Vivências paternas de bebês prematuros, musicoterapia e posição canguru: análise de conteúdo

 

Luzia Borges Leal1, Carolina Mathiolli1, Milena Torres Guilhem Lago1, Adrinana Valongo Zani1

 

1 State University of Londrina, PR, Brazil

 

RESUMO

Objetivo: Compreender as vivências e percepções paternas em relação à realização da posição canguru associada ou não a música. Método: Estudo qualitativo tendo como referencial teórico Cuidado Centrado na Família. A amostra foi constituída por pais com idade entre 19 a 39 anos, possuíam recém-nascidos prematuros hospitalizados e que tiveram a oportunidade de realizar posição canguru associada ou não a musicoterapia. A coleta ocorreu no período de abril a junho de 2020. Para a análise utilizou o referencial metodológico Análise de Conteúdo. Resultados: As falas permitiram a identificação de cinco categorias: Sentimentos proporcionados pelo primeiro canguru; Contato pele a pele e o despertar da paternidade; Ressignificando o canguru por meio da música; Música e seus significados; Sentimento paterno referente à música e COVID-19. Conclusão: A musicoterapia associada a posição canguru configurou-se para o pai como um momento de fortalecimento do vínculo pai e filho, bem como redução de sentimento de tristeza e ansiedade.

 

Descritores: Musicoterapia; Método canguru; Recém-nascido prematuro; Pai.

 

INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica nos serviços de neonatologia, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTINs), tem diminuído os índices de mortalidade de recém-nascidos pré-termos(RNPT) e associado a esta conquista vem se buscando a inclusão dos pais no cuidado a esta população tão específica e complexa. Deste modo, há necessidade de intervenções nas UTINs que facilitem a formação de laços afetivos entre pais e filhos no contexto da prematuridade. Assim, desenvolvendo a confiança e valorizando as potencialidades destes pais(1).

Nesse processo de hospitalização do RNPT, grande parte dos estudos enfatizam apenas as fragilidades e sentimentos maternos, excluindo o pai desse momento considerado difícil e doloroso, talvez pela força cultural e histórica de divisão social de papéis entre homens e mulheres(1-2). No entanto, atualmente, é observada a presença mais intensa da figura paterna na UTIN. E diante deste cenário, é preciso valorizar e empoderar o pai incluindo-o nos cuidados ao seu filho.

As interações positivas entre pai e filho pré-termo estabelecidas precocemente têm mostrado redução no déficit cognitivo. Por outro lado, estudos mostram que estes pais se sentem estressados, oprimidos e isolados(3). Diante deste contexto, terapias integrativas têm sido implantadas nos serviços de neonatologia com o intuito de auxiliar na redução de fatores estressantes e fortalecimentos dos vínculos afetivos familiares. Dentre elas destaca-se a musicoterapia.

A música na prática da enfermagem tem sido apontada como recurso terapêutico complementar que tem auxiliado na recuperação fisiológica e emocional tanto do paciente, inclusive em relação à estabilidade de RNPTs, bem como da família. Além disso, é uma ferramenta terapêutica de fácil uso, acessível, com mínimos efeitos colaterais e que pode ser utilizada em vários contextos e para diversas doenças(4,5,6).

Outro modelo de atenção qualificada e humanizada é o Método Canguru(MC) e fazendo parte desse Método o contato pele a pele, que começa de forma precoce e crescente desde o toque evoluindo até a Posição Canguru(PC), que consiste em manter o RN em contato pele a pele, somente de fraldas, na posição vertical junto ao peito dos pais, além disso, proporciona diversos benefícios aos pais e recém-nascido(7).

Ao longo das etapas que contemplam o MC, a participação e presença do pai é destacada pelas normas ministeriais brasileiras, pois igualmente à mãe, faz-se necessário introduzi-lo nos cuidados neonatais. Sendo assim, a experiência do pai realizando a PC visa auxiliar na compreensão sobre a eficácia da sua participação e o empoderamento para com o seu bebê pré-termo. Nestas circunstâncias, o pai é considerado como um ser-em-situação em que o corpo encontra com o outro corpo, sendo este evidenciado pelo contato pele a pele(8).

