The proposition of the concept of nursing virtual community – a review study

A proposição do conceito de comunidade virtual de enfermagem – um estudo de revisão

Marcos Antônio Gomes Brandão1, Mauricio Abreu Pinto Peixoto2, Viviane Modesto Ferraz3

 1 – Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ. Professor Adjunto. Doutor em Enfermagem. Pesquisador Permanente do Grupo de Estudos em Aprendizagem e Cognição (GEAC); 2 – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde / UFRJ. Professor Adjunto. Doutor em Medicina. Líder e Pesquisador Permanente do GEAC; 3 – Hospital Pró-Cardíaco – RJ – Brasil. Enfermeira Intensivista. Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde. Pesquisador Permanente do GEAC.

 ABSTRACT: The authors of the paper propose a concept to nursing virtual community based in concepts about communities and virtual communities. In this paper, some aspects that have influenced the creation of a concept to nursing virtual community are also presented, especially, the social interaction, collaboration and cooperation in virtual communities concepts. The authors highlight some issues about virtual groups and nursing virtual communities in Brazil, and discuss specific variables that  interfere on interaction inside of  community, such as, strategies used to establish or maintain relationship in  virtual environments, and interactive and communicational processes rules and philosophies on virtual environment internet-based.

 Key Words: internet; communications media, computer communication networks, interpersonal relations, virtual community of nursing, interaction. 

 RESUMO: Os autores conceituam uma comunidade virtual de enfermagem tomando por base a reunião dos conceitos sobre comunidades e comunidades virtuais, revisados da literatura. No presente artigo, são apresentados alguns aspectos que influenciam na constituição de uma definição para comunidade virtual de enfermagem, destacando os processos de interação social, colaboração e cooperação. Ressaltam algumas características sobre grupos e comunidades virtuais de enfermagem no Brasil e discutem elementos particulares que interferem no processo de interação na comunidade, entre eles, as estratégias usadas para estabelecer ou manter relacionamentos nos ambientes virtuais, e as regras e filosofias do processo interativo em ambientes virtuais baseados na internet.

 Palavras-chave: internet; meios de comunicação, redes de comunicação de computadores, relações interpessoais, comunidade virtual de enfermagem, interação.

Introdução

Diante do número cada vez maior de pessoas do corpo social da enfermagem que utilizam as tecnologias comunicacionais da internet, considera-se ser um aspecto de relevância buscar apresentar um conceito para comunidade virtual de enfermagem, tomando por base os conceitos sobre comunidades e comunidades virtuais. Também ressaltamos algumas características sobre grupos e comunidades virtuais de enfermagem no Brasil, e elementos particulares que interferem no processo de interação na comunidade, entre eles: o estilo e a linguagem textual, as estratégias usadas para a manutenção de relacionamentos em ambientes virtuais e as regras e filosofias do processo interativo.

O conceito de comunidade

Este parece ser um termo relevante para a enfermagem, uma vez que a disciplina se ocupa de lidar com toda a comunidade ou com os sujeitos que fazem parte de uma delas. No que concerne às concepções teóricas, comunidade é um conceito relevante em teorias de enfermagem. Por exemplo, a teoria de enfermagem de Imogene King[1] postula que existem três sistemas de interação: o pessoal, o interpessoal, e o social; e são neles que enfermeiros e clientela estão envolvidos. Nesta perspectiva, a comunidade é um elemento do sistema social de interação representado por grupos de pessoas que compartilham metas comuns, interesses e valores.

Mais do que um conceito relevante para a enfermagem, comunidade sempre foi um aspecto central para a humanidade, pois desde tempos remotos os seres humanos aí se agregam. Partindo da relevância do assunto, o primeiro delineamento a realizar é o conceito genérico de comunidade.

Fundamentalmente é necessário entender que não há uma definição única. Porém, alguma convergência se apresenta de revisões da literatura, sejam nas ciências sociais ou da saúde.

