ORIGINAL

 

Prática do uso de máscaras no contexto da pandemia da COVID-19: um estudo transversal

 

Fernanda Maria Vieira Pereira-Ávila¹, Fernanda Garcia Bezerra Góes¹, Milena Cristina Couto Guedes¹, Hevelyn dos Santos da Rocha¹, Gabriel Nascimento Santos¹, Thamara Rodrigues Bazilio¹

 

1 Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil

 

RESUMO

Objetivo: Investigar o uso de máscaras entre a população do estado do Rio de Janeiro, durante a pandemia da COVID-19. Método: Trata-se de um estudo transversal online. A coleta de dados ocorreu via redes sociais e utilizou-se um formulário de informações gerais e a versão para o Português do Brasil da Face Mask Use Scale. Os testes Mann-Whitney e Kruskal Wallis foram utilizados para comparação dos escores. Os aspectos éticos foram contemplados. Resultados: Participaram 1.783 (100%) indivíduos. O escore obtido foi de 18,2 (DP=8,2), com itens variando entre 6,0 e 30 evidenciando que a prática do uso de máscaras foi de 60,6%. Ao avaliar a autoproteção, obteve-se 9,5 (DP=4,0) e a proteção do outro 8,7 (DP=4,6), variando entre 3,0 e 15,0. Conclusão: A prática do uso das máscaras foi negligenciada por parte da população deste estudo, sendo melhor sua utilização para a autoproteção do que para a proteção do outro.

 

Descritores: Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde; COVID-19; Máscaras.

 

INTRODUÇÃO

O coronavírus pertence a uma família de vírus capaz de causar infecções respiratórias. Existem sete tipos de coronavírus humanos (HCoVs) identificados, entre eles, o SARS-COV (causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave) e o MERS-COV (que provoca a Síndrome Respiratória do Oriente Médio). No final de 2019, em Wuhan, na China, descobriu-se um novo coronavírus denominado Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) responsável pela coronavirus disease 2019 (COVID-19)(1).

O SARS-CoV-2 se espalhou rapidamente de modo que, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou a pandemia da COVID-19(1).

Até o dia 14 de julho de 2021, foram confirmados no mundo 205.338.159 de casos de COVID-19 com 4.333.094 mortes. No Brasil, foram confirmados 20.245.085 de casos e 515.985 mortes até a mesma data e, somente no estado do Rio de Janeiro, foram 1.080.746 de casos confirmados e 60.632 mortes(2-3).

A COVID-19 é transmitida de pessoa para pessoa, por meio de gotículas respiratórias quando um indivíduo infectado tosse, espirra ou fala. Tais gotículas podem atingir a boca, o nariz ou serem inaladas pelos pulmões de pessoas próximas. Além disso, a contaminação pode ocorrer por meio de superfícies ou objetos contaminados. Diante disso, a OMS recomenda a prática frequente de higienização das mãos por meio de água, ou sabão, ou com soluções à base de álcool(4).

Pessoas infectadas geralmente manifestam os sintomas, no entanto, em alguns casos, podem ser assintomáticas e, mesmo assim, serem capazes de espalhar vírus. O indivíduo infectado com a COVID-19 pode apresentar os sintomas entre dois e 14 dias após a exposição e, nos casos mais leves, a sintomatologia é um quadro respiratório agudo, com sensação febril ou febre, acompanhada de tosse, ou dor de garganta, ou coriza, ou dificuldade respiratória. Além disso, pode-se notar a perda do olfato e do paladar. Todavia, os casos mais graves podem apresentar dispneia/desconforto respiratório ou sensação de pressão persistente no tórax(5).

Diante da pandemia da COVID-19, considerando suas formas de transmissão, as autoridades de saúde recomendam para a população a adoção de medidas não farmacológicas, como o distanciamento social, etiqueta para tosse e higiene respiratória. Além disso, deve-se fazer uso de máscaras tanto para a autoproteção como para a proteção do outro. Essas estratégias devem ser amplamente seguidas, principalmente em locais públicos, para reduzir o risco de contaminação(4).

O uso de máscaras tem sido recomendado, a fim de reduzir a disseminação do coronavírus. As máscaras atuam como uma barreira de proteção, impedindo que os patógenos de indivíduos doentes, emitidos através da tosse ou do espirro, entrem em contato com os saudáveis. Com isso, reduz-se a transmissão do vírus e previne-se a contaminação de outras pessoas(4,6).