Portanto, nesse contexto, surge a necessidade de associar estas duas intervenções, ou seja, musicoterapia e PC, com o intuito de proporcionar um cuidado humanizado. E neste contexto, busca-se inserir a figura paterna, visto que o pai tem demonstrado o desejo e a necessidade de ser visto em outros papéis dentro do contexto familiar, deixando de ser ator coadjuvante e passando a ser ator principal juntamente com sua companheira, procurando fortalecer os vínculos pai-mãe-filho pré-termo. Deste modo emergiu o seguinte questionamento: Como o pai vivencia e percebe o comportamento do filho pré-termo ao realizar a PC associada ou não a música? Portanto, o objetivo deste estudo foi compreender as vivências e percepções paternas em relação à realização da PC associada ou não a música.

 

METODOLOGIA

O presente estudo é integrante de uma ampla pesquisa intitulada “A Musicoterapia como estratégia no cuidado ao recém-nascido, a criança, gestante, puérpera e sua família”. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório de abordagem qualitativa. O referencial teórico adotado foi o “Cuidado Centrado na Família” (CCF), que pode ser considerada uma abordagem na qual reconhece a família como parte fundamental do cuidado e tem como objetivo estimular o vínculo da família com o paciente, além de assegurar a sua participação no planejamento das ações em saúde e inseri-los nas decisões e condutas(9,10).

O local do estudo foi a Unidade Neonatal de um hospital universitário terciário referência em alta complexidade para o Sistema Único de Saúde(SUS) na região norte do Paraná. A unidade neonatal dispõe de 10 leitos de cuidados intensivos neonatais, 10 leitos de cuidados intermediários neonatais e quatro leitos de cuidado intermediário neonatal canguru.

Participaram deste estudo, seis pais na faixa etária de 19 a 39 anos de idade, que possuíam filhos internados na UTIN e/ou na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (UCIN). Estes pais foram convidados a participar do estudo pela pesquisadora principal, sendo informados sobre os objetivos da pesquisa, procedimentos de coleta de dados, sigilo no tratamento das informações e possibilidade de interromper a participação a qualquer momento, sem prejuízo ao cuidado do seu filho ou de sua família. Os critérios de inclusão adotados foram pais que possuíam filhos internados na UTIN/UCIN com idade gestacional de nascimento inferior a 37 semanas, nascidos nos meses de março a junho de 2020 e que tiveram oportunidade de realizar PC. Foram excluídos pais de recém-nascidos com malformação, pais que não assumiram a paternidade, recém-nascidos instáveis que não possibilitasse a realização da PC. Os dados foram coletados no período de abril a junho de 2020.

Para a coleta de dados foi necessário que o pai realizasse dois momentos de PC. No primeiro momento, ele realizou a PC por um período de uma hora, conforme a rotina da unidade. No segundo momento, o pai realizou novamente a PC por uma hora, porém desta vez foi colocada música para o recém-nascido.

A música foi disponibilizada para o bebê por meio de fone de ouvido, no qual foi realizada a desinfecção antes e após o uso, e posteriormente eram conectados a um aparelho de DVD que havia uma música gravada, mantida a um volume máximo de 35 dB. Esta música era uma canção de ninar que ao fundo possuía o som do útero materno, a qual foi validada por uma musicoterapeuta para tal intervenção. Os fones de ouvido foram dispostos próximo a região auricular do bebê sem tocá-lo para que nenhum tipo de desconforto fosse gerado por tal dispositivo.

Logo após os dois momentos da PC, no mesmo dia, foi realizada uma entrevista com o pai utilizando-se um instrumento que continham duas partes: a primeira referente à caracterização do pai e de seu filho e a segunda referente aos objetivos do estudo. As questões que nortearam este estudo foram:1) Conte-me como foi a primeira vez que realizou a posição canguru com seu filho? 2) Conte-me o que é para você realizar a posição canguru com seu filho? 3) Fale-me o que sentiu ou percebeu no comportamento do seu filho quando realizou a posição canguru sem música e quando o fez com o uso da música. 4) Fale-me como foi vivenciar a aplicação da música em seu filho enquanto realizava a posição canguru? 5) Para você, na sua vida, no seu cotidiano a música possui algum significado?

