NOTAS PRÉVIAS

Saúde mental, HIV e testes rápidos de pessoas de rua: estudo transversal


Anna Cláudia Freire de Araújo Patrício1, Maria Amanda Pereira Leite2, Rôseane Ferreira da Silva2, Thayná Dias dos Santos3, Richardson Augusto Rosendo da Silva1

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2Centro Universitário de João Pessoa
3Faculdade Integrada de Patos

RESUMO

Objetivo: analisar aspectos relacionados à saúde mental, infecção ao HIV e testes rápidos para HIV, sífilis e hepatite de pessoas em situação de rua. Método: estudo transversal com 100 pessoas em situação de rua na Casa da Acolhida e no Centro de Referência Especializado para esta população. Aplicaram-se os instrumentos: sociodemográfico; vulnerabilidade ao HIV, sífilis e tuberculose; Escala SRQ 20 sobre transtornos mentais; Escalas de Beck Desesperança, Ansiedade, Depressão; Resiliência; Depressão de Hamilton, questionário de Vulnerabilidade ao HIV/aids. Além disso, realizou-se testes rápidos para HIV, sífilis, hepatite B e C no intuito de rastrear a prevalência destas doenças. Resultados: presença de depressão, ansiedade, desesperança, uso de drogas. A ansiedade influenciou a depressão e desesperança, consumo de drogas encontra-se relacionado à desesperança. Apresentaram HIV 5%, sífilis 29%, hepatite b 1% e ausência de hepatite c. Conclusão: Os resultados encontrados demonstram a necessidade de elaborar estratégias específicas para esta população.

Descritores: Pessoas em Situação de Rua; Saúde Mental; Doenças Transmissíveis.


INTRODUÇÃO

As pessoas em situação de rua estão visivelmente presentes nas grandes capitais e são caracterizadas por fragilidades relacionadas ao contexto biopsicossocial, como doenças relacionadas à saúde mental, dependência química e infecções transmissíveis, a exemplo do HIV, tuberculose, sífilis e hepatites. Além disso, tornam-se excluídas no cotidiano da vida em sociedade, possuem dificuldade de acesso à assistência à saúde, de reinserção no mercado de trabalho e de estabelecimento de vínculo familiar(1).

A estratégia estabelecida no Brasil para recuperar esta população ocorreu por meio da construção das casas de apoio e centros especializados para pessoas em situação de rua, que são compostas por equipe treinada e capacitada para solucionar, reduzir dados, educar e encaminhar conforme a necessidade de cada um. Quanto às doenças transmissíveis, estas pessoas são caracterizadas como populações-chave e necessitam de atenção especial por parte dos profissionais de saúde com foco na educação voltada para prevenção dos comportamentos vulneráveis a doenças e agravos(2).

Nesse sentido, a população em situação de rua torna-se fragilizada e merece um olhar direcionado à recuperação do bem-estar físico, psíquico e social, na perspectiva do não julgamento, mas da reinserção na sociedade a partir de atividades comprometidas, executadas por pessoas treinadas, capazes de encontrar a metodologia correta para cada caso.

OBJETIVO

Analisar aspectos relacionados à saúde mental, infecção ao HIV, tuberculose, sífilis e hepatite de pessoas em situação de rua.

MÉTODO

Estudo transversal realizado entre fevereiro e maio de 2018 na Casa da Acolhida para Pessoas em Situação de Rua e no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (CREAS POP), em João Pessoa, Paraíba, Brasil.

A amostra foi composta por 100 pessoas em situação de rua. Para calcular a amostra utilizou-se 95% de confiança e 5% de margem de erro, realizado com auxílio do Programa Statdisk 11.1.0. Foram incluídos indivíduos em situação de rua com idade igual ou superior a 18 anos, com capacidade de comunicação verbal, que não estivessem consumindo droga ou bebida alcoólica no momento da coleta de dados. Excluíram-se aqueles agressivos e que não estavam cadastrados nos locais de coleta de dados.

Os dados foram coletados por meio dos instrumentos: sociodemográfico, dados sobre vulnerabilidade ao HIV, sífilis e tuberculose; Escala SRQ 20 sobre transtornos mentais comuns; Escala de Desesperança de Beck; Escala de Ansiedade de Beck; Escala de Depressão de Beck; Escala de Resiliência, Escala de Depressão de Hamilton, questionário de Vulnerabilidade ao HIV/aids. Realizou-se testes rápidos para HIV, sífilis, hepatite B e C com o objetivo de verificar a prevalência destas doenças. Antes da realização dos testes o voluntário da pesquisa era acolhido e aconselhado por enfermeiro/pesquisador sobre o que é a doença, prevenção, métodos de contágio e tratamento. Para aqueles com resultado positivo havia um aconselhamento pós teste e encaminhamento para o hospital de referência feito pelo pesquisador e por psicólogo/assistente social do local de coleta de dados. Vale ressaltar que as pessoas com sorologia positiva desconheciam sua situação sorológica. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com CAAE 79486517000005176.

RESULTADOS

Verificou-se que 74% consumiam drogas, 30% com depressão mínima, 44% leve e 26% moderada. Quanto à desesperança, 17% apresentam grave, 26% moderada, 28% leve e 29% mínima. A ansiedade atingiu 37% em nível mínimo, 38% leve, 20% moderada, 5% grave. Destaca-se que a ansiedade influencia a depressão e a desesperança, e que o consumo de drogas está diretamente relacionado à desesperança. O HIV esteve presente em 5%, sífilis em 29%, hepatite b em 1% e foi detectada ausência de hepatite c.

DISCUSSÃO

A presença de doenças ou manifestações relacionadas à saúde mental prejudicada torna-se preocupante no contexto de pessoas em situação de rua, pois pode ocasionar suicídio e aumento no uso de drogas. Desta forma, o indivíduo fica mais exposto a comportamentos vulneráveis que podem aumentar as taxas de infecções transmissíveis e o senso do correto(3).

CONCLUSÃO

Identificou-se que as condições de vulnerabilidade vivenciadas pela população em situação de rua envolvem questões psicossociais geradoras de sofrimentos físicos e emocionais, que possibilitam riscos maiores à saúde. Representa-se como estratégia ímpar fornecer assistência e cuidado na perspectiva da detecção precoce de agravos e prevenção de doenças. Torna-se necessária a inserção da enfermagem neste contexto, identificando agravos e promovendo saúde.


REFERÊNCIAS

  1. Gouveia L, Massanganhe H, Mandlate F, Mabunda D, Fumo W, Mocumbi AO, Mari JJ. Family reintegration of homeless in Maputo and Matola: a descriptive study. J Ment Heatlh Syst [Internet]. 2017[cited 2018 Ago 10]; 11(25):1-6. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5387388/pdf/13033_2017_Article_133.pdf
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2017 [cited 2018 Ago 10];. Available from: file:///D:/Users/anna.patricio/Downloads/boletim_aids_internet.pdf
  3. Ding K, Slate M, Yang J. History of co-occurring disorders and current mental health status among homeless veterans. BMC Public Health [Internet]. 2018 [cited 2018 May 25];18(1):751. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29914470

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Recebido: 16/08/2018 Revisado: 20/09/2018 Aprovado: 25/09/2018