Diagnósticos de enfermagem CIPE® relacionados à nutrição na clínica pediátrica: estudo transversal

 

Ana Emília Alcântara de Avelar1, Marcela Ferreira dos Santos2, Rebeca Garcia Tavares3, Alícia Laís Silva Oliveira2, Tamires Dayanna Alves Resende4, Fabiana Maria Rodrigues Lopes de Oliveira2, Gabriela Lisieux Lima Gomes2

 

1 University of Pernambuco, PE, Brazil

2 University Center of João Pessoa, PB, Brazil

3 Training, Professional Improvement and Research Center, PB, Brazil

4 Integrated Center for Educational Consulting Services, PB, Brazil

 

RESUMO

Objetivo: identificar os Diagnósticos de Enfermagem CIPE® relacionados à necessidade humana básica de nutrição na clínica pediátrica. Método: estudo transversal com abordagem quantitativa, realizado na clínica pediátrica de um hospital público da cidade de João Pessoa, Paraíba. A amostra foi composta por 91 participantes, entre crianças e adolescentes com período de internação superior a 24 horas. Resultado: foi possível identificar os diagnósticos: Emagrecimento; Adesão ao Regime Dietético Eficaz; Comportamento Alimentar Infantil, Prejudicado; Apetite, Prejudicado; Obesidade; Amamentação Exclusiva; Amamentação Exclusiva Prejudicada; Problema de Peso Corporal; Sobrepeso; Adesão ao Regime Dietético Prejudicada e Condição Nutricional, Prejudicada. Conclusão: dentre os diagnósticos, destacaram-se Apetite Eficaz; Comportamento Alimentar Infantil Eficaz; Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos Eficaz; Condição Nutricional Positiva e Capacidade para Alimentar-se. A elaboração dos diagnósticos relacionados à nutrição da criança e adolescente corrobora à construção de subconjuntos terminológicos, a fim de garantir a eficácia do cuidado.

 

Descritores: Processo de Enfermagem; Terminologia Padronizada em Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem; Criança Hospitalizada. 

 

INTRODUÇÃO

O estado nutricional nos primeiros anos de vida até a puberdade é um fator determinante para o crescimento e desenvolvimento saudável de uma criança ou adolescente. A nutrição adequada, por sua vez, assegura o funcionamento das funções do organismo através da ingestão correta de nutrientes, vitaminas e minerais, garantindo um crescimento e desenvolvimento sadio, bem como a prevenção de doenças crônicas(1)

Desse modo, por tratar-se de um período dinâmico, o estado nutricional é um momento que requer atenção dos serviços de saúde, com ênfase no cuidado profissional. A nutrição é caracterizada por mudanças distintas no crescimento e desenvolvimento da criança e adolescente, influenciada pelas variações do ambiente familiar, físico e social. Os eventos que acontecem na infância e adolescência exercem grande influência na fase adulta, tornando esta fase uma etapa relevante no ciclo vital(2).

No tocante à hospitalização, o ingresso ao hospital compromete a vida da criança em vários aspectos, o que ressoa de maneira negativa na expressão de sentimentos e no seu desenvolvimento, haja vista a distância do seu lar e familiares, os quais têm convívio contínuo. Frente a essa realidade, a escuta ativa por parte dos profissionais de saúde é indispensável, bem como a promoção de uma comunicação efetiva com os pais da criança hospitalizada, a fim de promover sua compreensão quanto à realização dos diversos procedimentos e os benefícios para a melhoria da criança(2).

Com isso, percebe-se a importância dos profissionais de enfermagem junto com a equipe multiprofissional, no sentido de proporcionar atividades que permitam o envolvimento da criança e dos familiares durante esse período e, dessa forma, possibilitar a prestação da assistência abrangendo a individualidade, contribuindo positivamente no período de permanência da criança no ambiente hospitalar(3)

Diante deste cenário de hospitalização na pediatria, os profissionais de enfermagem são diretamente responsáveis da identificação das necessidades da criança, como assim também do planejamento e prestação do cuidado, assegurando a qualidade da assistência, por meio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), com a implementação do cuidado baseado em conhecimentos técnico-científicos e a aplicação de todas as etapas do processo de enfermagem(4).

