Pain in children with burns – epidemiology study
Dor em crianças vítimas de queimaduras- estudo epidemiológico
Dolor en Niños Víctimas de Quemaduras- estudio epidemiológico
Ana Kelve de Castro Damasceno1, Paulo César de Almeida2, Maria Grasiela Teixeira Barroso3.
1,2,3 Universidade Federal do Ceará, CE, Brasil.
Abstract. Our objective is to identify the epidemiological profile of children that are victims of burn in the pain process and evaluate the pain in burnt children using a Analogic Visual Scale – EVA (scale of faces). It is a study with an epidemiological and descriptive nature that was developed at the Centre of Treatment of Burnt People at Dr. José Frota Institute in the period between August, 2003 and September, 2004. Our sample is composed of 100 children. We use a form in which we have the Visual Scale – EVA (scale of faces). During the evaluation with EV, we observe by comparing the evaluation made by the child and the one made by the carer that, in most levels of pain, the evaluation made by the child had a greater value than the one made by the carer. However, in levels 0 (no pain), 3, 4 and 5 (the worst level) it was 50% for each evaluator, what demonstrates the adult had a good evaluation of the pain of the child in hospital. It shows they know well their children. May the pain evaluation become part of the daily routine of Nursing care, affirming itself as the fifth vital signal.
Key-words: Pain of the Measurement; Burns; Nursing Pediatric
Resumo. Objetivamos identificar o perfil epidemiológico das crianças vítimas de queimaduras no processo da dor e avaliar a dor da criança queimada utilizando uma Escala Visual Analógica – EVA (escala de faces). É de natureza epidemiológica descritiva, desenvolvido em um Centro de Tratamento de Queimados no Ceará no período de agosto de 2003 a setembro de 2004. A amostra foi de 100 crianças. Durante avaliação com a EVA contida no formulário, fizemos uma comparação entre uma avaliação feita pela criança e a outra feita pela acompanhante, e observamos que, na maioria dos níveis de dor, a avaliação feita pela criança teve um valor bem maior do que acompanhante, mas nos níveis 0 (sem dor), 3, 4 e 5 (no nível de pior) ficou 50% para cada avaliador. Este estudo demonstra que o adulto teve uma boa avaliação da dor da criança internada e da necessidade de ser considerada como o quinto sinal vital.
Palavras – chaves: Medição da Dor; Queimaduras; Enfermagem Pediátrica.
Resumen. El objetivo fue evaluar el dolor del niño quemado utilizando una Escala Visual Analógica – EVA (escala de caras) y comparar la auto-evaluación del dolor del niño con la evaluación hecha por su acompañante. Es de naturaleza epidemiológica descriptiva, desarrollado en un Centro de Tratamiento de Quemados en Ceará entre agosto de 2003 y septiembre de 2004. La muestra fue de 100 niños. Durante la evaluación con la EVA contenida en el formulario, hicimos una comparación entre la evaluación hecha por el niño y la hecha por la acompañante, y observamos que, en la mayoría de los niveles de dolor, la evaluación hecha por el niño tuvo un valor bastante mayor de la hecha por la acompañante, pero en los niveles 0 (sin dolor), 3, 4 y 5 (en el nivel de peor) quedo en 50% para cada evaluador. Este estudio demuestra que el adulto tuvo una buena evaluación del dolor del niño internado y la necesidad de ser considerado como el quinto signo vital.
Palabras – clave: Medición del Dolor; Quemaduras; Enfermería Pediátrica
1. INTRODUÇÃO
As queimaduras são traumas térmicos que ocasionam lesões teciduais acompanhadas de dor, o que é algo pügente nesse tipo de acidente deixando, na maioria das vezes, seqüelas irreversíveis às vítimas de queimaduras. As crianças são as maiores vítimas deste trauma, devido o desejo natural de exploração do ambiente doméstico, deixando-as susceptíveis a ocorrência de acidentes. Fato demonstrado a partir de estudo realizado cobrindo um período de 20 anos com pessoas que sofreram um trauma térmico em diferentes idades1
A dor está presente nas queimaduras em suas diversas fases, começando desde o momento da lesão térmica até o processo de regeneração dos tecidos, em que o latejamento e o prurido são intensos, passando pelo tratamento que consiste em procedimentos muitas vezes sofrível, como curativos, sondagens, debridamentos e cirurgias reconstrutoras. Além da dor física, não podemos esquecer a dor psicológica, que abala o emocional das vítimas, levando, muitas vezes, a quadros depressivos, o que dificulta o próprio tratamento.