Na interface das ciências da saúde e sociais, em 2001 um estudo[2] publicado no American Journal of Public Health propõe estabelecer uma definição de comunidade para saúde pública. Os autores definem a comunidade como um “grupo de pessoas com características diversas que são ligadas por laços sociais, pelo compartilhamento de perspectivas comuns, e pelo engajamento em ações conjuntas em localizações geográficas ou ambientes”.

Para a construção da definição apresentada, os autores se basearam em seus achados empíricos e na revisão de estudos desenvolvidos desde a década de 50 do século XX. O primeiro estudo de que utilizam, foi desenvolvido nos anos cinqüenta e destaca que de 94 definições de comunidade, dois terços delas incluíam os termos interação social, área geográfica e interesses comuns como elementos essenciais. O segundo estudo, já na década de 70, revisa as definições apresentadas, e incluiu 60 definições adicionais, onde se identificou uma discreta predominância para a idéia de “pessoas com interesses comuns vivendo em uma área geográfica comum”. O terceiro estudo, assumindo uma perspectiva da antropologia e tendo por base quatro estudos etnográficos clássicos desenvolvidos por dois antropólogos em diferentes estágios de sua carreira, identifica a emergência de quatro atributos básicos de descrição para comunidade: localidade, pertencimento social e biológico, instituições comuns, e ações compartilhadas[3].

Assim, das contribuições que se apresentam até aqui a comunidade é um agregado de pessoas que compartilham interesses comuns em uma posição geográfica ou ambiente definidos. Para a existência do compartilhamento, os participantes necessitam estabelecer relacionamentos baseados na presença e na possibilidade de compartilhar experiências, conhecimentos, sensações, valores, metas, objetivos e sentimentos.

Contudo, com a popularização da internet uma releitura do conceito de comunidade vem ocorrendo por meio de um novo termo: a comunidade virtual.

O conceito de comunidade virtual

Um dos primeiros proponentes do termo “comunidade virtual” foi Howard Rheingold[4], definindo-a como: “um agregado social que surge na Internet, quando um conjunto de pessoas leva adiante discussões públicas longas o suficiente, e com suficiente emoção, para estabelecer redes de relacionamentos no ciberespaço”.

Porém, nem todos concordam que possa existir de fato uma “comunidade” no espaço virtual. O primeiro argumento contrário ao conceito de comunidade virtual é construído a partir da ausência de um “lócus” ou território geográfico.  Nesta perspectiva, os grupos de discussão on-line não poderiam constituir uma comunidade virtual, pois a eles falta uma história comum, e não há um sistema de valores compartilhados comuns às comunidades[5].

O segundo argumento contrário ao conceito de comunidade virtual foi apresentado num artigo de reflexão[6] da Critical Art Ensemble, afirmando que a mera troca de informação não constitui uma comunidade, e que a tecnologia seria incapaz de mediar toda a vida.

O terceiro argumento de oposição à existência de uma comunidade no espaço virtual é destacado por Sardar[7]. Ele argumenta que comunidades são dirigidas a contextos que geram debates que aumentam em relação ao tempo, espaço, história e circunstâncias atuais, e requerem julgamento responsável que usualmente são difíceis de realizar, pois, exigem pontuações a partir de posicionamentos opostos. Portanto, tais características falam de uma maior constância e complexidade. Para ele, uma comunidade no ciberespaço tem seu contexto auto-selecionado dependendo de um interesse contingente, transitório e compartilhado por curta duração.

Talvez a questão do dilema seja de natureza conceitual. Usando as contribuições de Jones[8] aponta-se os dois usos mais comuns para o termo “comunidade virtual”.

O primeiro uso do termo comunidade virtual faz menção estrita ao lugar no ciberespaço: o que Jones8 denomina de "virtual settlement". É o ciber-local delimitado e definido que fica hospedado fisicamente em um ou mais computadores. Assim, há um locus para os grupos virtuais, fóruns, salas de bate-papo. Este local virtual serve de “morada na internet” para que agrupamentos de identidades virtuais possam estabelecer as relações por meio de trocas comunicativas. Há geralmente um tema em comum e agregador do debate. É o ponto de partida para que surja uma comunidade virtual, mas não é a verdadeira comunidade virtual.