As máscaras recomendadas pelas autoridades em saúde a serem utilizadas pela população incluem máscaras de tecido, máscaras N95 ou PFF2; máscaras cirúrgicas ou médicas, dependendo do contexto e de situações em que se está inserido(4). Na dificuldade de acesso, a OMS e o Ministério da Saúde, em nota informativa, recomendam que a população confeccione e fabrique as suas próprias máscaras, preferencialmente com três camadas(7).

O conhecimento sobre essa prática é um importante fator de adesão ao seu uso. Um estudo transversal que avaliou a adesão do público chinês ao uso de máscaras durante a pandemia da COVID-19 relatou que, a adoção dessa prática foi quatro vezes maior entre as pessoas informadas sobre a utilização adequada desse equipamento, do que entre as que não possuíam a informação(8).

As máscaras estão presentes no cotidiano de países asiáticos, antes mesmo da pandemia da COVID-19, como forma de combater outras doenças respiratórias e epidemias, como a SARS que, em 2003, atingiu esses países. Contudo, essa prática não é comum no Ocidente, demonstrando que a utilização e a adoção das máscaras estão associadas a práticas sociais e culturais(9).

Neste sentido, considerando que o uso de máscaras mesmo não sendo uma prática comum realizada pela população, sobretudo no Brasil, em tempos de pandemia, essa medida tem sido vivenciada pela população brasileira. Dessa forma, justifica-se a realização de estudos regionais que visem analisar essa prática para subsidiar o processo de tomada de decisão pelos gestores no que tange aos conhecimentos, atitudes e prática em saúde.

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi investigar o uso de máscara facial entre a população do estado do Rio de Janeiro, durante a pandemia de COVID-19.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal realizado no estado do Rio de Janeiro, no período entre abril e maio de 2020, via formulário eletrônico. Esta pesquisa faz parte do projeto intitulado "Estudo multinacional sobre a prática de uso de máscara facial entre o público em geral durante a pandemia de COVID-19".

Foi utilizado como critério de inclusão: adultos com 18 anos ou mais, residentes no estado do Rio de Janeiro e que tinham acesso à Internet. Critério de exclusão: indivíduos estrangeiros que residem no estado do Rio de Janeiro.

Para a seleção da amostra, considerou-se o número de residentes do estado do Rio de Janeiro de 17.463.349, conforme estimativas da população em 2021 enviadas ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)(10). A partir de então, foi feito um cálculo amostral adotando 5% de margem de erro, intervalo de confiança de 95%, estimativa de prevalência de 50% e poder do teste de 80%, obtendo-se uma amostra total mínima de aproximadamente 385 indivíduos.

A coleta de dados foi realizada por meio de mídias sociais, como Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp e E-mail, nos quais também a pesquisa foi divulgada. Os instrumentos de coleta dos dados foram convertidos para o formato online, por meio dos formulários do Google. Os indivíduos receberam os convites para participar da pesquisa, por meio de mensagens enviadas via canais de comunicação supracitados, contendo o link da pesquisa.

Foram aplicados dois instrumentos: 1- Formulário de informações gerais (sexo, estado civil, renda, escolaridade, ocupação, se teve contato com pessoas com sintomas respiratórios e contato direto com alguém diagnosticado com COVID-19); 2- Versão para o Português do Brasil da Face Mask Use Scale (FMUS-PB).

A Face Mask Use Scale (FMUS) é originária da China e elaborada nos idiomas chinês e inglês, em 2012, com a finalidade de medir a frequência com que as pessoas usam máscaras em uma determinada circunstância. A FMUS considera a prática do uso de máscaras em duas categorias: "proteger-se" e "proteger os outros", sob três circunstâncias comuns: em ambientes públicos, de saúde e domiciliares nas últimas duas semanas. O instrumento é composto por seis itens, a saber: 1-Eu uso máscara facial em locais públicos, para me proteger contra doenças semelhantes à gripe; 2-Eu uso máscara facial no serviço de saúde, para me proteger contra doenças semelhantes à gripe; 3-Eu uso máscara facial em casa, quando tenho sintomas de doenças, como gripe; 4-Eu uso máscara facial em locais públicos, quando tenho sintomas de doenças, como a gripe; 5-Eu uso máscara facial no serviço de saúde, quando tenho sintomas de doenças, como a gripe; 6-Eu uso máscara facial em casa, quando membros da família sofrem doenças semelhantes à gripe. Os itens 1, 2 e 6 discorrem sobre o uso de máscaras para a autoproteção, e os itens 3, 4 e 5, o uso para a proteção do outro. As opções de resposta variam em uma escala do tipo likert de cinco pontos, sendo estas: "nunca", "raramente", "às vezes", "frequentemente" e "sempre" que caracterizam a frequência da prática do uso de máscaras. As opções apresentam uma pontuação de 1 a 5 em ordem crescente, variando entre 6,0 e 30, em que uma pontuação alta resulta em alta frequência de uso de máscara(11).