Partindo das teorias de enfermagem, é pertinente mencionar a utilização da teoria das necessidades humanas básicas como suporte teórico para a prestação dos cuidados à criança e ao adolescente. Horta descreve a enfermagem como a ciência e a arte de assistir o ser humano (indivíduo, família e comunidade) no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência, quando possível, pelo ensino do autocuidado, de recuperar, manter e promover a saúde. Diante disso, sua aplicabilidade busca a melhoria na qualidade de vida e das inter-relações existentes entre os princípios, conceitos e propósitos que a teoria traz(5).

Para tanto, utilizou-se a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) por se tratar de uma terminologia padronizada que nomeia, classifica e vincula fenômenos que descrevem os elementos fundamentais da prática profissional, os quais perpassam pelo julgamento sobre determinadas necessidades do indivíduo (diagnósticos de enfermagem), podendo influenciar positivamente nos diagnósticos sobre as necessidades humanas e sociais (ações/intervenções de enfermagem)(6).

A CIPE® é uma terminologia padronizada, extensa e com um nível elevado de compreensão, caracterizada como uma ferramenta de informação tecnológica capaz de possibilitar a coleta, armazenamento e análise de dados de enfermagem em inúmeras situações, colaborando para que o exercício profissional da enfermagem seja efetivo e visível no agrupamento de dados sobre saúde(7).

Nesta perspectiva, e mediante identificação de alterações relacionadas à necessidade humana básica de nutrição da criança e adolescente hospitalizados, ressalta-se a importância de identificar Diagnósticos de Enfermagem (DE) com vistas a prover a execução do processo de enfermagem, que possibilita extrair informações necessárias para facilitar o raciocínio clínico e contribuir para a padronização da linguagem profissional(7).

Portanto, como esse processo pode ocasionar alterações significativas no crescimento e desenvolvimento da criança hospitalizada, este estudo tem como objetivo identificar os Diagnósticos de Enfermagem CIPE® relacionados à necessidade humana básica de nutrição na clínica pediátrica.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa, realizado na unidade de internação de clínica pediátrica de um hospital público da cidade de João Pessoa, Paraíba. A pesquisa foi elaborada a partir do projeto de pesquisa “Desenvolvimento de software para identificação de diagnósticos e intervenções de enfermagem CIPE®” desenvolvido por pesquisadores de uma Instituição de Ensino Superior.

A população do estudo contou com crianças e adolescentes internados na enfermaria pediátrica do referido hospital bem como com os respectivos representantes legais, cuja coleta de dados aconteceu entre abril e outubro de 2019. Foram incluídos os lactentes, toddler, pré-escolar, escolar, e adolescentes com período de internação superior a 24 horas, que estivessem na faixa etária de 0 a 18 anos, 11 meses e 29 dias, além disso houve complementação dos dados pelos responsáveis legais, os quais estavam aptos a responderem aos questionamentos e que aceitaram participar do estudo. Foram excluídos do estudo crianças, adolescentes e representantes legais que não estavam em condições clínicas de responder aos questionamentos. Considerando isso, a amostra final foi composta por 91 participantes, sendo do tipo não probabilística, escolhida por conveniência, sem que houvesse realização de cálculo amostral. É oportuno ressaltar que todos os participantes, das faixas etárias acima supracitadas, admitidos no período mencionado, foram convidados a participar do estudo.

O levantamento dos dados foi realizado pelas pesquisadoras vinculadas ao projeto de pesquisa, discentes do curso de enfermagem e previamente treinadas pelas pesquisadoras principais. Para tanto, utilizou-se um instrumento semiestruturado com o objetivo de obter informações sobre os dados sociodemográficos da criança/adolescente, além de informações adicionais dos representantes legais (idade, sexo, escolaridade da acompanhante, calendário vacinal e se matriculado em instituição de ensino), anamnese e exame físico, construídos em consonância com os preceitos da Teoria das Necessidades Humanas Básicas proposta por Wanda de Aguiar Horta(5).