Já o segundo uso do termo faz referência ao que seriam as verdadeiras "comunidades virtuais”, criadas pelo uso dos recursos de Comunicação Mediada por Computador (CMC). Assim, as comunidades virtuais necessitam do “virtual settlement”, mas o ultrapassam. Portanto, seriam os aspectos interacionais que garantiriam o status de comunidade virtual, dentre eles a comunicação, a relação, a colaboração, a cooperação entre os filiados. Tendo a existência do senso de comunidade como elemento a sustentar os referidos aspectos interacionais.(5, [9], [10])

O senso de comunidade virtual (SOVC da sigla em inglês) parece ter propriedades semelhantes ao sendo de comunidade observado nas do mundo presencial. Os autores identificaram que alguns participantes se sentiam como parte da comunidade virtual por participar ativamente; já outros tinham o sentimento mesmo reconhecendo estarem menos envolvidos do que os mais ativos[11]. Neles havia um senso de pertença.

Considerando tais fatores, aceitar uma oposição entre o real e o virtual, como faz Sardar8, não tem sido um posicionamento consensual. Ao contrário, alguns autores relatam a dificuldade de estabelecer limites exatos entre o real e o virtual em uma sociedade onde tempo, espaço, identidade, corporiedade sofrem influências da tecnologia ligada a informática[12], [13], [14].

De modo a auxiliar na reflexão sobre o tema, Lévy[15] advoga que a contraposição entre real e virtual é incorreta, ao considerar o real como algo que existe e virtual como algo que não existe. Para este autor mais adequado seria o critério cronológico. Neste sentido então, real é o que acontece no presente, enquanto virtual é o que carrega em si uma potencialidade de ocorrência. Isto é, a possibilidade de tornar-se real em um momento futuro.

De Masi[16], mesmo que de forma implícita, trabalha o conceito de virtual como similar ao real. Para tal, refere-se ao termo Telépolis cunhado por Echeverría17. Descreve a progressiva transformação da metrópole em Telépolis conferindo a mesma o caráter pluridimensional, esférico de de estruturas de redes de telecomunicações que se podem expandir e interconectar indefinidamente Afirma que Telépolis não é localizável, não se caracteriza pelo fato de estar, tendo a sua essência no  fluxo, na circulação, na velocidade cada vez maior, em mais bairros e na mente do maior número de pessoas. De Masi16 cria (e cita) analogias; website (praça), Internet (rede rodoviária); televendas (shopping) e o zapping (mudar continuamente o canal da televisão) como um passeio, entre outros.

Hoje temos um destacado exemplo que materializa as afirmativas sobre a aproximação entre real e virtual, o simulador Second Life (SL). Funcionando por rede através da internet, o jogo é um simulador em 3D que possui cidades virtuais, tem moeda própria, e milhões de cidadãos virtuais (avatars) interagindo nas diferentes construções dos ciber-locais. Tal é a relevância do jogo que simula e expande a vida presencial que algumas referências do mundo presencial vêm construindo referência também neste mundo virtual.  A título de exemplo, a IBM mantém unidades de treinamentos de seus no mundo virtual do SL. Além dela estão com escritórios virtuais a Toyota Motor, a Adidas AG e a Sony BMG, entre outras. Ainda mais, até mesmo disputas ideológicas e políticas começam a aparecer no jogo, o que inclui a prática de atos terroristas de destruição de armazéns virtuais assumidos pelo Exército de Libertação do Second Life (ALSL). Essa ação é desenvolvida por programadores de computador que por meio de linhas de código alteram aspectos do jogo.

Assim, considerando a literatura compulsada e os crescentes exemplos do cotidiano, enfraquecem as afirmativas contrárias a possibilidade de existência de uma dimensão humana relacional e subjetiva em ambientes virtuais. O termo “comunidade virtual” já faz parte do linguajar comum dos usuários da Internet como sinônimo de comunidade, sendo a única diferença o “locus” das relações.

