Lesões por fricção em idosos internados: estudo transversal

 


Clóris Regina Blanski Grden1, Carla Regina Blanski Rodrigues2, Taís Ivastcheschen1, Luciane Patrícia Andreani Cabral1, Danielle Bordin1, Péricles Martim Reche1

 

 

1 Universidade Estadual de Ponta Grossa

2 UNICESUMAR

 

 

RESUMO

Objetivo: identificar a prevalência e os fatores associados à lesão por fricção em idosos internados em uma unidade de terapia intensiva. Método: estudo transversal, com amostra de 133 idosos internados em um hospital de ensino, entre julho de 2017 a julho de 2018. A coleta de dados contemplou consulta ao prontuário para levantamento sociodemográfico e clínico, exame físico de pele para avaliação de Skin tears. Os dados foram analisados pelo software Stata® versão12. Resultado: constatou-se prevalência de lesão por fricção em 10,5% dos idosos, com associação significativa ao índice de massa corpórea (p=0,003). Conclusão: Acredita-se que os resultados do presente estudo possam contribuir para sensibilizar o enfermeiro e sua equipe, quanto à realização de ações efetivas de prevenção e de cuidado às lesões por fricção, com o objetivo de melhorar a qualidade de assistência prestada aos idosos.

Descritores: Enfermagem Geriátrica; Idoso; Envelhecimento da Pele; Hospitais Universitários; Unidades de Terapia Intensiva.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Skin Tears configuram-se como lesões traumáticas(1), causadas por objetos cortantes, fricção ou força bruta, resultando na separação parcial ou total das camadas da pele, derme e epiderme(2-3). No Brasil, houve adaptação do termo para o português, por meio do Skin Tear Classification System, em que os autores acordaram que a expressão lesão por fricção pode ser utilizada adequadamente na prática clínica(4).

Na população idosa, a lesão por fricção pode ocorrer devido, às mudanças fisiológicas da pele decorrentes do processo de envelhecimento(5-6). A exemplo, menor produção de colágeno e elastina, perda de tecido adiposo com redução da elasticidade, diminuição da atividade das glândulas sudoríparas e redução no fluxo sanguíneo(6-7).

A topografia corporal para maior ocorrência desse tipo lesão compreende os membros superiores, com destaque para os braços e mãos, os quais compreendem 80% das lesões por fricção(8). Entretanto, podem ocorrer em glúteos e região dorsal(8), nestas podem ser facilmente confundidas com lesão por pressão.

Entre os diversos fatores de risco para desenvolvimento da lesão por fricção, a literatura destaca: idade avançada(6,9), mobilidade prejudicada e dependência(4,5,10), uso de corticóides por tempo prolongado(9,11), ingesta nutricional inadequada(4), comprometimento cognitivo(11-12), presença de equimoses(9-10), histórico de quedas e polifarmácia(5,11).

A prevalência de lesão por fricção ainda não está bem estabelecida e apresenta grande variabilidade, mediante os critérios de classificação adotados. Estudos internacionais apontam valores entre 6,2% a 22 %(13-14). No Brasil, em 2012, um estudo epidemiológico transversal com 157 adultos hospitalizados constatou-se a prevalência de 3,3%(15). No contexto hospitalar uma recente pesquisa identificou que 28,7% dos idosos internados apresentaram LPF(16).

Embora, esse tipo de lesão acarrete dor, contribua para maior risco de infecções associadas, com impacto negativo para a qualidade de vida e aumento dos custos em saúde(5-7,16), pesquisas que contemplem a prevalência e fatores associados a lesão por fricção, na população geral são escassa(6), o que justifica o desenvolvimento de estudos que ampliem o conhecimento acerca da prevalência e seus determinantes, especialmente na população idosa em situação crítica.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi analisar a prevalência e os fatores associados à lesão por fricção em idosos internados em uma unidade de terapia intensiva de um hospital universitário.

 

MÉTODO

 

Estudo transversal, com abordagem quantitativa, conduzido na unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino da região dos Campos Gerais, no período de julho de 2017 a julho de 2018. A instituição caracteriza-se como pública e a unidade de terapia intensiva apresenta 20 leitos.

Os critérios utilizados para selecionar a amostra foram: a) ter idade igual ou acima de 60 anos, considerada na legislação brasileira, pessoa idosa; b) estar internado na unidade de terapia intensiva no período da coleta de dados; c) aceitar participar do estudo, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pelo paciente ou familiar responsável. Ressalta-se que para a inclusão do paciente na amostra, não se distinguiu o tempo de hospitalização.

