EDITORIAL

 

As tecnologias educacionais no ensino híbrido: personalização ao discente de enfermagem

 

Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho1

 

1 Universidade Federal Fluminense, Escola de Enfermagem, RJ, Brasil

 

Durante a Pandemia da COVID-19 as tecnologias educacionais se tornaram ferramentas relevantes no ensino acadêmico como uma maneira de dinamizar e ampliar novas maneiras de comunicação, troca de conhecimento e aprendizado. Nessa realidade os docentes vislumbraram novas formas de ensino-aprendizagem levando a reflexões sobre como potencializar o ensino como mediador do conhecimento visando a autonomia do aluno(1).

Visando a objetivação da autonomia do aluno é preciso entender que este é o centro do processo sendo importante mudar a cultura avaliativa punitiva para uma avaliação compartilhada. Essa postura propicia o acolhimento do aluno e dá centralidade da aprendizagem por ele aprofundando o conhecimento construído.

Neste sentido, o Ensino Híbrido (Blended Learning) em termos de definição é a utilização de metodologia do ensino presencial, unificado ao ensino online, no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem com o auxílio de plataformas virtuais. Nesta modalidade de ensino as aulas e os conteúdos são participativos e flexíveis, onde é o aluno protagonista do seu aprendizado e cabe ao professor motivar a participação deste na construção do seu conhecimento de forma ativa, em grupo ou individualmente(2).

Assim como ocorre na aula tradicional (presencial), o ensino híbrido facilita a praticidade
para tirar dúvidas com o estímulo a participação dos alunos em discussões
temáticas, obtendo feedback no decorrer do desenvolvimento da disciplina.  

Sem dúvida, com essa breve caracterização cabe algumas reflexões no sentido de pensar a aula ministrada para além da transmissão de conteúdo com a escuta do aluno, do professor e também da instituição de ensino. Estes atores envolvidos no processo devem participar ativamente da organização curricular em que o ensino híbrido requer uma articulação interdisciplinar baseado em competências capazes de compreender as demandas do mundo atual, considerando uma formação integral do aluno como o grande protagonista.

O docente de enfermagem pode se questionar sobre como organizar o espaço institucional, ou como a prática no ensino híbrido pode proporcionar um bom desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem.

Neste tipo de questionamento cabe destacar que uma característica relevante é a infraestrutura física que deve gerenciar as demandas e necessidades de espaços acadêmicos que compreendam as mudanças pedagógicas a partir do ensino híbrido na enfermagem, como laboratórios de habilidades e simulação realística que auxiliam no ensino por grupos. Além de mobiliário flexível, espaço de convivência, estudo e pesquisa, disponibilidade de equipamentos tecnológicos, digitais e, principalmente internet. O professor precisa estabelecer características do ensino híbrido no seu planejamento, metodologia, avaliação e os estudantes necessitam entender o seu protagonismo no processo de sua aprendizagem(3).

Com esse entendimento, os atores educacionais devem realizar um planejamento condizente com a ementa da disciplina e do Projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem. O planejamento do Design Didático da disciplina no formato online deve possuir visibilidade e trazer um espelho do que será delineado no formato presencial, uma vez que o ensino híbrido contempla o ensino online de forma dinâmica e personalizada(3).

Apesar das tecnologias digitais favorecerem o acesso a uma inesgotável quantidade de informações é importante que os docentes possuam fluência na utilização dessas tecnologias para que ocorra um papel determinante no contexto da educação(4) e do ensino de enfermagem.

Outrossim, é preciso destacar que não se podem introduzir as tecnologias sem antes pensar nos objetivos de aprendizagem e dos benefícios do seu uso. É preciso planejamento para se utilizar as novas tecnologias, para melhorar o ensino aprendizagem dos alunos(4).

Algumas ferramentas são muito utilizadas e, portanto, cabe mencioná-las sem o objetivo de esgotar mas oportunizar o momento ideal na sua utilização no ensino híbrido da Enfermagem tornando-as mais interativas e provocativas que levem ao estudo, reflexão e produção de conteúdo com vista ao ensino autônomo do estudante: Jamboard (lousa digital interativa); Blogs Educativos (desenvolvimento de atividades interativas e colaborativas em grupo para construção de um texto autoral); Sites Educativos (visitas virtuais a museus históricos da Enfermagem entre outros conteúdos); Podcasts (tem objetivo de desenvolver a capacidade de oralidade, pesquisa e argumentação); Padlet (postagem de conteúdos pelo docente e os alunos para produção do conhecimento); Metimeter (cria apresentações interativas onde os discentes podem responder a vários tipos de perguntas); Kahoot (jogos - plataforma de aprendizado baseada em jogos com a criação de questionários de qualquer conteúdo personalizado).

O mais importante é entender que o docente como mediador do conhecimento, precisa deixar claro para o aluno a existência da construção do saber e que as tecnologias digitais estimulam e facilitam o processo de aprendizagem de forma crítica e produtiva(4).

O papel docente no processo educacional, como mediador do conhecimento usando tecnologias, deve incluir todos os alunos, de forma a atender às necessidades educacionais específicas de cada um e de acordo com a proposta pedagógica da disciplina.