Nos Estados Unidos da América - em cerca de 17% de todos os Centros de Tratamento de Queimaduras - não era empregada analgesia rotineira em crianças que precisavam de debridamentos das feridas, por acreditarem que as crianças sentem menos dor que os adultos, não havia uma memória para a dor e estariam mais propensas a depressão respiratória e circulatória, sedação e dependência2.
Devido à dor ser um fenômeno que só pode ser compreendido por quem sente, não podendo ser vivenciado por outro, ocorre a desvalorização da dor principalmente nas crianças3.
Nos neonatos e crianças, o fenômeno doloroso é quantificado conforme a interpretação das adaptações comportamentais e psíquicas reveladas durante o processo de maturação da dor2. Os neonatos são sensíveis à dor, ao contrário do que se pensava, de que esses não sentiam dores, muito mais do que os lactentes na faixa de 2 a 12 meses. Aos 18 meses, há uma diminuição do limiar da sensibilidade. Aos três meses, os lactentes apresentam pouca freqüência do “sorriso endógeno”, na duração e freqüência do “choro espontâneo” e a memória melhora reconhecimento de eventos passados4.
Dos 2 aos 7 anos, a criança já começa ter consciência do seu próprio corpo e da necessidade de cuidados. Aos 3 anos, já nomeia parte do corpo como nariz, boca e olhos. Aos 4 anos, consegue localizar a dor razoavelmente. Com 5 anos, já diferencia a intensidade da dor usando vários termos e começa a utilizar conceitos abstratos para percepção dolorosa (sensorial, emocional). Aos 7 anos, com certa moderação, mas não tem capacidade de distinguir a dor interna da dor externa. Já de 7 a 11 anos, ela já tem capacidade de realizar a auto-avaliação e mensuração do processo de dor. Então a criança passa a usar termos tanto quantitativos como qualitativo como (doendo, pequena, grande) e utilizando algumas vezes analogias exageradas em pequenos traumas, exercitando o lado afetivo4.
A criança hospitalizada poderá negar a dor por temer a realização dos procedimentos de enfermagem. Culturalmente muitas vezes as mães amedrontam os seus filhos com expressões “faça isso senão eu levo para tomar injeção”, fazendo que o pavor seja até pior do que a dor que os acomete. Devemos preparar as crianças para que aceitem os procedimentos como vacinas, injeções, curativos e outros, não como algo que servirá de castigo ou será doloroso, mas que trará um benefício para a sua saúde.
O sentimento de medo deve compreender mais do que a habilidade de discriminar entre um estranho e um dos pais, pois, aos três meses, o bebê já tem a capacidade de diferenciar, mas não reage com comportamento de medo, sendo aproximação de um indivíduo não familiar e a separação temporária do cuidador eventos traumatizantes na vida da criança5.
Percebe-se o quanto é gigantesco a dimensão em torno da compreensão da dor. O ser humano deverá ser muito bem preparado, para entender um pouco desse mecanismo, que não é único, não segue um só fluxo e recebe intervenções múltiplas, para então formar o fenômeno doloroso. A preparação profissional de saúde deverá ter o componente técnico excelente, mas o material humano deve estar bem presente, senão você acaba tendo uma só conduta para a dor que acontece em diferentes organismos.
A insegurança é talvez, decorrente da ausência do conhecimento necessário para se utilizar de maneira adequada as drogas à disposição. E, ainda assim, o elenco de drogas é restrito e não acompanha a tecnologia, devido aos custos para o sistema público de saúde. Nas prescrições médicas devido aos problemas com gastos e barateamento do serviço, os analgésicos dos mais simples aos mais potentes não são de horário, e sim, se necessários. E também ressaltamos os limites na formação profissional, bem como a visão cultural que cada indivíduo tem da dor.
No atendimento inicial dos grandes queimados, devem ser administrados opióides intravenosos para o controle da dor, sendo a morfina a droga de eleição. E, como técnica suplementar, os procedimentos psicológicos como relaxamento, psicoterapia, devem ser utilizado devido ao intenso comprometimento emocional ocasionado pelos traumas6.
Conforme Drummond (2000), a administração intermitente deve ser sempre horária e jamais por demanda e pode ser associada a analgésico periférico6. O autor relata que as reações psicológicas à dor relacionam-se não somente ao lado curativo, mas também às expressões verbais e não-verbais, entremeadas à experiência dolorosa.