Na literatura varios autores adotam o termo comunidade virtual fazendo menção a ambientes do ciberespaço onde a comunicação é mediada pelo computador de maneira similar ao senso comum5, 9, 11, 18,19,20.

De modo sintético, é possível identificar traços comuns para o conceito de comunidade virtual incluindo: espaço público onde ocorra a comunicação; agregação de pessoas; interesses comuns; estabelecimento de relacionamentos interpessoais; sentimento de pertença; desenvolvimento de discussões públicas textuais mediadas pelo computador; variedade de comunicadores que caracterizem uma interação; manutenção da comunicação por tempo suficiente para a criação de um senso de comunidade e interatividade, ou seja, a relação que as mensagens guardam com as anteriores, criando uma seqüência relacional.

Definição de comunidade virtual de enfermagem

Na percepção dos autores do presente artigo, é vital que se apresente um conceito para as comunidades virtuais de enfermagem. A defesa desse argumento considera a progressiva convergência entre as realidades presencial e virtual, e o crescimento das oportunidades de comunicação mediadas por computador.

Considerando os elementos anteriormente apresentados, propomos a seguinte definição de uma comunidade virtual de enfermagem: Uma comunidade virtual de enfermagem é um agregado de identidades virtuais na maioria autodefinidas como pertencentes ao corpo social de enfermagem, que têm o propósito individual e coletivo de interagir de modo colaborativo e/ou cooperativo com vistas ao compartilhamento e construção de conhecimentos, experiências e vivências que guardem relação com a enfermagem.

Cabe ressaltar que a definição proposta faz uso de três critérios aditivos: (a) o agregado de identidades virtuais que se entendem e autodefinem pertencentes ao corpo social de enfermagem; (b) o propósito de interagir de modo colaborativo e/ou cooperativo e; (c) a meta de compartilhar e construir conhecimentos, experiências e vivências que as identidades virtuais considerem ter relação com a enfermagem. São todos critérios necessários, mas, não suficientes quando considerados isoladamente. A seguir são delineadas algumas considerações sobre os tais critérios.

No ambiente virtual as identidades podem diferenciar-se das identidades do mundo presencial. Em algumas situações não existe correspondência entre as características de quem criou a identidade virtual (indivíduo do mundo presencial) e as características da identidade virtual criada (representação no mundo virtual). Inclusive, é de se supor que as correspondências estejam atreladas à interesses do indivíduo e exigências do contexto que leve a criação da identidade virtual. Por exemplo: é de se esperar uma maior correspondência entre as identidades presenciais (reais) e virtuais em um curso de educação a distância ou treinamento em ambiente simulado, do que em uma sala aberta de bate-papo ou em um bar no Second Life.

Justamente por esta característica de flexibilidade de identidade que foi incluído na definição de comunidade virtual de enfermagem o termo “autodefinido” para caracterizar a identidade virtual como da enfermagem. A inclusão permite que se incluam as situações de ambientes em que não há uma exigência de verificação da correspondência entre o real e o virtual.

Nas listas de discussão a correspondência pode não ser uma exigência. Tais listas são ambientes que possuem um endereço eletrônico para o qual os filiados enviam suas mensagens para serem repassadas aos demais filiados. Na internet, existem páginas que hospedam algumas listas que não exigem do filiado uma contraprova de veracidade sobre sua autodefinição de membro do corpo de social enfermagem. De fato, a comprovação pode se dar no plano das relações e das interações, onde as mensagens de texto produzidas dão conta dos elementos profissionais.

O segundo critério a caracterizar uma comunidade virtual de enfermagem é o propósito de interagir de modo colaborativo e/ou cooperativo. Para que se possa alcançar um objetivo comum os indivíduos necessitam compartilhar de um senso de colaboração e proceder em ações cooperativas. Por outro lado, é a capacidade de manter um comportamento cooperativo e uma orientação colaborativa auxilia na manutenção de uma comunidade virtual interativa4, 20, 21.