É necessário conhecer as tecnologias digitais, entender como disponibilizá-las de acordo com a realidade dos estudantes e possuir a capacidade para inovar e efetivar as práticas pedagógicas no ensino híbrido. Além disso, é preciso entender que exige a participação de todos os docentes com vista a integralidade dos conteúdos de acordo com a modalidade de ensino híbrido adotada.

A equipe docente tem o compromisso no desenvolvimento das atividades com constante feedback ao discente para que seja mantida a integridade do design didático elaborado e planejado. As atividades planejadas devem ser seguidas por uma expertise do professor que é o mediador do conhecimento em todos os conteúdos, nas tecnologias usadas e o próprio ambiente virtual de aprendizagem para que os objetivos de aprendizagem traçados sejam alcançados.

Penso que um grande desafio na realidade em que vivemos é atender as dificuldades dos estudantes, sejam estas sociais, econômica ou de qualquer outra ordem no cotidiano para gerenciar o aprendizado.

O ensino híbrido não desconstrói relações, mas permite uma aprendizagem colaborativa em constante processo de análise com o objetivo de personalizar o conteúdo em algo mais tangível ao aluno para que este consiga discutir sobre as aulas ministradas favorecendo a construção do conhecimento, conectando professores, alunos e o próprio conteúdo.

Naturalmente ocorreram transformações no modelo político e filosófico sustentado na formação padronizada e homogênea determinadas pelo ensino cartesiano e tradicional. A percepção da realidade diante de pessoas com diferentes culturas e formações levaram a modificações para um ensino voltado para indivíduos com características atuais em que as tecnologias no ensino híbrido são uma realidade inevitável.

Recebemos muitos alunos que trazem a cultura das tecnologias nos ambientes virtuais e é preciso pensar na sua problematização nas diversas instâncias de ensino como nos laboratórios de habilidades, de simulação realística, de informática, nas bibliotecas, na própria sala de aula e, também nas unidades de ensino prático. Tais reflexões nos possibilitam pensar no uso de metodologias ativas através do seu projeto político e pedagógico do curso.

Obviamente o planejamento estratégico deve estar inserido nas unidades de ensino, trazendo um plano de transição em que os espaços de aprendizagem precisam ser repensados. A formação dos professores, bem como, o método de ensino irá se consolidar nas relações de aprendizagem(4).

Além disso, as competências docentes devem estar voltadas para a capacidade do professor ser um facilitador/mediador do conhecimento em saúde na promoção da cultura digital. Da mesma forma, o professor como facilitador/mediador deve repensar o planejamento, tempos e espaços, analisando dados, evoluindo resultados e possuir a transdisciplinaridade como uma busca ativa. Outras características, como a criatividade, a dinamicidade, a comunicação e o diálogo devem prevalecer na prática docente. Essas características tornam o aprendizado com o discente motivador e colaborativo(5). É preciso sair das “caixinhas” do individualismo para o aprendizado coletivo.

A pandemia da Covid-19 nos levou a aprofundar as práticas educativas no ensino de enfermagem tratando do impacto no uso das tecnologias como uma realidade necessária sobre o ensino híbrido em que é preciso compreender como as pessoas interagem, produzem o conhecimento, apreendem e se comunicam. Daí pode-se dizer que não há volta para essa realidade, porque de fato, nenhum grupo de ensino será igual ao outro. É preciso entender que a cada período acadêmico a personalização do ensino será uma necessidade relevante no ensino híbrido desenvolvendo habilidades e competências que qualifiquem o discente diante da sociedade complexa em que vivemos.

 

CONFLITO DE INTERESSE

A autora declara não haver conflito de interesse.

 

REFERÊNCIAS

 

1. Santos VB Jr, Monteiro JCS. Educação e covid-19: as tecnologias digitais mediando a aprendizagem em tempos de pandemia. Encantar. 2020;2(1):01-15. http://dx.doi.org/10.46375/encantar.v2.0011.

 

2. Rodrigues E Jr, Castilho NMC. Uma experiência pedagógica em ação: aprofundando o conceito e inovando a prática pedagógica através do ensino híbrido. In: Anais do 3º Simpósio Internacional de Educação a Distância e Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância; 2016; São Carlos. São Carlos; 2016. Disponível em: http://www.sied-enped2016.ead.ufscar.br/ojs/index.php/2016/article/view/1295.

 

3. Camacho ACLF, Souza VMF. Educational technologies in hybrid Nursing education. Res Soc Dev. 2021;10(9):e40210918192. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.18192.

 

4. Bacich L, Tanzi A No, Trevisani FM. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso Editora; 2015.

 

5. Fuhr IL. Atividades cotidianas e o pensamento conceitual. Curitiba: CRV; 2018. http://dx.doi.org/10.24824/978854442403.2.

 

Submetido: 13/10/2021

Aprovado: 08/02/2022

 

CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES

Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho

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Obtenção de dados

Análise e interpretação dos dados

Redação textual e/ou revisão crítica do conteúdo intelectual

Aprovação final do texto a ser publicada

Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra

 

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