As propriedades psicométricas da FMUS são satisfatórias. Para esse estudo, utilizou-se a versão para o Português do Brasil da Face Mask Use Scale (FMUS-PB), adaptada e validada para o Brasil(12).

Os dados coletados foram analisados utilizando-se estatística descritiva com medidas de tendência central e de dispersão. As taxas de uso de máscaras foram examinadas considerando-se o escore FMUS-PB bem como as variáveis individuais. Utilizou-se o teste de Mann-Whitney e Kruskal Wallis para comparar os escores da prática de uso de máscaras geral (mínimo=6 e máximo=30), para a autoproteção (mínimo=3 e máximo=15) e para a proteção do outro (mínimo=3 e máximo=15).  Foi considerado p<0,05.

O projeto foi submetido e aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) para apreciação sob o nº do parecer 3.971.512 e atendeu a todos os aspectos éticos da Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Na página inicial de acesso aos questionários, os participantes tiveram disponível o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para coleta online (TCLE) e somente responderam aos questionários caso selecionassem a opção “Li e concordo em participar da presente pesquisa”, dando, dessa maneira, seu consentimento livre e esclarecido.

 

RESULTADOS

Participaram do presente estudo um total de 1.783 (100%) indivíduos, sendo a sua maioria do sexo feminino (79,2%), casados (53,2%) e com a renda igual ou superior a 7 salários mínimos (36,9%). A maioria dos participantes afirmou possuir pós-graduação (51,2%). Sobre a ocupação, 932 (52,3%) responderam não serem profissionais da área da saúde e nunca (47,1%) terem tido contato com pacientes que pudessem apresentar sintomas respiratórios em seu ambiente de trabalho (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Caracterização dos participantes (n= 1.783). Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

Variáveis

n

%

Sexo

Masculino

371

20,8

Feminino

1412

79,2

Estado Civil

Solteiro

619

34,7

Casado

948

53,2

Separado/Divorciado/Viúvo

216

12,1

Renda

< 1 salário mínimo

59

3,3

De 1 a 2 salários

289

16,2

De 3 a 4 salários

457

25,6

De 5 a 6 salários

320

17,9

De 7 ou mais salários

658

36,9

Escolaridade

Fundamental Completo

15

0,8

Médio Completo

263

14,8

Superior Completo

592

33,2

Pós-Graduação

913

51,2

Ocupação

Não é profissional da saúde.

932

52,3

Médicos

51

2,9

Profissionais de enfermagem

507

28,4

Outros profissionais da saúde

293

16,4

Contato com pacientes com sintomas respiratórios

Nunca

839

47,1

Raramente

312

17,5

Pelo menos uma vez por mês

31

1,7

Pelo menos uma vez por semana

185

10,4

Pelo menos uma vez por dia

148

8,3

Contato contínuo e diário

268

15,0

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

 

A respeito dos itens da FMUS-PB, para o item 1, 1.051 (58,9%) participantes responderam que sempre usam máscara facial em locais públicos para se proteger e, para o item 4, 877 (49,2%) também sempre fazem o uso quando têm os sintomas de doenças, como a gripe.

Com relação aos itens 2 e 5, sobre o uso de máscaras no serviço de saúde, respectivamente, 1.119 (62,8%) afirmaram que sempre fazem a sua utilização para a autoproteção, e 982 (55,1%) utilizam quando apresentam sintomas semelhantes a doenças como a gripe.

Para o item 3 e o item 6, nessa ordem, que questionam a utilização da máscara em domicílio, 1.061 (59,5%) indivíduos responderam que nunca realizam essa prática quando possuem os sintomas, e também 1.073 (60,2%) nunca recorrem ao seu uso quando os membros da família apresentam indicativos de doenças respiratórias tais como a gripe (Tabela 2).

