismo apareceu em 86,36% das justificativas (GRAFICO 1).

 Gráfico 1 – Motivos citados pelas estudantes para não realização do auto-exame das mamas. Curitiba, 2006. n=71

De acordo com o INCA(7), o câncer de mama é relativamente raro antes dos 35 anos de idade; mas acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Esta informação poderia tornar os dados acima irrelevantes, visto que a amostra desta pesquisa se encontra na faixa etária abaixo dos 35 anos. Contudo, no Brasil(8), o que dificulta o tratamento desta patologia, é o estágio avançado em que a doença é descoberta, diminuindo as chances de sobrevida das pacientes e comprometendo os resultados do tratamento, motivo pelo qual o programa Viva Mulher do Ministério da Saúde, de acordo com as recomendações do Consenso para Controle do Câncer de Mama(9), preconiza a realização do exame clínico das mamas para mulheres de todas as faixas etárias, como parte do atendimento integral à mulher, a fim de detectar as lesões malignas da mama.

Este pode ser realizado pelo médico ginecologista ou pelo enfermeiro durante as consultas ginecológicas. Ao indagar as participantes sobre o número de vezes que vão ao médico ginecologista durante o ano (Gráfico 2), constatou-se que um grande número da amostra (49,29) garantiu a freqüência de uma vez ao ano, mas 23,96% responderam que nunca foram ao ginecologista ou somente vão em uma emergência.

Gráfico 2 – Freqüência com que as estudantes realizam consulta ginecológica. Curitiba, 2006. n=71

 

Realizar consultas ginecológicas é uma forma de se cuidar, procurar saber como está o seu corpo, principalmente a partir do momento em que se tem vida sexual ativa. Por isso, identificar se essas mulheres têm vida sexual prévia torna-se  fator importante para a prevenção e/ou detecção precoce das DST. A análise de dados apontou que 87,32% da amostra têm vida sexual prévia; destas, 62,9% possuem vida sexual ativa, sendo a maioria com parceiro fixo. Das 35,4% que responderam não ter parceiro fixo, 59,09% tiveram mais de 2 parceiros no último ano.

            As mudanças ocorridas no comportamento reprodutivo feminino, principalmente no que diz respeito ao início da vida sexual precoce, podem influenciar na transmissão de DST. No referente aos métodos para prevenção de DST que conhecem, cerca de 88,73% das estudantes afirmaram conhecer o preservativo masculino e 50,7% o preservativo feminino. Este dado leva a supor que algumas destas estudantes universitárias não relacionam o preservativo masculino como forma de prevenir DST. Ao serem questionadas quanto à freqüência e maneira que utilizam esses métodos, 53,22% da amostra que possui vida sexual ativa nem sempre utilizam o preservativo em suas relações. O que chamou atenção, dado mais agravante, é que aproximadamente 34% desta amostra não utiliza o preservativo durante toda a relação, ficando expostas ao risco de contrair DST entre estas o Papiloma Vírus Humano (HPV).

O Brasil é um dos líderes mundiais em incidência de HPV, e as vítimas preferenciais são mulheres entre 15 e 25 anos(10), uma em cada quatro mulheres brasileiras está contaminada pelo HPV(11), e essa informação é preocupante, pois esse vírus é o principal agente causal do câncer de colo do útero, apresentando uma freqüência em nove entre dez casos desse câncer(10).

O exame para o diagnóstico do HPV é o colpocitopatológico oncôtico, internacionalmente aceito como o instrumento mais adequado e de baixo custo conhecido para o rastreamento do câncer de colo do útero(11). No concernente à realização desse exame pela amostra, 33,8% responderam não saberem como é realizado; 29,57% não sabem a sua finalidade e 24,19% não realizaram o exame após terem iniciado sua vida sexual; 60% destas não o realizaram por comodismo, apesar de o INCA(12) recomendar que toda mulher com vida sexual ativa, principalmente aquelas com idade de 25 a 59 anos, devem submeter-se ao exame.

No Gráfico 3, observa-se que 68,08% das mulheres residentes nessa casa de estudantes realizam o exame colpocitopatológico oncótico anualmente. Segundo o Ministério da Saúde(12), a periodicidade preconizada para a realização desse exame é, inicialmente 1 exame por ano. No caso de 2 exames normais seguidos com intervalo de 1 ano entre eles, o exame deverá ser feito a cada 3 anos. Em caso de exames com resultados alterados, a mulher deve seguir as orientações fornecidas pelo médico que a acompanha.

 Gráfico 3 – Freqüência com que as estudantes realizam o exame colpocitopatológico oncótico. Curitiba, 2006. n=71

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

            Esta pesquisa de origem quantitativa é uma contribuição para a literatura sobre o tema e incentivo para realização do autocuidado referente à saúde da mulher.