O cálculo do tamanho amostral foi determinado através do software Epi.Info® 7.1.4, considerando-se para o número total internamentos mensais do último ano (n=263), com precisão de 5%, intervalo de confiança de 95% e efeito de desenho 1, para uma prevalência de 22% de idosos com lesão por fricção seguindo a máxima prevalência de estudo internacional desenvolvido com idosos em atendimento hospitalar(15). O total calculado resultou em uma amostra de 133 indivíduos.  

A coleta de dados contemplou consulta ao prontuário e aplicação de um questionário para levantamento sociodemográfico e de saúde, exame físico de enfermagem que compreendeu avaliação tegumentar e avaliação de lesão por fricção, a qual foi classificada segundo o SkinTears System Classification (STAR), desenvolvida por Payne e Martin (1993)(1), validada para o Brasil por Strazzieri-Pulido, Santos e Carville (2015)(4).

Considerou-se como variável dependente a presença de lesão por fricção. Já as variáveis independentes configuraram as características sociodemográficas, de saúde e estilo de vida, a saber: sexo, faixa etária, estado civil, escolaridade, cor da pele, diagnostico conforme a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados á Saúde, tempo de internação, doenças crônicas, número de doenças crônicas, tabagismo, etilismo, dieta, Índice de Massa Corporal (IMC), medicações, dispositivos médicos e mobilidade.

O exame físico de enfermagem foi realizado pela equipe de pesquisa composta por bolsistas de iniciação científica do curso de bacharelado em enfermagem e enfermeiras residentes do programa multiprofissional em saúde do idoso e intensivismo, as quais foram capacitadas por meio de treinamento.

Os dados foram analisados pelo software Stata® versão12. (StataCorp LP, College Station, TX, USA).  Inicialmente, foram submetidos à análise exploratória e descritiva. Subsequentemente, realizou-se a análise confirmatória dos dados, com cálculo de prevalências e razões de prevalência (RP). Para investigar as associações entre variáveis independentes e as variáveis dependentes, foram aplicados os testes de Qui-Quadrado e exato de Fisher, com significância estatística de p≤0,05.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Ponta Grossa mediante CAAE nº 66782217.9.0000.5689. Foram respeitados os preceitos éticos de participação voluntária e consentida de cada sujeito, conforme a resolução vigente na época da realização da pesquisa. Após a ciência do entrevistado e assinatura do referido termo, foi conduzida a coleta de dados.

 

RESULTADOS

 

Dos 133 idosos que compuseram a amostra, constatou-se predomínio do sexo masculino (57,1%), a média de idade de 72,9 anos (DP ± 0,76), idade mínima de 60 anos e máxima 101, casados (41,3%), com escolaridade de 4 a 8 anos de estudo incompletos (48,1%). Quanto a cor de pele verificou-se que 82,7% idosos apresentavam cor branca, o tempo médio de internação foi de 7,1 dias (DP ± 0,76), com mínimo de 1 e máximo de 83 dias (Tabela 1).

A maioria dos participantes da pesquisa apresentaram doenças crônicas (94%), todos em uso de medicamentos (100%), sem histórico de tabagismo (71,4%) e etilismo (84,2%). Devido o ambiente hospitalar, ser uma unidade de terapia intensiva, os idosos permaneciam restritos ao leito (97,7%), com uso de algum tipo de dispositivo médico (97,7%) e se alimentando principalmente por nutrição enteral (76,7%) (Tabela 1).

 

Tabela 1 – Distribuição das características sociodemográficas, de saúde e estilo de vida em idosos internados em uma unidade de terapia intensiva. Ponta Grossa-PR, Brasil, 2019.

Variável

Classificação

Total

n(%)

Sexo

Masculino

76(57,1)

 

Feminino

57(42,9)

Faixa etária

60 a 70 anos

58(43,6)

 

71 a 80 anos

51(38,4)

 

>80 anos

24(18,0)

Estado civil

Casado

55(41,3)

 

Viúvo

46(34,6)

 

Solteiro

32(24,1)

Escolaridade

Analfabeto

27(20,3)

 

Baixa (1-4 anos incompletos)

18(13,5)

 

Média (4-8 anos incompletos)

64(48,1)

 

Alta (≥8 anos)

24 (18,1)

Cor da pele

Branca

110(82,7)

 

Parda

18(13,5)

 

Negra

5(3,8)

Tempo de Internação

1 - 7 dias

94(70,7)

 

8 – 14 dias

20(15,0)

 

15 – 21 dias

13(9,8)

 

> 22 dias

6(4,5)

