Fatores relacionados à prevenção da covid-19 em pessoas com diabetes: estudo transversal
Lucas David Maia Matias1, Jaciely Gondim Sidrônio de Lucena1, Thaysa Fernandes de Azevedo1, Alef Lucas Dantas de Araújo Silva1, Marta Miriam Lopes Costa2, Lidiane Lima de Andrade1
1 Federal University of Campina Grande, PB, Brazil
2 Federal University of Paraíba, PB, Brazil
RESUMO
Objetivo: analisar os fatores relacionados às práticas de prevenção da covid-19 em usuários que vivem com diabetes mellitus. Método: estudo de corte transversal, analítico e exploratório, desenvolvido com 300 indivíduos acompanhados na Estratégia Saúde da Família e tinham diagnóstico médico de diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2. Na análise bivariada, as comparações entre variáveis quantitativas e categóricas se deram por meio dos testes U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis, e o teste de comparações múltiplas de Dunn. Resultados: verificou-se relação entre o escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19 e as variáveis sexo (p<0,001), faixa etária (p=0,003), grau de escolaridade (p=0,018) e comorbidades (p=0,014). Conclusão: Conclui-se que as pessoas do sexo feminino, com faixas etárias e graus de escolaridade mais elevadas, e com comorbidade apresentaram escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19 mais elevado.
Descritores: Diabetes Mellitus; Vírus da SARS; Infecções por Coronavírus; Prevenção de Doenças; Enfermagem.
INTRODUÇÃO
A pandemia causada pela Corona Vírus Disease 19 (covid 19) consiste em um problema de saúde pública internacional. Assim, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2) se apresenta de forma leve na maioria das pessoas infectadas, todavia, em torno de 15% precisam hospitalização, e 5% desenvolvem a doença em sua forma grave(1). Portanto, tem sido gerada uma demanda extra nos serviços de saúde, sobretudo relacionadas a internação em unidade de terapia intensiva e a necessidade de ventilação mecânica(2).
É importante pontuar que as principais causas para desenvolvimento de formas graves da doença e óbito, são hipertensão, diabetes mellitus, doença cardiovascular e/ou pulmonar prévia(1). Desta forma, pessoas que vivem com diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2, uma vez infectadas, podem apresentar quadros com pior prognóstico, principalmente indivíduos idosos, com glicemia descontrolada, e que apresentem outras comorbidades(3).
Ratificando esse dado, em metanálise cujo objetivo foi determinar a associação de doenças metabólicas e cardiovasculares com o desenvolvimento da covid-19, concluiu-se que a incidência de diabetes mellitus foi duas vezes maior naqueles que desenvolveram a doença grave, em comparação com pacientes que não agravam o quadro clínico(4).
Ademais, embora alguns países ainda precisem desenvolver estudos robustos, a literatura já apresenta alguns resultados, quais sejam: Estudo desenvolvido pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, com dados de 44.672 casos confirmados de covid-19, relatou mortalidade de 1.023 pessoas. Dentre as comorbidades mais frequentes nos pacientes que evoluíram para o óbito, destaca-se o diabetes mellitus, presente em 7,3% dos casos(5). Dados preliminares do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, estimaram que 32% dos pacientes que necessitaram de admissão na Unidade de Terapia Intensiva, tinham diabetes mellitus(6). O Instituto Nacional de Saúde da Itália também relatou a prevalência de diabetes mellitus em pacientes que foram a óbito, em 35,5%, quando infectados por covid-19, sugerindo que o diabetes mellitus pode ser um fator de risco significativo para mortalidade(7).
Salienta-se que o diabetes mellitus é considerado um fator de risco para uma rápida progressão e mau prognóstico da covid-19, devido a liberação de mediadores que promovem lesão tecidual, respostas ao processo inflamatório não controlado, e estado pró-trombótico, associada à falta de controle no metabolismo da glicose. Tais achados são evidenciados por meio de exames de imagens e laboratoriais, esses últimos apontam elevação de níveis séricos dos biomarcadores relacionados à inflamação, como interleucina 6, proteína C reativa, ferritina sérica e fatores de coagulação(8).
Ademais, vale destacar que o diabetes mellitus é considerado uma das principais causas de morbimortalidade em todo o mundo, e essa condição está associada ao desenvolvimento de vários outros problemas de saúde pública(9). Assim, surge uma nova conjuntura com a interação entre duas pandemias, o que representa desafios em diferentes áreas.
