Analysis of Nursing’s dissertations and theses about the “elderly”, Brazil, 1979-2004: bibliographical study 

Análise das dissertações e teses de enfermagem sobre “idoso”, Brasil, 1979-2004: Estudo bibliográfico.

 Célida Juliana de Oliveira*; Thereza Maria Magalhães Moreira**

* Enfermeira; Especialista em Enfermagem Clínica; Mestranda em Cuidados Clínicos em Saúde pela Universidade Estadual do Ceará; Bolsista FUNCAP-CE. **Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará.

 Abstract: The study investigated the knowledge produced by the Brazilian masters degree programs in Nursing about the senior’s thematic, between 1979 and 2004. The bibliographical research consulted the summaries of dissertations and theses on senior classified by the Center of Studies and Researches in Nursing. Of 118 found studies, 81% were dissertations and 19% were theses. Between 2000 and 2004 there was the largest presentations/defenses number (59) and the University of São Paulo revealed the largest number of researches (43.6%). More than 70% of the authors used qualitative approach and about 58% approached the senior individually, emphasizing him under the optics of some disease or disturbance (28%), and hospitalized seniors. Researches involving ethics or promoting your development social or intellectual was not evidenced. It’s ended that gaps exist in the Brazilian nurse’s scientific production, that should seek better contribution in the search of solutions for the problems of the senior population. 

Key words: Nursing; Elderly; Nursing research; Health Postgraduate Programs 

Resumo: O estudo investigou o conhecimento produzido pelos programas de pós-graduação brasileiros em Enfermagem sobre "idoso” entre 1979 e 2004. A pesquisa bibliográfica consultou os resumos de dissertações e teses sobre idoso catalogados pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem. De 118 estudos encontrados, 81% eram dissertações e 19% eram teses. Entre 2000 e 2004 houve o maior número de apresentações/ defesas (59) e a Universidade de São Paulo revelou o maior número de pesquisas (43.6%). Mais de 70% dos autores utilizaram abordagem qualitativa e cerca de 58% abordavam o idoso individualmente, enfatizando-o sob a ótica de alguma doença ou distúrbio (28%), ou a idosos hospitalizados. Pesquisas envolvendo ética ou promovendo seu desenvolvimento social ou intelectual não foram evidenciadas. Conclui-se que existem lacunas na produção científica dos enfermeiros brasileiros, que devem ser pesquisadas visando melhor contribuir na busca de soluções aos problemas da população idosa. 

Palavras chave: Enfermagem; Idoso; Pesquisa em Enfermagem; Programas de Pós-Graduação em Saúde. 

1 Introdução

O Brasil, atualmente, tem 18 milhões de idosos, representando já 10% da população total(1) e sabe-se que até o ano de 2020, o país terá, em média, 16% de sua população na terceira idade, denominação pela qual também é conhecida esta fase da vida(2).

Para fins esclarecedores da delimitação conceitual de idoso, tomaremos por base a definição contida no Estatuto do Idoso(3), em seu Artigo 1o, e na Política Nacional do Idoso(4), em seu Artigo 2o, que considera idoso como a pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos.

Esta nova organização demográfica mundial tende a afetar visivelmente a necessidade de se oferecer melhor atenção à saúde do idoso, pois traz consigo uma modificação dos padrões de morbi-mortalidade da população, acentuando o número de idosos com doenças crônicas não-infecciosas(5), lembrando que as mudanças nos hábitos e estilos de vida também tem colaborado para o aumento da incidência destas doenças(6).

Mas, vale ressaltar, que, mesmo sendo uma ocorrência normal que engloba todas as experiências de vida, a velhice não deve ser vista de forma simplista; o cuidado e a preocupação com o idoso não podem ser limitados a eventos puramente orgânicos(7).

Pesquisando e interagindo com indivíduos da terceira idade durante minha trajetória acadêmica e profissional, observei que o enfermeiro tem papel ativo no seu cuidado, principalmente no que tange à prevenção de doenças ou complicações de doenças pré-existentes.

