REVISÃO DE ESCOPO

 

Assistência da Prática Avançada de Enfermagem nas doenças crônicas não transmissíveis: uma scoping review

 

Marjorie Dantas Medeiros Melo1, Luana Souza Freitas1, Lorena Brito do O’1, Simone Karine da Costa Mesquita1, Isabelle Pereira da Silva1, Rhayssa de Oliveira e Araújo1, Andrea Sonenberg1, Isabelle Katherinne Fernandes Costa1

 

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil

2Universidade Pace, Nova York, EUA

 

RESUMO

Objetivo: Mapear na literatura como ocorre a assistência da prática avançada de enfermagem às pessoas com doenças crônicas não transmissíveis no contexto da atenção primária à saúde. Método: Scoping review, realizada em bases de dados e fontes de literatura cinzenta pelo cruzamento dos descritores “Prática Avançada de Enfermagem”; “Atenção Primária à Saúde"; “Resultados, efeitos, impactos, consequências” em inglês. Resultados: a amostra foi de 24 artigos, 10 (41,60%) enfocam a assistência de enfermagem de prática avançada em pacientes com diabetes; seis (25,00%) no campo dos pacientes com doença cardiovascular; três (12,50%) no campo dos pacientes com câncer; três (12,50%) abordam o papel da prática avançada em mais de uma doença crônica não transmissível e dois (8,30%) abordam o desempenho em pacientes com doenças respiratórias. Conclusão: identificou-se a assistência da prática avançada de enfermagem às pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e observou-se resultados positivos na atenção das quatro doenças crônicas estudadas.

 

Descritores: Prática Avançada de Enfermagem; Atenção Primária à Saúde; Doenças Não Transmissíveis.

 

INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) representam problemas de saúde de grande preocupação global, incluindo doenças cardiovasculares (DCV), diabetes, problemas respiratórios crônicos e câncer. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, as DCNT foram responsáveis por 73,6% das mortes em nível mundial. No Brasil, no mesmo ano, essas doenças contribuíram para 41,8% das mortes na faixa etária entre 30 e 69 anos(1-2).

A Atenção Primária à Saúde (APS) é um modelo crucial para a prevenção e tratamento dessas condições, mas apresenta fragilidades no controle das mesmas(3-4). Para fortalecer essa abordagem, é essencial expandir os recursos humanos disponíveis para assistência. Portanto, algumas organizações nas Américas têm promovido reflexões sobre meios e métodos para fundamentar a Prática Avançada de Enfermagem (PAE) em seus respectivos países(5).

O Conselho Internacional de Enfermeiros define um enfermeiro de prática avançada como aquele que possui conhecimento especializado, habilidades complexas de tomada de decisão e proficiência clínica para práticas ampliadas. Essas características variam de acordo com o contexto do país em que o enfermeiro está autorizado a atuar(6).

No contexto brasileiro, a Enfermagem de Prática Avançada (EPA) pode suprir as necessidades de mão de obra na APS e desempenhar um papel significativo na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). A contribuição dos enfermeiros brasileiros os estabelece como provedores de assistência robustos para as necessidades de saúde da população, especialmente em áreas com recursos limitados e onde as DCNT são mais prevalentes.

Diante disso, o objetivo deste estudo é mapear, por meio da literatura, como a assistência da Prática Avançada de Enfermagem é fornecida a pessoas com doenças crônicas não transmissíveis no contexto da Atenção Primária à Saúde.

 

MÉTODO

Trata-se de uma scoping review conduzida em 2020 e atualizada em fevereiro de 2023. Para formular a questão de pesquisa, utilizou-se a estratégia mnemônica Population, Concept e Context (PCC). Foram definidos os seguintes elementos: População (P) - enfermeiros de prática avançada; Conceito (C) - manejo de doenças crônicas não transmissíveis; Contexto (C) - atenção primária à saúde. Assim, a questão delineada foi: "Como enfermeiros de prática avançada conduzem o manejo de doenças crônicas não transmissíveis na atenção primária à saúde?".