Desta maneira, reduzir a exposição ao vírus é necessário para controlar/retardar a propagação da doença e os impactos negativos, como o aumento da mortalidade(10). Estudo cujo objetivo foi evidenciar estratégias de prevenção contra a disseminação da covid-19, demonstrou que a implementação de práticas de prevenção impactou potencialmente na redução da propagação do vírus(11).
Diante desse cenário, é preciso verificar as práticas de prevenção adotadas por usuários com diabetes, para desenvolver estratégias que possam provocar o empoderamento deles ao enfrentamento da covid-19. Sendo assim, será possível promover adesão e aceitabilidade às medidas de prevenção, por meio do autocuidado, visto que os indivíduos que vivem com a doença necessitam exercitar o protagonismo no processo de tomada de decisão relacionado à própria saúde.
Portanto, esta pesquisa tem como objetivo analisar os fatores relacionados às práticas de prevenção da covid-19 em usuários que vivem com diabetes mellitus.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de corte transversal, analítico e exploratório.
O estudo foi desenvolvido em um município localizado no Curimataú Paraibano (Cuité-PB). Como critérios de eleição, incluíram-se usuários acompanhados na Estratégia Saúde da Família, com diagnóstico médico de diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2, selecionados a partir de amostragem probabilística aleatória simples. Foram excluídos aqueles com idade inferior a 18 anos e com déficit de atenção e/ou dificuldade para responder às perguntas, conforme registros de enfermagem contidos nos prontuários.
Para se conhecer a população, foi solicitada informação junto à Secretaria Municipal de Saúde do Município, que consultou relatório de cadastro individual, obtido por meio do e-SUS e e-SUS PEC (Prontuário Eletrônico do Cidadão), apontando o total de 855 usuários. No cálculo amostral foi considerado o nível de confiança de 95%, erro amostral de 5% e acréscimo de 10% para as perdas, obtendo-se número amostral de 300 indivíduos.
Os dados foram coletados durante os meses de novembro de 2020 a fevereiro de 2021. A coleta ocorreu de forma presencial, com a utilização de equipamentos de proteção individual e manutenção de um distanciamento de dois metros durante a sua execução. Foi operacionalizada por meio de um formulário contendo duas partes: a primeira, com aspectos sociodemográficos, clínicos, hábitos comportamentais; e a segunda, com dados para medir o nível de práticas de prevenção da covid-19. Este último foi composto por questões que envolviam medidas de prevenção gerais (higienização/antissepsia das mãos, distanciamento social, uso de máscara, cuidados ao retornar para casa, higiene do ambiente), e medidas de prevenção específicas (monitorização da glicemia capilar, dieta hipoglicemiante, medicamentos orais/insulina, atividade física, busca de atendimento médico, vacinação contra outras doenças respiratórias).
É importante salientar que, como não existia formulário acurado para mensuração das atividades supracitadas, foi realizada uma revisão na literatura, a fim de identificar as medidas de prevenção da covid-19 em pessoas que viviam com diabetes(12). Esta revisão subsidiou a construção de um formulário contendo vinte questões em medidas de prevenção geral e seis questões em medidas de prevenção específicas, conforme subcategorias supracitadas. Ambas as questões apresentavam respostas distribuídas numa escala de likert que variava de zero a quatro (0-nunca, 1-poucas vezes, 2-algumas vezes, 3-muitas vezes e 4-sempre). Portanto, o nível de práticas de prevenção da covid-19 gerais tinha pontuação mínima de zero e máxima de oitenta, o nível de práticas de prevenção da covid-19 específicas tinha pontuação mínima de zero e máxima de 24, e o nível de práticas de prevenção da covid-19 total tinha pontuação mínima de zero e máxima de 104.
Na análise, os escores total, geral e específico do nível de práticas de prevenção da covid-19 foram submetidos ao teste de Shapiro Wilk, para verificação da normalidade dos dados. A partir do resultado de distribuição assimétrica, a mediana e os quartis 25 e 75 foram utilizados como medida de tendência central e dispersão, e as comparações entre variáveis quantitativas e categóricas se deram por meio dos testes U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis, e o teste de comparações múltiplas de Dunn.
A correlação entre variáveis quantitativas foi realizada por meio do teste de Correlação de Spearman, considerando os valores: 0 – ausência de correlação; 0 a 0,30 – correlação fraca; 0,30 a 0,70 – correlação moderada; > 0,70 – correlação forte. Em todos os testes se considerou um nível de significância de 5%.