Devido aos aspectos anunciados, vê-se a importância de investigar e descrever quais os temas vêm sendo pesquisados, debatidos e documentados sobre os idosos pelos enfermeiros mestrandos e doutorandos nas universidades de todo o País. Dessa forma, pode-se contribuir para dimensionar a prática do trabalho de enfermagem para as reais necessidades desta população.

Pouco adiantaria todo o esforço em pesquisar soluções para os problemas e inquietações encontrados em nossa prática profissional em relação à saúde do idoso, se estas soluções não pudessem ser compartilhadas e legitimizadas no meio científico. Portanto, a produção do conhecimento é um processo refinado e dinâmico e, após sua construção, deve ser socializado e transmitido(8) por meio de publicações em periódicos de enfermagem, catálogos de produção, congressos e seminários e/ou outros meios de comunicação.

As pesquisas vêm contribuindo sobremaneira para a saúde, visto que há a necessidade de aprofundar sua interface com outras áreas do conhecimento, bem como ampliar cada vez mais o interesse dos enfermeiros pelos aspectos éticos e sócio-culturais dos fenômenos do binômio saúde-doença. Embora a enfermagem tenha sua especificidade, ela abre espaço para o conhecimento interdisciplinar e acaba articulando sua prática às políticas públicas vigentes.

O acompanhamento sistemático à saúde do idoso e o conhecimento da produção acadêmica sobre a temática auxiliarão a enfermagem a ampliar seus conhecimentos científicos e a prover o cuidado de forma mais efetiva e eficaz a esse grupo, o que é relevante, pois o cuidado aos idosos reflete uma preocupação pertinente e atual das políticas de saúde brasileiras e a realização de pesquisas científicas, quer seja ao nível de graduação, pós-graduação e mesmo enquanto enfermeiros atuando diretamente na assistência, são de extrema importância para a formação profissional do pesquisador(9).

Assim, objetivou-se investigar o conhecimento produzido pelos programas de pós-graduação brasileiros em Enfermagem sobre a temática “idoso”, no período de 1979 a 2004. 

2 Materiais e Métodos

Trata-se de um estudo bibliográfico, com abordagem quantitativa, realizado entre os meses de setembro de 2005 e abril de 2006.

Os dados foram coletados no CD-ROM do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem(10), que comporta os resumos das dissertações e teses produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu das escolas de Enfermagem de todo o país, compreendendo os anos de 1979 a 2000. Além disso, os dados referentes ao período 2001 a 2004, foram coletados por meio de download do “Catálogo de Informações sobre Pesquisas e Pesquisadores em Enfermagem” disponível para consulta e reprodução na internet, diretamente no endereço eletrônico da Associação Brasileira de Enfermagem(11).

Foram selecionados os trabalhos que apresentassem envolvimento com a temática “idoso”, por meio da leitura dos resumos na íntegra, para que se pudesse delinear os temas mais estudados e aqueles que tiveram pouca abordagem, baseado em um tratado de geriatria e gerontologia(12).

Mesmo apresentando claramente envolvimento com a população idosa, alguns resumos tiveram que ser excluídos, pois apresentavam a idade mínima inferior a 60 anos para a população idosa, divergindo da idade delimitada nesta pesquisa, ficando ao todo seis resumos de fora da análise.

A análise dos dados se deu pelo preenchimento de um instrumento a partir de cada resumo. Em seguida, foi realizado seu agrupamento, seguido da análise de freqüência simples e percentual, sendo os dados analisados à luz de literatura pertinente e da estatística.

Quanto aos aspectos éticos, por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, o presente estudo não necessitou passar pela avaliação de um comitê de ética em pesquisa. Também não houve necessidade de solicitar permissão para o estudo à Associação Brasileira de Enfermagem ou ao Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, pois o material, por ser uma publicação eletrônica disponível na rede universal de dados (internet) é de livre acesso a todos, facilitando o acesso e a ampliação da difusão da produção acadêmica da Enfermagem brasileira. 