 

Tabela 2 – Frequência de respostas da versão para o Português do Brasil da Face Mask Use Scale (n= 1.783). Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

Itens

1

2

3

4

5

n

(%)

n (%)

n

(%)

n (%)

n

(%)

1- Eu uso máscara facial em locais públicos, para me proteger contra doenças semelhantes à gripe.

354

(19,9)

106 (5,9)

271 (15,2)

1

(0,1)

1051 (58,9)

2- Eu uso máscara facial no serviço de saúde, para me proteger contra doenças semelhantes à gripe.

451

(25,3)

70

(3,9)

143 (8,0)

0

(0)

1119 (62,8)

3- Eu uso máscara facial em casa, quando tenho sintomas de doenças, como a gripe.

1061 (59,5)

162 (9,1)

149 (8,4)

0

(0)

411

(23,1)

4- Eu uso máscara facial em locais públicos, quando tenho sintomas de doenças, como a gripe.

680

(38,1)

112 (6,3)

114 (6,4)

0

(0)

877

(49,2)

5- Eu uso máscara facial no serviço de saúde, quando tenho sintomas de doenças, como a gripe.

597

(33,5)

101 (5,7)

103 (5,8)

0

(0)

982

(55,1)

6- Eu uso máscara facial em casa, quando membros da família sofrem doenças semelhantes à gripe.

1073 (60,2)

166 (9,3)

164 (9,2)

0

(0)

380

(21,3)

1-nunca; 2-raramente; 3-às vezes; 4-frequentemente; 5-sempre

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

 

A pontuação total obtida para a FMUS foi de 18,2 (DP=8,2), com os itens variando entre 6,0 e 30, evidenciando que a prática de uso de máscaras entre a população do estado do Rio de Janeiro foi de 60,6%. Para os itens que avaliam a autoproteção, o resultado foi 9,5 (DP=4,0) e para a proteção do outro, 8,7 (DP=4,6), sendo o mínimo 3,0 e máximo 15 respectivamente.

O sexo feminino apresenta, nos itens da prática do uso de máscara, (p=0,000) o maior escore, seja para o seu próprio cuidado (p=0,000), seja para o cuidado do outro (p=0,000), em comparação ao sexo masculino. O estado civil dos participantes mostrou que os indivíduos divorciados e viúvos beneficiam-se da proteção facial que as máscaras oferecem, ainda que não tenham obtido o p significativo.

No quesito renda, os participantes que possuem de 3 a 4 salários mínimos apresentam a melhor utilização das máscaras. Fica claro também, com as maiores pontuações, que a melhor prática do uso de máscaras é feita pela parte da população com maior grau de escolaridade (p=0,050), sobretudo para proteção do outro (p=0,015).

Para a ocupação, evidencia-se, com os resultados, que os profissionais de enfermagem (p=0,001) representam o maior escore em todos os itens, tanto para a autoproteção (p=0,007) quanto para a proteção do outro (p=0,000). Além disso, os indivíduos que responderam que possuem contato pelo menos uma vez ao mês (p=0,000) ou contato contínuo e diário (p=0,000) com pacientes que possam estar com sintomas de doenças respiratórias no local de trabalho apresentam, respectivamente, também a maior pontuação na prática do uso de máscaras em todos os itens. Com relação a ter tido contato direto com alguém diagnosticado com COVID-19, os participantes que informaram a opção “sim” apresentaram melhores pontuações para o uso de máscaras de uma forma geral (p=0,000) (Tabela 3).

 

Tabela 3 - Pontuações médias da escala segundo variáveis demográficas e contato com pacientes de sintomas respiratórios e COVID-19 (n= 1.783). Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021

Variável

Prática Uso de Máscaras

Autoproteção

Proteção do Outro

Média

(DP)

p

Média (DP)

p

Média (DP)

p

Sexo

Masculino

16,5 (8,4)

0,000+

8,8

(4,1)

0,000+

7,7

(4,6)

0,000+

Feminino

18,7 (8,1)

9,7

(3,9)

8,9

(4,6)

Estado civil

Solteiro

18,2 (8,2)

0,968++

9,5

(4,0)

0,602++

8,7

(4,6)