Para a elaboração dos diagnósticos de enfermagem apresentados neste estudo, consideraram-se as necessidades propostas na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta. Utilizou-se a ISO 18104:2014 e a taxonomia CIPE® versão 2019/2020 composta pelo modelo de 7 eixos incluindo, obrigatoriamente, um termo do eixo Foco e um termo do eixo Julgamento(7)

Além disso, considerou-se o pensamento crítico e raciocínio diagnóstico das pesquisadoras, tomando como base as particularidades do público pesquisado, seguindo as etapas: 1) análise dos instrumento de coleta de dados; 2) identificação dos problemas apresentados pela criança/adolescente; 3) vinculação com a necessidade humana básica afetada; 4) utilização da CIPE®, com ênfase nos eixos foco e julgamento; 5) estruturação do diagnóstico de enfermagem; 6) revisão por duas expertises doutoras em enfermagem.

Após isso, os dados foram digitados no software Statical Package for the Social Sciences 20.0 (SPSS) para possibilitar a efetivação do tratamento estatístico. Quanto à análise dos dados, foi realizada pela abordagem quantitativa, por meio da estatística descritiva para obtenção de frequência absoluta, relativa, medidas de locação (média, mediana, mínimo e máximo) e escala (desvio padrão) dos diagnósticos de enfermagem elaborados.

O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), de acordo com os aspectos éticos referenciados na Resolução nº 466/2012, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos, tendo sido aceito sob número de protocolo: 3.181.956. É oportuno destacar que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado pelos representantes legais, em duas vias, ficando uma com o participante e outra com os pesquisadores. Para as crianças alfabetizadas e aptas para assinatura, foi disponibilizado o Termo de Assentimento.

 

RESULTADOS

A caracterização sociodemográfica obteve-se por meio de entrevistas semiestruturadas e questionário elaborado para crianças e seus respectivos responsáveis legais, pré-adolescentes e adolescentes. Após o agrupamento dos achados, apresentou-se uma maior prevalência nos resultados: faixa etária Toddler (35,16%), do sexo masculino (70,33%); Calendário Vacinal completo (74,73%); que estavam Matriculadas em Instituição de Ensino (52,75%). Ademais, a maioria dos acompanhantes possuíam Ensino Fundamental Incompleto (37,36%), de acordo com os dados apresentados na Tabela 1:

 

Tabela 1- Caracterização sociodemográfica de crianças e adolescentes. João Pessoa, PB, Brasil (n=91)

VARIÁVEL 

n

 % 

IDADE 

 

 

Lactante

12

13,19%

Toddler (1 a 3 anos)

32

35,16%

Pré-escolar (3 a 6 anos)

19

20,88%

Escolar (6 a 12 anos)

24

26,37%

Adolescentes (12 a 18 anos)

3

4,40%

 

 

 

SEXO 

 

 

 Feminino 

27

29,67%

 Masculino 

64

70,33%

 

 

 

ESCOLARIDADE ACOMPANHANTE 

 

 

Fundamental Incompleto 

34

37,36%

Fundamental Completo 

09

09,89%

Médio Incompleto 

09

09,89%

Médio Completo 

27

29,67%

Ensino Superior Incompleto 

03

03,30%

Ensino Superior Completo 

02

02,20%

Não Refere

07

07,69%

 

 

 

CALENDÁRIO VACINAL

 

 

Completo

68

74,73%

Incompleto

21

23,08%

Não Refere

2

2,20%

 

 

 

MATRICULADO EM INSTUIÇÃO DE ENSINO

 

 

Sim

48

52,75%

Não

11

12,09%

Não Refere

32

35,16%

 

 

 

TOTAL

91

100%

Fonte: Elaborado pelo autores, 2020.

 

Para a elaboração de diagnósticos, considerou-se a necessidade de nutrição disposta na teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Aguiar Horta(5), além do processo de raciocínio diagnóstico e taxonomia CIPE®. Desse modo, foram identificados 17 diagnósticos, prevalecendo: “Apetite Eficaz” (20,5%), “Comportamento Alimentar Infantil Eficaz” (20,2%), “Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos Eficaz” (16,7%) e Condição Nutricional Positiva (13,2%) e Capacidade para Alimentar-se (11,6%), conforme evidencia a Tabela 2:

 

Tabela 2- Diagnósticos de enfermagem CIPE® relacionados à necessidade de nutrição da clínica pediátrica, de acordo com a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta. João Pessoa, PB, Brasil (n=91)

