15 anos do Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial: desafios e reflexões

 

 

O Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial (MPEA), foi criado em 2002, aprovado em março de 2003 pelo Conselho Universitário, e reconhecido pela CAPES em dezembro de 2003. O Programa MPEA foi o primeiro curso de pós-graduação da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF) e o primeiro Mestrado Profissional da Enfermagem no Brasil. Assim, o Programa tradicionalmente está na vanguarda da formação de profissionais com a mais alta competência técnica e científica, sempre resguardando o necessário estreitamento das relações entre as universidades e a prática profissional.

Nessa trajetória histórica importante destacar a relevância visionária da Profª Dra Isabel Cristina Fonseca da Cruz, a primeira coordenadora do programa (2004 a 2009), conjecturou no Mestrado Profissional a oportunidade de dirimir as lacunas do conhecimento teórico e prático, e oportunizar mudanças na prática de enfermagem que oportunizem impacto social.

No entanto, ao longo desses 15 anos, ainda pairam desafios sobre a real diferenciação dos mestrados profissionais da formação acadêmica, ou seja, do mestrado clássico no Brasil. Alguns reiteram que são os produtos técnicos desenvolvidos – Produto. No entanto, várias dissertações e teses de programas acadêmicos desenvolvem produtos. Seria essa uma real distinção? Ou seria a aplicação de um produto desenvolvido em um cenário de prática? Ou mesmo a formação profissional para o consumo e adoção de práticas baseadas em evidências?

E como essas perguntas, outra tão importante surge: O currículo do mestrado profissional deveria privilegiar a construção de uma dissertação de mestrado? Ou a testagem de um “novo” método de trabalho? Ou dos resultados de uma “nova” intervenção de enfermagem à sociedade? Ou mesmo a formação de um profissional com competência prática, técnica e cientifica? Enfrenta-se ainda a tradição de defesas de dissertações nos mestrados profissionais. Com docentes avaliadores formados nos programas acadêmicos que ainda não compreendem a diferença dos programas. Tem-se ainda, alunos que procuram os mestrados profissionais por interesse próprios, a empresa seja pública ou privada não tem interesse na formação desse profissional, e muda o profissional do local de trabalho em meio à construção. Outro desafio a se enfrentar é um sistema de avaliação dos Cursos de Mestrado Profissional pautados na valorização da produção bibliográfica e técnica e não no seu consumo na prática, ou seja, na transformação da prática pela implementação de pesquisas. Talvez pela tradição de programas acadêmicos e a importação de seus critérios para o profissional, isso ocorra. No entanto, se compreendido, a distinção dos programas ficará claro que o maior critério de avaliação dos programas profissionais é o IMPACTO SOCIAL, ou seja, esse profissional avançou na capacidade de atender/assistir/educar os indivíduos, famílias e comunidade?

Por isso, o estreito laço da formação profissional, com a prática avançada de enfermagem, definido pelo Conselho Internacional de Enfermagem como “profissional com base de conhecimento especializado, com habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para a prática expandida, características moldadas pelo contexto do país em que ele é credenciado. Um grau de mestrado é recomendado para o nível inicial”. A formação profissional deveria ser sinalizada desde a graduação, ou seja, o que se deve ensinar em cada nível do processo formativo (técnicos de enfermagem, graduando, especialistas, mestres, doutores), deveria se emparelhar com o que cada nível teria licença para realizar, dado o contexto de atuação? Com isso complexidades diferentes no trabalho e de pacientes seriam demarcadas e a exigência para a formação no mestrado profissional seria mais clara. Por exemplo, na graduação os alunos são apresentados aos cenários, optam por uma área, realizam a especialização em moldes de residência ou latu sensu (oncologia), e esses poderiam ser admitidos na especialidade que se formou, no mestrado profissional (cuidados paliativos), no doutorado profissional (gestão de indicadores de qualidade em cuidados paliativos), em cada nível seria exigida experiência mínima profissional e teria gratificações pela qualificação requerida para o exercício do cargo/atividade. E pode-se ainda pautar a discussão de qual o tempo de uma licença para o exercício de uma ação de enfermagem? E necessária atualização da licença para o enfermeiro? Com comprovação de atualizações na área de atuação.

Portanto, a trajetória histórica do MPEA na implantação dos Programas Profissionais e os 15 anos de experiência na modalidade de formação profissional são envoltos de desafios e reflexões. No entanto, uma convicção de a formação nessa modalidade é um futuro para a melhoria da qualidade do cuidado em saúde carente em nosso País por isso merecedora da mais profunda reflexão e distinção dos programas acadêmicos para que de fato possa demonstrar seu papel à sociedade brasileira.

 

Referências:

 

  1. BRYANT‐LUKOSIUS, Denise; DICENSO, Alba. A framework for the introduction and evaluation of advanced practice nursing roles. Journal of advanced nursing, v. 48, n. 5, p. 530-540, 2004.

     

  2. DALY, William M.; CARNWELL, Ros. Nursing roles and levels of practice: a framework for differentiating between elementary, specialist and advancing nursing practice. Journal of clinical nursing, v. 12, n. 2, p. 158-167, 2003.

     

  3. International Council of Nurses. Nurse practitioner/advanced practice nurse: definition and characteristics [Internet]. 2009 [cited 2018 ago 8]. Available from: https://international.aanp.org/Practice/APNRoles

     

  4. Olímpio Jéssica de Araújo, Araújo Jéssica Naiara de Medeiros, Pitombeira Danielly Oliveira, Enders Bertha Cruz, Sonenberg Andrea, Vitor Allyne Fortes. Prática Avançada de Enfermagem: uma análise conceitual. Acta paul. enferm.  [Internet]. 2018  Dec [cited  2019  Dec  01] ;  31( 6 ): 674-680. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002018000600674&lng=enhttp://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800092.