3 Resultados e Discussão

Após a análise dos resumos, foi detectado que o número total de dissertações e teses de doutorado ou livre docência, relativas à temática instituída, foi de 118 estudos. Deste total, obteve-se que 81% dos estudos foram dissertações de mestrado (96); 18% foram teses de doutorado (21) e apenas um estudo referente ao idoso foi tese de livre docência (1%).

Tais achados podem decorrer do maior acesso dos enfermeiros aos cursos de mestrado, principalmente pelo maior número de cursos ofertados, pois no Brasil, atualmente, a Enfermagem tem ao todo 27 cursos de mestrado (acadêmicos e profissionais) e 13 cursos de doutorado, reconhecidos e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(13). Dados deste tipo mostram a preocupação com o avanço tecno-científico na Enfermagem, pois o crescimento na oferta de cursos ajuda a promover o aumento da demanda para os mesmos(14), trazendo contribuições ímpares para a profissão. Além do aumento quantitativo dos cursos/programas, a qualidade dos mesmos também vem aumentando.

Os resumos encontrados foram ainda analisados em relação ao período (ano) em que foram apresentadas, no caso das dissertações ou defendidas, no caso das teses, sendo que entre 1979 e 1984, encontramos três apresentações/defesas; Entre 1985 e 1989, foram oito; Já entre 1990 e 1994, foram 14; Entre 1995 e 1999, tiveram 34 apresentações/defesas; O maior número de apresentações/defesas ocorreu no período de 2000 a 2004, com 59 estudos. A título de informação, a tese de livre docência referente aos idosos foi defendida em 1989.

Vale ressaltar que dos 74 estudos desenvolvidos sobre idosos entre 1999 e 2004, observou-se o maior número de estudos no ano de 1999, com o total de 15 (21%), sendo dez dissertações e cinco teses de doutorado. Em 2000, a enfermagem brasileira produziu 14 estudos (18%), sendo 13 dissertações e uma tese. Em 2001, as onze pesquisas (16%) desenvolvidas foram realizadas por mestrandos. Já em 2002, tivemos 11 dissertações e três teses desenvolvidas, do total de 14 estudos (18%).

No ano de 2003, dos 11 estudos desenvolvidos (15%), um fato inusitado chamou a atenção: foi a única vez em que as teses de doutorado superaram a produção dos mestrados (sete e quatro estudos, respectivamente). Já em 2004, tivemos nove estudos (12%), sendo somente uma tese de doutorado.

A formação de mestres e doutores no país tem crescido acentuadamente. O número de matrículas nos mestrados aumentou de 43 mil alunos em 1994 para 54 mil em 1999, representando um crescimento de 25%. Já nos doutorados, em 1994 havia 19 mil alunos, aumentando em 1999 para 29 mil, representando um aumento de mais de 50%(15).

O interesse crescente por esta população deu-se pelo aumento combinado do número demográfico de idosos no país(16), com a criação das leis específicas para os idosos(3), o incentivo em instituir o ensino de geriatria e gerontologia nas universidades(4), culminando com o incremento da produção científica em enfermagem.

Curiosamente, os picos de produção sobre o idoso avizinham-se dos períodos de maior discussão sobre o tema no Brasil, que foram aqueles onde as Leis e Políticas federais foram efetivadas.

Em relação às Instituições de Ensino Superior (IES), onde as dissertações foram apresentadas e as teses defendidas, notou-se que o maior número de pesquisas produzidas relativas ao idoso (43.6% ou 48 estudos, do total de 110) ocorreu na Universidade de São Paulo, tanto pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, como pela Escola de Enfermagem da cidade de São Paulo.

Outras IES das regiões Sudeste e Sul a terem pesquisas com referência ao idoso, foram: Universidade Federal do Rio de Janeiro (11 estudos); Universidade do Rio de Janeiro (três estudos); Universidade Estadual de Campinas (quatro estudos); Pontifícia Universidade Católica de Campinas (um estudo); Universidade Federal de São Paulo (dois estudos); Universidade Federal de Santa Catarina (nove estudos); Universidade Federal de Minas Gerais (quatro estudos) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (um estudo).