A dor já é considerada como o 50 sinal vital pela a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e Sociedade Americana da Dor, devendo ser avaliada no mesmo instante em que se verificam outros sinais. Isto também foi reconhecido pela Sociedade Americana de Medicina de Urgência, em uma reunião anual de 2001, reforçando e estabelecendo a importância de se registrar e mensurar a percepção da dor, tanto aguda como crônica7.
A mensuração é de extrema importância no ambiente clínico, pois é impossível manipular o fenômeno doloroso sem ter uma medida para se basear no tratamento ou conduta terapêutica7.
Embora avaliar e mensurar a dor não sejam tarefas simples, esses procedimentos devem fazer parte da rotina de cuidados dos enfermeiros, principalmente no ambiente hospitalar, onde todos os registros devem conter anotações no prontuário da criança, para que medidas sejam implementadas no sentido de aliviá-la8.
Para que o enfermeiro possa avaliar e quantificar a dor na criança é necessário a compreensão dos estágios de desenvolvimento e comportamentos próprio da infância, diferenciados nas variações de faixas etárias9.
O fenômeno doloroso vivenciado pela criança hospitalizada, principalmente nas vítimas de queimaduras, é traumatizante, trazendo sofrimento não só para a criança, mas para todos os familiares que com ela convivem. Sem falar nos profissionais, que devem estar psicologicamente preparados para lidar todos os dias com situações geradoras de estresse.
Então o enfermeiro para avaliar a dor na criança deverá levar em consideração também, três métodos: a avaliação clínica, o relato da criança ou dos pais e a utilização de instrumentos (escalas) para medi-la3.
As escalas para as crianças que parecem ter melhor resultado são as que possuem desenhos ou representações de face no que se refere à avaliação da intensidade da dor, funcionando de maneira rápida, simples, necessitando de poucas instruções por parte das crianças8.
Há três formas de se investigar quanta dor uma criança está sentido: o que a criança diz, o que criança faz e como o corpo da criança reage. Na faixa etária entre 2 e 3 anos, quase nunca sabem avaliar quando estão sentindo, principalmente pela tendência em negar a dor nessa idade, devido ao medo de injeções e internamento hospitalar. Acima de 4 anos, elas já sabem relatar o quanto de dor sentem, já podendo ser utilizados vários métodos de avaliação. Na idade de 5 anos , as escalas de face são os melhores recursos. Entre 6 e 7 anos, já podem ser utilizadas as escalas com palavras, numéricas, bem como a utilização de questionários8.
O enfermeiro, como agente cuidador não pode permitir que a dor seja encarada como algo esperado em traumas e agir como meros expectadores. A intervenção precoce ao relato de dor é imprescindível. A abordagem terapêutica deve ser baseada na utilização da tecnologia farmacológica, juntamente com os tratamentos não-farmacológicos, pois na utilização de uma técnica isoladamente, haverá uma acomodação para a não compreensão do fenômeno doloroso, transferindo o controle da dor para tratamento terapêutico medicamentoso, somente.
Temos como objetivos, avaliar a dor da criança queimada utilizando uma Escala Visual – EV (escala de faces) e Comparar a auto-avaliação da dor pela criança com avaliação feita pelo seu acompanhante.
2.MÉTODO
Ë estudo epidemiológico de natureza descritiva, realizado em um Hospital de Emergência tido como referência no atendimento ao paciente politraumatizado no Estado do Ceará, no período de março a outubro de 2004. A instituição conta com um Centro de Tratamento de Queimados, que serve de modelo e referência para atendimento a pacientes queimados oriundos das regiões Norte e Nordeste.
Foram obedecidas normas éticas na pesquisa, com base na resolução no 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os respondentes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Hospital em questão sob o parecer N0 05331/03. Vale salientar que os acompanhantes das crianças durante a internação hospitalar foram os nossos principais informantes chaves e a crianças de 3 a 10 anos, participaram na auto-avaliação do processo de dor.
A população foi de crianças de 0 a 10 anos que sofreram acidentes com queimaduras, tendo o seu primeiro atendimento no ambulatório da instituição e depois internadas no Centro de Tratamento de Queimados no Instituto Dr. José Frota.