As informações coletadas foram gravadas por meio de gravador digital, com duração média de 30 minutos e posteriormente transcritas pelo pesquisador responsável. Também foi utilizado um diário de campo para que este pesquisador anotasse suas percepções durante o momento da entrevista e sua avaliação do comportamento paterno nos dois momentos de PC.

Para a análise dos dados, as falas foram submetidas ao referencial metodológico “Análise de Conteúdo” que envolve: a leitura flutuante e a posterior imersão em leituras pormenorizadas dos discursos dos participantes, e que ao longo desta etapa, geram componentes e inferências genéricas, permitindo a codificação e as posteriores interpretações; com isso, a elaboração de categorias temáticas que agrupam os resultados na forma de mensagens semelhantes(11).

Nesse estudo os pais foram identificados pela letra “P” seguida do número da participação como forma de evitar a identificação das participantes da pesquisa. Esta pesquisa teve início após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, mediante Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 34061520.7.0000.5231, conforme parecer n 4.152.325, e obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido devidamente informado e assinado pelos participantes do estudo.

 

RESULTADOS

No período de março a junho de 2020 ocorreram 56 internações de RNPT elegíveis para o estudo. Destes, seis foram a óbito e 16 foram transferidos para outra unidade de internação ou serviço hospitalar, 26 pais não permaneceram durante a internação dos filhos por um período superior a uma hora para realização da PC e dois recém-nascidos receberam alta antes que seus pais pudessem ter realizado PC nos dois momentos (com e sem música). Portanto, participaram deste estudo seis pais.

Cabe salientar que este número de pais que não permaneceram tempo suficiente na unidade para que as intervenções ocorressem, foi em decorrência da pandemia de COVID -19, que devido às incertezas de infecções, o serviço cenário do estudo restringiu a permanência dos pais, priorizado a presença das mães no qual o filho estava em processo de amamentação, o que inviabilizou que o pai pudesse permanecer por períodos prolongados para que realizassem as intervenções.

Em relação à caracterização dos pais, a faixa etária variou entre  19 a 39 anos, três com ensino médio completo, um com ensino médio incompleto, um com ensino fundamental incompleto e um com ensino superior completo, todos tinham união estável de no mínimo um ano com a mãe do RN, três tinham outros filhos e três estavam vivenciando a paternidade pela primeira vez, quatro tinham renda familiar de um a cinco salários mínimos e dois com renda inferior a um salário mínimo, apenas uma gestação foi planejada.

Em relação aos RNs, quatro apresentavam Idade Gestacional de Nascimento (IGN) menor que 28 semanas, dois com IGN maior que 31 semanas e tempo de internação variando de três a setenta e três dias, nenhum estava sob efeito de sedação no momento da aplicação da musicoterapia e PC.

Em relação às falas dos pais emergiram cinco categorias: 1) Sentimentos proporcionados pelo primeiro canguru; 2) Contato pele a pele e o despertar da paternidade, 3) Ressignificando o canguru por meio da música; 4) Música e seus significados, 5) Sentimentos paterno referente à música e COVID-19.

 

Sentimentos proporcionados pelo primeiro canguru

O pai significou o primeiro canguru como um momento de sentimentos positivos relacionados ao amor e afeto.

Tenho dois filhos já, um filho de 21 anos e uma filha de 15 anos do meu primeiro casamento. Vou te falar, foi a coisa mais gostosa que já passei na minha vida (P2).

 

Foi a primeira vez que fiz o canguru. No Haiti eu nunca fiz, nem sabia. Quando minha esposa me falou, eu quis fazer também. Estou feliz em fazer o canguru. Senti muito amor por colocar meu filho no colo (P6).

 

Mas o momento que fiz canguru não dá para explicar. Foi muito bom. Primeira vez sentindo pele a pele. Foi muito amor, muito amor mesmo (P1).