 

Diagnóstico de Enfermagem

 

 

          n

        %

 

 

 

 

 

 

Necessidade de Nutrição

 

 

 

 

 

Apetite Eficaz

 

 

 

 

53

20,5

Comportamento Alimentar Infantil Eficaz

 

 

52

20,2

Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos Eficaz

 

43

16,7

Condição Nutricional Positiva

 

 

 

34

13,2

Capacidade Para Alimentar-se 

 

 

 

30

11,6

Emagrecimento

 

 

 

 

11

4,3

Adesão ao Regime Dietético Eficaz

 

 

 

   10

3,9

Comportamento Alimentar Infantil Prejudicado

 

 

6

2,3

Apetite Prejudicado

 

 

 

 

5

1,9

Obesidade

 

 

 

 

 

3

1,2

Amamentação Exclusiva

 

 

 

2

0,8

Amamentação Exclusiva Prejudicada

 

 

2

0,8

Problema de Peso Corporal

 

 

 

2

0,8

Sobrepeso

 

 

 

 

 

2

0,8

Adesão ao Regime Dietético Prejudicado

 

 

1

0,4

Condição Nutricional Prejudicada

 

 

 

1

0,4

Ingestão de Alimentos Insuficiente

 

 

 

1

0,4

 Fonte: Elaborado pelo autores, 2020.

 

 

Diagnóstico de Enfermagem

 

Definições Operacionais  

 

Apetite Eficaz

Estado em que o indivíduo apresenta sensação de desejo para satisfazer necessidades corporais por nutrientes ou por determinados tipos de alimentos, aceitando a dieta nos momentos das refeições.

Comportamento Alimentar Infantil Eficaz

Padrão de ingestão de alimentos.

Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos Eficaz

Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos

Condição Nutricional Positiva

 

Peso e massa corporal em relação à ingestão nutricional e de nutrientes específicos, estimados de acordo com a altura, a estrutura corporal e a idade. Quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos suprindo necessidades fisiológicas, de forma a favorecer o crescimento e desenvolvimento. 

Capacidade Para Alimentar-se 

Capacidade: levar e colocar na boca os alimentos sólidos e líquidos.

Emagrecimento

Estado no qual o indivíduo apresenta diminuição do peso corporal por meio da mensuração da quantidade de massa corporal, com peso corporal 20 por cento ou mais abaixo do ideal, proeminências ósseas salientes, mucosas pálidas, fraqueza, sons intestinais hiperativos, intolerância alimentar, ansiedade, episódio de aflição e medo, perda de apetite.

Adesão ao Regime Dietético Eficaz

Adesão ao regime dietético.

Comportamento Alimentar Infantil Prejudicado

Padrão de ingestão de alimentos.

 

Apetite Prejudicado

Estado no qual o indivíduo apresenta uma alteração na sensação de desejo de satisfazer necessidades corporais/orgânicas de nutrientes ou de um ou mais tipos de alimentos, intolerância alimentar, resfriados caracterizados por apetite diminuído, alteração no tônus muscular, perda de peso e dor abdominal. 

 

 

Obesidade

 

 

Condição de elevado peso e massa corporal, habitualmente mais de 20 por cento acima do peso ideal, aumento anormal na proporção de células adiposas, predominantemente nas vísceras e tecido subcutâneo, associado à ingestão excessiva e contínua de nutrientes, alimentação em excesso, ganho de peso, aumento do apetite, hábitos alimentares inadequados, histórico de sobrepeso, tempo de sono reduzido e falta de exercício, durante longos períodos de tempo. 

Amamentação Exclusiva

Alimentar exclusivamente com leite materno, excluindo todos os outros alimentos, nos primeiros quatro a seis meses de vida.

Amamentação Exclusiva Prejudicada

Comprometimento na alimentação exclusiva com leite materno, excluindo todos os outros alimentos, nos primeiros quatro a seis meses de vida.

Problema de Peso Corporal

Peso Prejudicado.