Para o cálculo do tamanho da amostra, elegemos a variável dor em queimaduras em crianças, devido ser considerada a variável mais importante neste estudo. Sendo a prevalência estimada de 91% desse tipo de agravo em populações nesta faixa etária. Então, a partir deste cálculo, o tamanho da amostra foi de 100 crianças.
No primeiro semestre de 2004, procedeu-se a aplicação do formulário composto por três partes: primeira parte, relacionada aos dados de identificação, segunda parte relacionada aos dados dos acidentes com queimaduras e terceira parte, do instrumento relacionado ao processo de dor nas queimaduras, constando também de uma avaliação da dor com Escala Visual Analógica – EVA (Escala de Faces), que são tipos de escala unidimensionais, facilmente completadas e que têm reproduzido dados confiáveis nas pesquisas de dor, embora tenham como objetivo somente a avaliação da intensidade. Este tipo de escala tem uma utilização clínica, principalmente em emergência ou pronto-socorro. A EVA tem a vantagem de reduzir a influência das respostas prévias, o chamado efeito de antecipação, sendo considerada igual ou melhor que estas escalas de categorias numéricas ou verbais7.
Primeiramente realizamos a aplicação da EVA em crianças de 3 a 10 anos e depois aplicamos a escala nos acompanhantes de crianças menores de 3 anos para vermos a possibilidade de uma melhor interpretação do fenômeno doloroso durante o período de internamento hospitalar na presença da criança, já que estas ainda não possuem capacidade de avaliar a sua própria dor. E depois fizemos uma comparação com os valores correspondente no verso das faces da escala, que variam de sem dor (0), 1, 2, 3, 4 e 5 (pior dor), dependendo da escolha do entrevistado, conforme escala em anexo e fizemos uma média geral da avaliação feita pela criança e comparamos com a realizada pelo acompanhante.
Com relação à utilização de instrumentos na faixa etária de 3 a 10 anos para mensurar a intensidade da dor, o recomendado é a utilização de escala analógica visual com a combinação de figuras com valores correspondentes10.
Quanto à avaliação da dor das crianças queimadas no momento da entrevista, 33% da amostra foram excluídas neste item da avaliação, devido à criança está sob efeito da anestesia, não podendo se autoavaliar ou ser avaliada pelo acompanhante.
Para consolidação dos dados, utilizamos a computação eletrônica, com o programa Statistical Package of Social Service - SPSS.
3. RESULTADOS E COMENTÁRIOS
Discutiremos primeiramente sobre os dados sociodemográficos das vítimas de queimaduras de nossa amostra, para termos uma melhor contextualização das crianças acometidas por injúrias térmicas. Quanto às faixas etárias mais acometida em nosso estudo foram a de 1 a 24 meses com 39%, seguida de crianças de 25 a 36 meses com 23%, fato já observado em outros estudos, como o realizado na Venezuela, onde a faixa etária com maior número de ocorrências é de menores de 5 anos, sendo essa a primeira causa de morte na faixa de 5 a 9 anos de idade neste país11.
Quanto ao sexo predominante em nosso estudo, foi o masculino com 56%, contra 44% para o sexo feminino, resultado que coincide com o estudo descritivo de queimaduras em crianças e adolescentes realizado no Hospital João XXIII da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais13. Ali, 59% de sua amostra eram de pacientes do sexo masculino e 41% do sexo feminino na faixa etária de 0 - 19 anos, provenientes de Belo Horizonte (70,0%), da região metropolitana (24,0%) e somente (6,0%) do restante do estado e de outros estados. Em estudo realizado em Ribeirão Preto (São Paulo), também relataram ser mais comuns as queimaduras em crianças do sexo masculino do que entre as do sexo feminino12.
Quanto à procedência das crianças internadas, 55% foram provenientes da capital, sendo 45 % do interior do Estado do Ceará. Este dado relacionado à procedência de zonas de uma região não é fator determinante no acontecimento de acidentes, mas sim o ambiente que circunda as crianças, como o domicílio e região peridomiciliar, mostrando a importância de atuarmos tanto nas capitais como no interior dos estados13. Devemos também levar em consideração que, devido à distância, os acidentes de pequeno porte são tratados em seus locais de residência, na maioria das vezes, sendo transferidos apenas os mais graves, diferentemente da capital em que o acesso torna mais fácil a ida ao ambulatório de queimados. Mas este fato nos faz reportar o quanto de despreparo há para se prevenir estes acidentes, a falta de informação é bem maior por parte das pessoas.