 

Contato pele a pele e o despertar da paternidade

O significado dado para a paternidade é revelado no contato pele a pele, visto que despertou nos pais sensações de proteção, sentiram-se pais de verdade.

 

O canguru ajuda a ter mais contato. Um contato mais íntimo entre a criança com o pai, me senti mais pai (P5).

 

Quando ele ficou grudado no peito pele a pele ele acalmou, um sentimento de proteção, neste momento me senti pai de verdade (P4).

 

Vontade de pegar, de sentir, de querer passar meu calor para ela, de protegê-la, de ser pai (P1).

 

Foi demais, pensei comigo: deixa eu pegar para ver se é verdade mesmo, se é meu filho, me transformei em pai (P2).

 

Ressignificando o canguru por meio da música

O pai ao realizar canguru associado a música apresentou um ressignificado, vivenciado momento de maior relaxamento tanto para ele próprio como para o filho, referindo que a música possibilitou momentos de maior tranquilidade para o bebê.

 

Ele dormiu mais rápido e profundamente quando foi colocado música durante o canguru (P3).

 

Ele dormiu um pouquinho, toda hora que abria o olho, não choramingava tanto, quando ele ficou com música (P5).

 

Pelo que percebi, fazer canguru com música é muito bom, ele fica muito calminho, fica bem sossegadinho, ele nem se mexia (P2).

 

Quando colocou a música, ela resmungou bem menos, ela ficou dormindo bem mais quietinha, raras as vezes que ela resmungou (P1).

 

Fazer canguru com música foi muito relaxante para mim. Para ele também foi porque eu quase não sentia ele, sabe? Ele estava tão acomodado que nem se mexeu, ficou o tempo todo assim, parado. Só tinha hora que ele dava uma resmungadinha, mas eu percebi que a música acalma muito ele (P2).

 

Música e seus significados

A música foi apontada como ferramenta capaz de trazer diversos sentimentos e significados. Para alguns a música já faz parte de seu cotidiano, no entanto, eles representaram a música como sensações e demonstração de cuidado.

 

E minha esposa, ela é professora de música, ela sempre colocava música para ouvir quando estava grávida e para nós música representa amor, cuidado (P4).

 

Desde pequeno escuto música. Meu pai já foi músico e sabe tocar de tudo, violão, guitarra, bateria, flauta...e poder ver meu filho tão pequeno ouvindo música e perceber que foi bom para ele é maravilhoso (P1).

 

Sempre teve seminário (reuniões religiosas) na minha casa, minha mãe mesmo era católica...a gente viveu dessa maneira, sabe? Escutando música o tempo todo, então a música é importante em nossa vida (P2).

 

A música traz o que a pessoa está sentindo, alegria, tristeza. Traz muitos sentimentos (P1).

 

Seria mais uma distração, uma forma de você estar relaxado também. E eu recomendo para todos os pais fazerem isso. É uma experiência muito legal (P4).

 

Sentimento paterno referente à música e covid -19

A pandemia ocasionada pelo COVID-19 impactou consideravelmente a todos, inclusive no meio intra-hospitalar, além de lidar com a própria internação do filho, os pais tiveram que se tornar resilientes a esse momento. Com isso, a música é citada como uma estratégia, um elemento de prazer para amenizar o estresse gerado nesse período.

 

Não tem muita interação com o pai e com a mãe, por conta da situação atual (pandemia de COVID-19), então tem sempre que aproveitar esses momentos juntos, neste momento de tantos medos e dúvidas, fazer canguru com música foi muito importante, pois assim meu filho não sentiu os momentos de estresse e medo do pai (P3).

 

Em casa eu faço isso. Todos os dias eu coloco no ‘Youtube’ na tv, música de chuva. E assim meu outro filho, ‘ixi’, dorme a noite inteira. Então, eu acho que poder ficar com meu filho aqui na unidade fazendo canguru e vendo ele ouvir música reduz minha ansiedade, o que é muito bom, pois esta onda de pandemia tem causado muitas incertezas e medo, especialmente porque nós pais estamos tendo horários restritos. Então a música faz com que eu consiga nem que por pouco tempo esquecer isso e ter esperança de que logo meu filho irá para casa bem e ficará salvo (P2).