Já das outras regiões do Brasil, apenas a região Nordeste apresentou pesquisas relativas à população idosa, ficando as IES distribuídas dessa forma: Universidade Federal da Bahia (13 estudos – 11.8%); Universidade Federal da Paraíba (nove estudos) e Universidade Federal do Ceará (cinco estudos).

Ao abordar o histórico dos programas de pós-graduação em enfermagem no Brasil, vimos que a pós-graduação brasileira teve sua aprovação no Conselho Federal de Educação, em 1965, através do Parecer No 977/65, tendo sido instituída pela Reforma Universitária de 1968, nascendo mediante a lacuna existente no corpo docente das universidades(17), lembrando também que as regiões Sul e Sudeste tiveram os primeiros mestrados em enfermagem implantados no país.

Convém ressaltar que oito estudos não demonstrados anteriormente, foram desenvolvidos por meio do Programa de Mestrado Interinstitucional, com a participação de duas universidades distintas, como descrito a seguir: Univ. Federal do Rio de Janeiro e Univ. Federal do Piauí (duas dissertações); Univ. Federal de Sta Catarina e Univ. Federal de Pelotas (dois estudos); Univ. Federal de Sta Catarina e UNIVALI (duas dissertações); Univ. Federal. de Sta Catarina e Univ. Federal de Sta Maria (uma dissertação) e Univ. Federal de Sta Catarina e Univ. Federal do Paraná (um estudo).

O programa de mestrado interinstitucional é um programa de fomento, também conhecido como “MINTER” e é promovido pela Diretoria de Programas da CAPES. Este tipo de programa vem contribuindo para a formação de um grande contingente de docentes na Enfermagem de Instituições de Ensino Superior que não têm programa próprio de mestrado ou daquelas instituições que apresentam cursos/programas de mestrado, mas desejam ampliar suas áreas, adequando sua realidade aos problemas nacionais(13).

Os resumos foram avaliados também quanto à abordagem utilizada por seus autores, ou seja, foram observados quanto à sua natureza quantitativa ou qualitativa. Grande parte dos resumos relatava claramente o tipo de abordagem utilizada pelo autor. Encontramos que mais de 70% dos autores utilizaram a abordagem qualitativa. Por estarmos analisando estudos de enfermagem, esse achado era esperado, pois a grande tendência da enfermagem atualmente é a pesquisa de temas predominantemente subjetivos, que requerem tal tipo de abordagem.

Desde a década de 60, na enfermagem brasileira observa-se que os modelos trazidos das disciplinas básicas vêm sendo substituídos por modelos das disciplinas humanas, na ânsia de explicar ou compreender aspectos comportamentais e das relações humanas(18).

A partir da década de 70, a abordagem qualitativa passou a ganhar maior força dentro da enfermagem, dentro da mudança paradigmática das abordagens metodológicas, quando o positivismo não foi capaz de responder às questões de compreensão e explicação dos fenômenos sociais, fazendo emergir novas abordagens metodológicas na investigação científica(17).

Já a partir da década de 80, a necessidade da enfermagem foi a de dar devida sustentação e adequação ao triângulo objeto-teoria-método, observando-se a qualidade metodológica dos estudos qualitativos(19). Essa diversificação nas linhas epistemológicas só vem trazer ao conhecimento científico da profissão avanços, desde que sejam observadas as especificidades de cada método e/ou abordagem, adequando-as aos objetivos propostos.

Apesar de não ser uma caracterização correta, pois os objetivos de cada estudo devem deixar clara a sua abordagem, o termo quanti-qualitativo foi encontrado em quatro estudos (3.4%) e o mesmo foi utilizado aqui, por serem denominações próprias dos autores dos estudos, o que nos pareceu pertinente ressaltar.

