REVISÃO DE ESCOPO

Efetividade de recursos audiovisuais educativos sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis: protocolo de revisão sistemática

Emanoelle Fernandes Silva1, Polyana Norberta Mendes1, Rosilane de Lima Brito Magalhães1

1Universidade Federal do Piauí, Piauí, Brasil

RESUMO

Objetivo: analisar o efeito das intervenções fornecidas por meio de recursos audiovisuais em comparação com a orientação tradicional para melhorar o conhecimento sobre infecções sexualmente transmissíveis entre jovens, adultos e idosos. Método: trata-se de uma revisão sistemática de efetividade, serão incluídas pessoas jovens, adultos e idosos, cuja intervenção foi apoiada em recursos audiovisuais. A estratégia de busca inicial foi construída na MEDLINE e será adaptada para as bases Scopus, Web of Science, CINAHL, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS via BVS), Cochrane e Embase. Não haverá delimitação de tempo ou idioma. A seleção e triagem acontecerá por dois revisores independentes. Para a análise crítica dos estudos elegíveis será utilizado instrumentos padronizados. Os estudos, independente da qualidade metodológica, passarão pelo processo de síntese e extração de dados. Se possível, os estudos serão agrupados em uma meta-análise estatística. Número de registro na PROSPERO: CRD42022374619.

Descritores: Adulto Jovem; Recursos Audiovisuais; Infecções Sexualmente Transmissíveis.

INTRODUÇÃO

Tecnologias educativas produzidas por meio de recursos audiovisuais têm se mostrado promissoras na promoção, prevenção e recuperação da saúde. São capazes de melhorar a percepção do conhecimento sobre práticas de saúde, relacionadas a uma determinada temática(1-2). Dado a sua natureza criativa, envolvente e apoiada no uso de vários sentidos como audição e visão, cada vez mais são empregadas como mecanismos auxiliadores no cuidado e fontes promissoras de informações em saúde de alta qualidade(3).

Um ensaio clínico randomizado mostrou que essa modalidade de intervenção educativa, produzida por meio de um vídeo, foi tão eficaz na promoção da saúde quanto o aconselhamento presencial realizado por profissionais durante a visita domiciliar(4). Nesse contexto, considerando a problemática das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), recursos educativos que possibilitem uma imersão na temática, acessibilidade e, ao mesmo tempo, entretenimento podem expandir as opções de prevenção e manter a população informada para a tomada de decisão correta em saúde(5).

Sobre as ISTs, estima-se que diariamente ocorram mais de um milhão de novos casos, entre assintomáticos e sintomáticos(6). Podem-se exemplificar as principais em dois grupos, as bacterianas curáveis, tais como, clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase(7). E as virais, que possuem tratamento, porém, têm potencial para gerar carcinomas e/ou problemas graves de saúde; são elas o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), hepatite B e HPV (Papiloma Vírus Humano).

Pessoas entre 15 e 24 anos possuem as maiores prevalências(8), bem como a realização de práticas de risco, como o não uso do preservativo e múltiplas parcerias sexuais. A população idosa também preocupa, uma vez que, nos últimos anos, aumentou o número de idosos sexualmente ativos e com comportamento sexual de risco(9).

Conhecimento elevado sobre essas infecções ainda é limitado a uma minoria de pessoas; a maioria apresenta nível moderado de informações sobre transmissão, prevenção e consequências destas infecções(10). Sugere-se que os mecanismos para educar a população devem ultrapassar as clínicas e salas de aula; tecnologias de ponta direcionadas para um público, conforme suas necessidades, devem ser consideradas, uma vez que podem influenciar a tomada de decisão sexual saudável(11).

Esta revisão tem como objetivo analisar o efeito das intervenções fornecidas por meio de recursos audiovisuais em comparação com a orientação tradicional para melhorar o conhecimento sobre ISTs entre jovens, adultos e idosos. Observa-se na literatura que há um número crescente de publicações voltadas para a construção de tecnologias para melhorar o conhecimento no contexto da saúde.

Com isso, defende-se que recursos audiovisuais, devido à sua facilidade de divulgação, bem como características atrativas e direcionadas para populações especificas podem ter a capacidade de ampliar e melhorar o conhecimento, facilitando a divulgação de informações sobre o contexto das ISTs. Para tanto, é preciso compreender como essa tecnologia tem melhorado o conhecimento, bem como a qualidade dos estudos produzidos sobre este recurso, a fim de esclarecer a efetividade desse tipo de intervenção.

