Online Brazilian Journal of Nursing | ISSN: 1676-4285

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PROTOCOLO DE REVISÃO

Tecnologias de enfermagem no ecossistema de saúde digital: protocolo de scoping review

João Cruz Neto1, Vinícius de Oliveira Muniz2, Jhonata de Souza Joaquim3, Cléton Salbego4, Paulo Roberto Lima Falcão do Vale5, Anderson Reis de Sousa2

1Universidade Federal do Ceará, Departamento de Enfermagem, Ceará, CE, Brasil

2Universidade Federal da Bahia, Escola de Enfermagem, Bahia, BA, Brasil

3Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Enfermagem, Santa Catarina, SC, Brasil

4Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Enfermagem, Rio Grande do Sul, RS, Brasil

5Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Departamento de Enfermagem, Bahia, BA, Brasil

RESUMO

Objetivo: Mapear as evidências científicas relacionadas às tecnologias que compõem o ecossistema de saúde digital na enfermagem. Método: Será utilizada a metodologia do JBI. A busca incluirá as bases MEDLINE, Web of Science, Embase, SCOPUS e ERIC, além da busca manual por referências e a literatura cinzenta em repositórios. Serão incluídos estudos com diferentes delineamentos metodológicos, tanto primários quanto secundários, bem como a literatura cinzenta. Serão excluídos estudos editoriais, resumos em anais, notas prévias, projetos e protocolos de pesquisa. Dois revisores participarão da busca pareada, com seleção cega das evidências. Quando houver discordâncias no processo, um terceiro revisor será contatado. As decisões seguirão um fluxo de seleção conforme o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA). Os dados serão analisados por meio de representação tabular, diagramas e ilustrações. Registro no Open Science Framework (https://osf.io/26hg3).

Descritores: Tecnologia Digital; Estratégias de Saúde; Ecossistema; Materiais de Ensino.

INTRODUÇÃO

A Saúde Digital é um tema de prioridade internacional. No Brasil, as iniciativas do Ministério da Ciência e Tecnologia fizeram com que o tema se tornasse um programa prioritário coordenado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Este projeto visa avançar na concepção sobre saúde digital e fomentar o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e da Internet Avançada, tendo como um dos pilares o Desenvolvimento Tecnológico e Avaliação(1). Nesse sentido, a saúde digital torna-se um contexto de alta complexidade e deriva da integração de diferentes atores sociais, organizações de saúde e recursos humanos(2). Dentro deste escopo, existem os ecossistemas e subecossistemas digitais.

Um ecossistema digital é a finalidade da inovação tecnológica que promove a integração entre ambiente e conectividade, de forma a estabelecer uma rede de reinvenção aberta, dinâmica e global, subsidiada por um regramento específico(2). Por outro lado, um ecossistema de inovação em saúde digital refere-se a uma rede interconectada, inter-relacionada e interdependente, incluindo as partes interessadas no setor saúde, instituições de saúde e dispositivos digitais de saúde situados em um ambiente digital que demonstram práticas bem-sucedidas, comprovadas e efetivas; implementando-se essa estratégia por meio das tecnologias de informação e comunicação a fim de monitorar e melhorar as condições de saúde da população, capacitando-a e promovendo a saúde de si e dos outros(3). Essas práticas já estão sendo implementadas em diversos países.

Na África, o processo de inclusão dos ecossistemas digitais tem permitido o acesso à internet, assinaturas de banda larga móvel e fixa. Contudo, a alta manufatura da tecnologia inviabiliza o acesso equânime, especialmente quando associada às altas cargas de doenças crônicas não transmissíveis, doenças infecciosas e parasitárias, levando a endemias e deixando diversos países em risco(4). No entanto, o mapeamento da saúde digital ainda não é amplamente discutido na literatura científica.