0,865++

Casado

18,2 (8,3)

9,5

(4,0)

8,6

(4,7)

Separado/Divorciado/Viúvo

18,5 (7,6)

9,9

(3,7)

8,6

(4,4)

Renda

> 1 salário mínimo

17,6

(8,0)

0,117++

9,5

(3,9)

0,089++

8,0

(4,5)

0,131++

De 1 a 2 salários

17,7 (8,3)

9,3

(4,0)

8,4

(4,7)

De 3 a 4 salários

19,0 (8,1)

9,9

(3,9)

9,1

(4,6)

De 5 a 6 salários

18,6 (7,9)

9,7

(3,8)

8,9

(4,6)

De 7 ou mais salários

17,8 (8,3)

9,2

(4,1)

8,5

(4,7)

Escolaridade

Fundamental Completo

18,0 (8,4)

0,050++

9,6

(3,9)

0,105++

8,3

(5,2)

0,015++

Médio Completo

18,2 (8,4)

9,6

(4,0)

8,6

(4,8)

Superior Completo

17,5 (8,3)

9,3

(4,1)

8,2

(4,6)

Pós-Graduação

18,7 (8,0)

9,7

(3,9)

9,0

(4,6)

Ocupação

Não é profissional da saúde.

17,1 (8,7)

0,001++

9,0

(4,3)

0,007++

8,1

(4,8)

0,000++

Médicos

18,6 (7,4)

9,8

(3,6)

8,8

(4,5)

Profissionais de enfermagem

20,4 (7,1)

10,5 (3,3)

9,8

(4,3)

Outros profissionais da saúde

18,0 (7,7)

9,5

(4,0)

8,5

(4,4)

Contato com pacientes com sintomas respiratórios

Nunca

17,0 (8,6)

0,000++

8,9

(4,2)

0,001++

8,0

(4,8)

0,000++

Raramente

17,5 (7,8)

9,3

(3,8)

8,2

(4,5)

Pelo menos uma vez por mês

21,0 (7,8)

10,8 (4,0)

10,2

(4,5)

Pelo menos uma vez por semana

20,0 (7,5)

10,4 (3,4)

9,6

(4,4)

Pelo menos uma vez por dia

20,2 (7,2)

10,5 (3,4)

9,7

(4,2)

Contato contínuo e diário

20,3 (7,4)

 

10,4 (3,5)

 

9,9

(4,2)

 

Você teve contato direto com alguém diagnosticado com COVID-19?

Não

17,4 (8,4)

0,000+

9,16 (4,1)

0,000+

8,1

(4,7)

0,000+

Sim

21,3 (6,8)

10,9 (3,2)

10,4 (4,1)

+Mann-Whitney U; ++Kruskal Wallis

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

 

DISCUSSÃO

Os resultados desse estudo evidenciaram a prática do uso de máscara facial entre a população do estado do Rio de Janeiro, durante a pandemia da COVID-19, seu uso para a autoproteção e proteção do outro, além da sua utilização em locais públicos, ambientes de saúde e domicílio.

A prática do uso de máscaras não foi realizada em sua totalidade entre a população deste estudo, mesmo diante do grande impacto da pandemia da COVID-19 no Brasil e no estado do Rio de Janeiro, ainda um epicentro importante da doença, apresentando, até 14 de julho de 2021, 1.080.746 casos confirmados(3). Destaca-se ainda, melhor desempenho desse uso para a autoproteção do que para a proteção do outro.

O uso de máscaras é recomendado pelas autoridades de saúde como uma das medidas não farmacológicas para reduzir a propagação do SARS-CoV-2, agente causador da pandemia do coronavírus(4).

Existem diversos fatores para o uso dessa prática pela população, sendo a cultura um dos determinantes(6). As máscaras estão presentes no cotidiano dos países asiáticos, antes mesmo da pandemia da COVID-19, por vários motivos, indo além de apresentarem algum sintoma de doenças respiratórias. Entretanto, essa prática nos países ocidentais ainda é recente e é estabelecida por meio da sensibilização pública e disseminação de informações pelas autoridades de saúde, promovendo, com isso, uma educação sobre as práticas(13).