Realizou-se uma pesquisa preliminar no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e JBI Evidence Synthesis e não foram encontradas revisões sistemáticas atuais ou em andamento abordando a questão de revisão deste estudo.

MÉTODO

Esta revisão sistemática de efetividade será realizada de acordo com as etapas metodológicas elaboradas pelo Joanna Briggs Institute (JBI)(12) e relatada conforme o Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(13). Este estudo encontra-se registrado no PROSPERO sob ID CRD42022374619. O presente protocolo foi elaborado seguindo o Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis Protocols (PRISMA-P)(14).

Pergunta de revisão

Estratégia PICO

Qual a efetividade do uso de recursos audiovisuais versus orientação expositiva ou nenhuma intervenção sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis no conhecimento de jovens, adultos e idosos?

Critérios de inclusão

Participantes

A população deste estudo envolverá jovens (13 a 25 anos), adultos (25 a 61 anos) e idosos (acima de 61 anos)(15). Serão considerados participantes de qualquer sexo, origem étnica e que possuam ou não deficiência física, mental ou sensorial.

Intervenção

Pretende-se que os estudos incluídos avaliem intervenções apoiadas em recursos audiovisuais (que envolvam imagem e som) de qualquer duração, frequência e intensidade projetadas para melhorar o conhecimento e que usem de recursos específicos para pessoas cegas ou surdas. Para esta revisão, as intervenções poderão incluir vídeos hospedados em diferentes plataformas, chamadas de vídeo e aplicativos móveis que possuem informações por meio de som e imagens. Serão excluídas intervenções que incluam apenas chamadas de áudio sem vídeo, videogames e realidade virtual.

Comparador

O uso de recursos audiovisuais será comparado com a orientação dialogada tradicional ou nenhuma intervenção. Entende-se por orientação dialogada tradicional a exposição em forma de palestra ou aula, sem necessariamente estar apoiada em um recurso específico, a não ser o projetor de imagens.

Desfechos

Os resultados primários desta revisão serão o nível de conhecimento sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis, mensurados por instrumentos validados, antes e depois da intervenção, e o nível de conhecimento estatisticamente significativo do grupo intervenção.

Tipo de estudo

Serão incluídos ensaios clínicos randomizados e não randomizados, estudos de intervenção pré e pós-teste, estudos tempo-série e delineamentos observacionais analíticos.

Estratégia de pesquisa

Inicialmente uma busca limitada foi realizada no PROSPERO e na JBI Evidence Synthesis, com o objetivo de identificar possíveis revisões sistemáticas em andamento; e na MEDLINE (PubMed) para verificar a adequabilidade da pergunta de revisão. Na ocasião foram identificados os termos de indexação para desenvolver a estratégia de busca, seguido de consulta no Medical Subject Headings (MeSH).

A estratégia de busca inicial foi construída na MEDLINE (PubMed) e será adaptada para cada base, assim como os descritores controlados e não controlados (Figura 1). As buscas serão submetidas a uma revisão formal segundo a diretriz PRESS (Peer Review of Electronic Search Strategies)(16). Serão incluídas publicações em qualquer idioma e sem delimitação de tempo.

As bases de dados a serem pesquisadas incluem a MEDLINE (via PubMed), Scopus, Web of Science, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL-Ebsco), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS via BVS), Cochrane e Embase.

Serão acrescidos estudos por meio da busca manual na lista de referências dos artigos selecionados. O OpenGrey, Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Google Scholar serão pesquisados para identificar a literatura cinzenta. Com o intuito de analisar todas as referências recuperadas, os autores correspondentes dos artigos que não estiverem disponíveis na íntegra e gratuitamente serão contatados a fim de disponibilizarem o manuscrito na íntegra.

Figura 1 – Estratégia de busca primária desenvolvida na base de dados MEDLINE via Pubmed. Teresina, PI, Brasil, 2023

Seleção de estudos

Após a busca nos bancos de dados, as referências recuperadas serão exportadas para o EndNote para a exclusão das duplicatas. O processo de seleção e triagem acontecerá no software Rayyan por dois revisores independes, acompanhados de um terceiro para o caso de divergências. Inicialmente, os revisores farão as análises dos títulos e resumo com base nos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos no acrônimo PICO. Os artigos elegíveis serão recuperados na íntegra; aqueles que não atenderam aos critérios serão registrados juntamente com os motivos.