O protocolo elaborado para o desenvolvimento desta revisão foi registrado na plataforma OSF, com o número de identificação DOI 10.17605/OSF.IO/4ZDKW. Devido à natureza de revisão de literatura, não foi necessária a análise por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

A busca na língua inglesa foi realizada com os seguintes descritores do Medical Subject Headings (MeSH): "Advanced Practice Nursing"; "Primary Health Care"; "Outcomes, Effects, Impact, Consequences". A Figura 1 abaixo apresenta os cruzamentos utilizados:

 

FONTE DE DADOS

CRUZAMENTO

  • CINAHL

  • PubMed

  • Web of Science

  • Pace University Library

advanced practice nursing AND primary health care AND (outcomes OR effects OR impact OR consequences)

  • Scopus

“advanced practice nursing” AND “primary health care” AND (outcomes OR effects OR impact OR consequences)

  • Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

  • Portal DART-Europe E-Theses

advanced practice nursing AND chronic disease

Figura 1 – Fontes de dados e cruzamentos utilizados. Natal, RN, Brasil, 2023

 

Foram selecionados documentos nas línguas portuguesa, inglesa ou espanhola, divulgados a partir de 2010, a fim de proporcionar uma exposição atualizada sobre a temática. Os documentos selecionados deveriam apresentar, no mínimo, um desfecho, efeito, impacto ou consequência da assistência de prática avançada de enfermagem para uma das DCNT na APS. Foram excluídas pesquisas secundárias, trabalhos divulgados em eventos, estudos com métodos pouco claros e documentos que não abordassem diretamente a questão de pesquisa.

A avaliação dos estudos foi conduzida utilizando o sistema de Classificação de Recomendações, Avaliação, Desenvolvimento e Avaliação (GRADE)(7). Os estudos foram classificados em categorias de alta, moderada, baixa ou muito baixa, de acordo com esse sistema.

Após a aplicação dos descritores do estudo, a busca inicial identificou um total de 2389 estudos, como representado na Figura 2. A seleção dos estudos foi realizada seguindo as recomendações dos itens do Relatório Preferencial para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises para Scoping Reviews (PRISMA-ScR).

 

Figura1

 

Fonte: Fluxograma PRISMA-ScR adaptado de Tricco et al., 2018.

Figura 2 – Fluxograma PRISMA-ScR de busca e seleção dos estudos. Natal, RN, Brasil, 2023

 

RESULTADOS

Foram identificados 24 artigos no total. Desses, dez (41,60%) abordaram o manejo de pessoas com diabetes, seis (25,00%) focaram em pacientes afetados por doenças do aparelho circulatório, três (12,50%) se concentraram em pacientes com câncer, outros três (12,50%) abordaram múltiplas comorbidades e dois (8,30%) trataram de doenças respiratórias. A distribuição do enfoque das DCNT nos estudos selecionados é apresentada de forma resumida na Figura 3 abaixo.

 

ESTUDO/

DOENÇA

PAÍS

NÍVEL

RESULTADO

(8)E1/Diabetes

EUA

Baixo

As intervenções das enfermeiras reduziram a hemoglobina A1C e a glicose a um grau maior do que os médicos.

(9)E2/Diabetes

EUA

Moderado

Os EPA relataram que se sentiram bem preparados e moderadamente eficazes no fornecimento de aconselhamento para mudança de estilo de vida.

(10)E3/Diabetes

Inglaterra

Moderado

Muitos benefícios foram descritos: melhor acesso a aconselhamento e medicamentos adequados; maior compreensão e capacidade de autogestão; capacidade de resolver problemas e maior segurança, confiança e bem-estar.

(11)E4/Diabetes

EUA

Baixo

O grupo que participou da intervenção teve melhores resultados clínicos (glicemia e A1Cs), maior conhecimento e melhor autogerenciamento após a intervenção do que os grupos de cuidados habituais.

(12)E5/Diabetes

EUA

Muito baixo

As visitas EPA (n = 262) e as visitas de médicos voluntários (n = 52) não diferiram estatisticamente para o alcance da meta de A1c, HDL ou LDL. Encaminhamentos de oftalmologia e podologia e testes de microfilamento foram um pouco mais frequentes para o EPA do que para os médicos voluntários.

(13)E6/Diabetes

EUA

Baixo

Os NPs foram semelhantes aos médicos ou ligeiramente mais baixos em suas taxas de tratamento de acordo com as diretrizes de diabetes. Os NPs usaram consultas especializadas com mais frequência, mas tiveram custos gerais de atendimento semelhantes aos dos médicos.

(14)E7/Diabetes

EUA

Muito baixo

À medida que os EUA continuam a implementar o APN, os autores sugerem que a redução do escopo de restrições da prática de NP irá construir a capacidade de APS, aumentar o acesso e melhorar os resultados de saúde e proporcionar economia direta e indireta para o gerenciamento de doenças crônicas.