O sexo feminino apresentou a maior porcentagem do estudo como também os maiores escores para o uso de máscaras, tanto para a sua proteção quanto para a proteção do outro, em comparação ao sexo masculino. Contudo, a probabilidade de ambos os sexos utilizarem as máscaras é equivalente, a diferença ocorre na percepção de cada um sobre essa prática, influenciando na adoção da máscara no cotidiano(14). O sexo masculino assume comportamentos de risco(15) ao não utilizar máscaras, dessa forma, deve-se sensibilizar a população e principalmente esse grupo sobre a importância dessa prática. Um estudo realizado entre equatorianos para avaliar os conhecimentos, atitudes e práticas da população, durante o surto da COVID-19, evidenciou que a maioria dos participantes afirmou utilizar máscara ao sair de casa(15), esses achados se diferem dos dados encontrados entre a população fluminense, em tempos da mesma pandemia.

Além disso, uma pesquisa que identificou os fatores associados ao uso de máscaras entre a população da Paraíba, capital brasileira que apresentou uma grande incidência de casos de COVID-19, revelou a negligência da população quanto ao seu uso. Os autores atribuíram que esse fato pode estar atrelado às ações das autoridades de saúde, suas determinações quanto ao uso obrigatório, como também à falta de conhecimento adequado e informação por parte da população sobre o que é de fato correto(16). Dessa forma, reforça-se a necessidade de que as informações devem ser adequadas para que o público possa adotar o uso de máscaras de forma apropriada(13).

Sobre o uso de máscaras em ambientes públicos para a autoproteção, a maioria dos participantes afirmou que sempre utilizam. Esse resultado coaduna com os achados do estudo entre a população paraibana ao afirmar utilizar máscaras tanto para autoproteção quanto para a proteção do outro, em ambientes públicos(16). Dessa forma, as respostas afirmativas alinham-se às recomendações da OMS à adesão de máscaras para proteção da população saudável a fim de impedir a propagação do vírus entre os indivíduos sintomáticos e assintomáticos, como forma de conter a alta taxa de transmissibilidade nos locais públicos(4).

Além disso, ao perguntar se utilizam as máscaras quando possuem os sintomas de doenças semelhantes à gripe, uma parcela significativa dos participantes manteve a mesma resposta. Essa medida constitui componente das diretrizes da OMS para indivíduos sintomáticos - como realizar o seu uso quando estiver em contato com outras pessoas para conter o avanço da doença. Destaca-se que as máscaras, quando estiverem úmidas, devem ser devidamente descartadas e substituídas por novas(4).

O uso de máscaras, tanto para a autoproteção como para a proteção do outro, foi maior entre os profissionais de enfermagem, quando comparado aos demais participantes. Esse achado corrobora o cenário atual, pois esses profissionais atuam na linha de frente da COVID-19, fornecendo cuidados diretos para cada paciente de acordo com cada caso. Devido à natureza do seu trabalho, ao realizarem procedimentos técnicos especializados e serem os principais fornecedores de cuidados para os pacientes no âmbito hospitalar(17), estão mais sujeitos a contrair a doença da pandemia, o que tende a justificar os resultados encontrados. No contexto brasileiro, um estudo entre esses profissionais para avaliar a prática do uso das máscaras durante a pandemia evidenciou que esta prática foi maior em ambientes de saúde e públicos, além de ser maior para a autoproteção do que para a proteção do outro(18).

Ademais, os indivíduos que possuem um contato contínuo e diário com paciente também detêm as melhores pontuações no geral para o uso de máscaras para seu próprio cuidado e o cuidado do outro, demonstrando assim o acompanhamento das orientações da OMS(5), como forma de evitar a transmissão comunitária. Contudo, ressalta-se que, diante do cenário pandêmico, todos os indivíduos deveriam usar as máscaras em ambientes públicos, independentemente da suspeita ou confirmação de casos entre seus contatos diários.

Ao analisar a frequência de respostas do uso de máscaras em domicílio, a maioria dos participantes alegou que nunca faz uso quando apresenta sintomas de doenças respiratórias e também nunca utiliza quando membros da família sofrem de doenças semelhantes à gripe. Esses dados são preocupantes, tendo em vista que, quando algum familiar é infectado, os demais membros estão encarregados de exercer as funções de cuidado(19) e, com isso, suscetíveis a contrair a doença(20).