 

DISCUSSÃO  

As narrativas paternas apresentadas demonstram que o cenário atual vem sofrendo mudanças e o pai tem participado mais efetivamente na UTIN. Durante muito tempo a paternidade significava um pai longe dos cuidados com os filhos, onde o papel para com eles dependia principalmente do apoio financeiro. No entanto, nos dias atuais, os anseios e o envolvimento desses pais desde o início é notável, sendo assim, a presença e participação do pai em assumir o cuidado com o RN tem sido valorizada, surgindo a necessidade de conhecer qual é a sua percepção, o que eles compreendem sobre o uso de métodos inovadores para o benefício do seu filho(2,12).

Ao analisar os pressupostos do CCF no que se refere a dignidade e respeito, pode-se identificar nos discursos que apesar da importância da figura paterna no cuidado ao filho prematuro hospitalizado, os pais ainda buscam seu espaço nestes ambientes em contraposição a mãe nutriz, que de modo geral já tem esse espaço garantido. Além disso, é possível perceber em um estudo, que nem sempre a equipe compartilha do mesmo pensamento a respeito da presença paterna, pois algumas pessoas da equipe defendem que o pai é um sujeito importante do cuidado e que sua presença é fundamental, enquanto outras ainda permanecem propagando a figura paterna como a de um visitante e observador, veículo de infecções ou intermediário de informações entre a mãe e a equipe de saúde multiprofissional(13).

Em contrapartida, os momentos vivenciados pelo pai junto ao filho, sendo na realização da PC associado ou não a música, evidenciou uma maior participação e empoderamento do pai neste processo de cuidar do filho prematuro na unidade hospitalar, além de vislumbrar inúmeros sentimentos, principalmente relacionados ao afeto. Bebês que experimentam o contato pele a pele apresentam menores morbidades e mortalidade e vivenciar esse cuidado com o filho prematuro oportuniza ao pai assistir ao seu filho recém-nascido integralmente, interpretando os sinais sutis de seus bebês e sintonizando-se com eles, já que o corpo é instrumento de contato do homem com o outro e, por meio da PC, o pai se coloca presente no mundo. Ao experienciar o contato pele a pele com o filho, o pai se utiliza das sensibilidades tátil, olfativa, visual e auditiva, promovendo segurança e afeto ao filho prematuro e se percebendo como pai(14,8).

Outra forma de intervenção precoce baseada em evidências usado na UTIN envolve um protocolo multissensorial, utilizando estimulação auditiva, tátil, visual e vestibular; esta intervenção resultou em bebês mostrando respostas autonômicas e comportamentais positivas a multissensoriais(14). Clinicamente, resultados sugerem que a musicoterapia intensiva ou espaçada pode apoiar o desenvolvimento infantil, a aquisição geral de marcos de desenvolvimento impulsionada por habilidades motoras predizendo o neurodesenvolvimento na primeira infância. Uma das habilidades mais importantes que um bebê deve exibir antes da alta da UTIN é a autorregulação, incluindo função cardiorrespiratória madura e estável. Estudos indicaram que a intervenção neurodesenvolvimental de musicoterapia pode ser usada para ajudar bebês a alcançar este objetivo(14,15).  

A música, especialmente canções de ninar, fornece estimulação auditiva adequada, disfarçando os aversivos sons na UTIN. Um estudo concluiu que a intervenção musicoterápica para mãe de bebê pré-termo, contribui para a autorregulação do bebê, como relaxamento, estabilização da saturação de oxigênio, da apresentação de novas competências e do envolvimento no canto. Estes resultados corroboram com esse estudo, visto que os pais perceberam que realizar PC associado a musicoterapia para seu filho proporcionou sensação de relaxamento para ambos, além de fortalecimento de vínculo e o despertar da paternidade(14,16,17).