 

 

Sobrepeso

Condição de elevado peso e massa corporal, habitualmente 10 a 20 por centro acima do peso ideal, aumento proporcional de células gordas, predominantemente nas víscera e tecido subcutâneo, associado à ingestão excessiva de nutrientes, alimentação em excesso, hábitos alimentares inadequados e desordenados, consumo de bebidas açucaradas, sensação de fome constantes, histórico de obesidade e falta de exercício. A massa corporal encontra-se acima dos padrões da normalidade, IMC entre 25 e 29.

Adesão ao Regime Dietético Prejudicada

Ausência de ação iniciada pela própria pessoa para promover o bem-estar, recuperação e reabilitação, seguindo as orientações sem se desviar e estando devotada a um quadro de ações ou comportamentos, neste caso, a realização do regime dietético.

 

 

 

 

Condição Nutricional Prejudicada

Ingestão de nutrientes que excede as necessidades metabólicas ou ingestão insuficiente de nutrientes para satisfazer às necessidades metabólicas, caracterizado por Dobra da pele do tríceps > 25 mm em mulheres e > 15 mm em homens e peso 20 por cento acima do ideal para altura e compleição ou cavidade bucal ferida, mucosas pálidas, peso corporal 20 ou mais abaixo do ideal, ingestão excessiva com relação às necessidades metabólicas ou cólicas abdominais, diarreia, dor abdominal, perda excessiva de cabelos, quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos de forma a não suprir as necessidades fisiológicas, dificultando o crescimento e desenvolvimento. 

Ingestão de Alimentos Insuficiente

Ingestão de alimentos diminuída para necessidades diárias, caracterizada por alteração no paladar, diminuição de apetite, perda de peso, aversão ao alimento, cavidade bucal ferida, cólicas abdominais, diarreia, dor abdominal, fragilidade capilar, fraqueza dos músculos necessários à deglutição e mastigação, mucosas pálidas, sons intestinais hiperativos, tônus muscular insuficiente. 

Figura 1- Definições operacionais dos diagnósticos de enfermagem relacionados à necessidade de nutrição da clínica pediátrica. João Pessoa, PB, Brasil (n=17)

Fonte: Nóbrega, 2018; Conselho Internacional de Enfermeiros, 2018. 

 

DISCUSSÃO

A nutrição influência de modo direto no crescimento físico, desenvolvimento neuropsicomotor e sistema imunológico da criança, prevenindo posteriormente doenças infecciosas na adolescência e ao longo da vida. Os distúrbios da nutrição são considerados como causas principais de morbidade e mortalidade na população infantil, sendo um dos fatores que comprometem o prognóstico das doenças humanas(8).

No tocante à criança e ao adolescente inseridos em contexto hospitalar, recomenda-se o acompanhamento do seu estado nutricional, visto que a ingestão de nutrientes adequada é um fator determinante para o avanço na recuperação do indivíduo e na melhora da deficiência nutricional, além de proporcionar restabelecimento precoce à doença, beneficiando o estado nutricional exposto(9).

Nesse ínterim, a avaliação nutricional deve ser realizada em crianças com risco nutricional, onde o profissional de saúde mensura os dados de peso e estatura, avaliando de acordo com as curvas de crescimento e desenvolvimento, classificando conforme os índices de peso/estatura, estatura/idade, índice de massa corporal/idade e peso/idade(10). Essa prática faz parte do cotidiano do enfermeiro na assistência à saúde da criança.

No presente estudo, crianças apresentaram “Apetite Eficaz”, “Comportamento Alimentar Infantil Eficaz”, “Padrão de Ingestão de Alimentos ou Líquidos Eficaz”, “Condição Nutricional Positiva”, “Capacidade para Alimentar-se” e “Emagrecimento”, o que representa 4,3% dos diagnósticos de enfermagem elaborados e dizem respeito aos sinais e sintomas de prevalência significante em caso de carências nutricionais.

O enunciado “Comportamento Alimentar Infantil Eficaz”, “Apetite Eficaz” e os demais com enfoque positivo, foram os diagnósticos de enfermagem mais frequentes na pesquisa. Nesse sentido, o comportamento alimentar é modulado pelo apetite e ambos são dependentes de fatores ambientais, sociais e biológicos. O conceito de apetite é complexo, mas pode ser definido, sob uma perspectiva biológica, como uma força motriz para a procura, escolha e ingestão de alimentos ou, sob uma visão mais ampla, como atitudes e fatores psicossociais implícitos na seleção e decisão de quais alimentos ingerir(11).

