PROTOCOLO DE REVISÃO

Competências da enfermagem forense em situações de desastres: protocolo de revisão de escopo

Thiago Augusto Soares Monteiro da Silva1, Débora Fernanda Haberland1, Thais da Silva Kneodler1, Alexandre Barbosa de Oliveira1

1Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO

Objetivo: mapear fontes de informação técnico-científica sobre as competências da enfermagem forense em situações de desastres. Método: protocolo de revisão de escopo, desenvolvido em conformidade com a metodologia Joanna Briggs Institute (JBI). A busca será realizada em três etapas, por dois revisores, de maneira independente, em bases de dados selecionadas e na literatura cinzenta, por meio das palavras-chaves e dos descritores. A seleção, inicialmente, será por meio de títulos, resumos e descritores, observando os critérios de inclusão. Posteriormente, os textos serão arquivados em pastas digitais e lidos na íntegra por dois pesquisadores com o apoio de instrumento. Após a extração dos dados, será procedida a análise de conteúdo. A síntese dos resultados será apresentada na forma de gráficos, diagramas, tabelas e fluxos, buscando-se os devidos alinhamentos com o objetivo e a pergunta de pesquisa.

Descritores: Desastres; Enfermagem Forense; Saúde.

INTRODUÇÃO

Os desastres compreendem fenômenos complexos que ocorrem de forma gradual ou súbita, resultando da combinação de ameaças de origens naturais, tecnológicas e sociais, da exposição e das vulnerabilidades, excedendo a capacidade de preparação e resposta(1-4). Constituem grave problema de saúde pública, pois promovem danos nas diversas dimensões da vida para indivíduos, grupos sociais e meio ambiente(1-4).

Desde a antiguidade, a humanidade vivencia situações de diferentes tipologias de desastres de origem natural (deslizamentos de terra, inundações, secas, epidemias e pandemias), tecnológica (incêndios, rompimentos de barragens de rejeitos, acidentes químicos, radionucleares, ferroviários, aeroviários e rodoviários) e social (violências, migrações forçadas e desassistência), deflagrando necessidades humanas básicas a serem assistidas pela enfermagem(1-4).

Independentemente da tipologia, as situações de desastres vêm aumentando e gerando, cada vez mais, impactos para as diferentes sociedades, como identificado no ano de 2021 pelo banco de dados de eventos de emergência (EM-DAT), o qual registrou 432 desastres que afetaram 101,8 milhões de pessoas, provocaram 10.492 mortes e acarretaram a perda de, aproximadamente, 252,1 bilhões de dólares(5). Face ao quadro epidemiológico sustenta-se a necessidade premente de se investir em governança, pesquisas, capacitação de recursos humanos de múltiplas áreas e desenvolvimento de habilidades e competências específicas nas fases de desastres(1,6,7).

Diante das situações de desastres, os profissionais de enfermagem tendem a ser os primeiros respondentes, pois, geralmente, constituem o maior contingente de profissionais da área da saúde, assumindo múltiplos papéis nas fases de pré-incidente, incidente e pós-incidente (1,8-10).

Destarte, o International Council of Nurses (ICN), junto à World Health Organization (WHO), apontaram certos desafios no que tange à atuação de profissionais de enfermagem no processo saúde-desastre-cuidado, o que remete à necessidade de pesquisas, discussão e disseminação de informações sobre as competências essenciais da enfermagem para atuação nas distintas fases de desastres(8,9,11).

Dentre as subáreas que podem trazer contribuições substanciais para alicerçar as competências da enfermagem em desastres, têm-se a enfermagem forense, pois entende-se que, no processo de cuidar em tais situações, emergem problemáticas inerentes aos aspectos forenses, como casos de vítimas mortas não identificadas, presença de despojos, abandono de idosos, negligência de cuidados a crianças e pessoas com necessidades especiais, lesões, existência de múltiplos vestígios forenses, violência sexual contra vítimas de guerras e refugiados e violências interpessoais em abrigos temporários e hospitais de campanha, além da necessidade de serem desempenhados  cuidados com base nas leis locais, regionais e/ou nacionais(12-16).