A pesquisa seguiu os princípios éticos regidos pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, de modo que seu projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital de ensino cenário do estudo, onde foi aprovado conforme parecer nº 4.306.495/2020 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética nº 35726820.2.0000.5182.
RESULTADOS
Uma amostra de 300 indivíduos participaram do estudo, destes, 295 (98,3%) tinham diabetes mellitus tipo 2, 183 (61,0%) eram do sexo feminino, a maioria eram idosos, tendo em média 63,5 (±13,1) anos de idade, 170 (56,6%) viviam com menos de um salário mínimo, 174 eram casados ou viviam em união estável (58,0%), e 231 (77,0%) possuíam menos de oitos anos de estudo.
Na Tabela 1 são apresentados os escores geral, específico e total do nível de práticas de prevenção da covid-19 em pessoas que vivem com diabetes mellitus.
Tabela 1 – Nível de práticas de prevenção da covid-19 em pessoas que vivem com diabetes mellitus. Cuité, PB, Brasil, 2020-2021. (n=300)
Variáveis |
Mediana |
(Q25-Q75) |
Mínimo-Máximo |
Escore geral |
53,0 |
45,0-62,0 |
12,0-80,0 |
Escore específico |
13,0 |
10,0-16,7 |
1,0-24,0 |
Escore total |
67,0 |
57,0-76,0 |
17,0-95,0 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
*Análise descritiva dos dados que apresentaram distribuição assimétrica
Salienta-se que o escore geral compreendeu as habilidades de prevenção geral para a covid-19, tais como: higienização/antissepsia das mãos, distanciamento social, uso de máscara, cuidados ao retornar para casa, higiene do ambiente); o escore específico, compreendeu aos cuidados específicos com o diabetes mellitus, que consistem em medidas de prevenção específicas para a covid-19, quais sejam: monitorização da glicemia capilar, dieta hipoglicemiante, medicamentos orais/insulina, atividade física, busca de atendimento médico, vacinação contra outras doenças respiratórias. Por fim, o escore total, compreendeu o somatório do escore geral e do escore específico.
Na Tabela 2 estão dispostos a comparação entre o perfil sociodemográfico, clínico e hábitos comportamentais de usuários que vivem com diabetes mellitus com o escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19.
Tabela 2 - Comparação entre a mediana do escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19. Cuité, PB, Brasil, 2020-2021. (n=300)
Variáveis |
n (%) |
Escore total do nível de práticas de prevenção da COVID-19 |
||
Mediana (Q25-Q75) |
p-valor |
|||
Sexo |
Masculino |
117 (39,0) |
62,0 (52,0-73,0) |
<0,001* |
Feminino |
183 (61,0) |
69,0 (61,0-78,0) |
|
|
Faixa etária |
28 a 59 anos |
110 (36,7) |
65,0 (56,0-73,2) |
0,003† |
60 a 74 anos |
125 (41,7) |
71,0 (59,0-80,0) |
|
|
75 a 92 anos |
65 (21,6) |
64,0 (55,0-70,0) |
|
|
Cor da pele autorreferida |
Branca |
91 (30,3) |
67,0 (57,0-79,0) |
0,902† |
Preta/Parda |
106 (35,3) |
66,5 (54,7-75,0) |
|
|
Outra |
103 (34,3) |
67,0 (57,0-76,0) |
|
|
Arranjo domiciliar |
Mora sozinho |
30 (10,0) |
65,0 (53,7-77,2) |
0,657* |
Mora com alguém |
270 (90,0) |
67,0 (57,0-76,0) |
|
|
Grau de escolaridade |
Analfabetismo |
69 (23,0) |
64,0 (55,5-73,0) |
0,018† |
Ensino fundamental incompleto/completo |
169 (56,3) |
66,0 (55,5-77,0) |
|
|
Ensino médio incompleto/completo |
44 (14,7) |
65,5 (57,2-73,0) |
|
|
Ensino superior incompleto/completo |
18 (6,0) |
76,5 (69,7-83,2) |
|
|
Atividade de remuneração |
Aposentado |
192 (64,0) |
66,5 (5,2-77,0) |
0,952† |
Trabalhador ativo |
74 (24,7) |
66,0 (57,0-75,0) |
|
|
Desempregado |
34 (11,3) |
67,0 (57,2-77,0) |
|
|
Renda familiar mensal |
0 a 1 salário mínimo |
170 (56,7) |
66,0 (56,0-75,0) |
0,093† |
2 a 3 salários mínimos |
97 (32,3) |
66,0 (56,5-73,0) |
|
|
4 ou mais salários mínimos |
33 (11,0) |