Doenças Crônicas

Sim

125(94,0)

 

Não

8(6,0)

Número de Doenças Crônicas

Até 2

70 (61,4)

 

3 – 4

34(30,3)

 

5 – 6

9(8,3)

Tabagismo

Sim

38(28,6)

 

Não

95(71,4)

Etilismo

Sim

21(15,8)

 

Não

112(84,2)

Dieta

Enteral

102(76,7)

 

Oral

31(23,3)

Índice de Massa Corporal

< 22

31(23,4)

 

22-27

71(53,3)

 

>27

31(23,4)

Medicações

Sim

133(100,0)

Dispositivos médicos

Sim

130(97,7)

 

Não

3(2,3)

Mobilidade

Restrito

130(97,7)

 

Auxílio

2(1,5)

 

Independente

1(0,8)

Fonte: Os autores (2019).

 

Observa-se na Tabela 2 predomínio das razões de prevalência entre características sociodemográficas, de saúde e estilo de vida para faixa etária ≥80 anos (RP=1,95; p=0,234), viúvo (RP=4,17; p=0,133), analfabetos (RP=1,57; p=0,306), de cor negra (RP=3,60; p=0,395), diagnóstico outros (RP=1,46; p=0,384), tempo de internação 1-10 dias (RP=3,46; p=0,157), tabagista (RP=1,38; p=0,53), etilista (RP=2,12; p=0,157) e dieta oral (RP=1,31; p=0,418). Contudo, para este estudo apenas a variável IMC >27 (RP=5,91; p=0,003) mostrou-se associado à lesão por fricção.

 

Tabela 2 – Razões de prevalência entre características sociodemográficas, de saúde e estilo de vida, segundo presença de lesões por fricção em idosos internados em uma unidade de terapia intensiva. Ponta Grossa-PR, Brasil, 2019.

Variáveis

Sem lesão por fricção

Com lesão por fricção

Total n(%)

Razão de Prevalência

IC95%

p-value

n(%)

n(%)

Sexo

 

 

 

 

 

 

  Masculino

68(89,5)

8(10,5)

76(100,0)

1

 

 

  Feminino

51(89,5)

6(10,5)

57(100,0)

1

0,36-2,72

1

Faixa etária

 

 

 

 

 

 

  60-69 anos

46(92,0)

4(8,0)

50(100,0)

1

 

 

  70-79 anos

46(90,2)

5(9,8)

51(100,0)

1,22

0,34-4,30

0,512

  ≥80

27(84,3)

5(15,7)

32(100,0)

1,95

0,56-6,73

0,234

Estado civil

 

 

 

 

 

 

  Solteiro

31(96,8)

1(3,12)

32(100,0)

1

 

 

  Viúvo

40(86,9)

6(13,1)

46(100,0)

4,17

0,52-33,02

0,133

  Casado

48(87,2)

7(12,8)

55(100,0)

4,07

0,52-31,61

0,132

Escolaridade

 

 

 

 

 

 

  Baixa/média/alta

96(90,6)

10(9,4)

106(100,0)

1

 

 

  Analfabetos

23(85,2)

4(14,8)

27(100,0)

1,57

0,53-4,62

0,306

Cor da Pele

 

 

 

 

 

 

  Pardo

17(94,4)

1(5,6)

18(100,0)

1

 

 

  Negro

4(80,0)

1(20,0)

5(100,0)

3,6

0,27-47,92

0,395

  Branco

98(89,1)

12(10,9)

110(100,0)

1,96

0,27-14,19

0,424

Diagnóstico

 

 

 

 

 

 

  Doenças do Aparelho Circulatório

39(90,7)

4(9,3)

43(100,0)

1

 

 

  Outros

38(86,4)

6(13,6)

44(100,0)

1,46

0,44-4,83

0,384

  Doenças do Aparelho Respiratório

27(93,1)

2(6,9)

29(100,0)

0,74

0,14-3,78

0,538

  Doenças do Sistema Digestivo

15(88,2)

2(11,8)

17(100,0)

1,26

0,25-6,27

0,551

Tempo de internação

 

 

 

 

 

 

  ≥ 11 dias

27(96,4)

1(3,6)

28(100,0)

1

 

 

  1-10 dias

92(87,6)

13(12,4)

105(100,0)

3,46

0,47-25,38

0,157

Doenças crônicas

 

 

 

 

 

 

  Sim

112(89,6)

13(10,4)

125(100,0)

1

 

 

  Não

7(87,5)

19(12,5)

8(100,0)

1,2

0,17-8,06

0,599

Tabagismo

 