Um estudo de revisão conduzido na Austrália demonstrou que o entendimento sobre ecossistema de saúde digital está direcionado ao uso/usabilidade de uma tecnologia, à relação consumidor/usuário, ao cuidado com a saúde, à informação e dados e à tecnologia(5). Assim, entender a rede de ecossistemas digitais em saúde de um determinado país pode facilitar os mecanismos de promoção do cuidado, para além dos programas disponibilizados pelo sistema de saúde.

Por isso, são necessárias ferramentas em saúde que visem essa atividade com foco na disponibilidade tecnológica acessível em tempo real pela comunidade. Neste estudo, compreende-se tecnologia em saúde como um meio ou instrumento que incide sobre as necessidades (objeto) de um povo, objetivando a melhoria, equilíbrio ou restauração do seu processo saúde-doença. Essas consequências são os impactos diretos da tecnologia(6). Para isso, surgem as tecnologias destinadas ao acesso informacional e comunicacional de pessoas, como rádio e jornal, sendo uma Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) ou as tecnologias que englobam o uso de equipamentos digitais ligados à internet, a Tecnologia Digital de Informação e Comunicação (TDIC). Nesse sentido, a construção de uma TDIC pode elevar as condições de saúde clínica por facilitar o cuidado e aprimorar os meios de prevenção de agravos(7).

No Brasil, o uso de um ecossistema de saúde perpassa a produção do conhecimento por meio de tecnologias assistenciais, educativas ou de gestão. Nesse quesito, a enfermagem possui papel privilegiado ao devolver para o setor saúde produções TDIC que impactam na prática de saúde (capacitação, auxílio gerencial ou raciocínio clínico) ou na ajuda a pacientes (promoção, prevenção e reabilitação) e suas condições de saúde(8–10). Nesse sentido, a enfermagem se apoia em modelos prático-tecnológicos para o desenvolvimento de tecnologias na saúde(11).

Portanto, devido à relevância da temática e observando-se a lacuna sobre os ecossistemas de saúde em enfermagem digital, observa-se a necessidade de coalizão entre essas tecnologias, a fim de subsidiar o desenvolvimento tecnológico no tema(12). Para tal, como ponto inicial do processo e aprofundamento crítico-teórico, faz-se pertinente a busca na literatura por meio de revisão.

Após a busca realizada na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Open Science Framework (OSF), Joanna Briggs Institute (JBI) Evidence Synthesis e Cochrane Database of Systematic Reviews, não foram encontradas revisões em andamento ou realizadas sobre a formação de um ecossistema de saúde digital em enfermagem. O objetivo desta revisão é mapear as evidências científicas relacionadas às tecnologias que compõem o ecossistema de saúde digital em enfermagem.

MÉTODO

Tipo de estudo

Trata-se de uma revisão de escopo que será desenvolvida de acordo com o manual de sínteses de evidências publicado pelo JBI(13-15) e orientada pelas recomendações do checklist PRISMA-ScR(16), além da atualização para transparência e rigor metodológico do PRISMA 2020 (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses)(17). O protocolo foi registrado no Open Science Framework (https://osf.io/26hg3).

Etapas do estudo

A revisão será desenvolvida por meio de nove etapas sequenciais, que são: (1) Delimitação do propósito e da questão de pesquisa; (2) Elaboração e concordância dos critérios de inclusão conforme o propósito e a questão; (3) Descrição de metodologia estruturada que contemple a evidência da informação, a coleta de dados e sua apresentação; (4) Mapeamento dos dados; (5) Seleção da evidência; (6) Extração da evidência; (7) Análise da evidência; (8) Apresentação dos resultados; e (9) Resumo dos indicadores, conclusões e reiteração das descobertas(13).

Questão da revisão

A questão de pesquisa foi elaborada com base na estratégia PCC, recomendada para a formulação da questão de pesquisa(13), sendo “P” a população - Tecnologias digitais, “C” o conceito - Ecossistemas de saúde digital, e o segundo “C” o contexto - Enfermagem. A questão de pesquisa norteadora estabelecida foi: Quais tecnologias compõem o ecossistema de saúde digital em enfermagem?