Destaca-se que a colaboração costuma envolver o senso de ajudar ou contribuir, sem obrigatoriamente pressupor a troca, ou o objetivo comum. Uma conduta colaborativa exige do colaborador um senso de auxílio ou ajuda, bem como um processo de criação compartilhada que depende da interação e se volta para a interação21. Diferentemente, a cooperação exige que se atue em conjunto e de forma coordenada no trabalho ou nas relações sociais22.

Ao envolver a pressuposição da necessidade de colaboração e/ou cooperação não se exclui a possibilidade da existência de conflitos e competição. No entanto, é essencial que a orientação colaborativa e as condutas cooperativas superem os conflitos e a competição para que a comunidade possa continuar a existir23.

 Defende-se que nas comunidades virtuais de enfermagem, os participantes estabelecem relacionamentos que envolvem dimensões afetivas características do pertencimento, como a colaboração e a amizade, e que emergem de um processo de interação que se origina de uma troca de mensagens e de materiais após um variável período de tempo, mas que não se restringe somente ao processo de comunicação ou compartilhamento de mídias, visto que envolvem dimensões subjetivas relacionais que transcendem a circulação da informação.

O terceiro e último critério da definição envolve a meta de compartilhar e construir conhecimentos, experiências e vivências que as identidades virtuais considerem ter relação com a enfermagem.

A construção de conhecimentos, de experiências e de vivências em uma comunidade virtual ocorre por orquestração da colaboração, cooperação e comunicação. Neste tocante, a terceira parte da definição de comunidade virtual de enfermagem se relaciona com as demais. Ainda mais, fornece o foco de que uma dada comunidade virtual é da enfermagem não apenas pela adesão de membros autodefinidos do corpo social de enfermagem, mas, também, pela construção dos conhecimentos, experiências e vivências guardarem relação com a enfermagem.

De modo sintético, a definição apresentada agrega a si que os critérios necessários a permitir a configuração de uma comunidade virtual como de enfermagem são: o fato de possuir filiados que se autodenominem da enfermagem, que possuam uma orientação de participação voltada para a colaboração e/ou práticas cooperativas para construção de vivências, experiências e conhecimentos principalmente focados na enfermagem.

Partindo da definição apresentada, talvez as mais destacadas comunidades virtuais de enfermagem no Brasil estejam alocadas nas chamadas listas de discussão ou grupos virtuais. Uma lista de discussão é uma ferramenta baseada na internet que utiliza a comunicação assíncrona do e-mail de seus filiados. Contudo, comunidades virtuais podem existir em ambientes de cursos a distância, fóruns, e em ferramentas de relacionamentos, como por exemplo, o Orkut; entre outros.

Cabe destacar que do mesmo modo que nem toda comunidade é uma lista de discussão, nem toda lista de discussão é uma comunidade virtual. Aplicando-se a definição aqui proposta, são determinantes o objetivo da interação social e do estabelecimento de relacionamentos de colaboração e cooperação entre os participantes para a constituição de uma comunidade em uma lista de discussão. A partir dos atributos conceituais, a maioria das listas de discussão da modalidade newsletter não tende a formar uma comunidade virtual, pois representam somente uma ferramenta para divulgação de mensagens de um ou mais filiados, não permitindo a interação virtual por meio das respostas para lista.

O número de grupos virtuais (listas de discussão) tende a crescer na medida do crescimento do número de usuários da internet. Por exemplo, por meio da pesquisa na ferramenta de busca no maior serviço de grupos virtuais (listas de discussão) do Brasil, no final de outubro de 2004, existiam 587 grupos virtuais que incluíam a palavra “enfermagem” em seu nome e/ou descrição, já em fevereiro de 2005 este número cresceu para 697 grupos, e em março de 2007 alcançou a conta de 1883. O crescimento no período de 29 meses foi de mais de 220%.

