The role of the nursing team about home care after discharge from neonatal intensive care unit: a literature review
O papel da equipe de enfermagem nas orientações à família sobre os cuidados no domicílio ao RN egresso de UTI neonatal: pesquisa bibliográfica
Rafaela Bramatti Silva*, Beatriz Rosana Gonçalves de Oliveira*, Neusa Collet**, Cláudia Silveira Viera*.
*Enfermeira, UNIOESTE, Cascavel, Paraná, Brasil; **Enfermeira, UFPB, João Pessoa, Paraíba, Brasil;
Abstract: The communication between the infants mother’s and the nursing team during the hospitalization period it has a very important role when the infants mother’s did not stay in the Neonatal Intensive Care Unit (NICU). Than this study aim to comprehend which orientation should be give by the nursing team to the infants family’s during the hospitalization period and in the discharge moment about the infants care at home, it needs use the communication approach. This study is a qualitative research that it makes a literature review. The qualitative analysis followed the texts interpretation. The orientation to the infants family’s during the hospitalization period in the NICU include contents about the newborn characteristics, importance of the daily visits to the infant, the stimulation to the mother and infant relationship, the hygiene, food, sleep and rest, schedules of the procedures and the health team assessment, immunization and helth prevention and health promotion. Therefore, it is very important that the nursing team give to the infants family’s this kind of information because they will have the opportunity to take care with assurance be their infants after discharge. The nurse team should avoid fragmented information that can be confused the family or that complicate the achievement of the infant care at home.
Key words: nursing; neonatology; family
Resumo: A não permanência das mães nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais com seus filhos faz com que a comunicação da equipe de enfermagem com as mesmas assuma papel fundamental. Esse estudo objetiva apreender quais orientações devem ser dadas pela equipe de enfermagem à família de RNs internados na UTIN durante o período de hospitalização e no preparo para a alta hospitalar acerca dos cuidados com o bebê no domicílio, salientando-se a abordagem do processo de comunicação. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa do tipo bibliográfica. A análise dos dados seguiu os princípios que regem a interpretação de textos. As orientações à família de um RN hospitalizado em UTIN abrangem conteúdos relacionados a características do RN, importância das visitas diárias ao bebê, criação de vínculo afetivo entre o binômio mãe-filho, higiene, alimentação, sono e repouso, horários dos procedimentos e avaliação da equipe, imunização e prevenção e promoção à saúde. Portanto, faz-se necessário que a equipe de enfermagem esteja alerta ao conteúdo das orientações à família a fim de instrumentalizá-la a cuidar do bebê após a alta hospitalar. Salienta-se que se deve evitar informações fragmentadas que possam confundir a família ou dificultar a realização do cuidado no domicílio.
Palavras Chave: neonatologia; família; enfermagem.
Introdução
Apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente1 garantir em seu Artigo 12 a permanência de um de seus familiares ou responsável durante todo o período de hospitalização de crianças, ainda hoje muitos hospitais, inclusive universitários, não adaptaram sua estrutura física e de recursos humanos para garantir esse direito.
Nesse sentido, observa-se que o contato da equipe de saúde com a família de RNs que internam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) é precário e as oportunidades de orientação em relação aos cuidados com o bebê após a alta hospitalar restringem-se aos momentos das visitas, quer sejam esses livres ou pré-determinados pela instituição. Tendo em vista a preocupação com famílias que vivenciam esse processo é que nos propomos a desenvolver esta pesquisa.
A pergunta que nos move é: como podemos instrumentalizar a família do RN internado em UTIN para cuidar do filho no domicílio de forma autônoma?
Durante a hospitalização e no cuidado domiciliar do RN surgem limitações, dificuldades e incertezas2. Assim, deve-se ouvir e orientar as mães buscando diminuir a ansiedade e/ou bloqueios que possam surgir, tentando estabelecer uma relação harmônica. A equipe deve estabelecer encontro, relacionamento e mostrar-se presente do início ao final do processo terapêutico.
Oportunizar a família a sanar suas dúvidas é uma das estratégias para instrumentalizá-la a cuidar do bebê após a alta hospitalar. Para a mãe cujo bebê está em uma UTIN, a atenção qualificada da equipe a deixa mais segura e tranqüila durante o período de internação e, no momento da alta, possivelmente estará confiante quanto aos cuidados domiciliares com seu filho. Essas orientações são de extrema importância, pois as mães que não tem a oportunidade de estar em período integral com seu filho durante o internamento em UTIN terão a oportunidade de receber orientações de acordo com as necessidades singulares de seu filho na busca da construção da integralidade da assistência ao RN.