As seguintes questões específicas serão abordadas:

a) Definição de ecossistema de saúde digital e os conteúdos de cada subsistema;

b) Estratégias de entrega dos materiais de saúde digital;

c) Teorias e enquadramentos teóricos utilizados;

d) Resultados das estratégias e sua aplicação em curto, médio e longo prazo.

Critérios de elegibilidade

População

Serão incluídas tecnologias digitais sob diferentes óticas de cuidado (softwares, cartilhas, aplicativos móveis, álbuns seriados, jogos educativos, cordel etc.), desde que tenham sido criadas para funcionar, a priori, no ambiente digital. Serão excluídos os estudos que apresentem apenas a publicação em meio digital, mas cuja tecnologia não tenha sido disponibilizada previamente.

Conceito

O conceito abordado será saúde digital com foco na formação de um ecossistema em saúde. Isso inclui estratégias instrucionais, materiais audiovisuais, ilustrativos, didático-científicos e de formação, além de estratégias de avaliação. O estudo compreenderá o ecossistema digital como o interesse onde as tecnologias disponibilizadas foram construídas e operacionalizadas pela enfermagem.

Entende-se saúde digital em diferentes contextos e sob diversas perspectivas, cuja aplicação se dá por meio das tecnologias de comunicação e/ou informação, além de serviços (como a telessaúde) usados na prestação de assistência e cuidado. Contudo, serão excluídos os registros de tecnologias em PowerPoint, simulações ou realidade virtual utilizadas exclusivamente para fins de ensino em ambientes de aprendizagem (laboratórios e salas de aula), quando suas produções não estejam disponíveis. Também serão excluídas as tecnologias que tratam exclusivamente de conhecimentos médicos (como tomografias, fertilização in vitro, etc).

Contexto

Serão incluídos estudos realizados em diversos cenários de saúde (ambulatorial, domiciliar, hospitalar), sem limitações quanto à localização geográfica ou fatores sociais, étnicos ou de gênero. No entanto, o serviço prestado deve estar alinhado à perspectiva da assistência/cuidado de enfermagem.

Tipos de evidências

Na transição da década de 90 para os anos 2000, a World Wide Web apresentou uma grande quantidade de informações relacionadas à saúde. Na época, diversas publicações do Journal of the American Medical Association (JAMA) alertaram a comunidade científica sobre a necessidade de avaliar e padronizar o conteúdo de saúde veiculado na internet. No entanto, foi apenas em 2002 que a Web passou a apresentar pesquisas sobre cuidados em saúde, tornando-se um veículo de disseminação desse tipo de conhecimento(14). Assim, o ano de 2002 foi estabelecido como recorte temporal para este estudo.

Serão incluídos estudos com diferentes delineamentos metodológicos primários e secundários (quantitativos, qualitativos e mistos). Estudos quantitativos com qualquer desenho experimental (ensaios clínicos, estudos controlados ou não controlados, experimentais ou quase-experimentais, observacionais, coortes, caso-controle, transversais, descritivos e metodológicos). Estudos qualitativos fenomenológicos, baseados em teoria fundamentada em dados, descritivos e trabalhos teóricos com produto de cuidado também serão incluídos. Serão selecionados os estudos que responderem à proposta do estudo, explorados completamente, e suas referências serão examinadas com o objetivo de encontrar novos estudos. Revisões sistemáticas também serão consideradas nesta revisão de escopo.

Serão excluídos estudos editoriais, resumos em anais, notas prévias, projetos e protocolos de pesquisa. Pesquisas que não se adequarem aos propósitos do estudo serão excluídas após o processo de seleção, conforme preconiza o JBI.

