REVISÃO DE ESCOPO

Qualidade de vida profissional em bombeiros: um protocolo de revisão de escopo

Clodoaldo da Silva Almeida1, Iolete Ribeiro da Silva1, Ana Lúcia Siqueira Costa Calache2

1Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil

2Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Objetivo: Mapear tendências de utilização do Professional quality of life (PROQOL) em bombeiros. Método: Será aplicada a metodologia do Joanna Briggs Institute (JBI) para revisões de escopo. Seguirá diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Realizou-se pesquisa nas plataformas do Open Science Framework (OSF), International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), Cochrane Library, Epistemonikos, e no repositório online de acesso aberto (FIGSHARE), para identificar artigos idênticos, como não foi encontrado considera-se este trabalho original. Serão incluídas nesta revisão as bases: Excerpta Medica dataBASE (EMBASE), SCOPUS, Medical Literature Analysis and Retrieval System on Line (PubMed - MEDLINE), Science Direct, PsycInfo da American Psychological Association (APA), Google Scholar, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), bem como, Teses, Dissertações, artigos de sites governamentais e de bombeiros. Dois revisores selecionarão os artigos de maneira independente, não havendo consenso um terceiro revisor decidirá pela inclusão ou exclusão do estudo. O levantamento foi registrado na plataforma OSF website, e será um dos estudos mais abrangentes sobre a utilização dessa escala em Bombeiros.

Descritores: Bombeiros; Qualidade de Vida; Equipe de Busca e Resgate.

INTRODUÇÃO

A Qualidade de Vida Profissional, professional quality of life (PROQOL), pode ser entendida como o resultado do envolvimento emocional e afetivo que um profissional de ajuda desenvolve a partir da alegria em prestar um socorro a alguém, ou pelo sofrimento sentido, ao compartilhar da dor daqueles a quem ele ajudou(1-4).

No desenvolvimento desse construto foi criado um modelo teórico composto por dois pólos: um positivo definido como satisfação por compaixão, compassion satisfaction (CS), e outro negativo denominado de Fadiga por Compaixão, compassion fatigue (CF). O primeiro polo é caracterizado pelo sentimento de prazer no trabalho prestado a outrem, referindo-se ainda, ao sentimento de recompensa experimentado ao perceber que seu trabalho faz a diferença para o atendimento que realiza(1-4). O segundo polo é composto por dois subcomponentes: O Burnout (BO), caracterizado por um quadro de exaustão emocional, falta de energia e desânimo(5), e o Estresse Traumático Secundário, secondary traumatic stress (STS), definido como, o desenvolvimento de um sentimento de medo, sofrimento e trauma decorrente do atendimento prévio a uma pessoa traumatizada(1).

A CS pode promover o bem-estar do profissional, e esta sensação pode ser estimulada fortalecendo os fatores protetivos do PROQOL, descritos na literatura como: a relação empática entre o profissional e o doente/familiares; as características emocionais do indivíduo; a ambiência do trabalho; o apoio dos pares; o desenvolvimento de mecanismos de enfrentamento e resiliência; o estímulo da prática do autocuidado; o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; o incentivo ao autoconhecimento. A CS pode ser considerada ainda, como uma forma de capital de recuperação, proporcionando maior capacidade de enfrentamento e menor risco à um eventual trauma secundário(4,6-9).

A CF é considerada o polo negativo do modelo, e possui dois subcomponentes o BO e a STS, sendo considerada como o desequilíbrio e a preponderância de sentimentos negativos em relação ao trabalho desenvolvido. Algumas profissões são mais afetadas, como policiais, bombeiros, enfermeiros, médicos, psicólogos e assistentes sociais(4,10-11).

Verifica-se na literatura que desde a sua criação nos anos 1990, o construto PROQOL já foi utilizado em mais de 1000 publicações e sua escala adaptada à 28 países(12), além disso, esse construto vem evoluindo desde a propositura inicial de Charles Figley(1-2), ampliando-se com a visão de Beth Hudnall Stamm(3-4), e pelas adaptações culturais, como a versão Brasileira(13-14). Nesse contexto, pouco se conhece sobre as características do PROQOL entre socorristas bombeiros, o que justifica a realização desta revisão de escopo, esses profissionais enfrentam em seu cotidiano ambientes de trabalho inóspitos que são potencialmente fontes de alto estresse e que podem repercutir na qualidade de vida profissional desencadeando BO; o STS, e a redução da CS(15-16).