 

 

 

 

 

  Não

86(90,5)

9(9,5)

95(100,0)

1

 

 

  Sim

33(86,9)

5(13,1)

38(100,0)

1,38

0,49-3,87

0,531

Etilismo

 

 

 

 

 

 

  Não

102(91,1)

17(80,9)

112(100,0)

1

 

 

  Sim

10(8,9)

4(19,1)

21(100,0)

2,13

0,76-3,16

0,157

Dieta

 

 

 

 

 

 

  Enteral

92(90,2)

10(9,8)

102(100,0)

1

 

 

  Oral

27(87,1)

4(12,9)

319(100,0)

1,31

0,44-3,90

0,418

IMC

 

 

 

 

 

 

  22/27

68(95,8)

3(4,2)

71(100,0)

1

 

 

  <22

27(90,0)

3(10,0)

30(100,0)

2,36

0,50-11,06

0,245

  >27

24(75,0)

8(25,0)

32(100,0)

5,91

1,67-20,84

0,003

Dispositivos médicos

 

 

 

 

 

 

  Não

2(66,6)

1(33,4)

3(100,0)

1

 

 

  Sim

117(90,0)

13(10,0)

130(100,0)

0,3

0,05-1,61

0,285

Fonte: Os autores (2019)

 

DISCUSSÃO

 

Identificou-se que a frequência de idosos com lesão por fricção neste estudo foi superior aos resultados da pesquisa transversal com 157 pacientes adultos, acima de 18 anos, de uma unidade de terapia intensiva, em São Paulo, em que foi constatada uma prevalência de 3,3% de lesão por fricção(15). Por outro lado, autores de uma importante revisão sistemática verificaram índices entre 3,3% a 22% dessa condição no cenário hospitalar(14). Especificamente em unidade de terapia intensiva, um estudo transversal e analítico recente, conduzido com amostra de 101 idosos internados, foi constatada valores prevalência de lesão por fricção superiores aos identificados no presente estudo (28,7%)(16).

Dessa forma, as diferenças nos valores de prevalência podem ser atribuídas às características da amostra, diferentes abordagens metodológicas e critérios de inclusão dos participantes. Do mesmo modo, o sistema de classificação utilizado pode comprometer a comparação com outros estudos.  

Autores apontam que na prática clínica, as lesões por fricção são relevantes e prevalentes, especialmente entre pacientes idosos e indivíduos com doenças crônicas ou críticas(3). No estudo de coorte prospectivo realizado com 368 pacientes japoneses, constatou-se que 3,8% dos pesquisados apresentavam lesão por fricção(17) e na investigação com 144 pacientes idosos, hospitalizados, de Singapura, evidenciou-se maior taxa de prevalência com 6,2% dos avaliados(14).

Salienta-se que a lesão por fricção pode favorecer complicações importantes como infecções secundárias, especialmente, em pacientes idosos em processo de hospitalização, com consequente impacto para qualidade de vida e aumento de custos em saúde. Destaca-se, a relevância dos profissionais de saúde identificarem os fatores de riscos, a fim de melhor efetivarem medidas de prevenção e cuidado.

Quanto aos fatores sociodemográficos, foi observado que a prevalência de lesão por fricção tanto nos homens quanto nas mulheres foi igual.  Outros estudos, com idosos de diferentes cenários, constataram que este tipo de lesão ocorre com maior frequência no sexo feminino(14,18), pois as mulheres em comparação aos homens apresentam menor espessura da pele e maior redução do colágeno(5).

Na distribuição da lesão por faixa etária, destacou-se o grupo dos idosos jovens, contudo, os longevos apresentaram maior razão de prevalência para essa condição sem associação significativa. Conquanto, autores evidenciam a idade avançada como fator de risco mais frequentemente associado à lesão por fricção(3).

Compreende-se a senescência como fator colaborativo para o desenvolvimento de lesão por fricção à medida que acarreta alterações fisiológicas na pele(9-10), maior dependência para a realização das atividades básicas de vida diárias e imobilização(3). Alterações cutâneas fisiológicas e patológicas como, perda de elastina e colágeno, diminuição do tecido adiposo, elasticidade da pele e retração do tecido subcutâneo, predispõe à xerose, favorecendo a fragilidade da pele(6).