Nesse sentido, a construção de hábitos saudáveis atua como uma engrenagem fortalecida para prevenção de futuras doenças, sendo a melhor estratégia de evitar carência nutricional na criança(11). Entretanto, o achado “Emagrecimento” faz relação com as condições nutricionais em contexto hospitalar, decorrente das modificações na estrutura da dieta, ou com às mudanças socioeconômicas, demográficas e ao acelerado processo de industrialização que repercute na cultura alimentar(12).

O emagrecimento pode ter relação com causas primárias ou secundárias. As primárias sucedem em crianças ou adolescentes que têm uma alimentação insuficiente em calorias e nutrientes. De outro modo, as causas secundárias decorrem da ingestão insuficiente de alimentos ou do aumento das necessidades energéticas, devido a um fator não relacionado com a alimentação, como a presença de verminoses, alergias, intolerâncias alimentares, digestão e absorção deficiente de nutrientes(12).

Em contrapartida, 0,8% das crianças apresentaram “Amamentação Exclusiva”, que representam 0,2% dos diagnósticos de enfermagem elaborados. Nesta perspectiva, o aleitamento materno é capaz de proporcionar benefícios tanto para o lactente quanto para a mãe, fazendo-se necessário uma rede de apoio para incentivar e fornecer informações fundamentais, com a participação de profissionais da saúde e familiares, buscando garantir a continuidade da amamentação exclusiva por no mínimo os primeiros 6 meses de vida do bebê(13).

Por outro lado, cabe destacar que 0,8% das crianças apresentaram “Amamentação Exclusiva Prejudicada”, que representam 0,2% dos diagnósticos de enfermagem elaborados. É oportuno destacar que a amamentação exclusiva pode se tornar prejudicada por inúmeros fatores, como em casos de internação infantil, mastite, fissura mamilar, algumas doenças ou fármacos incompatíveis com o aleitamento. De todo modo, estudo aponta que o aleitamento materno reduz a mortalidade infantil, protege contra alergias, previne doenças, melhora o desenvolvimento neurológico, além de representar a forma mais natural e nutritiva de alimentação para o ser humano nos primeiros meses de vida(14).

No que diz respeito à ingesta de alimentos, este estudo apontou que 1,9% das crianças hospitalizadas apresentaram “Apetite Prejudicado”, “Adesão ao Regime Dietético Eficaz” e “Adesão a Regime Dietético Prejudicada”. Diante disso, adaptar as refeições diárias dos pacientes para satisfazer e preservar o apetite é essencial, assim buscando minimizar a rejeição alimentar e atender as necessidades nutricionais durante o período de internação hospitalar(15).

Em relação aos diagnósticos de enfermagem “Comportamento Alimentar Infantil Prejudicado” e “Obesidade”, sabe-se que a alimentação infantil reflete diretamente nos hábitos alimentares e no estado de saúde na idade adulta, porém, os alimentos prejudiciais à saúde estão sendo oferecidos cada vez mais precocemente as crianças, sendo influenciado principalmente pelos hábitos alimentares do ambiente familiar(16).

Considerando que a obesidade é um achado significativo, uma vez que reflete a consequência do comportamento alimentar infantil prejudicado, é pertinente destacar que o excesso de peso em crianças e adolescentes está crescente na sociedade atual, sendo responsável por ocasionar múltiplas complicações na saúde do indivíduo. Desse modo, e com vistas a minimizar tal aspecto, o estudo aponta para a necessidade de estratégias e ações políticas e familiares focadas no incentivo ao consumo de alimentos saudáveis e realização de atividades que reduza o sedentarismo na infância(17).

O processo de hospitalização infantil influencia diretamente no estado nutricional, sendo capaz de acarretar consequências significativas por um período de tempo. Neste estudo, foi possível evidenciar isso. Além do mais, a avaliação e o acompanhamento do estado nutricional da criança e adolescente pelos profissionais de saúde são imprescindíveis, possibilitando o planejamento e implementação intervenções direcionadas à nutrição infantil, evitando possíveis danos à saúde(18).