Assim, esta pesquisa tem como objetivo apreender quais orientações devem ser dadas pela equipe de enfermagem à família de RNs internados na UTIN durante o período de hospitalização e no preparo para a alta hospitalar acerca dos cuidados com o bebê no domicílio, salientando-se a abordagem do processo de comunicação. Para tanto, fazemos uma breve apresentação a respeito do processo de comunicação, destacando-se a importância deste tema para um encontro entre equipe, RN e família qualificado. Após, destacamos as orientações necessárias para a família cujos bebês estão internados na UTIN e estão na eminência da alta hospitalar acerca do cuidado no domicílio apresentadas pela literatura pesquisada.
Procedimentos Metodológicos
Esse estudo trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa do tipo bibliográfica. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, pois se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Assim, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis3.
A pesquisa bibliográfica abrange todo o assunto já tornado público em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas (boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas monográficas, teses, material cartográfico, etc.) até meios de comunicação orais (rádios, gravações). Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinada temática4.
Para tanto, realizamos um levantamento bibliográfico sobre o tema nos bancos de dados informatizados Medline e Lilacs, e consulta manual em periódicos nacionais e internacionais. A busca dos artigos deu-se por meio de palavras-chave e a seleção foi pelo conteúdo dos resumos, tendo em vista o objetivo deste trabalho. Os estudos selecionados foram lidos várias vezes procurando identificar a relação com o objeto desta pesquisa.
Para a análise utilizamos os princípios que regem a interpretação de textos, isto é, a organização prévia de nossa experiência, contextualização da linguagem em sua realidade histórica e reflexão sobre o significado dos resultados procurando a relação entre o conhecimento e sua base empírica e social. Esse procedimento permitiu a construção dos núcleos de sentido a partir dos quais os resultados são apresentados.
A comunicação como instrumento facilitador da assistência de enfermagem ao recém-nascido hospitalizado
Comunicação refere-se ao intercâmbio recíproco de informações, idéias, crenças, sentimentos e atitudes entre duas pessoas ou entre um grupo de pessoas. Como tal é um processo dinâmico que exige adaptações contínuas. A comunicação é efetiva quando transmite as mensagens pretendidas de forma clara e acurada. O processo de comunicação é básico a toda prática de enfermagem e, quando efetivo, contribui para o desenvolvimento de todos os relacionamentos terapêuticos5.
Todo o comportamento é comunicação e toda comunicação afeta o comportamento. Essa reciprocidade é central para o processo de comunicação. Três características salientam a relevância da comunicação para a prática de enfermagem, a saber, a comunicação é o veículo para o estabelecimento de um relacionamento terapêutico; a comunicação é o modo como as pessoas influenciam o comportamento de outras e, assim, é crítica para o sucesso de intervenção de enfermagem; a comunicação é o próprio relacionamento porque sem ela é impossível um relacionamento terapêutico entre enfermagem e paciente6.
Tendo em vista o objeto de estudo desta pesquisa, é fundamental a compreensão do processo de comunicação efetiva. Porém, observa-se a existência de obstáculos na comunicação entre enfermagem e família em UTIN como a sobrecarga de trabalho, a falta de tempo, a falta de preparo dos profissionais, a exclusão da família no processo de cuidado7-10. A enfermagem na UTIN precisa criar estratégias a fim de minimizar o surgimento de obstáculos que impeçam a interação equipe-família e a comunicação efetiva seja estabelecida.
Os obstáculos no processo de comunicação estão relacionados a: a) o quanto você fala: quando o emissor da informação tende a falar tanto ou mais que o receptor pode ocorrer um bloqueio na comunicação; b) interrupções: quando o receptor é interrompido freqüentemente ou vice-versa, a comunicação torna-se fragmentada; c) respostas: deve-se prestar atenção se as respostas estão sendo coerentes com o que foi explanado pelo entrevistado, se essas estão expressando realmente o que foi dito; d) forças e facetas: qualquer tópico discutido em uma conversa apresenta geralmente várias facetas. Quando uma ação está sendo considerada é comum que certas forças empurrem o receptor para um sentido e outras em sentido contrário. Cabe ao condutor da conversa apresentar todas as direções para melhor orientar o receptor11.