Vale ressaltar, que os efeitos da terapia musical em UTIN na progressão do desenvolvimento de bebês de alto risco não foram extensivamente estudados. Contudo, a musicoterapia na UTIN para bebês prematuros é um método baseado em evidências, abordando várias necessidades sensoriais, físicas e emocionais de bebês prematuros e seus pais. Diante disso, alguns estudos já demonstram que a PC associada a música, seja ela cantada ou gravada, tiveram maiores efeitos positivos nos resultados fisiológicos e comportamentais dos bebês, em comparação com a PC isoladamente(15,17).

Diante desse contexto de mudanças de atitude em relação à paternidade, houve ainda um evento que remodelou ainda mais o papel do pai desde o início da gestação, o surgimento do COVID-19 que foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia no início de março de 2020 e medidas rígidas foram introduzidas em todo o mundo, alterando consideravelmente a rotina diária dos cidadãos e das políticas de atendimento em saúde, incluindo a obstetrícia e neonatologia(12).

Neste momento, o hospital campo deste estudo restringiu o tempo de permanência do pai, com o objetivo de reduzir o número de pessoas no ambiente, o que gerou inúmeros sentimentos negativos. Porém, os momentos que puderam estar com o filho e realizar canguru associada a música foi relatado pelos pais como um período de relaxamento, em que puderam esquecer todo o contexto que o mundo vivia e, principalmente eles, pois duas grandes preocupações os afligiam: as incertezas frente à complexidade do nascimento do filho prematuro e as incertezas e ansiedades frente a pandemia, que era desconhecida por todos.

Diante das falas obtidas nos resultados, nas quais destacam-se por exemplo o momento de pandemia, onde o pai refere não ter muita interação com o filho e que os horários na unidade eram restritos, percebe-se uma lacuna entre o que é necessário e o que é oferecido para a família, o que vem a prejudicar o engajamento e colaboração do pai junto ao filho sendo este um dos pressupostos do CCF que passou a não ser garantido. Embora o conhecimento teórico acerca da atenção humanizada esteja presente no repertório dos profissionais, sua prática ainda é tímida e diversos fatores contribuem para a não efetivação da assistência humanizada no ambiente da UTIN. Uma prática comum que denuncia esta condição é a restrição da visita dos pais e familiares(18). Além disso, pesquisas também mostram que as maiores dificuldades estão relacionadas à carência de recursos materiais, de infraestrutura e humanos; à falta de avaliação e planejamento dos cuidados ofertados; à dificuldade de se relacionar com os familiares e principalmente à noção contraditória de fornecer cuidados especializados, mas ao mesmo tempo julgar a capacidade dos pais participarem dessas ações. Em decorrência dessas complicações em relação a abordagem à família não tão eficiente, os pais se sentem inseguros e vulneráveis pelo fato de não conseguirem estar presente como gostariam para realizar cuidados que os fazem se sentir verdadeiramente pais daquele neonato(18,13).

No Brasil, as unidades neonatais devem seguir os padrões estabelecidos pela Portaria no 930 de 2012 do Ministério da Saúde, a qual “define as diretrizes e objetivos para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave no âmbito do SUS”. Essa portaria não apenas preconiza os princípios da humanização do cuidado ao recém-nascido, mas contribui para a realização de uma assistência centrada na família(13). Logo, o CCF considera a pessoa e sua família como o centro e finalidade do cuidado da equipe de saúde e está fundamentado em quatro pressupostos: 1)Respeito e dignidade- relacionado com a disposição em ouvir atentamente a família e respeitar seus valores e crenças no planejamento das ações de saúde; 2)Compartilhamento de informações de forma completa, imparcial e com linguagem acessível de forma a possibilitar a inclusão dos familiares nos cuidados prestados; 3)Participação da família nos cuidados- o que pressupõe a necessidade de capacitá-la para tal atividade; e 4)Colaboração, participação da instituição e políticas de saúde direcionadas e voltadas para o propósito de possibilitar a implementação dos cuidados centrados na família(18).