Não há registros de levantamento semelhante, conforme pesquisa preliminar nas bases de dados: International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), Medical Literature Analysis and Retrieval System on Line (PubMed-MEDLINE), Cochrane Library, Joanna Briggs Institute (JBI), Epistemonikos, American Psychological Association (APA) PsycInfo. Este protocolo foi registrado no Open Science Framework (OSF) website por meio da URL https://doi.org/10.17605/OSF.IO/JBEWN, e será um dos estudos mais abrangentes sobre a utilização dessa escala em Bombeiros.

MÉTODO

Questão de pesquisa

Quais são as principais características de utilização do PROQOL em Bombeiros?

Critério de elegibilidade

Os critérios de elegibilidade foram desenvolvidos utilizando o mnemônico PCC (população, conceito e contexto), conforme estratégia de busca.

População

Registros de estudos sobre PROQOL realizados com bombeiros operacionais.

Conceito

Estudos e publicações que sobre PROQOL e seus subcomponentes CS e CF (BO, STS).

Contexto

Os estudos devem ter sido realizados no contexto das atividades operacionais.

Etapas

Essa metodologia de pesquisa pode ser desenvolvida em três etapas.

Primeira etapa

A primeira etapa identificará as principais palavras-chave/descritores (Figura 1).

Figura 1 – Definição das palavras-chave. Manaus, AM, Brasil, 2023

Segunda etapa

A segunda etapa consistiu na definição da estratégia de busca a partir da ferramenta Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR)(17-20), sendo realizada uma busca teste (Figura 2).

Figura 2 – Teste de Estratégia de busca: Embase; Scopus; Pubmed; Science Direct; APA; Google Scholar; CINAHL. Manaus, AM, Brasil, 2023

Terceira etapa

A terceira etapa baseia-se na inclusão de artigos citados nas referências dos estudos selecionados inicialmente e que estejam de acordo com critérios de inclusão.

Tipos de fontes

O desenho e desenvolvimento para este protocolo de revisão de escopo foi o Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analysis Protocols (PRISMA-P)(17-20). Serão incluídos artigos extraídos das bases de dados: PUBMED, CINAHL, LILACS, SCOPUS, EMBASE e Google Acadêmico, bem como, incluirá sites de organizações de salvamento e resgate, de bombeiros, e Biblioteca de Teses e Dissertações. Não serão incluídos artigos de opinião, trabalhos publicados em anais de eventos científicos, revisões narrativas, tradicionais, publicações de websites de propaganda sobre o tema, vez que não contribuirão para responder o objetivo da pesquisa. Os filtros serão: idiomas português, espanhol e inglês, sem delimitação de tempo.

Seleção dos estudos

Após as três etapas de busca, os estudos recuperados serão agrupados em um único banco de dados por meio do software “MENDELEY” e os resultados serão analisados pelo diagrama de scoping review PRISMA-ScR(18-20) (Figura 3), e submetidos para publicação.

Fonte: Fluxograma PRISMA adaptado de Page et al., 2021 e Peters et al., 2020.  

Figura 3 – Modelo de diagrama de fluxo PRISMA 2020 para revisões sistemáticas. Manaus, AM, Brasil, 2023

Extração de dados

A análise dos artigos da amostra final incluirá detalhes específicos sobre os artigos, como título; formação do autor principal; data de publicação; país de pesquisa; desenho do estudo de pesquisa; objetivo/proposta; participantes/amostra; instrumento de coleta de dados; resumo/ideias mais relevantes; conclusões/análises/recomendações; comentários dos revisores, organizados em uma planilha criada pelos autores (Figura 4).

Figura 4 – Variáveis do artigo e padrões de análise. Manaus, AM, Brasil, 2022

Apresentação de dados

A apresentação dos dados seguirá a recomendação do PRISMA-P(18-20) (Figura 5). Todos os dados extraídos serão analisados por meio de estatística descritiva e apresentados na forma de resumo narrativo, diagramas ou tabelas, de acordo com os objetivos desta revisão.

Figura 5 – Registros de alterações nos padrões de variáveis. Manaus, AM, Brasil, 2022

Ética e divulgação

Não houve necessidade de aprovação em conselho de ética. Os resultados serão compartilhados por meio de publicação de acesso aberto em periódico revisado por pares.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

REFERÊNCIAS

1. Figley CR. Fadiga da compaixão: lida com o transtorno de estresse traumático secundário em quem trata os traumatizados. Filadélfia: Brunner/Maze; 1995.