72,0 (60,0-82,5) |
|
|
Tipo de Diabetes |
Tipo 1 |
05 (1,7) |
64,0 (58,0-82,5) |
0,716* |
Tipo 2 |
295 (98,3) |
67,0 (57,0-76,0) |
|
|
Tempo de diagnóstico |
Menos de 1 ano |
10 (3,3) |
68,5 (62,0-82,2) |
0,631† |
1 a 3 anos |
71 (23,7) |
66,0 (56,0-75,0) |
|
|
4 anos e mais |
219 (73,0) |
67,0 (57,0-77,0) |
|
|
Comorbidades |
Sim |
216 (72,0) |
68,0 (57,0-78,0) |
0,014* |
Não |
84 (28,0) |
63,0 (54,0-73,0) |
|
|
Complicações crônicas |
Sim |
101 (33,7) |
64,0 (56,0-74,5) |
0,299* |
Não |
199 (66,3) |
68,0 (57,0-77,0) |
|
|
Tabagista |
Sim |
27 (9,0) |
64,0 (49,0-77,0) |
0,389* |
Não |
273 (91,0) |
67,0 (57,0-76,0) |
|
|
Etilista |
Sim |
44 (14,7) |
64,5 (50,2-79,0) |
0,296* |
Não |
256 (85,3) |
67,0 (57,2-76,0) |
|
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
* Teste U de Mann-Whitney
† Teste Kruskal-Wallis
Verificou-se relação entre o escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19 e as variáveis sexo, faixa etária, grau de escolaridade e comorbidades.
Ademais, o teste de comparações múltiplas indicou que, para o nível de práticas, houve diferença estatisticamente significante entre as faixas etárias de 28 a 59 anos, quando comparadas a de 60 a 74 anos (p=0,026), e entre as faixas etárias de 75 a 92 anos, quando comparadas a de 60 a 74 anos (p=0,008).
O teste de comparações múltiplas também indicou que, para o nível de práticas, houve diferença estatisticamente significante entre os graus de escolaridade analfabeto, quando comparado a ensino superior (p=0,010), ensino médio quando comparado a ensino superior (p=0,045), e ensino fundamental, quando comparado a ensino superior (p=0,031).
Na Tabela 3 evidencia-se a correlação entre os escores geral e específico do nível de práticas de prevenção da covid-19 de usuários que vivem com diabetes mellitus.
Tabela 3 – Correlação entre os escores geral e específico do nível de práticas de prevenção da covid-19 de usuários que vivem com diabetes mellitus. Cuité, PB, Brasil, 2020-2021. (n=300)
Escores |
Escore geral do nível de práticas de prevenção da covid-19 |
ρ (p valor)* |
|
Escore específico do nível de práticas de prevenção da covid-19 |
0,359 (<0,001) |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
* Teste de Correlação de Spearman (ρ - Coeficiente de correlação)
A relação entre escore geral e o escore específico do nível de práticas de prevenção da covid-19 demonstrou significância estatística e moderada correlação positiva, indicando, no entanto, que quanto maior o escore geral, maior o escore específico.
DISCUSSÃO
A maioria dos participantes dessa pesquisa eram pessoas do sexo feminino, o que pode ser explicado devido ao fato das mulheres se mostrarem mais preocupadas com a própria saúde do que os homens, e por causa disso se atentam mais à procura dos serviços de saúde(13). Destarte, possuíam diabetes mellitus do tipo 2, e isso muitas vezes é uma evidência de inadequação alimentar, principalmente com o processo de envelhecimento, já que a média de idade era de 63,5 anos(9). Também, possuíam renda abaixo de um salário mínimo e nível de instrução inferior a oito anos de estudo, o que pode ser tido como fatores preditores ao aparecimento de doenças crônicas, já que o baixo poder aquisitivo atrelado ao nível de práticas diminuídas torna o indivíduo vulnerável. Essa informação é ratificada em estudo cujos dados demonstram que os usuários com maior escolaridade e maior poder aquisitivo buscavam mais os serviços de saúde(14).
Neste estudo foi observado que as medidas de prevenção contra a covid-19 era satisfatória, visto que as pessoas atingiram escores próximos à pontuação máxima. Este dado foi observado tanto em relação ao escore das medidas de prevenção gerais, específicas e total.