A faixa etária de maior predominância é de 1 a 24 meses, com 39%, em segundo lugar, de 25 a 48 meses, com 23%, e, em terceiro, as de 49 a 72 meses, com 21%. Esta faixa de idade até 2 anos coincide com a fase em que a criança está descobrindo o ambiente ao seu redor, se tornando muitas vezes vítimas de diversos riscos para a ocorrência de acidentes nos lares. A faixa etária de 0 a 5 anos é a que possui a maior incidência, com o pico no primeiro e segundo anos de vida. Isto se justifica porque nesta idade a criança começa a dar os primeiros passos, tornando-se uma vítima fácil14.
Com relação ao tipo de queimadura, cerca de 76% das crianças tiveram queimaduras de 20 grau, 12% de 30 grau, 3% com queimaduras de 10 e 20 grau e 9% com queimaduras de 20 e 30 grau, denotando como a dor está presente nas injúrias térmicas, pois as queimaduras de 10 e 20 grau acometem as camadas mais externas, que são responsáveis pela sensação dolorosa da pele.
Inicialmente observamos se a criança estava sentido ou não dor no momento da entrevista, fato que podemos observar no gráfico 1, com a distribuição do percentual das crianças vítimas de queimaduras, segundo a dor no momento do acidente e dor no momento da entrevista. Observamos que há quase unanimidade de dor no momento do acidente, com 91%. Isto se associa com o tipo de queimadura mais comum, a de 2º grau, apresentando uma maior sensibilidade dolorosa. Cerca de 9% referiram não ter dor no momento do acidente, fato relacionado com as queimaduras de 3º grau, geralmente comprometendo tecido nervoso profundo, prejudicando a transmissão do impulso doloroso.
Quanto à dor no momento da entrevista, 23% das crianças estavam com dor no primeiro contato para coleta de dados, 44% estavam sem dor naquele momento e cerca de 33% estavam sob efeito de anestésicos, porque havia pouco tempo tinham vindo do centro cirúrgico ou da sala de balneoterapia, local destinado aos procedimentos de banho, curativos comuns e anestésicos, debridamentos e outros procedimentos. A importância da visita pré-operatória possibilitando oferecer um suporte emocional e farmacológico aos doentes. Todos os profissionais que envolvem este ato deveriam contribuir para minimizar e modificar os aspectos cognitivos2.
Distribuição do percentual das crianças vítimas de queimaduras, segundo a dor no momento do acidente e dor no momento da entrevista. mar./out. de 2004, Fortaleza-Ceará.
Distribuição do número de crianças vítimas de queimaduras com ou sem dor controlada durante o internamento, segundo o tipo de queimadura. mar./out. de 2004, Fortaleza-Ceará.
No Gráfico 2, foi retratada a distribuição do número de crianças vítimas de queimaduras com ou sem dor controlada, segundo o tipo de queimadura, durante o processo de internamento. Este item se refere ao estado da criança durante o internamento com relação à dor, se estava ou não sob controle. Podemos observar que nas crianças com dor controlada 55 de um total de 72 crianças tiveram queimadura de 2º grau-, são as mais comuns tanto na criança com dor como sem dor controlada. Em relação às crianças sem dor controlada das 28 crianças, 24 tiveram queimadura de 2 º grau e somente 4 crianças queimadura de 3º grau. Embora devemos enfatizar que algumas crianças que apesar de ter o seu diagnóstico predominantemente de queimaduras de 30 grau, que geralmente não apresentam dor, relataram dor devido pequenas áreas periféricas de 10 e 20 grau. Outro fato é que 21 crianças
Podemos observar pelo Gráfico 3, a comparação entre avaliação feita pela própria criança na idade de 36 a 131 meses, com a avaliação feita pelo acompanhante, como já sabemos nos dados anteriores que cerca de 75% são mães, ficando em 1º lugar, o pai com 14% em 2º lugar, e, em 3º lugar as avós, entes próximos à criança e que poderão contribuir nesta avaliação -, inferimos que, o fenômeno doloroso será mais bem interpretado, por meio de uma mensuração da intensidade que irá guiar uma conduta terapêutica mais adequada. E que a falta de uma avaliação ou mensuração não deve ser um entrave para um melhor controle da dor na criança, principalmente nas menores de 3 anos, pois o nosso objetivo é observar e comparar estas avaliações com o intuito de observar a variação entre estas, de forma que o acompanhante possa ser utilizado na avaliação da dor em crianças de 0 a 3 anos. Devemos levar em consideração que o acompanhante será a pessoa que mais auxiliará a criança em sua recuperação, pois o aporte emocional é muito importante na recuperação da criança queimada.