2. Figley CR. Compassion fatigue: psychotherapist's chronic lack of self-care. J Clin Psychol. 2002;58(11):1433-41. https://doi.org/10.1002/jclp.10090

3. Stamm BH. Measuring compassion satisfaction as well as fatigue: developmental history of the compassion satisfaction and fatigue test. In: Figley CR, organizador. Treating compassion fatigue. New York: Brunner-Routledge; 2002. p. 107-19.

4. Stamm BH. The concise ProQOL manual [Internet]. [local desconhecido]:CVT; 2021 [citado 2023 Jul 5]. Disponível em: https://proqol.org/proqol-manual

5. Figley CR, Stamm BH. Psychometric review of compassion fatigue self test. In: Stamm BH, organizador. Measurement of stress, trauma, and adaptation. Lutherville: Sidran Press; 1996. p. 127-130.

6. Zamora JC, Marques SS, Pierdoná MT, Dupont MF, Habigzang LF. Trauma Vicário e secundário no trabalho com violência: revisão de escopo. Rev Psicol Organ Trab. 2022;22(2)e2002-10. http://dx.doi.org/10.5935/rpot/2022.2.22049

7. Torres J, Barbosa H, Pereira S, Cunha F, Torres S, Brito M, et al. Qualidade de vida profissional e fatores associados em profissionais da saúde. Psicol Saúde Doenças. 2019;20(3):670-81. http://dx.doi.org/10.15309/19psd200310

8. Souza CGVMD, Benute GRG, Moretto MLT, Levin ASS, Assis GRD, Padoveze MC, et al. Qualidade de vida profissional na saúde: um estudo em Unidades de Terapia Intensiva. Estud Psicol. 2019;24(3):269-80. http://dx.doi.org/10.22491/1678-4669.20190028

9. Arribas-García S, Alboniga-Mayor JJ, Iturrioz EB. Compassion satisfaction and compassion fatigue in oncology nursing staff: descriptive and correlational study. Enferm Glob. 2020;19(60):120-44. https://doi.org/10.6018/eglobal.417261

10. Penix EA, Kim PY, Wilk JE, Adler AB. Secondary traumatic stress in deployed healthcare staff. Psychol Trauma. 2019;11(1):1-9. https://doi.org/10.1037/tra0000401

11. Cheng P, Wang L, Zhou Y, Ma W, Zhao G, Zhang L, Li W. Post-traumatic stress disorder and depressive symptoms among firefighters: a network analysis. Front Public Health. 2023:1-12. https://doi.org/10.3389/fpubh.2023.1096771

12. Center for Victims of Torture. Professional quality of life measure: ProQOL. org. [Internet]. [local desconhecido]: CVT; 2019 [citado 2023 Jul 5].Disponível em: https://proqol.org/proqol-measure

13. LagoK, Codo W. Fadiga por compaixão: o sofrimento dos profissionais em saúde. Petrópolis: Vozes; 2010. 

14. Lago K, Codo W. Fadiga por compaixão: evidências de validade fatorial e consistência interna do ProQol-BR. Estud Psicol [Internet]. 2013 [citado 2023 jul 5];18(2):213-21. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v18n2/v18n2a06.pdf 

15. Haleem M, Masood S, Fazal S, Nazir F. Psychological capital and mental health of pakistani rescue workers: the role of professional quality of life. JPSP [Internet]. 2022 [citado 2023 Jul 5]; 6(10):3746-64. Disponível em: https://www.journalppw.com/index.php/jpsp/article/view/13918

16. Lopes HL, Barbosa SC. Qualidade de Vida Profissional: o que mantém o bem-estar psíquico de bombeiros? Rev Psicol, Organ Trab. 2020;20(2):1002-10. http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2020.2.18277

17. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O'Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and explanation. Ann Intern Med. 2018;169(7):467-73. https://doi.org/10.7326/M18-0850

18. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ. 2021;372:n71. https://doi.org/10.1136/bmj.n71

19. Peters MDJ, Marnie C, Tricco AC, Pollock D, Munn Z, Alexander L, et al. Updated methodological guidance for the conduct of scoping reviews. JBI Evid Synth. 2020;18(10):2119-26. https://doi.org/10.11124/JBIES-20-00167

20. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. Updating guidance for reporting systematic reviews: development of the PRISMA 2020 statement. J Clin Epidemiol. 2021;134:103-12.
https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2021.02.003

Submissão: 24-Jul-2023

Aprovado: 13-Nov-2023