O processo de seleção dos estudos será descrito na revisão sistemática final apresentada por meio do fluxograma disponível no PRISMA.

Avaliação da qualidade metodológica

Os estudos elegíveis serão criticamente avaliados por dois revisores independentes, considerando o tipo de estudo e sua descrição metodológica. Para tal, serão utilizados os instrumentos padronizados da JBI (JBI Critical Appraisal Checklist for Randomized Controlled Trials e JBI Critical Appraisal Checklist for Quasi-Experimental Studies: non-randomized experimental studies)(13).

Os autores correspondentes dos estudos serão consultados quando forem identificados dados ausentes ou para obter informações adicionais. A avaliação crítica será apresentada por meio de tabela acompanhada de sua descrição. Os estudos, independentemente da qualidade metodológica, passarão pelo processo de síntese e extração de dados. Questões relativas à qualidade metodológica dos artigos serão discutidas, bem como sua limitação para aplicação na prática.

Extração dos dados

Para a extração de dados utilizar-se-á a ferramenta de extração de dados padronizada fornecida pela JBI System for the Unified Management, Assessment and Review of Information (JBI SUMARE)(17). Os dados a serem extraídos dos estudos incluídos serão o primeiro autor, ano e local de publicação, tamanho da amostra, características dos participantes (idade, sexo, raça, educação, renda, ocupação e tipo de deficiência, se houver), contexto e desenho do estudo, fontes de financiamento, tipo de recurso audiovisual usado, conteúdo da intervenção, tipo de instrumento para avaliação do pré e pós-teste, medidas de resultado, medidas de efeito de dados contínuos e/ou dicotômicos (odds ratio, hazard ratio ou diferença média), significância estatística e outros indicadores de qualidade metodológica (randomização, ocultação de alocação, cegamento, completude do relatório).

Quaisquer discrepâncias entre os dois revisores serão resolvidas por meio de discussão com um terceiro revisor. Os autores dos artigos a serem incluídos na revisão serão contatados para informações adicionais se estiverem faltando dados importantes.

Síntese de dados

Se possível, os estudos serão agrupados em uma meta-análise estatística. As variáveis dicotômicas terão seu tamanho de efeito avaliado e serão apresentadas por meio da razão de chances, e as variáveis contínuas, por meio das diferenças médias pós-intervenção final ponderadas (ou padronizadas). Os intervalos de confiança (95%) serão calculados para análise. A avaliação da heterogeneidade se dará utilizando os testes χ2 e I2. As análises estatísticas serão realizadas usando efeitos aleatórios ou fixos com base em orientações estabelecidas(18). Os resultados serão apresentados em um formato narrativo, incluindo tabelas e figuras, quando o agrupamento estatístico não for possível.

Um gráfico de funil será gerado no META-FUNNEL (Stata Corp), para avaliar o viés de publicação juntamente com a análise de simetria do gráfico por meio de testes estatísticos (teste de Egger, teste de Begg, teste de Harbord) que serão realizados, quando apropriado.

Estabelecendo a confiança dos resultados

O Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation (GRADE) será utilizado para classificação da certeza das evidências(19). A fim de caracterizar os dados obtidos, quando possível, serão calculados riscos absolutos e relativos para os grupos (intervenção e controle), grau de recomendação com base no nível de evidência, porcentagem de variação entre os estudos, precisão e risco de publicação de viés. Os resultados relatados serão:

I) nível de conhecimento após intervenção versus nível de conhecimento após aula tradicional ou nenhuma intervenção;

II) diferença estatisticamente significativa entre os grupos intervenção e controle;

III) diferença estatisticamente significativa no grupo intervenção antes e após o uso da intervenção.