Os estudos foram ainda analisados na tentativa de identificar os sujeitos e objetos (população investigada, características dessa população e lócus) de cada um, ou seja, procurou-se investigar se a pesquisa dirigia-se ao idoso individualmente, a grupos específicos, à família do idoso, aos seus cuidadores, em que ambiente este idoso estava inserido e qual a tendência temática.

Após minuciosa análise na tentativa de categorizar os achados, os sujeitos dos estudos foram divididos em:

Idosos: Foi a categoria de maior predominância, evidenciando o idoso individualmente (58%). Os estudos descreviam idosos doentes e/ou hospitalizados (25 estudos com idosos de ambos os sexos e sete só com mulheres idosas), idosos sadios (11 estudos, sendo que destes, quatro foram só com idosas), idosos na própria comunidade e em domicílio (14 estudos), idosos asilados ou institucionalizados (nove estudos, sendo três deles referentes a mulheres idosas) e ainda, aqueles indivíduos que sofreram algum tipo de violência (dois estudos).

Grupos: Foram estudos com grupos de idosos de ambos os sexos (seis estudos) e apenas com mulheres idosas (10 estudos), tendo ao todo 16 estudos (14%). Tal fato nos lembra a história natural da formação de grupos de apoio e lazer, que normalmente apresenta maior participação feminina.

Familiares: Nesta categoria foram incluídas as dissertações e teses que tiveram como sujeito principal os familiares e/ou cuidadores de indivíduos idosos, totalizando 11 estudos, sendo que os familiares tanto podiam estar cuidando no domicílio, como em ambientes hospitalares.

Díades: Por díades, entende-se que os estudos retratavam a relação, percepção ou convívio dos idosos com enfermeiros ou estudantes de enfermagem (seis estudos) ou com seus familiares (quatro estudos).

Enfermagem: Dentro da categoria “Enfermagem” foram incluídas as dissertações e teses que tinham como sujeitos investigados os profissionais de enfermagem, principalmente os enfermeiros, em todos os seus ambientes de trabalho, assim como foram incluídos também os estudos que tinham como sujeitos os docentes e discentes de enfermagem, totalizando nove estudos.

Outros: Já nesta categoria foram incluídos estudos que avaliaram currículos (dois estudos), instituições asilares (um estudo) e ainda, um estudo referente a uma revisão de literatura sobre o envelhecimento.

Nota-se o predomínio de estudos envolvendo o idoso como paciente, na tentativa de avaliar algum aspecto relevante à doença ou à hospitalização. Um estudo realizado por enfermeiras(6) buscou identificar na literatura aspectos relacionados ao cuidado das famílias com pessoas dependentes de cuidado. Dos treze trabalhos analisados pelas autoras, foi encontrado que a maioria dos estudos abordou as famílias de idosos dependentes, onde esta dependência teria sido ocasionada por agravos comuns no envelhecimento, tais como o mal de Alzheimer, acidentes vasculares encefálicos, entre outros. Ou seja, o estudo das autoras vem confirmar que a população idosa doente ou portadora de seqüelas de doenças continua sendo uma área importante para a realização de pesquisas científicas.

Mais um ponto que merece destaque em nossa análise, são os trabalhos envolvendo especificamente as mulheres idosas, em vários aspectos, mas com maior número de estudos também relacionando as idosas com alguma doença ou idosas hospitalizadas/internadas.

Ao se buscar clarificar mais os objetos dos estudos, nota-se que grande parte deles se dedica às interações, sejam elas entre idosos e profissionais, idosos e familiares/cuidadores ou idosos e alunos de enfermagem, além de uma boa quantidade de estudos envolvendo a percepção, sentimento ou caracterização do/sobre o envelhecimento.

Os achados demonstram a tendência atual dos objetos de estudo da profissão, que são os sentimentos, crenças e percepções dos indivíduos, além de suas relações. Tal fato pode ser confirmado com o estudo desenvolvido por profissionais da cidade de Botucatu/SP, onde foi investigado o que o indivíduo idoso sente, percebe e deseja em relação ao atendimento da enfermagem. Fica evidente que conhecer o pensamento, sentimento e expectativas do idoso proporciona oportunidade para reflexão da equipe que cuida, permitindo ainda, que medidas práticas adequadas à realidade sejam tomadas(20).