Ainda sobre o uso de máscaras em domicílio, um estudo transversal realizado em Hong Kong evidenciou uma prática insatisfatória do uso de máscaras entre adultos, em que somente 19,5% dos participantes faziam uso da máscara para cuidar de membros da família com infecções respiratórias, e 29,1% quando apresentavam sintomas(20). Já no Brasil, na capital paraibana, identificou-se também a baixa frequência para o uso de máscaras em ambiente domiciliar. Os autores chamam atenção para o fato de que indivíduos com sintomas de doenças respiratórias devem utilizar as máscaras, ainda que em domicílio(16).

Por outro lado, com relação ao uso de máscaras nos serviços de saúde, os dados do presente estudo demonstraram maior adesão tanto na presença de sintomas de gripe quanto para proteger-se contra doenças semelhantes à gripe. Ainda evidenciado no estudo chinês, os indivíduos relataram sempre utilizarem máscaras em ambientes de saúde, seja em clínicas (35,7%) seja em hospitais (48,1%), apresentando o maior percentual, ainda que com a amostra baixa de participação no estudo. Os autores atribuíram, como uma das justificativas dessa ocorrência, o entendimento da alta transmissibilidade de doenças nos ambientes hospitalares(20). Estudos brasileiros demonstram o melhor uso de máscaras em ambientes de saúde, tanto entre a população em geral quanto entre grupos específicos, corroborando assim os resultados do presente estudo(16,18).

Um resultado importante encontrado neste estudo foi que os indivíduos que informaram ter tido contato com pessoas com diagnóstico de COVID-19 e/ou contato com pessoas com sintomas respiratórios apresentaram melhores escores para o uso de máscaras, tanto para a autoproteção quanto para a proteção do outro. Esse resultado corrobora um estudo realizado entre 3.981 indivíduos da população brasileira de diferentes regiões durante a pandemia da COVID-19, em que o contato com pessoas com sintomas respiratórios aumentou em duas vezes as chances de utilização de máscaras(7), sendo que esse resultado remete a uma preocupação maior com a utilização deste equipamento entre os indivíduos que tiveram algum tipo de contato.

A respeito das limitações do estudo, a coleta online pode gerar um potencial viés de seleção de participantes ao restringir a apenas indivíduos que possuem acesso à Internet. Além disso, nem todos os indivíduos possuem conhecimento de como preencher um questionário online, desse modo limita a sua participação.

 

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos, evidencia-se que a prática do uso de máscara facial não foi realizada em sua totalidade pela população do estado do Rio de Janeiro mesmo diante do impacto da pandemia da COVID-19. Além disso, pode-se destacar o melhor uso desse equipamento para a autoproteção do que para a proteção do outro.

Seguindo o objetivo de identificar a frequência com que a população utiliza ou não as máscaras, destacando ainda que circunstâncias deixam a desejar a utilização desse equipamento, pode-se demonstrar a realidade escassa dessa prática entre a população do estado do Rio de Janeiro diante o cenário pandêmico em que se encontra. A partir das evidências encontradas, o estudo fornece informações como base na vivência social para que os gestores possam desenvolver ações que visem à instrução e sensibilização de práticas educativas a respeito do uso de máscaras.

Diante do exposto, considerando a gravidade da pandemia da COVID-19 assim como suas implicações sanitárias, sociais e econômicas, deve-se incentivar a realização de novos estudos direcionados à compreensão do impacto das estratégias adotadas para minimizar a disseminação da infecção, sobretudo do uso de máscaras entre adultos.

 

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

FINANCIAMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. N° Processo: 401371/2020-4.

 

REFERÊNCIAS

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Submissão: 15/08/2021

Aprovado: 10/05/2022

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

Concepção do projeto: Pereira-Ávila FMV

Obtenção de dados: Pereira-Ávila FMV, Góes FBG, Bazilio TR

Análise e interpretação dos dados: Pereira-Ávila FMV, Góes FBG, Guedes MCC, Rocha HS, Santos GN, Bazilio TR

Redação textual e/ou revisão crítica do conteúdo intelectual: Pereira-Ávila FMV, Góes FBG, Guedes MCC, Rocha HS, Santos GN, Bazilio TR

Aprovação final do texto a ser publicada: Pereira-Ávila FMV, Góes FBG, Guedes MCC, Rocha HS, Santos GN, Bazilio TR

Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Pereira-Ávila FMV, Góes FBG, Guedes MCC, Rocha HS, Santos GN, Bazilio TR

 

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