REFERÊNCIAS

1. McDonall J, Hutchinson AF, Redley B, Livingston PM, Botti M. Usability and feasibility of multimedia interventions for engaging patients in their care in the context of acute recovery: A narrative review. Health Expect. 2019;22(6):1187-1198.  https://doi.org/10.1111/hex.12957

2. Li F, Yang CP, Chang CH, Ho CA, Wu CY, Yeh HC, et al. Effect of the Brief Instructional Video Intervention on the Quality of Cardiopulmonary Resuscitation. Int J Med Sci. 2023;20(1):70-78. https://doi.org/10.7150/ijms.79433

3. Rubel KE, Alwani MM, Nwosu OI, Bandali EH, Shipchandler TZ, Illing EA, et al. Understandability and actionability of audiovisual patient education materials on sinusitis. Int Forum Allergy Rhinol. 2020;10(4):564-571. https://doi.org/10.1002/alr.22518

4. Adam M, Johnston J, Job N, Dronavalli M, Le Roux I, Mbewu N, et al. Evaluation of a community-based mobile video breastfeeding intervention in Khayelitsha, South Africa: The Philani MOVIE cluster-randomized controlled trial. PLoS Med. 2021;18(9):e1003744. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003744

5. Birdthistle I, Mulwa S, Sarrassat S, Baker V, Khanyile D, O'Donnell D, et al. Effects of a multimedia campaign on HIV self-testing and PrEP outcomes among young people in South Africa: a mixed-methods impact evaluation of 'MTV Shuga Down South'. BMJ Glob Health. 2022;7(4):e007641. http://dx.doi.org/10.1136/bmjgh-2021-007641

6. World Health Organization. Sexually transmitted infections (STIs) [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [citado 2022 dez 21]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/sexually-transmitted-infections-(stis)

7. Rowley J, Vander Hoorn S, Korenromp E, Low N, Unemo M, Abu-Raddad LJ, et al. Chlamydia, gonorrhoea, trichomoniasis and syphilis: global prevalence and incidence estimates, 2016. Bull World Health Organ. 2019;97(8):548-562P. https://doi.org/10.2471/BLT.18.228486

8. Kreisel KM, Spicknall IH, Gargano JW, Lewis FMT, Lewis RM, Markowitz LE, et al. Sexually Transmitted Infections Among US Women and Men: Prevalence and Incidence Estimates, 2018. Sex Transm Dis. 2021;48(4):207. https://doi.org/10.1097/OLQ.0000000000001368

9. Kim HY, Choe HS, Lee DS, Yoo JM, Lee SJ. Sexual behavior and sexually transmitted infection in the elderly population of South Korea. Investig Clin Urol. 2019;60(4):244-250. https://doi.org/10.4111/icu.2019.60.4.244

10. Voyiatzaki C, Venetikou MS, Papageorgiou E, Anthouli-Anagnostopoulou F, Simitzis P, Chaniotis DI, et al. Awareness, Knowledge and Risky Behaviors of Sexually Transmitted Diseases among Young People in Greece. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(19):10022. https://doi.org/10.3390/ijerph181910022

11. Sieving RE, Gewirtz O'Brien JR, Saftner MA, Argo TA. Sexually Transmitted Diseases Among US Adolescents and Young Adults: Patterns, Clinical Considerations, and Prevention. Nurs Clin North Am. 2019;54(2):207-225.  https://doi.org/10.1016/j.cnur.2019.02.002

12. Tufanaru C, Munn Z, Aromataris E, Campbell J, Hopp L, Aromataris E, et al. Chapter 3: Systematic reviews of effectiveness. In: Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis [Internet]. Adelaide: JBI; 2020 [citado 2022 dez 21]. Disponível em: https://synthesismanual.jbi.global/. https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-04  

13. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ 2021;372:n71. https://doi.org/10.1136/bmj.n71

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17. Munn Z, Aromataris E, Tufanaru C, Stern C, Porritt K, Farrow J, et al. The development of software to support multiple systematic review types: the Joanna Briggs Institute System for the Unified Management, Assessment and Review of Information (JBI SUMARI). Int J Evid Based Healthc. 2019;17(1):36-43.  https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000152

18. Tufanaru C, Munn Z, Stephenson M, Aromataris E. Fixed or random effects meta-analysis? Common methodological issues in systematic reviews of effectiveness. Int J Evid Based Healthc. 2015;13(3):196-207. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000065

19. Schünemann H, Brożek J, Guyatt G, Oxman A, editors. Handbook for grading the quality of evidence and the strength of recommendations using the GRADE approach [Internet]. [local desconhecido]: The GRADE Working Group; 2013 [citado 2022 out 12]. Disponível em: https://gdt.gradepro.org/app/handbook/handbook.html

Submissão: 02-Fev-2023

Aprovado: 07-Ago-2023