PROTOCOLO DE REVISÃO

Conhecimento dos estudantes de enfermagem sobre medidas preventivas e controlo de infecção: protocolo scoping review

Mafalda Sofia Gomes Oliveira da Silva1, Maria Margarida Silva Vieira Ferreira2, Inês Alves da Rocha e Silva Rocha2, Neide Marina Feijó2

1Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Gaia, Portugal

2Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Viseu, Viseu, Portugal

RESUMO

Objetivo: mapear o conhecimento dos estudantes de enfermagem relativo às medidas de prevenção e controlo de infecção associada aos cuidados de saúde. Método: scoping review segundo a metodologia de Joanna Briggs Institute. A busca foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, CINAHL® Plus with Full Text, Nursing & Allied Health Collection, Cochrane Plus Collection, MedicLatina (via EBSCOhost). Serão considerados para inclusão nesta revisão estudos escritos em português, inglês e espanhol publicados nos últimos cinco anos e extraídos para a plataforma Rayyan QCRI®. Dois revisores independentes procederam à análise de relevância dos artigos, extração e síntese dos dados, com elaboração do respectivo fluxograma.

Descritores: Estudantes de Enfermagem; Precauções Universais; Controle de Infecções.

INTRODUÇÃO

Em consequência do elevado número de eventos adversos ocorridos nas instituições de cuidados de saúde, a segurança do utente tem sido foco de atenção para definição das políticas de saúde.  

As políticas de saúde abrangem diversas habilidades e intervenções apropriadas para prevenir e minimizar os riscos para o utente e profissional de saúde. Em vários países têm sido desenvolvidas diretrizes específicas para prevenção e controle de microrganismos multirresistentes em ambientes de cuidados de saúde, sendo estas consideradas uma componente essencial para limitar a disseminação de infecções associadas aos cuidados de saúde (IACS)(1).  

As Precauções Universais (PU), constituem-se diretrizes para reduzir o risco de transmissão de diversos agentes patogénicos, nomeadamente as quais, recomendam práticas de controle de infecção em instituições de saúde(2), abrangendo aspectos como lavagem das  mãos, uso de luvas, bata, óculos de segurança, protetor facial, etiqueta respiratória e  prática de injeção segura. Estas diretrizes foram também adotadas por Portugal, intitulando-se de Precauções Básicas de Controlo de Infeção (PBCI)(3). As PU ou PBCI são uma pedra angular na prevenção de infecções, sendo consideradas estratégias preventivas. Existem diversos documentos, protocolos e recomendações de boas práticas a nível nacional, europeu e internacional que norteiam o exercício profissional tendo em consideração a cadeia epidemiológica da infecção, a via de transmissão e a patologia. À medida que as precauções de contato se tornaram mais comumente usadas na tentativa de controlar a disseminação de vários microrganismos multirresistentes, a consciencialização dos profissionais de saúde aumentou relativamente às possíveis consequências não intencionais do uso destas precauções(4-1).

Procedimentos de isolamento do utente estão associados à diminuição do risco de transmissão, contudo pode ser compensado por redução no tempo de internamento, diminuição da probabilidade de ocorrência de acontecimentos adversos e melhoria do acesso aos cuidados em tempo útil(4,1). Além disso, ao nível da saúde, a adesão às PBCI têm um forte impacto socioeconômico, contribuindo para a redução do tempo de internamento e para a minimização da morbilidade e mortalidade(5). A implementação de políticas nacionais e internacionais de prevenção e controlo das IACS, determinam a implementação de estratégias de promoção de boas práticas a nível das PBCI e na implementação de Feixes de Intervenção. Incluem, protocolos, normas, procedimentos e medidas eficazes usados de forma sistematizada na prestação de cuidados ao utente com o propósito de reduzir a possibilidade de transmissão de microrganismos, prevenir e controlar o aumento das IACS e fomentar a segurança nos cuidados de saúde.

As IACS, que ocorrem com frequência em unidades de cuidados de saúde, são consideradas um problema grave e de extrema importância para a saúde pública(6-7). Os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros e estudantes de enfermagem, estão frequentemente expostos a diversos tipos de infecções durante a sua prática clínica. O conhecimento, cumprimento e conformidade das PU ou PBCI por estes intervenientes, são essenciais na prevenção de IACS e proteção dos utentes e dos profissionais de saúde na exposição a agentes infecciosos(2).