Outrossim, a internação hospitalar ocasiona inúmeros impactos emocionais na criança, por esse motivo prover uma assistência de enfermagem com ações humanizadas reflete positivamente durante esse processo. Segundo Ribeiro et al.(19), o profissional de enfermagem, ao buscar ofertar durante a prestação do cuidado atividades que permitem o divertimento infantil, promove um ambiente acolhedor, tranquilizador, agradável, além de facilitar e proporcionar a interação entre o profissional e a criança.

Assim, ressalta-se a relevância deste estudo para a comunidade científica, uma vez que as doenças relacionadas à nutrição são consideradas um problema de saúde pública, sendo importante a oferta de atenção à criança, pré-adolescente e adolescente com alteração nutricional, a fim de promover um cuidado de qualidade.

 

Limitação do estudo

Esse estudo possui limitações por abordar apenas uma realidade hospitalar; ser do tipo transversal, não permitindo relação de causa e efeito; e possuir a amostra selecionada por conveniência, que pode gerar viés de seleção. Sugere-se, assim, a realização de outros estudos, sobretudo, aqueles de abordagem prospectiva, envolvendo populações maiores e randomizadas, para uma melhor contribuição do fenômeno em questão. Apesar dessas limitações, o estudo atingiu seu objetivo, na medida em que apresentou os diagnósticos de enfermagem relacionados à necessidade de nutrição na clínica pediátrica.

 

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

A realização deste estudo auxiliará de forma positiva na sistematização da assistência de enfermagem na clínica pediátrica utilizando a CIPE®, facilitando o raciocínio clínico e a tomada de decisão dos enfermeiros com relação às necessidades nutricionais da criança e adolescente.

 

CONCLUSÃO

A elaboração dos diagnósticos de enfermagem relacionadas às necessidades nutricionais do público pediátrico e adolescente inspira a academia científica à construção de subconjuntos terminológicos CIPE® nas diversas unidades clínicas, a fim de garantir que a sistematização da assistência seja precisa, organizada e individualizada a cada cuidado de enfermagem prestado.

A importância de um sistema de linguagem para elaboração de diagnósticos de enfermagem dar-se-á na melhoria da comunicação entre enfermeiros, membros da equipe de enfermagem e outros profissionais, possibilitando avaliar os resultados de enfermagem e escolher as melhores intervenções, com o intuito de otimizar a prática de enfermagem para ofertar avanços diretamente no cuidado prestado.

Outrossim, o estudo pôde enfatizar que a alteração no estado nutricional pode prejudicar o desenvolvimento infantil, como também a vida cotidiana da família, por estar atrelada a uma experiência inesperada e totalmente divergente do habitual. Nesse sentido, esta pesquisa apresentou a importância da utilização da SAE na assistência à saúde da criança, e a aplicação do processo de enfermagem, sendo uma das etapas a identificação dos diagnósticos de enfermagem, junto à utilização da CIPE®, permitindo a prestação e continuidade do cuidado baseado em conhecimentos técnico-científicos por meio de uma assistência focada nas necessidades individuais nutricionais de cada indivíduo.

Nesse ínterim, faz-se necessário a continuidade deste estudo para a elaboração de intervenções de enfermagem, visando construir um subconjunto terminológico CIPE® referente à nutrição da criança e adolescente, corroborando para sua utilização, fortalecimento da linguagem padronizada e a sistematização da assistência, valorizando a prática, o ensino e a pesquisa na enfermagem, uma vez que as doenças relacionadas à nutrição são consideradas um problema de saúde pública.

 

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Submission: 03/25/2021 

Approved: 09/13/2021

 

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA 

Concepção do projeto: Avelar AEA, Santos MF.

Obtenção de dados: Avelar AEA, Santos MF, Tavares RG.

Análise e interpretação dos dados: Avelar AEA, Santos MF, Tavares RG, Oliveira ALS, Resende TDA.

Redação textual e/ou revisão crítica do conteúdo intelectual: Oliveira FMRL, Gomes GLL.

Aprovação final do texto a ser publicada: Oliveira FMRL, Gomes GLL.

Responsabilidade pelo texto na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Avelar AEA.