Assim, para ser efetiva, a comunicação deve ser apropriada para a situação, de duração adequada e emitida com nitidez. Portanto, é necessário que a enfermeira compreenda e utilize as técnicas de comunicação efetiva, incluindo o ouvir. Além disso, a transmissão e a recepção de mensagens podem ser alteradas pela influência de intimidade ou distância, dependência e independência, confiança e desconfiança, segurança e insegurança ou por atenção e desatenção por parte dos participantes. O valor da comunicação efetiva é a maior compreensão entre a enfermeira, criança e sua família12.
Na assistência ao RN internado em UTIN é fundamental que a enfermeira saiba a importância da comunicação significativa a fim de empregar linguagem adequada à compreensão da família, usando expressões simples, quando necessário, porém não pobre em conteúdo. É responsabilidade da equipe preparar a família do RN por meio de orientações de forma que a mesma possa apreender e assimilar a comunicação. Dessa forma, desde o momento da admissão do RN na UTIN a família poderá minimizar a apreensão e o sofrimento decorrentes de ter um filho recebendo tratamento em uma unidade dessa natureza e, ao mesmo tempo, ser instrumentalizada para cuidar do filho no processo de hospitalização e no domicílio após a alta hospitalar.
Informações necessárias à família no processo de hospitalização
A partir do momento que um bebê necessita de um internamento em uma UTIN, a preocupação dos pais em relação às condições de vida do filho aumenta. Sendo assim, é importante que a enfermeira demonstre segurança em relação ao seu preparo em cuidar de RN para que a família tenha confiança em deixar seu filho no hospital. Essa relação de confiança deve começar a ser estabelecida no momento da admissão do RN na UTIN. Portanto, as informações devem ser transmitidas à família de forma cuidadosa.
O momento da admissão do RN na UTIN é sempre angustiante para a família que esperava uma criança saudável ao nascimento. Ao saber que precisará deixar seu filho no hospital e que não poderá permanecer com o mesmo durante esse período, a família precisa receber suporte emocional a fim de compreender essa necessidade. É um momento em que a família se sente fragilizada e nem sempre tem condições emocionais de assimilar as informações que lhe são dadas. Portanto, na admissão do RN na UTIN os profissionais de saúde devem ter a sensibilidade e buscar perceber o que a família terá condições de assimilar acerca de todas as informações/orientações necessárias.
Os familiares de crianças enfermas experimentam uma seqüência de sentimentos comuns a todos os seres humanos, a saber: primeiro há o choque inicial e a negação que se caracteriza por recusa em aceitar a situação; em seguida sentimentos de raiva e fúria; mais tarde a tentativa de adiar o inevitável; seguida de depressão na qual a raiva anterior dá lugar a sentimentos de tristeza; e, por último, aceitação da situação, em que há redução da angústia e aumento da expectativa de melhora da circunstância13. Como cada pessoa reage de forma singular às situações do cotidiano, a família do RN deve ser tratada na sua singularidade a fim de compreender a necessidade de hospitalização do filho e o tratamento a ser instituído.
Quando a criança está doente, precisa ser admitida em uma UTIN e a instituição não está preparada para a permanência dos pais em período integral da hospitalização, a separação física do bebê parece ser acompanhada da alienação emocional por parte da mãe, o que pode interferir na sua capacidade em prover cuidados ao filho. Assim, a visita à criança é essencial e a família precisa ser informada sobre o horário de visitas e compreender a relevância da sua presença junto à criança. Deve-se enfatizar a importância de cada visita para o desenvolvimento do RN e para o estabelecimento de vínculo de afetividade, segurança e experiência sobre os cuidados com o seu bebê14. Ao final de cada visita a enfermeira deve estar disponível para sanar todas as dúvidas da família, o que a deixará mais segura, pois, sabendo que a equipe é atenciosa e se importa com a criança, a ansiedade inicial poderá ir se dissipando e amenizando o sofrimento da separação do filho.
Outro aspecto fundamental é orientar o processo de lavagem das mãos antes e após as visitas e fornecer à família o número do telefone de contato caso os pais queiram saber como está o seu filho enquanto estão em casa. Dessa forma, a família poderá se sentir mais segura quanto à assistência ao seu bebê14.