(15)E8/Diabetes

EUA

Muito baixo

Pacientes com duas ou mais visitas FNP e duas ou mais visitas com a equipe de educação interprofissional tiveram reduções estatisticamente significativas nos níveis de HgbA1c ao final de 1 ano.

(16)E9/Diabetes

EUA

Baixo

No diagnóstico e durante 4 anos de acompanhamento da diabetes por enfermeira praticantes e assistentes médicos era comparável a gestão por médicos. The Veterans Health Modelo de administração para papéis de enfermeiros e assistentes médicos podem ser amplamente útil para ajudar atender a demanda por primários prestadores de cuidados nos EUA.

(17)E10/Diabetes

EUA

Baixo

Os pacientes no grupo apenas de profissionais de enfermagem tiveram resultados significativamente melhores em comparação com todos os grupos de prestadores de cuidados de saúde primários em relação à utilização de serviços de saúde, resultados de saúde do paciente e custos de saúde.

(18)E11/Diabetes, Hipertensão ou Doença Cardíaca Isquêmica Estável

Australia

Baixo

Todos os grupos identificaram vantagens significativas para o modelo e optaram por continuar com o cuidado conduzido por EPA após a conclusão do estudo.

(19)E12/Diabetes e Doença Cardiovascular

EUA

Baixo

A qualidade dos cuidados com diabetes e DCV foi comparável entre médicos e EPA com diferenças clinicamente insignificantes. Independentemente do tipo de provedor, há uma necessidade de melhorar o desempenho nas medidas elegíveis em pacientes com diabetes ou DCV.

(20)E13/Diabetes e Doença Cardiovascular

EUA

Moderado

Os médicos tiveram painéis de pacientes significativamente maiores em comparação com os EPA. Em análises ajustadas, os pacientes com diabetes receberam menos visitas de cuidados primários e especializados e um maior número de painéis de lipídios e testes de HbA1c em comparação com os pacientes que recebem cuidados de médicos.

(21)E14/Doença Cardiovascular

Inglaterra

Muito baixo

A prescrição permitiu que os enfermeiros superassem os problemas existentes na prestação de serviços para melhorar o acesso, a eficiência e a conveniência do paciente, reduzindo as internações hospitalares e o tempo de internação. Também possibilitou consultas centradas no paciente, o que encorajou o autogerenciamento, melhorou a adesão e reduziu o uso inadequado de serviços.

(22)E15/Doença Cardiovascular

Canadá

Moderado

São apresentadas evidências sobre a eficácia das duas abordagens para modificar o hábito de fumar, dieta e exercício físico. Recomenda a implementação da prática avançada de enfermagem.

(23)E16/Doença Cardiovascular

EUA

Baixo

Os pacientes relataram satisfação com um NP prestando cuidados. O NP foi capaz de lidar efetivamente com a doença/doença cardíaca congênita (95%) e uma chance aumentada (94%) ou vontade de ver um NP em uma consulta futura. Apenas 73% relataram uma compreensão do treinamento NP e como um NP difere de uma enfermeira registrada. Houve uma percepção mais forte de como um EPA difere de um médico (83%).

(24)E17/Doença Cardiovascular

EUA

Baixo

A taxa de admissões hospitalares, visitas ao departamento de emergência e readmissões de 30 dias foi reduzida em 64%, 85% e 95%, respectivamente. EPA pode ser usado em sua capacidade total para fornecer cuidados de alta qualidade e com boa relação custo-benefício.

(25)E18/Doença Cardiovascular

Eslovênia

Moderado

Na visita de controle, os pacientes aconselhados por enfermeiras tinham níveis significativamente mais baixos de pressão arterial sistólica e colesterol e praticavam atividade física regular com muito mais frequência do que os pacientes aconselhados por médicos de família.

(26)E19/Doença Cardiovascular

Reino Unido

Alto

Os autores não demonstraram a eficácia de cuidados liderados por enfermeiras comparados com atendimento médico.

(27)E20/Câncer

EUA

Muito baixo

EPA têm um forte impacto no atendimento à sobrevivência ao câncer, atuando em várias funções e configurações ao longo da trajetória do câncer para melhorar os resultados dos pacientes.

(28)E21/Câncer

EUA

Alto

Eles não encontraram diferenças entre os dois grupos nos resultados primários relatados pelo paciente (sintomas, problemas de saúde, depressão, estado funcional, saúde auto-relatada) em um e três meses após a linha de base; no entanto, os sintomas físicos e emocionais permaneceram estáveis ou melhoraram significativamente desde o início para ambos os grupos.