Fontes de informação

As fontes de informação serão: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências 0 Saúde (LILACS); MEDLINE via EBSCO Information Services; Web of Science (WoS); Embase via Elsevier; Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL); e SCOPUS via portal de periódicos da CAPES. Para a literatura cinzenta, será empregado o catálogo de teses e dissertações da CAPES, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, a Who Library Database, e os repositórios medRxiv e OpenGrey.

Estratégias de busca

A estratégia de busca foi formada a partir de uma busca preliminar na MEDLINE e SCOPUS para identificar os descritores e palavras-chave que melhor correspondessem ao assunto da pesquisa. Os termos encontrados nos títulos e descritores foram combinados com outros pertinentes e testados. A busca será realizada a partir dos elementos do PCC, com termos utilizados dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) ou Medical Subject Headings (MeSH), juntamente com os operadores booleanos AND e OR. A seleção da melhor estratégia de busca será realizada com base nos testes feitos no portal da PubMed, considerando a estratégia que resultar no maior número de estudos relevantes para a temática proposta pela revisão (Figura 1). A estratégia e os termos de busca serão adaptados conforme cada base de dados.

Figura 1 – Estratégia completa na PubMed. Salvador, BA, Brasil, 2023

Seleção dos estudos

A seleção dos estudos seguirá um modelo adaptado de acordo com as diretrizes do JBI(13). Os resultados da busca serão exportados para o gerenciador de referências Rayyan, desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI)(18). O processo de seleção envolverá dois pesquisadores independentes; em caso de desacordo, um terceiro pesquisador resolverá o conflito. Registros duplicados serão considerados apenas uma vez com o auxílio do software Mendeley.

O Rayyan auxiliará na identificação dos estudos por título/resumo e texto completo, conforme os critérios de elegibilidade. A seleção ocorrerá em duas etapas(14): a primeira etapa envolve a triagem por título/resumo, e a segunda, a leitura do texto completo e verificação das referências. Os motivos de exclusão serão listados em um apêndice do relatório final e resumidos para apresentação na síntese(17).

Extração dos dados

A extração dos dados será realizada por meio da triagem do texto completo dos artigos incluídos. Os dados desses artigos serão extraídos pela leitura do texto completo e organizados em uma planilha Google, acessível a dois revisores.

Para cada registro, as seguintes informações serão avaliadas: detalhes bibliográficos (autores, ano de publicação, periódico, título, país do estudo, método adotado, design do estudo e amostra), população (materiais digitais de cuidado/assistência em enfermagem, definição de ecossistema digital, enquadramento teórico, estratégias de entrega do material, modelos teóricos e aplicabilidade temporal) e contexto (ambiente/cenário de aplicação). Além disso, as principais conclusões serão resumidas (Figura 2). O rascunho da ferramenta de coleta de dados será revisado e atualizado conforme necessário. Sempre que aplicável, os autores dos estudos serão contatados para solicitar informações adicionais que não estejam incluídas na publicação.

Figura 2 – Instrumento de extração dos dados da revisão. Salvador, BA, Brasil, 2023

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados serão mostrados no flowchart Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA)(19) e mapeados em forma de quadros/diagramas. Tais resultados serão acompanhados da elaboração de uma síntese narrativa dos dados, que será construída de acordo com categorias temáticas que surgirem a partir da leitura dos textos selecionados. Além disso, a construção do modelo de ecossistema, bem como a interpretação dos achados, será norteada pelo modelo práxico-tecnológico(10). Os estudos serão classificados quanto aos níveis de evidência e ao nível de recomendação de acordo com o Instituto Joanna Briggs(20).

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

REFERÊNCIAS

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Submissão: 29-12-2023

Aprovado: 30-11-2024

Editores:

Ana Carla Dantas Cavalcanti (ORCID: 0000-0003-3531-4694)

Paula Vanessa Peclat Flores (ORCID: 0000-0002-9726-5229)

Thalita Gomes do Carmo (ORCID: 0000-0002-5868-667X)

Autor correspondente: João Cruz Neto (enfjcncruz@gmail.com)