Para a aquisição de conhecimentos teóricos e adoção de procedimentos seguros na prestação de cuidados em saúde, é fundamental o papel que a formação em saúde assume.  O aumento da literacia em saúde resulta da combinação entre as competências individuais e os recursos sociais. A capacidade de cada pessoa para adquirir, compreender e utilizar a informação e do ponto de vista social, a acessibilidade aos serviços, o modo de transmissão da informação e a capacidade para se movimentar no sistema de saúde pode ou não comprometer o desenvolvimento da literacia. Neste contexto emerge a necessidade de desenvolvimento de programas sistematizados de formação dos estudantes de enfermagem, enquanto futuros profissionais de saúde, com o envolvimento das instituições de ensino superior(2).

Pelo que foi exposto, o objetivo deste estudo foi mapear o conhecimento dos estudantes de enfermagem relativo às medidas de prevenção e controlo de infecção associada aos cuidados de saúde. Este estudo pretende dar resposta à seguinte questão norteadora, utilizando a estratégia de participantes/população, contexto e conceito (PCC) conforme a Figura 1: Quais os conhecimentos dos estudantes de enfermagem relativo às medidas de prevenção e controlo de infecção associada aos cuidados de saúde?

Figura 1 - Acrónimo PCC. Porto, PT, Portugal, 2022

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

MÉTODO

Realizou-se uma scoping review orientada pela metodologia proposta pelo Joanna Briggs Institute(8), com o objetivo de mapear o conhecimento dos estudantes de enfermagem  relativa às medidas de prevenção e controlo de infecção associada aos cuidados de saúde.  Este tipo de estudo permite mapear o conhecimento existente subjacente à temática em estudo, possibilitando o reconhecimento de lacunas(9).

Protocolo e registo

Para garantir o rigor metodológico no desenvolvimento do protocolo, adotamos os princípios adotados pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR®)(10). O protocolo foi registado na plataforma no OSF HOME (DOI 10.17605/OSF.IO/59GAV) e pode ser consultado através do link: https://osf.io/59gav/.

Critérios de elegibilidade  

A estratégia de scoping review baseia-se numa revisão exploratória, de forma a conhecer o estado da arte sob determinado contexto e as lacunas identificadas nos estudos já realizados(8). Posteriormente serão verificadas as listas de referências da literatura para se identificarem estudos complementares.

Constituíram-se como critérios de inclusão estudos publicados nos últimos cinco anos (2017-2022) e que abordassem estudantes de enfermagem de qualquer país e instituição de ensino superior. A busca será executada por dois investigadores independentes, em português, inglês e espanhol, disponíveis em free full text. Foram excluídos os estudos relacionados com outras populações, desenho de pesquisa não delimitado e objetivos não definidos.

Fontes de informação

A pesquisa foi realizada em Março de 2022, nas bases de dados: PubMed, CINAHL® Plus with Full Text, Nursing & Allied Health Collection, Cochrane Plus Collection, MedicLatina (via EBSCOhost). De referir que não foram encontradas evidências do tipo revisão scoping sobre esta temática. Para a pesquisa de informação serão utilizados os descritores nos idiomas inglês, espanhol e português conforme a Figura 2.

Figura 2 - Descritores para pesquisa. Porto, PT, Portugal, 2022

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Para as combinações entre os descritores serão utilizados os operadores booleanos AND e OR, sendo AND usado para localizar estudos entre os temas e OR para sinónimo(10) conforme a Figura 3.

Figura 3 - Descritores e sinónimos utilizados nas bases de dados. Porto, PT, Portugal, 2022 Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Seleção dos estudos  

Os artigos identificados segundo os critérios de elegibilidade serão organizados na plataforma Qatar Computing Research Institute (Rayyan QCRI®). De seguida, proceder-se-á à leitura pelo título e resumo e posteriormente à leitura na íntegra dos estudos identificados. Os resultados da pesquisa serão redigidos de acordo com o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR®)(11) conforme a Figura 4, considerando os critérios predefinidos de inclusão e exclusão.