Para a categorização dos temas de cada estudo, foi utilizado um roteiro baseado em um tratado de Geriatria e Gerontologia(12), que sofreu algumas modificações para melhor adequação ao estudo.

De uma maneira ampla e generalizada, obteve-se que de 28.8% dos estudos (36 estudos) investigaram o idoso sob a ótica de alguma doença ou distúrbio, como alterações no sistema nervoso, transtornos mentais, problemas dos sistemas cárdio-circulatório, genito-urinário e endócrino e alguns distúrbios oculares. Além disso, o número de dissertações e teses referindo-se aos idosos hospitalizados ou internados em serviços de saúde também foi expressivo (8.8% com N=125).

Vale ressaltar que a maioria dos estudos foi catalogada em apenas uma categoria, mas sete desses estudos necessitaram entrar em pelo menos duas categorias diferentes para dar melhor entendimento ao seu objetivo, o que explica N=125.

A terceira idade deve ser uma fase satisfatória e, porque não, produtiva, sem a presença de doenças graves e incapacidades(21), bastando para isso, o desenvolvimento de ações de caráter mais preventivo e menos curativo, apesar de que indivíduos idosos sempre requerem atenção especial, pois têm mais riscos de surgirem problemas de saúde(22), daí a importância de se olhar o lado preventivo da saúde.

Apesar de aparecerem em menor escala, estudos envolvendo medicina preventiva, a preocupação com a qualidade de vida, a saúde mental da pessoa idosa e o autocuidado também foram identificados na análise das dissertações e teses produzidas pelos enfermeiros brasileiros nesses últimos 25 anos. Em virtude da busca de atendimento às necessidades psicossociais, de incentivo para desenvolvimento de atividades comunitárias, de valorização, e interação familiar e social dos idosos(23), pesquisas dessa natureza precisam ser mais estimuladas.

A avaliação de lacunas na temática também foi baseada no roteiro. Estudos envolvendo ética e ações que promovam o desenvolvimento social, político ou intelectual dos idosos não foram evidenciados na análise das dissertações e teses da Enfermagem brasileira no período de 1979 a 2004.

Outro assunto de grande relevância refere-se à farmacologia e terapêutica voltadas para a terceira idade. Indivíduos idosos são os principais consumidores e os maiores beneficiários da farmacoterapia moderna, onde cerca de 80% deste grupo etário consome pelo menos um tipo de medicamento(5). Fatos como este, deveriam ser merecedores de maior destaque, pois se revela urgente a formulação de estratégias de educação em relação ao uso de drogas, além da necessidade de avaliar as ações, efeitos e resultados dos medicamentos para o grupo específico dos idosos.

Apesar da ocorrência de doenças típicas nesta fase da vida, os idosos valorizam a vida com qualidade(24) e demonstram a busca por comportamentos adaptativos, além de tentar permanecer mais com a família e amigos, se envolver com algum grupo (de apoio, educativo ou religioso) como forma de distração e aprendizagem(25). Por conta destes fatores, temas dessa natureza deveriam ser alvo de maiores atenções por parte dos enfermeiros. 

4 Considerações finais

A análise das dissertações e das teses produzidas pelos enfermeiros no Brasil, no período de 1979 a 2004 revelou que o número total de estudos catalogados pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN) relativos à temática “idoso” foi de 118 estudos, sendo em sua maioria, dissertações (81%).

Sobre o ano de defesa/apresentação, a análise revelou a ocorrência de 59 estudos no período de 2000 a 2004. O ano em que houve maior apresentação de dissertações no Brasil foi em 2000, com 13 estudos. Já no ano de 2003 tivemos 11 estudos desenvolvidos, sendo este o único ano em que as teses de doutorado superaram as dissertações (sete e quatro estudos, respectivamente).