A despeito das centenas de grupos de discussão existentes, somente 45 deles tinham mais de cinqüenta membros cadastrados em 2004, passando para 110 grupos em março de 2007, um crescimento de aproximadamente 144%.

Tais indicativos apontam que a velocidade de aparecimento de novos grupos supera a de crescimento dos grupos em termos de filiados. Pode-se afirmar que há uma maior pulverização dos participantes nas listas de discussão de enfermagem, sendo este um fator a tornar mais fundamental a discussão sobre o conceito de comunidade virtual de enfermagem, proposto no artigo.

Considerações Finais

Ainda que para muitos, na esfera conceitual, a idéia de comunidade esteja atrelada a posição geográfica definida e marcada pelos contatos presenciais, as denominadas comunidades virtuais estimulam uma rediscussão do conceito. Neste processo, encontra-se engajada uma significativa parcela de profissionais das diferentes áreas do conhecimento. Para nós, esta focalização multidisciplinar na mesma questão está trazendo contribuições que minimizam o risco de uma visão parcial e pouco crítica da questão. Se por um lado, uma perspectiva tecnofóbica pode deixar de fora da sociedade comunidades sediadas na internet, por outro, uma visão otimista e meramente instrumental destas comunidades virtuais pode negligenciar importantes questões de natureza substantiva, entre elas as relações de poder, dominação e exclusão.

Diante da existência das comunidades virtuais, a enfermagem encontra uma vasta possibilidade de pesquisa e uma não menor quantidade de desafios e dilemas. Na medida em que esta recente categoria de comunidades virtuais de - enfermagem - recebe novas adesões tanto pelo crescimento das já existentes como pela criação de outras, questionamentos surgem, entre eles: Qual o papel das comunidades que podem ter alcance nacional ou internacional na difusão do conhecimento, saberes e práticas da enfermagem? Como expressar as dimensões da natureza humana no novo contexto, de modo a garantir que a interação mediada pelo computador não descarte a essência das relações humanas? Quais as contribuições potenciais das novas comunidades em desenvolver competências nos seus filiados?

Certamente tais questionamentos são apenas um ponto de partida; entretanto, na qualidade de pesquisadores, entende-se como necessário o debruçar em tais marcadores de investigação com vistas a garantir as reflexões necessárias, decorrentes de um processo que cresce na velocidade dos kilobytes.

Ainda são raras as publicações que possam aproximar a questão da virtualização na enfermagem, porém, algumas começam a surgir24, 25.

Desse modo, busca-se com o presente artigo contribuir para que a enfermagem não passe à margem do processo da virtualização, e, conseqüentemente, sofra com as conseqüências de um virtual que se modifica para em um real irrefletido e, potencialmente, não desejado.

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 Contribuição dos autores:

- Concepção e desenho: Marcos Antônio Gomes Brandão

- Pesquisa bibliográfica: Marcos Antônio Gomes Brandão.

- Análise e interpretação: Marcos Antônio Gomes Brandão, Viviane Modesto Ferraz, Mauricio Abreu Pinto Peixoto.

- Escrita do artigo: Marcos Antônio Gomes Brandão e Viviane Modesto Ferraz.

- Revisão crítica do artigo: Mauricio Abreu Pinto Peixoto.

- Aprovação final do artigo: Marcos Antônio Gomes Brandão e Viviane Modesto Ferraz.

- Obtenção de suporte financeiro: Mauricio Abreu Pinto Peixoto.

Endereço para correspondência: Marcos Antônio Gomes Brandão. DEF/EEAN: Rua Afonso Cavalcanti, 275; Cidade Nova - Rio de Janeiro / RJ – Brasil. CEP: 21211-110. E-mail: marcosagbrandao@yahoo.com.br

Apoio financeiro à pesquisa: CNPq: Edital Universal - Projeto Coordenado por Mauricio Abreu Pinto Peixoto.

Received Mar 16, 2007
Revised
Apr 3, 2007
Accept
May 16, 2007