A enfermagem forense compreende uma nova especialidade da enfermagem no Brasil, sendo que o reconhecimento formal daquela ocorreu no âmbito do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), pela Resolução número 389 de 2011. Por sua vez, as áreas de atuação e as competências do enfermeiro forense foram reconhecidas pela Resolução COFEN número 0556 de 2017(17-18). Ressalta-se que os desastres, as missões humanitárias e catástrofes representam uma das oito áreas de atuação do enfermeiro forense no Brasil, sendo necessário aprofundar as investigações científicas sobre as competências da atuação do enfermeiro forense nesse contexto.

Identifica-se que o enfermeiro forense pode atuar no contexto de desastres, ao estabelecer cuidados para prevenir/mitigar, diagnosticar a existência de riscos e desempenhar intervenções, respondendo às situações instaladas e promovendo cuidados aos indivíduos(12).

Diante do exposto, a fim de subsidiar o desenvolvimento de um estudo de revisão de escopo, realizou-se busca preliminar entre novembro e dezembro de 2021, no PROSPERO, JBI Evidence Synthesis, MEDLINE (via PubMed) e Cochrane Database of Systematic Reviews, oportunidade na qual não foram identificadas revisões de quaisquer naturezas sobre competências da enfermagem forense em situações de desastres, o que representa diferencial desse estudo. Isto posto, optou-se pela realização de revisão de escopo pela necessidade de mapear conceitos com rigor e de forma sistematizada. Assim, entende-se que essa síntese irá contribuir para fundamentar demais estudos sobre enfermagem forense, bem como amplificar a discussão junto a instituições de ensino, no tocante às competências deste campo para enfermeiros e acadêmicos de enfermagem, além de potenciais auxílios na instrumentalização da capacitação de enfermeiros forenses.

Objetivo

Mapear fontes de informação técnico-científica sobre as competências da enfermagem forense em situações de desastres.

MÉTODO

A revisão de escopo proposta será realizada em conformidade com a metodologia Joanna Briggs Institute (JBI)(19). Neste sentido, este protocolo de pesquisa foi registrado no Open Science Framework, com o DOI 10.17605/OSF. IO/3WYSP.

Pergunta da revisão

Quais as competências do enfermeiro forense em situações de desastres?

Critérios de inclusão

População

A população do estudo será composta por profissionais enfermeiros forenses, com conhecimentos e/ou experiências em situações de desastres.

Conceito

Este estudo de revisão considerará como conceito as competências, no sentido de se constituírem como a qualidade ou estado de ser que se desenvolve na prática em situações complexas, envolvendo múltiplos problemas que exigem articulação de saberes para resolução, de maneira crítico-reflexiva e criativa(20). Neste sentido, serão considerados estudos que apontem as competências e os cuidados desempenhados pela enfermagem forense em situações de desastres.

Contexto

O contexto considerado é o de desastres, sejam eles de quaisquer tipologias: de origem natural, tecnológica ou social.

A partir destes elementos, realizou-se o mapeamento dos termos nos vocabulários controlados: Descritores em Ciências da Saúde (DECS), Medical Subject Headings (MESH) e Emtree (Embase subject headings). Acrescentou-se, após busca preliminar, termos adicionais identificados nos títulos, resumos e descritores/MESH dos artigos (Figura 1).

Tipos de fontes

Esta revisão considerará fontes de informação técnico-científica de qualquer literatura existente, incluindo-se estudos primários, de abordagem quantitativa, qualitativa e mista, desenhos experimentais e quase-experimentais, de caso-controle, revisões, estudos antes e depois, séries temporais, estudos observacionais, estudos de coorte e estudos transversais.

Também será considerada a busca na literatura cinzenta (bancos de teses e dissertações, sites, protocolos, diretrizes, guidelines, livros, legislações, cartas e artigos de opinião).

Estratégia de busca

A busca será realizada em três etapas, por dois pesquisadores, de maneira independente. Destaca-se que será mantido o processo de cegamento entre os revisores, e que esta revisão contará com apoio de um bibliotecário.

A primeira etapa compreenderá busca primária no Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), por meio destes será realizada a análise de títulos, resumos e descritores dos artigos.