Neste estudo, não foi identificada associação entre lesão por fricção e baixa escolaridade. Apesar disso, entende-se o nível educacional como fator de prevenção para diversas situações de saúde-doença, pois propicia ao indivíduo melhor acesso a informações e serviços, recursos financeiros e melhoria de autocuidado(2). A baixa escolaridade ou analfabetismo pode aumentar o risco do idoso, para quedas, cisalhamento e compreensão ineficaz de informações e instruções, favorecendo a lesão por fricção(19). Nesse contexto, são necessários investimentos públicos para educação formal como fortalecimento e qualificação do acesso a conteúdos promotores de saúde, na busca pela superação de barreiras estruturais vivenciadas e maior equidade social.

Autores destacam a raça branca, como um fator para desenvolver lesão por fricção(17,20).   No estudo documental com 102 idosos de duas instituições de longa permanência(20), foi identificada associação significativa da raça branca com lesão por fricção (p=0,003).  Apesar disso, nesta investigação não foi identificada tal relação.

O processo de envelhecimento favorece o surgimento de comorbidades e contribui para o evento hospitalização. Sobre essa variável, não constatou-se associação significante entre tempo de hospitalização e lesão por fricção. Porém, o tempo de internação contribui para maior chances de desenvolver a lesão por fricção(6) e representa um importante fator negativo para a mobilidade(1) e estado nutricional(10), bem como favorece a condição de fricção e cisalhamento(7).

Relativo ao tabagismo, não foi observada associação significativa com lesão por fricção. Conquanto autores apontam as possíveis alterações na pele em decorrência do uso da nicotina, tais como: a) produção de enzima que destrói os fibroblastos, favorecendo o tecido conjuntivo a perder  elasticidade; b) redução o manto lipídico da pele tornando-a seca e opaca; c) vasos sanguíneos com diminuição de calibre prejudicando a oxigenação e nutrição celular(6). Entende-se que essas modificações contribuem significativamente para a fragilidade da pele do idoso favorecendo a ocorrência de rupturas e consequente lesão por fricção.

A integridade da pele em idosos é influenciada por uma série de fatores relacionados às práticas de cuidado e estado de saúde, com destaque para a condição nutricional(12).O envelhecimento determina modificações na composição corporal e está associado a aumento da massa gordurosa e mudanças no seu padrão de distribuição(9-10).

Neste estudo, constatou-se associação significativa entre Índice de Massa Coporal (>27) e lesão por fricção. A literatura relata que o índice de massa corporal tende a aumentar a prevalência de xerose, e, quando associada à nutrição comprometida aumenta o risco para lesão por fricção(3). Apesar de da ausência de outros estudos para comparação desse achado, autores salientam que pacientes obesos e desnutridos podem estar em risco em lesão por fricção(19).

As limitações do presente estudo estão relacionadas à coleta de alguns dados em prontuários, nem sempre completos. Ainda, a escassez de estudos brasileiros para fundamentar as comparações com os achados apresentados, ressaltando a necessidade do desenvolvimento de novos estudos, especialmente epidemiológicos, para fundamentar a prática de prevenção de lesão por fricção por meio de evidências científicas mais robustas.

O número de sujeitos neste grupo foi pequeno, mesmo sendo realizado cálculo amostral, o que exige neste contexto, avaliação cautelar dos dados, em especial as associações. Não obstante, este fato não minimiza a importância do presente estudo, configura-se um start para o repensar da necessidade de fomento de novos estudos, envolvendo um maior número de sujeitos e diferentes instituições hospitalares, a fim de potencializar o conhecimento acerca desta temática.

 

CONCLUSÃO

 

O presente estudo permitiu identificar a baixa prevalência de lesão por fricção e fatores associados nos idosos hospitalizados em unidade de terapia intensiva, com destaque para associação do índice de massa corporal.

Acredita-se que os achados possam contribuir para sensibilizar o enfermeiro e sua equipe, quanto à realização de ações efetivas de prevenção e de cuidado às lesões por fricção, com o objetivo de melhorar a qualidade de assistência prestada aos idosos.

 

REFERÊNCIAS

 

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Concepção do projeto: Clóris Regina Blanski Grden.

Coleta de dados: Carla Regina Blanski Rodrigues, Taís Ivastcheschen.

Análise e interpretação dos dados: Clóris Regina Blanski Grden, Carla Regina Blanski Rodrigues, Taís Ivastcheschen, Péricles Martim Reche.

Redação do artigo ou revisão crítica relevante ao conteúdo intelectual: Clóris Regina Blanski Grden, Carla Regina Blanski Rodrigues, Taís Ivastcheschen, Luciane Patrícia Andreani Cabral, Danielle Bordin.

Aprovação final da versão a ser publicada: Todos os autores.

 

 

Recebido: 31/10/2019

Revisado: 24/04/2020

Aprovado: 22/07/2020