            Desta forma os resultados obtidos na presente pesquisa permitiram constatar que: apesar do nível educacional das estudantes universitárias, há uma limitação do conhecimento no que diz respeito ao autocuidado. A maioria das entrevistadas sabem realizar o auto-exame das mamas, mas não o faz periodicamente por comodismo, impossibilitando a detecção precoce de alguma alteração mamária até mesmo pelos profissionais, já que aproximadamente um quarto da amostra não visita o médico ginecologista freqüentemente; estão mais expostas às situações de risco em relação às DST, pois fazem uso inadequado do preservativo masculino e tem adoção restrita do preservativo feminino; quanto ao exame colpocitopatológico oncótico, levantou-se que mais de 60% destas mulheres têm conhecimento insuficiente a respeito deste exame e 24,19% nunca o realizaram, mesmo após terem iniciado sua vida sexual.

A sobrevivência da espécie humana depende de equilibrada formação intelectual e emocional dos indivíduos. Nesse sentido, entende-se que há necessidade de medidas sociais e educacionais muito mais profundas do que se propõem atualmente(13).

Concluí-se com esta pesquisa que, apesar de a maioria dessas mulheres terem acesso à informação, falta-lhes conscientização para a realização do autocuidado. Sendo assim, os profissionais de saúde devem atuar diretamente, na atenção primária, buscando motivar e manifestar atitudes preventivas, para que exista uma melhora da qualidade de vida dessas estudantes. 

REFERÊNCIAS 

1. Marques PF, Ferreira SL. O domicilio como espaço de práticas de saúde: reflexões a partir dos programas de saúde da mulher. Rev. enferm. UERJ 2002; Mai/Ago; 10(2): 138-41. 

2. Madureira AB, Lunardi VL. A Saúde como direito: o exame preventivo de câncer de colo uterino sob o olhar da faltosa. Texto Contexto Enferm 2003; Jul/Set; 12(3): 411-12. 

3. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer. Estimativa/2006 Incidência de Câncer no Brasil, Brasília, 2005. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2006/index.asp?link=conteudo_view.asp&ID=5 (01 out 2006). 

4. Sinclair BP. Promoção e Prevenção de Saúde. In: Lowdermilk DL, Bolak PIM. O cuidado em enfermagem materna. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002.  

5. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de DST e AIDS, portal informativo sobre aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, Brasília, 2003. Disponível em:http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISD1F318A3ITEMID55D35F0070A24175BB4DF9DD1832A658PTBRIE.htm  (10 nov 2006). 

6. Azevedo RF, Lopes RLM. Experience of breast cancer diagnosis and radical mastectomy: a phenomenological study. Online Brazilian Journal of Nursing [Online]; 5.1 22 Apr 2006. Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=207 (14 set 2006). 

7. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. Detecção precoce da mama. 2006. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=1932 (19 jun 2006).  

8. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama – Viva Mulher. 2006. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=140 (19 jun 2006). 

9. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. Controle do câncer de mama, documento de consenso. 2004. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=471 (10 out 2006). 

10. Ministério da Saúde (BR). Programas de saúde. Especialistas alertam sobre o HPV. 2006. http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=22444 (10 nov 2006). 

11. Oliveira MM, Silva ENF, Pinto IC, Coimbra VCC.Câncer cérvico uterino: um olhar crítico sobre a prevenção. Rev. gaúcha enferm 2004; Ago; 25(2):176-83. 

12. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer. Câncer do Colo do Útero. 2006. Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=326 (10 out 2006). 

13. Caetano ME, Linhares IM, Fonseca AM, Cardoso EB, Horie MDC, Conceição PSP et al. Aspectos relacionados ao comportamento sexual e conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis de um grupo de estudantes da Universidade de São Paulo. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2004; 15(4): 190-9.

 

Contribuição dos autores:

Tatiana Brusamarello: Concepção e desenho; Análise e interpretação; Escrita do artigo; Revisão crítica do artigo; Aprovação final do artigo; Colheita de dados; Provisão de materiais e recursos; Pesquisa bibliográfica; Suporte administrativo e técnico. 

Débora Fegadoli: Concepção e desenho; Análise e interpretação; Escrita do artigo; Revisão crítica do artigo; Aprovação final do artigo; Colheita de dados; Provisão de materiais e recursos; Pesquisa bibliográfica; Suporte administrativo e técnico. 

Drª Liliana Maria Labronici: Concepção e desenho; Análise e interpretação; Escrita do artigo; Revisão crítica do artigo; Aprovação final do artigo; Suporte administrativo e técnico. 

Drª Maria de Fátima Mantovani: Análise e interpretação; Revisão crítica do artigo; Aprovação final do artigo; Suporte administrativo e técnico. 

Endereço para Contato: GEMSA. Rua Padre Camargo, 280, 8º andar, Alto da Glória, Curitiba-PR, CEP 8.060-040, (41)9943-6391/(41)9672-7079.  E-mail: tatiana_brusamarello@yahoo.com.br

 

Received: Jun 8th, 2007
Revised: Jul 8th, 2007
Accept: Aug 25th, 2007