Distribuição do percentual comparativo entre a autoavaliação da dor das crianças vítimas de queimaduras com avaliação feita pelo(a) acompanhante segundo a escala visual. mar./out. de 2004, Fortaleza-Ceará.
obs.: 0, 1 , 2 ,3 ,4 e 5 correspondem as faces da escala visual analógica (escala de faces) em anexo (1)
Na comparação entre os níveis de dor podemos observar entre os percentuais de cada avaliação que a diferença foi muito pouca entre uma avaliação feita pela criança e a outra feita pelo acompanhante. Onde houve uma maior diferenciação foi no nível de dor 3, em que a autoavaliação ainda teve um percentual bem maior do que feita pelo acompanhante.
Podemos observar que, na maioria dos níveis de dor, da EV, a avaliação feita pela criança teve um valor bem aproximado do acompanhante, com os níveis 0 (sem dor), 1, 2, 4 e 5 (pior dor) ficando aproximadamente 50% para cada avaliador, demonstrando que o adulto teve uma boa avaliação da dor da criança internada, denotando conhecer bem o seu ente. Nos níveis de dor 1 e 2, a avaliação do acompanhante deteve um percentual um pouco maior, demonstrando que não houve grandes discrepâncias entre estas avaliações.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos evidenciar em nosso estudo que a dor já é algo que se apresenta em cerca de 91% das crianças e persiste durante o tratamento das crianças vítimas de queimaduras em 23% das vítimas, urgindo realmente ver a dor não como uma coisa a mais para prescrever ou administrar um medicamento, mas a dor em queimaduras como parte da avaliação clínica, empregando-a como 5º sinal vital. Não podemos deixar é para “se necessário”, porque leva muitas vezes à exacerbação da dor, para que haja a interrupção do fenômeno doloroso. E que seja sempre avaliado, para reduzirmos o sofrimento possível já que sabemos que a dor permeia todas as etapas do acidente com queimaduras, da injúria à regeneração dos tecidos. Este fato também é complementado por estudos que investigam e relatam que apesar de 60% dos profissionais referirem fazer avaliação da dor em criança (recém-nascidos) com muita freqüência, apenas um referiu utilizar uma escala de avaliação da dor16.
Para tanto, é preciso ter um instrumento que realmente ajude na avaliação, de maneira simples, objetiva e precisa, adequando-se à necessidade e compreensão das crianças e reunindo o maior número de informações sobre a pessoa, bem como deva estar disponibilizado ao paciente não como apêndice que faça parte de sua rotina hospitalar. Quando o paciente tiver acima de 3 anos, pode se autoavaliar e, menor de 3 anos utilizaremos o acompanhante como “termômetro da dor” da criança. Isso constatamos quando comparamos com nossos resultados às avaliações feitas pela própria criança e o acompanhante, com margem de diferença pequena, como mostrou o gráfico 5, já apontando a importância de um acompanhante que seja bem próximo da criança e que tenha condições de cuidar dela.
A utilização de um cuidado de maneira organizada e sistematizada poderá ser a grande contribuição da enfermagem, que poderá dispor de uma metodologia, de maneira a planejar e implementar ações que ofereçam condições de suprir boa parte das suas necessidades humanas básicas.
Então, cuidar de um paciente com dor requer atributos dos profissionais tanto técnicos como humano, tendo como modelo o humanismo de forma mais ampla, em que à relação profissional-paciente seja desenvolvida plenamente, com objetivo de multiplicar esforços relativos ao bem-estar do paciente9. Não podemos esquecer o investimento profissional em pesquisa, a fim de descobrir estratégias diferentes, e não somente registrar a dor aguda, mas valorizar o profissional por meio do reconhecimento de um atendimento humano e digno10.
E cuidar de queimaduras é compreender cada dia mais o sofrimento do outro, pois se entendemos só a dor. Certamente, poderemos cessá-la se realizarmos uma melhor avaliação e mensuração, mas, se estrapolarmos os números, as doses, às vezes, as vias, as idas e vindas, poderemos chegar ao ser humano e aí a sua dor será melhor compreendida.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Contribuição dos autores
- Concepção e Desenho: Ana Kelve de Castro Damasceno.