Durante a primeira visita, a família precisa ser tranqüilizada, pois o ambiente de UTIN pode parecer assustador, causando ansiedade e, como conseqüência, pode prejudicar a interação mãe-bebê. As explicações a respeito da unidade devem ser simples, dando a oportunidade para a formulação de perguntas a respeito do ambiente, esclarecendo todas as dúvidas. O preparo dos pais para ver o bebê pela primeira vez é de responsabilidade da enfermeira, sendo assim, antes de entrar na unidade, os pais devem ser preparados quanto à aparência geral da criança, saber os equipamentos que ela está usando e para que serve cada um deles14.
A presença de um membro da equipe para transmitir as informações necessárias sobre os cuidados que o RN estará recebendo, inicia a aproximação dos pais com o bebê, com a equipe e com o espaço que a família fará parte por um determinado período. Ao receber suporte, a família vai lentamente se adaptando à rotina do ambiente, podendo cuidar do seu filho, colaborando e ficando cada vez mais familiarizada com o seu bebê15.
Considerando a apreensão dos pais, a enfermeira deve ser verdadeira, porém não excessivamente aberta, a respeito dos aspectos mais negativos da condição do RN. A dificuldade dessa tarefa não está somente na formulação verbal do diagnóstico e prognóstico, mas, também, na carga afetiva e de intenso sofrimento e desespero que é depositado sobre a equipe pelos familiares12. A mesma autora afirma ser crescente a evidência que indica que a separação emocional que acompanha a separação física da mãe e do neonato interfere no processo normal de vínculo mãe-filho.
As orientações na admissão devem constar de: características do lactente, aleitamento materno, cuidados de higiene, incluindo o do coto umbilical, imunização, prevenção de diarréia, procedimentos frente a problemas comuns (regurgitação, cólicas, etc.). A família deve ser orientada e estimulada quanto à relação afetiva com o bebê, uma vez que para haver o cuidado deve existir a criação de vínculo entre o binômio mãe-filho. Para proporcionar uma assistência singular ao RN e família, a equipe deve se preocupar, além dos aspectos físicos do RN, também com as necessidades emocionais do bebê e da família. Assim, a enfermagem deve incluir nos planos de cuidados, atividades que facilitem o desenvolvimento do bebê e a interação da família com o mesmo16.
Como em qualquer outra unidade do hospital, nas UTINs existem rotinas de organização do processo de trabalho. Porém, as regras devem ser flexíveis e não limitadoras quando se trata de uma criança e seus pais. Cada família precisa ser considerada na sua singularidade e dinâmica a fim de favorecer seu envolvimento no processo terapêutico da criança.
As mães devem ser orientadas em relação à nutrição do bebê e a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento da criança e a recuperação da sua saúde. Os familiares devem ser continuamente esclarecidos quanto aos procedimentos e horário de realização do banho, troca de fraldas, curativos, medicação, coleta de exames, avaliação da equipe, entre outras14.
Além disso, de acordo com a singularidade de cada família, orientar em relação aos cuidados de sono e repouso, carinho e conforto à criança a fim de favorecer a aproximação da mãe com o seu filho o que é essencial para que a mãe conheça as particularidades do seu bebê.
Para a maioria dos pais cujos filhos estão internados em uma UTIN, saber sobre o estado de saúde do filho é de extrema importância. Embora, o pediatra informe aos pais a condição clínica, a enfermeira costuma fornecer relatos diários e, assim, pode ser a pessoa a quem os pais realizarão suas perguntas. Quanto mais plena a compreensão dos pais sobre o estado de saúde de seus filhos, mais qualificados eles estarão para solucionar a crise e alcançar o objetivo final da assistência adequada em casa17.
É de suma importância que os pais sintam-se como parte integrante no tratamento dos filhos e que sejam valorizados no que dizem sobre suas crianças, recebendo esclarecimentos objetivos sobre o que está sendo realizado para minimizar o sofrimento de seu filho18.
Contudo, Gaíva e Schocci identificaram que a participação da mãe na assistência se dá basicamente na execução dos cuidados de maternagem, que a família do RN é pouco acolhida e não existe relação de parceria entre equipe e família. As autoras concluem que não há intervenções ampliadas da equipe em tornar a família sujeito autônomo para promover a saúde e qualidade de vida do bebê19.
Assim, no processo de hospitalização de um RN em uma UTIN a enfermagem deve envidar esforços para estabelecer uma comunicação efetiva com a família a fim de que a mesma se sinta empoderada e instrumentalizada para participar da assistência ao filho de forma autônoma. Essas ações podem contribuir para minimizar os traumas decorrentes do processo terapêutico e de afastamento temporário, mas às vezes prolongado.