Desse modo, os cuidados de enfermagem não podem ser desvinculados às necessidades da família, pois a própria interação familiar interfere na cura e no tratamento(19). Nesta perspectiva, a interação entre profissionais e familiares permite o reconhecimento da unidade familiar com trocas de saberes, favorecendo o diálogo e tornando possível a identificação de fragilidades e potencialidades das capacidades de cada família para o cuidado(19). Segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, o pai deve ser estimulado e estar presente na inserção dos cuidados com o seu bebê desde as consultas de pré-natal, emponderando-o para os cuidados ao seu filho e no apoio a sua companheira. Com a inclusão e participação do pai há a promoção de saúde, segurança e proteção à atenção materno-infantil(20).

A família deve ser inserida no cuidado e considerada como unidade de cuidado constante na vida da criança para que participe do planejamento das ações de cuidado e tenha espaço para expressar seus problemas e necessidades(19). Contudo, essa participação deve acontecer de maneira gradativa desde o momento de internação do RN. Os familiares devem se tornar empoderados de seus direitos como pais e ter livre acesso ao filho, tendo um relacionamento de igualdade entre equipe de saúde e família com o objetivo de cooperação e colaboração, o que não ocorre em grande parte das unidades de cuidados intensivos neonatais pelo país(13). Vale destacar que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, é direito da criança permanecer acompanhada de seus pais durante todo o período de sua internação(21).

Frente ao desafio de atender as demandas da família e do RN como receptores do cuidado, o enfermeiro é tido como o indivíduo capaz de defender e apoiar o papel dos pais, garantindo que sejam efetivamente inseridos nas relações de cuidados ao RN(13). A equipe de enfermagem, em especial, o enfermeiro tem papel fundamental na assistência de qualidade ao bebê prematuro e sua família. Destaca-se que este profissional é a peça fundamental da equipe para a realização do humanizado, do método e da posição canguru. Além da inclusão dos pais nos cuidados, proporcionando a eles um ambiente com menos estresse, estimulando o vínculo dos pais com o filho e na transmissão de segurança e tranquilidade(22).

O cuidado à família requer envolvimento, respeito, ética, satisfação pessoal e estratégias de negociação dos profissionais de saúde. Portanto, é desejável ter postura aberta às interações e vivências de cada família, tendo sensibilidade para reconhecer e compreender as necessidades de cada indivíduo(19).

Deste modo, é válido reforçar a importância de perceber a família como extensão do cuidado prestado ao RN, utilizando métodos que possam proporcionar o fortalecimento do vínculo para o binômio, além de que, a conexão estabelecida entre equipe e família, também pode favorecer o desenvolvimento de estratégias para a construção de uma assistência humanizada centrada na família(18,23).

 

Limitação do estudo

Devido a pandemia de COVID-19, houve redução do tempo de permanência dos pais na unidade e restrição da sua presença na unidade, o que reduziu a oportunidade e a duração da realização da posição canguru.

 

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo mostraram-se promissores para intervenções de musicoterapia nas unidades neonatais, visto que o pai vivenciou e percebeu aspectos positivos no comportamento do filho com o uso da música associada à PC, bem como demonstrou que estes benefícios refletiram em si próprio.

A música para alguns pais auxiliou no fortalecimento do vínculo com seu filho, despertou o significado de paternidade, bem como trouxe alívio para o contexto atual relacionado às incertezas provocadas pela pandemia do Covid-19.

Foi possível vislumbrar que a associação destas duas estratégias de cuidados possibilitou garantir, mesmo que não em sua plenitude, os quatros pressupostos do CCF dentro do cenário do estudo. Foi despertado na equipe a importância da presença do pai junto ao filho e também a prática do uso da musicoterapia na unidade.

Diante deste contexto, visando a excelência da qualidade da assistência precoce e econômica voltada para a família e o recém-nascido, deve-se salientar que há a necessidade de mais estudos que possibilitem explorar outras variáveis envolvidas na eficácia das intervenções e que engloba maior número de participantes que poderão enriquecer ainda mais a dimensão e eficácia do estudo.

 

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Submission: 03/24/2021

Approved: 08/04/2021