No tocante à universidade de apresentação e defesa dos estudos, vimos que a Universidade de São Paulo revelou o maior número de pesquisas produzidas sobre idoso (43.6%), confirmando uma certa “centralização” dos cursos e programas de pós-graduação na região Sudeste. Oito estudos foram dissertações desenvolvidas por meio do programa de Mestrado Interinstitucional da CAPES.

Quanto à abordagem metodológica (quantitativa ou qualitativa) das produções, mais de 70% dos autores utilizaram a abordagem qualitativa, confirmando a tendência da enfermagem atual.

Em relação à temática das pesquisas encontradas, cerca de 28% (36) investigaram o idoso sob a ótica de alguma doença ou distúrbio. Além disso, o número de dissertações e teses referindo-se aos idosos hospitalizados ou internados em serviços de saúde representou mais de 8%. Apesar de aparecerem em menor escala, houve estudos envolvendo medicina preventiva, a preocupação com a qualidade de vida, a saúde mental da pessoa idosa e o autocuidado.

Já estudos envolvendo ética e a promoção do desenvolvimento social, político ou intelectual dos idosos não foram evidenciados na análise. Apesar de se constituir em tema relevante e cada vez mais atual, conclui-se que ainda existem lacunas importantes na produção de conhecimento sobre a população idosa na enfermagem brasileira. Além disso, profissionais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste devem procurar desenvolver mais pesquisas, a fim de proporcionar a descentralização da produção e divulgação cientifica.

Um ponto crítico na construção deste trabalho foi a limitação da catalogação do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, pois foi observado que, apesar dos esforços da ABEn – Seção Nacional, nem todos os resumos de dissertações e teses encontram-se catalogados e disponíveis pelo CEPEN. Tal fato reforça a idéia que os pesquisadores, principalmente aqueles que têm oportunidade de realizar um curso de pós-graduação, necessitam divulgar seus achados, contribuindo para a formação e expansão do corpo de conhecimentos da enfermagem brasileira.

A enfermagem deve investir e empreender cada vez mais esforços na produção do conhecimento científico. Tal medida visa impulsionar a reflexão crítica dos problemas da profissão e este investimento pode contribuir para o desenvolvimento de uma prática profissional voltada para a busca de soluções relativas aos graves problemas de saúde vividos pela população brasileira, de forma eficaz e condizente com a realidade. 

5 Referências

1.           Pesquisa nacional por amostra de domicílios [base de dados na Internet]. Brasília (DF): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2005 [acesso em 2006 jan 28]. Disponível em http://www.ibge.gov.br 

2.           Coelho Neto A, Araújo ALC. Vida longa com qualidade. Fortaleza (CE): ABC; 2003. 

3.           Estatuto do Idoso – Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. [base de dados na Internet]. Brasília (DF): Senado Federal do Brasil. DOFC PUB 03/10/2003 [acesso em 2005 nov 3]. Disponível em http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=237486 

4.           Costa NE, Mendonça JM, Abigail A. Políticas de assistência ao idoso: a construção da política nacional de atenção à pessoa idosa no Brasil. In: Freitas EV, Py L, Néri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002. p. 1077-82. 

5.           Teixeira JJV, Lefèvre F. A prescrição medicamentosa sob a ótica do paciente idoso. Rev Saude Pub. 2001; 35(2): 207-13. 

6.           Marcon S, Lopes M, Antunes CR, Fernandes J, Waidman MA. Family caregivers of chronically ill people: a bibliographic study. Online Brazilian Journal of Nursing [periódico na Internet]. 22 Apr 2006 [acesso em 2006 set 28]; 5(1). Disponível http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=216.  

7.           Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2005; 1. 

8.           Costa RS, Carvalho DV. Análise da produção científica dos enfermeiros de Minas Gerais publicada em periódicos de enfermagem. Rev Lat Am Enfermagem; 2001 set/out; 9(5): 19-25. 

9.           Mancia JR, Ramos FRS. Pontos críticos na produção científica de enfermagem – Os trabalhos submetidos à REBEn. Rev Bras Enferm; 2002 mar/abr; 55(2): 163-8. 