(29)E22/Câncer

Suíça

Muito baixo

No total, 35/46 de pacientes atendeu aos critérios de viabilidade recebendo todos os EPA programados consultas. Cinquenta e seis por cento (26/46) (Intervalo de Confiança: 95%, 0,41 a 0,71) completou o PROMs (medidas de resultados relatados pelo paciente) nos três pontos de tempo. Autoeficácia para gerenciamento de sintomas permaneceu estável e a intensidade de sintomas predominantes aumentou.

(30)E23/DPOC

EUA

Moderado

Os pacientes que recebem cuidados de EPA tiveram taxas mais baixas de visitas ao pronto-socorro para DPOC e tiveram uma taxa de acompanhamento mais alta com especialista em pulmão em 30 dias de hospitalização por DPOC do que aqueles atendidos por médicos.

(31)E24/Asma

China

Muito baixo

Durante a consulta, a enfermeira avaliou e identificou as ações necessárias para que o paciente alcançasse os requisitos de autocuidado. A enfermeira desenvolveu um sistema de apoio com base nas necessidades do paciente, baseado na teoria. Esse modelo de cuidado apresentou uma estrutura adequada para prática da enfermagem avançada na APS.

Legenda: *EPA – Enfermeiro de Prática Avançada; NP-Enfermeira Praticante; APS - Atenção Primária à Saúde; FNP – Enfermeiro de saúde da Família; APN-Advanced Practice Nursing; DCV - Doença Cardiovascular; DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

Figura 3 – Distribuição dos estudos segundo DCNT, país, nível de evidência, objetivo e desfechos. Natal, RN, Brasil, 2023

 

DISCUSSÃO

No contexto brasileiro, as DCNT são responsáveis por 54,7% de todas as mortes, sendo as doenças do aparelho circulatório as principais causadoras de óbitos(32).

Em relação aos estudos sobre a PAE na atenção às pessoas com diabetes, as descobertas indicam que as respostas de saúde podem ser equivalentes ou superiores às terapias aplicadas por médicos(14). Nos cuidados direcionados por enfermeiros de prática avançada para pacientes diabéticos, várias intervenções demonstraram melhorias significativas, como a monitorização dos exames laboratoriais de glicemia e hemoglobina A1C, que apresentaram resultados dentro da faixa normal(11).

Autores destacam a importância da consulta de Enfermagem como uma ferramenta crucial no acompanhamento de pessoas com diabetes, enfatizando a abordagem empática das necessidades dos pacientes como uma estratégia influente na adesão ao tratamento e controle da doença(33).

No que diz respeito às doenças cardiovasculares (DCV), as pesquisas indicam que os cuidados fornecidos por enfermeiros de prática avançada com eficácia e abordagem holística resultam em pacientes com pressão arterial e níveis de colesterol consideravelmente mais baixos. Os autores também discutem sobre os custos nos sistemas de saúde, destacando economias substanciais, atendimento de alta qualidade e uma abordagem centrada no paciente com habilidades de comunicação para atender às necessidades individuais(13-14,16).

No Brasil, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 364.132 mortes em 2019, sendo que 38,7% dessas ocorreram durante os anos produtivos da vida (20 a 69 anos). A falta de acompanhamento de saúde resulta em agravamento da condição, internações e, em alguns casos, óbitos, o que impacta nos custos dos serviços de saúde e na renda familiar. A enfermagem, como profissão que orienta, assiste e contribui para a prevenção e promoção da saúde, se torna uma aliada importante nesse cenário, reduzindo o número de pessoas com limitações devido a problemas cardiovasculares(32,34-35).

Em relação à assistência do enfermeiro de prática avançada a pessoas com câncer, uma revisão sistemática revelou benefícios para a saúde dessa população, incluindo melhoria no controle da dor, qualidade de vida, sobrevida e apoio relacionado a aspectos psicoemocionais e tomada de decisões compartilhadas após as orientações do profissional. Apesar das vantagens, os autores destacam a necessidade de capacitação com conhecimentos e habilidades específicas para a prestação desse cuidado, bem como a regulamentação da PAE no Brasil(36).