Figura 4 - Fluxograma do processo de seleção dos estudos. Porto, PT, Portugal, 2022

Fonte: PRISMA Flow Diagram adaptado de Page et al., 2020.  

Extração de dados

Para auxiliar na extração dos dados será elaborada pelos investigadores, uma tabela de evidências composta pelos itens: título, tipo e desenho do estudo, autor(es)/ano, objetivos, população estudada, contexto e os principais resultados, conforme a Figura 5. Os dados serão extraídos e analisados por dois investigadores de forma independente, recorrendo-se a um terceiro revisor em caso de discordância que decidirá sobre a inclusão ou exclusão do artigo.

Figura 5 - Tabela de extração de dados de scoping review. Porto, PT, Portugal, 2022 Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Considerações éticas

Esta revisão possibilitará a análise e sistematização da percepção dos estudantes de enfermagem relativa às medidas de prevenção e controlo de infecção associada aos cuidados de saúde, de forma a potenciar as estratégias de ensino/formação na área. Neste sentido, não há questões éticas e, por conseguinte, não existe a necessidade de a submeter a uma Comissão de Ética.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

REFERÊNCIAS  

1. Gerbier-Colomban S, Dananché C, Marion E, Bénet T, Dupieux C, Dauwalder O, Bryant J, Vanhems P. Infection control procedures for extensively drug-resistant bacteria and related adverse effects: the experience at the Lyon University Hospitals from 2011 to 2017.  Clin Microbiol Infect. 2019;25(7):919-920. https://doi.org/10.1016/j.cmi.2019.02.013

2. Park S, Yang Y, Song E. Factors influencing knowledge, awareness, and compliance with standard precautions among psychiatric nurses. Arch of Psychiatr Nurs.  2021;35(6):625–630. https://doi.org/10.1016/j.apnu.2021.09.002

3. Ministério da Saúde (PT), Direção Geral da Saúde. Programa de prevenção e controlo de infeções e de resistência aos Antimicrobianos [Internet]. Lisboa: Direção Geral da Saúde; 2017 [citado 2022 abr 18]. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/22532/1/Programa%20de%20Preven%C3%A7%C3%A3o%20e%20

Controlo%20de%20Infe%C3%A7%C3%B5es%20e%20de%20Resist%C3%Aancia%20aos%20Antimicrobianos%

202017.pdf

4.Tariku GH, Eshetu HE, Abdella AA. Complience with standard precautions and associated factors among healthcare workers in Gondar University comprehensive specialized Hospital, Northwest Ethiopia. J Environ Public Health.  2017;2017(0):1-8. https://doi.org/10.1155/2017/2050635

5. Strachan H. Patient Safety. Res Theory Nurs Pract. 2017;17(4):273–275. https://doi.org/10.1891/rtnp.17.4.273.53193

6. Bekele T, Ashenaf T, Ermias A, Sadore AA. Compliance with standard safety precautions and associated factors among health care workers in Hawassa University comprehensive, specialized hospital, Southern Ethiopia. PLoS ONE. 2020;15(10):1–11. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0239744

7. Dhedhi N, Ashraf H, Jiwani A. Knowledge of standard precautions among healthcare professionals at a Teaching Hospital in Karachi, Pakistan. Fam Med Prim Care. 2021;10(1), 249. https://doi.org/10.4103/jfmpc.jfmpc_1622_20

8. Peters MDJ, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco AC, Khalil, H. Chapter 11: Scoping Reviews (2020 version). In: Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis [Internet]. Adelaide: JBI; 2020 [citado 2022 abr 15]. Disponível em: https://synthesismanual.jbi.global. https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-12

9. Aromataris E, Munn Z. Chapter 1: JBI Systematic Reviews. In: Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis [Internet]. Adelaide: JBI; 2020 [citado 2022 abr 15]. Disponível em: https://synthesismanual.jbi.global. https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-02

10. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O'Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMAScR): Checklist and explanation. Ann Intern Med. 2018;169(7):467–473. https://doi.org/10.7326/M18-0850

11. Page MJ, McKenzie J, Bossuyt P, Boutron I, Hoffmann T, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. MetaArXiv Preprint; 2020. https://doi.org/10.31222/osf.io/v7gm2

Submissão: 19/04/2022

Aprovado: 27/07/2022