A segunda etapa envolverá a busca completa em todos os bancos de dados selecionados para o desenvolvimento deste estudo, utilizando-se dos operadores booleanos “AND” e “OR”, junto às palavras-chave e os seguintes descritores (Figura 1):

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Figura 1 – Termos por idiomas identificados nos vocabulários DECS, MESH e ENTREE. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

A terceira etapa compreenderá a busca terciária, por meio da análise das listas de referências de toda a literatura técnico-científica, que contemple os critérios de inclusão estabelecidos. Além disso, esta revisão também contemplará a busca de mais informações, mediante o contato com os autores de estudos primários.

Ressalta-se que não serão balizados recortes temporais e idiomáticos ou definição de acesso aberto das fontes, a fim de se ampliar as buscas.

Bases de dados

As buscas serão realizadas no Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) de responsabilidade da Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), nas principais bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde (IBECS), Bases de Dados de Enfermagem (BDENF), Red Peruana de Bibliotecas en Salud (LIPECS), PubMed da National Library of Medicine (NLM) e Scientific Electronic Library Online (SciELO).

No Portal de Periódicos da Capes, serão empregadas as bases de dados: Elsevier: Embase e Scopus, Clarivate Analytics: Web of Science, Ebsco: Cummulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Academic Search Premier (ASP). E, ainda, na CAB Direct, plataforma que permite pesquisar na CAB Abstracts e a Global Health.

A busca também incluirá sites sobre enfermagem forense, legislações profissionais, do International Council of Nurses, da International Association of Forensic Nurses (IAFN), bibliotecas digitais de teses e dissertações e mecanismos de busca na internet. Para fins de operacionalizar a busca pela literatura cinzenta, será acessado o portal integrador e de literatura cinzenta Science.gov: USA.gov, Epistemonikos: Database of the best Evidence-Based Health Care, information technologies and a network of experts e National Institute for Health and Care Excellence (NICE).

Seleção das fontes

Após as buscas, todas as citações identificadas serão importadas para o aplicativo Rayyan (Qatar Computing Research Institute, Doha, Qatar). Inicialmente, as fontes serão analisadas por dois revisores, quanto aos títulos, resumos e descritores, segundo os critérios de inclusão da revisão de escopo. As discordâncias entre os dois revisores serão resolvidas por meio de consenso ou da decisão por um terceiro revisor. Os estudos excluídos serão registrados e descritos quanto aos motivos de exclusão. Salienta-se que, para organização das referências e identificação de estudos duplicados, será utilizado o gerenciador de referências EndNote Web (Clarivate Analytics, PA, EUA).  

Os textos serão arquivados em pastas digitais e lidos na íntegra por dois pesquisadores. Os resultados da seleção serão apresentados em fluxograma, seguindo o modelo Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR)(21).

Extração de dados

Os dados selecionados serão extraídos após a leitura na íntegra dos textos. Para isso, será utilizado o instrumento (Figuras 2 e 3), adaptado em conformidade com a metodologia Joanna Briggs Institute (JBI)(16). Para uso deste instrumento, será realizado teste piloto em três fontes, buscando a familiaridade com o processo de busca, seleção e extração dos dados, além de identificação e realização de eventuais ajustes que se fizerem necessários.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Figura 2 – Instrumento para extração de dados para Scoping Review. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Figura 3 – Instrumento para extração de dados para Scoping Review. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

No transcorrer da extração de dados, o instrumento poderá sofrer adequações que se fizerem necessárias. Os casos de divergências entre os revisores serão resolvidos por consenso ou terceiro revisor. Os dados extraídos irão considerar aspectos sobre população, conceito e contexto.

Análise e apresentação de dados

Após a extração dos dados, será procedida a análise de conteúdo, com apoio do software Iramuteq. Os dados informarão sobre desenho e abordagem do estudo, origem e tipologia da situação de desastre, competências da enfermagem forense na prevenção/mitigação de desastres, preparação de desastres, resposta de desastres, recuperação/reabilitação de desastres.

A síntese dos resultados será apresentada em forma de gráficos, diagramas, fluxos e tabelas, buscando-se os devidos alinhamentos com o objetivo e a pergunta de pesquisa. Ademais, uma apresentação descritiva acompanhará os resultados mapeados.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

REFERÊNCIAS

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20. Kuller JA, Rodrigo NF. Metodologia de Desenvolvimento de Competências. Rio de Janeiro: Senac Nacional; 2014.

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Submissão: 01/05/2022

Aprovado: 18/11/2022