Apoiando esses pontos e alinhado com o objetivo de implementar a PAE, autores mapearam e validaram 125 competências para a formação de enfermeiros de prática avançada em oncologia. Essas competências estão agrupadas em seis domínios, focados na formação de enfermeiros que baseiam seus cuidados em evidências, agindo com compromisso ético, liderança e colaboração na equipe multiprofissional, e promovendo a educação em saúde e a pesquisa(37).

No que se refere às doenças respiratórias crônicas, as intervenções de enfermagem foram associadas a um melhor controle e identificação de sinais de exacerbação da doença por parte dos pacientes, resultando na redução do número, duração e custos de internações hospitalares. Isso demonstra os benefícios da assistência de enfermagem à população com doenças respiratórias(38).

Além disso, destaca-se o uso de teorias de enfermagem como embasamento para as práticas de EPA, como evidenciado em um dos estudos(31). A integração teórica para fundamentar a prática clínica é fundamental para o sucesso da prática avançada, uma vez que permite uma compreensão teórica do campo de atuação, avanços na educação e pesquisa, bem como a sistematização do cuidado. No entanto, ainda existem desafios no uso e alinhamento das teorias à prática clínica, demandando um maior incentivo à formação e à expansão das teorias nas pós-graduações, visando fortalecer a educação, pesquisa e assistência(39).

Nesse contexto, a prática avançada apresenta potenciais significativos para promover mudanças nas organizações e no cuidado em saúde, com o objetivo de fortalecer e aprimorar o atendimento na APS. Os EPA se destacam na assistência por possuírem um preparo teórico-prático ampliado para atender necessidades específicas, e essa característica tem sido observada no campo da assistência(39).

Estudos internacionais abordam o uso de evidências científicas pelos EPA, com resultados positivos para a assistência, o que favorece uma melhor capacidade de liderança e impacta positivamente a eficácia do sistema de saúde na APS (37,40-42). Em alguns países, a presença do EPA é uma realidade e sua relevância para os serviços de saúde é compreendida, o que melhora a qualidade da assistência e traz resultados positivos para a saúde dos pacientes(14).

Na APS, a implementação da gestão do cuidado por meio dos EPA resultou em melhorias no atendimento aos pacientes com DCNT. A comunicação eficaz entre profissionais e pacientes levou a uma maior adesão ao tratamento e à melhoria dos sintomas físicos e psicológicos. O diálogo e o aconselhamento adequado promovem uma compreensão favorável e amplificam a capacidade do paciente para autocuidado e resolução de problemas(15,17,29).

Conforme destacado pela presidente do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), no Brasil já existem diversas práticas avançadas, porém é essencial identificá-las para alcançar os resultados e impactos desejados na assistência de enfermagem. Contudo, em muitos países da América Latina e Caribe onde a PAE ainda não é regulamentada, muitos enfermeiros trabalham além de seus limites de atuação, sem o reconhecimento legal e a formação adequada para a prática avançada (43-44). Portanto, a importância de regulamentar e implementar a Enfermagem de prática avançada no Brasil é enfatizada, visando beneficiar a população, promovendo a saúde, prevenindo doenças e agravos, reduzindo os custos hospitalares e diminuindo as disparidades na atenção à saúde no país.

Quanto às limitações deste estudo, é apontado o baixo nível das evidências encontradas. Dessa forma, reforça-se a importância de desenvolver novos estudos com evidências robustas para contribuir na identificação do impacto causado pelos EPA em diferentes cenários e condições de saúde. Este trabalho representa um avanço ao apresentar um panorama da PAE no mundo, estimulando a reflexão sobre uma possível implementação no Brasil.

 

CONCLUSÃO

Os resultados desta revisão evidenciam os impactos positivos da prática avançada de enfermagem no manejo das quatro principais doenças crônicas não transmissíveis na esfera da atenção primária à saúde, em escala global.

No âmbito internacional, recomenda-se a implementação da assistência por enfermeiros de prática avançada, capacitados para aplicar práticas baseadas em evidências que conduzam à resolução dos problemas de saúde e à prestação de atendimento de qualidade aos pacientes. A Organização Pan-Americana da Saúde endossa essa perspectiva, enfatizando a importância de uma abordagem voltada para as necessidades das populações da América Latina e do Caribe. Nesse contexto, torna-se fundamental investir no Brasil na formação de enfermeiros de prática avançada na APS, com o objetivo de expandir os cuidados oferecidos e atender à população com eficácia e qualidade, contribuindo assim para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde.

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

REFERÊNCIAS

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Submissão: 29/03/2023

Aprovado: 07/08/2023

 

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