Informações necessárias à família na eminência de alta do RN da UTIN
Como afirmado anteriormente, o preparo para a alta hospitalar de um RN da UTIN deve ser iniciado na admissão na unidade, pois não é no momento da alta que os pais irão apreender todos os aspectos necessários para o cuidado domiciliar do RN. Por isso, a necessidade das orientações aos pais serem diárias e contínuas, para que estes se tornem cada vez mais seguros e aptos com as tarefas que irão desempenhar no domicílio. Deve-se estimular a participação gradativa dos pais na higiene, banho, troca e alimentação da criança até a assistência integral.
Um dos aspectos que mais devem preocupar a equipe de enfermagem de uma UTIN é a formação de vínculo afetivo entre pais e bebê hospitalizado, uma vez que dessa relação bem estabelecida dependerá a qualidade do cuidado no domicílio. Nesse sentido, estimular os pais a presentear a criança com brinquedos laváveis, touca, meia, cartão com o nome, adornos como um pequeno laço para as meninas, entre outros, pode parecer supérfluo a primeira impressão, ante a sofisticação da tecnologia em uma UTIN. Contudo, não o é, pois se percebe de imediato a mudança de atitude nos pais, que passam a participar mais ativamente nos cuidados com a criança14.
Os pais devem ser orientados sobre os principais cuidados e sobre os problemas mais comuns que poderão enfrentar com o RN. Assim, a partir do momento em que se sabe que o RN receberá alta da UTIN a equipe precisa verificar se a família sente-se segura em dar continuidade no cuidado do filho em casa. Para tanto, na eminência da alta hospitalar do RN a equipe deverá reforçar as orientações em relação aos cuidados no domicílio abrangendo os seguintes aspectos20:
- Orientar sobre os cuidados básicos com o bebê;
- Orientar sobre o ambiente ideal para o RN: garantir boas condições sanitárias, pouca umidade, bem arejado e com entrada de sol na maior parte dos cômodos. O berço deve ser revestido de materiais laváveis e as grades não devem ser muito espaçadas uma das outras, diminuindo o risco de acidentes. Evitar ruídos intensos e não colocar luzes muito fortes diretamente sobre os olhos do RN;
- Além dos cuidados com o ambiente físico, devem ser evitados ruídos muito intensos, que possam prejudicar o descanso causando agitação e estresse no RN. Não se deve colocar luzes muito fortes diretamente sobre os olhos do recém-nascido;
- Esclarecer possíveis dúvidas sobre os problemas mais freqüentes do RN que poderão surgir durante o cuidado domiciliar;
- Fornecer uma maior segurança à mãe e/ou cuidador;
- Orientar a lavagem adequada das mãos antes e após os cuidados básicos;
- Explicar os cuidados com o banho: higiene corporal, oral, ocular, nasal, auricular, do coto umbilical (quando for o caso), cuidados com dermatites;
- Salientar a importância da higiene ocular, oral, nasal, auricular, com o coto umbilical e troca de fraldas;
- Demonstrar os cuidados quanto dosagem correta, freqüência e via de administração nos casos que será necessária administração de medicamentos em casa;
- Realizar o encaminhamento, quando necessário, para exames;
- Explicar sobre a importância da puericultura e a realização da mesma na unidade básica do seu domicílio;
- Salientar a importância da amamentação21 como forma exclusiva de alimentação até os seis meses de idade (quando não houver necessidade de complemento).
Como visto as orientações a serem repassadas são de extrema importância e em grande quantidade. Para a mãe e familiares de um RN que estará saindo da UTIN é praticamente impossível conseguir assimilar todas essas orientações de uma só vez. Por isso, a necessidade da educação continuada no cotidiano da assistência durante todo o período de hospitalização.
Considerações finais
Quando um bebê é internado em uma UTIN, os pais, mesmo sem saber o porquê e as condições reais de saúde de seu filho, ficam apreensivos, especialmente em hospitais onde não é possível a permanência dos pais em período integral durante a hospitalização. Portanto, a equipe deve estar preparada e sensibilizada para realizar contato primário e contínuo com a família a fim de minimizar o sofrimento.
A revisão da literatura apontou uma carga imensa de orientações para a família durante o período de internamento e preparo para a alta hospitalar. Contudo, devemos estar atentos para que a rotina do trabalho não distancie a equipe do contato com a família.