Uma pesquisa mostrou a importância da prática dos cuidados de prevenção para diminuição da disseminação do vírus, dentre eles, o isolamento social, higienização das mãos e uso de máscara facial(15). Já em relação às medidas de prevenção específica, evidências científicas mostram que para se prevenir, pessoas com diabetes mellitus necessitam atentar para a ingesta adequada de líquidos, melhorar o consumo de alimentos, com destaque para os carboidratos complexos, manter tratamento com hipoglicemiantes orais e insulinoterapia, monitorar os níveis de glicemia, realizar exercício físico, sob supervisão de profissionais de educação física; cessar a utilização de tabaco, buscar vacinação contra doenças respiratórias, e procurar atendimento médico por telemedicina(12).
Tratando-se da variável de sexo, constatou-se nesse estudo, que as pessoas do sexo feminino possuíam mais habilidades em relação à prevenção do que pessoas do sexo masculino, existindo uma tendência maior desse público a aderir aos cuidados. Esses achados confrontam uma pesquisa que mostra que as mulheres durante a pandemia, quando comparadas aos homens alimentam-se mais de bolachas, ao invés de alimentos saudáveis, aderiram menos às atividades físicas, além de serem mais suscetíveis ao consumo de cigarro(16). Por outro lado, autores apontam que historicamente as mulheres se cuidam e tem mais preocupação em relação a prevenção que homens, pois culturalmente o cuidar está relacionado ao gênero feminino, fazendo com que a frequência e busca pelos serviços de saúde seja maior entre as mulheres, e as taxas de mortalidade sejam mais altas em homens(13).
No que tange a faixa etária, foi percebido que os idosos têm nível de prática de prevenção da covid-19 mais elevado que jovens de diferentes faixas etárias, visto que por apresentarem maior índice de doenças crônicas, são mais susceptíveis ao desenvolvimento de complicações da covid-19. Corroborando com este dado, autores trazem que os idosos, desde o início da pandemia tiveram mais cuidados, principalmente com o isolamento social, destacando-se os que possuíam comorbidades como diabetes mellitus e hipertensão. Este fato é fruto da alta taxa de mortalidade por complicações nessa faixa etária e também por uma superproteção da população mais jovem a essas pessoas(17).
Tratando-se do grau de escolaridade, é possível inferir que as pessoas com ensino superior completo e incompleto detinham diferente nível de prática de prevenção da covid-19, e demonstraram possuir maior escore quando comparados aos pares com as demais categorias. Outros autores ratificam essa informação, apontando que o nível de conhecimento em relação a esses cuidados está ligado de forma diretamente proporcional ao grau de escolaridade, ou seja, quanto maior for o nível de formação, mais alto será o nível de conhecimento sobre prevenção e suas práticas(18).
Notou-se também que as pessoas que possuíam comorbidades tinham mais atitudes de prevenção da covid-19 do que as que não possuíam. Este cuidado maior pode estar relacionado ao alto risco de desenvolvimento de complicações e agravos da covid-19 nestas pessoas. Um estudo trouxe evidências que corroboram essa hipótese(19).
A partir da relação entre escore geral e o escore específico do nível de práticas de prevenção da covid-19, ficou evidente que os participantes da pesquisa possuíam nível de práticas geral e específicas equivalentes. Ademais, um estudo trouxe dados contrários, cujas pessoas demonstraram deter mais atenção para as práticas de prevenção gerais do que para com as específicas, sendo este fator justificado pela ausência de um acompanhamento profissional mais presente durante a pandemia. Esta realidade pode se apresentar de maneiras diferentes, a depender da região em que o indivíduo reside(20).
Como limitação da pesquisa, aponta-se a temporalidade reversa, devido ao desenho transversal, embora este seja vantajoso em função da rapidez e baixo custo. Portanto, sugerem-se estudos longitudinais para o esclarecimento do viés.
CONCLUSÃO
A análise dos fatores sociodemográficos, clínicos e hábitos comportamentais, permitiu evidenciarmos relação com as práticas de prevenção da covid-19 em usuários que vivem com diabetes mellitus.
Portanto, as pessoas do sexo feminino, com faixas etárias e graus de escolaridade mais elevadas, e com comorbidade, apresentaram um escore total do nível de práticas de prevenção da covid-19 mais elevado.
A pesquisa realizada comprova a necessidade de manter ações educativas com enfoque na prevenção da covid-19, a fim de melhorar e manter as práticas de usuários com diabetes mellitus, tendo em vista os maiores riscos a que essa população está exposta.
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Submission: 29/03/2021