10.       Associação Brasileira de Enfermagem. Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem - Centro de Estudos e Pesquisa em Enfermagem [CD-ROM]. Brasília (DF): ABEn; 2001; 1-18, 1979-2000. 

11.       Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem - Centro de Estudos e Pesquisa em Enfermagem [base de dados na Internet]. Brasília (DF): Associação Brasileira de Enfermagem. 2001-2004 [acesso em 2006 jan 7]. Disponível em http://www.abennacional.org.br 

12.       Freitas EV, Py L, Néri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002. 

13.       Relação de cursos recomendados e reconhecidos [base de dados na Internet]. Brasília (DF): Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 2005 [acesso em 2006 jan 28]. Disponível em http://www.capes.gov.br 

14.       Almeida MCP, Robazzi MLCC, Scochi CGS, Bueno SMV, Cassiani SHB, Saeki T et al. Perfil da demanda dos alunos da pós-graduação stricto sensu da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Rev Lat Am Enfermagem. 2004 mar/abr; 12(2). p. 153-61. 

15.       Velloso J, Velho L. Mestrandos e doutorandos no país: trajetórias de formação. Brasília: CAPES; 2001. 103p. 

16.       Almeida DT. O envelhecimento na ótica do idoso do Benfica. Fortaleza – Ceará [Tese]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Doutorado em Enfermagem. Departamento de Enfermagem, 2001. 

17.       Moura ERF, Franco ES, Fraga MNO, Damasceno MMC. Produção científica em saúde da mulher na pós-graduação em enfermagem da Universidade Federal do Ceará, Brasil 1993-2002. Ciencia y Enfermeria; 2005; 9(2). p. 59-70. 

18.       Alves LMM, Nogueira MS, Godoy S, Cárnio EC. Pesquisa básica na enfermagem. Rev Lat Am Enfermagem 2004 jan/fev; 12(1): 122-7. 

19.       Silva AL, Ramos FRS. As linhas epistemológicas do conhecimento científico. In: SENPE: Anais do 11º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem [CD-ROM]; 2001; Belém (PA). 

20.       Prochet TC, Ruiz T, Correa I. A humanização do atendimento ao idoso: o que o idoso hospitalizado sente, percebe e deseja? Nursing; 2006 março; 94(9). p. 713-8. 

21.       Oliveira TC. O conviver de idosos portadores de hipertensão arterial: avaliação do processo adaptativo [Dissertação]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Mestrado em Enfermagem. Departamento de Enfermagem, 2001. 

22.       Vieira MDCM. Velhice feminina no asilo: do imaginário ao real [Tese]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Doutorado em Enfermagem. Departamento de Enfermagem, 2001. 

23.       Vasconcelos FF, Victor JF, Moreira TMM, Araujo TL. Utilização medicamentosa por idosos de uma Unidade Básica de Saúde da Família de Fortaleza – CE. Acta Paul Enferm. 2005 abr/jun; 18(2): 178-83. 

24.       Oliveira CJ, Araujo TL, Moreira TMM. Idosos com hipertensão arterial: Interferências em sua qualidade de vida. Rev Baiana de Enfermagem; 2002 set/dez; 17(3). p. 109-12. 

25.       Oliveira TC, Melo EM, Almeida DT, Araújo TL. Envelhecimento e qualidade de vida: trabalhando com um grupo de idosos. In: Forte BP, Jorge MSB, Soares E. Complexidade e diversidade do conhecimento em saúde: estimulando uma cultura de intervenções multiprofissionais. Fortaleza: EDUFC; 2002; 5. p. 41-51. 

·     Contato: celidajuliana@yahoo.com.br; Rua dos Jatobás, 373 – Casa 25 – Bairro Passaré – Fortaleza/CE; Fone: (85) 3232.9716

·     As autoras contribuíram em todas as fases da pesquisa igualmente.

Received: Nov 19th, 2006
Revised:
Nov 19th, 2006
 Accept Jan 24th, 2007