Em pesquisa com mães de RNs internados em UTIN Silva alerta que as orientações às mães geralmente eram passadas de forma fragmentada, dando-se prioridade a algumas deixando-se de lado as outras. Salienta, ainda, que a comunicação não está sendo estabelecida entre a equipe e a família dos RNs internados na UTIN, nem durante a internação nem durante o preparo para a alta hospitalar22.
O conjunto de informações necessárias à família é amplo e com uma diversidade de aspectos variável em função da história de cada criança internada, de sua evolução clínica, dos equipamentos tecnológicos que irá necessitar o que demanda da enfermagem profundidade de conhecimento e disposição para a repetição constante de informações a cada família.
Para a família, a rotina em uma UTIN é sempre novidade. Perceber isso e transformar essa percepção em prática integrante do processo terapêutico é fundamental para a qualidade da assistência de enfermagem. Pais que participam da assistência à criança sentem-se mais seguros, há diminuição do estresse e ansiedade, isso permite que eles transmitam um suporte emocional para o RN e contribuam com a equipe para uma assistência de qualidade e integral e até tornem-se aliados da equipe.
A família pode e deve participar da execução dos cuidados ao RN se assim desejar. É importante que a equipe de enfermagem instrumentalize a família para que a mesma tenha autonomia nos cuidados com o bebê. Vale salientar que, embora o RN esteja em uma UTIN recebendo cuidados especiais, nenhuma tecnologia pode prescindir do vinculo família/bebê. Portanto, a equipe precisa estar sensibilizada para criar estratégias e empregar instrumentos que dêem conta das necessidades que vão se apresentando no seu processo trabalho.
Referências
1 Lei n. 8069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16 jul. 1990. p. 13563.
2 Oliveira ME, Brüggmann OM. Cuidado humanizado: possibilidades e desafios para a prática de enfermagem. Florianópolis (SC): Cidade Futura; 2003.
3 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo (SP): Hucitec; 1999.
4 Lakatos EM. Fundamentos de metodologia científica. 3ª ed. São Paulo (SP): Loyola; 1991.
5 Taylor CM. Fundamentos de enfermagem em psiquiatria. 13ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1992.
6 Stuart GW, Laraia MT. Enfermagem psiquiátrica: princípios e práticas. 6ª ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2001.
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10 Söderström IM, Benzein E, Saveman BI. Nurses experiences of interactions with family members in intensive care units. Scand J Caring Sci 2003 jun; 17(2):185-92.
11 Benjamin A. A entrevista de ajuda. 6ª. ed. Rio de Janeiro (RJ): Martins Fontes; 1991.
12 Wong DL. Enfermagem em pediatria: elementos essenciais à intervenção efetiva. Tradução: Claudia Lucia Caetano de Araújo. 5ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 1999.
13 Piva JP, Carvalho PRA. Terapia intensiva em pediatria. 4ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Medsi;1997.
14 Naganuma M, Kakehashi TY, Barbosa VL, Fogliano RRF, Ikezawa MK, Reichert MCF. Procedimentos técnicos de enfermagem em UTI neonatal. São Paulo (SP): Atheneu, 1995.
15 Ministério da Saúde (BR). Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: método mãe canguru. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2002.
16 Schmitz EM, organizadora. A enfermagem em pediatria e puericultura. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Atheneu;1999.
17 Kenner C. Enfermagem neonatal. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Reichamnn e Affonso; 2001.
18 Einloft L, Zen J, Fuhrmester M, Dias VLM. Manual de enfermagem em UTI pediátrica. Rio de Janeiro (RJ): Medsi; 1996.
19 Gaíva MAM, Scochi CGS. A participação da família no cuidado ao prematuro em UTI neonatal. Rev Bras Enferm 2005 jul; 58(4):444-8.
20 Matoloun MMGB, Borrel JG. Alta hospitalar do recém-nascido. In.: Leone CR, Tronchin DMR. Assistência integrada ao RN. São Paulo (SP): Atheneu; 1996.
21 Mascarenhas D, Cruz ICF. Lactation Counseling in the Intensive Care Unity: an exploratory study. Online braz j nursing [online]. 2006; 5(2). Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=530&layout=html (21 set 2006).
22 Silva RB. A comunicação da equipe de enfermagem com os familiares de RN internados na UTI neonatal sobre os cuidados com o bebê. [monografia]. Cascavel (PR): Universidade Estadual do Oeste do Paraná; 2005.
Received Oct 3rd , 2006
Revised Nov 29th , 2006
Accept Dec 3rd, 2006