- Análise e interpretação: Paulo César Almeida e Ana Kelve.
- Escrita do artigo: Ana Kelve e Maria Grasiela Teixeira
- Revisão crítica do artigo: Ana Kelve, Paulo César e Maria Grasiela.
- Aprovação final do artigo: Ana Kelve, Paulo César e Maria Grasiela.
- Colheita de dados: Ana Kelve de Castro Damasceno.
- Provisão de pacientes, materiais ou recursos: IJF/UFC/CAPES/FUNCAP.
- Expertise em estatística: Paulo César Almeida.
- Obtenção de suporte financeiro: CAPES e FUNCAP.
- Pesquisa Bibliográfica: Ana Kelve e Maria Grasiela.
- Suporte administrativo, logístico e técnico: UFC e IJF.
Endereço para correspondência: Ana Kelve de Castro Damasceno. Rua Sólon Pinheiro 1440, apto 1902, Bairro de Fátima- Fortaleza- Ceará CEP: 60050-041
Received
Nov 17, 2006
Revised Nov 24, 2006
Accept Dec 15 , 2006
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ANEXO 1 CASO NO._____/____
Nome da Cça:________________________________________ Data: ____/____/____
Endereço:_____________________________N0 ______ Bairro:___________________
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
2. Sexo 1 ( ) Fem 2 ( ) Mas 2_____
3. Posição Familiar 1 ( ) primogênito 2 ( ) único 3( )caçula 4 ( ) outros 3_____
4. Acompanhante: 1 ( ) mãe 2 ( ) avó ou avô 3 ( ) irmã mais velha 4_____
4 ( ) vizinha 5 ( ) babá 6 ( ) pai 7 ( ) outros
DADOS RELACIONADOS AO ACIDENTE
5. Agente Causador: 1( )Líquido quente 2( ) brasas 3( ) chama 4( ) combustível
5( ) álcool 6 ( ) produto Químico 7 ( )choque elétrico. 8( ) outros 5_____
6. Dias de Internamento : _____ 6 _____
7. Procedência: 1 ( ) Capital 2 ( ) Interior 7_____
8. Local do Acidente:
1 ( ) Peridomicílio 2 ( ) cozinha 3 ( ) quartos 4 ( )sala 5( ) outros 8_____
9. SCQ:_____ 9_____
10. Tipo de Queimadura: 1( ) 1o grau 2( ) 2o grau 3( ) 3o grau 10_____
11. Diagnóstico: 1( ) pequeno queimado 2( )médio queimado 3 ( ) grande 11_____
13. Tratamento: 1( ) Cirúrgico 2 ( ) Balneoterapia 13_____
14. Curativo: 1 ( ) Comum 2 ( ) Anestésico 14_____
15. Dor no momento do acidente: 1 ( ) sim 2 ( ) não 15____
16.Quanto tempo desse momento até analgesia _______ minutos 16____
17. Dor no momento da entrevista: 1 ( ) sim 2 ( ) não
3 ( ) sob efeito de anestésicos 17____
Se SIM ir para questão seguinte, se NÂO ir para questão 19.
18. Local da dor: 1 ( ) lesão 2 ( ) área próxima 3 ( ) outro parte do corpo
4 ( ) não se aplica 18____
19 Qualidade do sono e repouso: 1 ( ) tranqüilo 2( ) inquieto 3( ) inconstante 19___
20. Dor a movimentação: 1 ( ) sim 2 ( ) não 20____
21. Apetite: 1 ( ) preservado 2 ( ) diminuído 3 ( ) ausente 21____
22. Quais os fatores de melhora ? ____________ 22____
23. Quais os fatores de piora?________________________ 23_____
24. Movimenta-se na cama ? 1 sim ( ) 2 ( ) não 24_____
25. Padrão respiratório: 1 normal ( ) 2 taquipnéia ( ) 3 bradipnéia ( ) 25_____
26. Humor: 1( ) preservado 2 ( ) diminuído 3 ( ) ausente 26_____
27. Colabora no tratamento ? 1 sim ( ) 2 ( ) não 27_____
28. Dor está controlada? 1 sim ( ) 2 ( ) não 28_____
AVALIAÇÃO EM ESCALA VISUAL / OBSERVAÇÕES GERAIS:
29. ( Acompanhante)
30.( Cça)