CONVITE EDITORIAL

Prioridade, foco e método: caminhos para aprovação em concursos públicos e residências na área de enfermagem


Gustavo Dias da Silva1

1Faculdade de Enfermagem da UERJ

RESUMO

Ao término do curso de graduação em enfermagem, o primado de qualquer formando é exercer a profissão para o qual se preparou durante quatro ou cinco anos. Entretanto, muito frequentemente, os egressos deparam-se com um cenário desfavorável num mercado de trabalho saturado de profissionais formados em busca da primeira oportunidade e, consequentemente, cada vez mais exigente. Aliado a este panorama, somam-se a inexperiência e a insegurança, natural de quem acaba de se diplomar. Do outro lado, já inseridos no mercado de trabalho, muitos profissionais graduados, pós-graduados e experientes vivem, dia após dia, um outro tipo de insegurança - aquela gerada pela instabilidade das relações celetistas de trabalho, cada dia mais tênues. Apesar das perspectivas diferentes, vivenciadas em momentos diferentes da carreira profissional, o caminho para alcançar o objetivo da diferenciação na área de enfermagem é o mesmo: foco, dedicação, estudo, preparo e perseverança.

Descritores: Enfermagem; Internato e Residência; Mercado de Trabalho; Educação em Enfermagem


Ao término do curso de graduação em enfermagem, o primado de qualquer formando é exercer a profissão para o qual se preparou durante quatro ou cinco anos. Entretanto, muito frequentemente, os egressos deparam-se com um cenário desfavorável num mercado de trabalho saturado de profissionais formados em busca da primeira oportunidade e, consequentemente, cada vez mais exigente. Aliado a este panorama, somam-se a inexperiência e a insegurança, natural de quem acaba de se diplomar, de não estar pronto para assumir a responsabilidade de exercer a enfermagem.

Do outro lado, já inseridos no mercado de trabalho, muitos profissionais graduados, pós-graduados e experientes vivem, dia após dia, um outro tipo de insegurança - aquela gerada pela instabilidade das relações celetistas de trabalho, cada dia mais tênues. Associada e diretamente proporcional à esta insegurança estão os baixos salários, sobrecarga de trabalho, necessidade de duplas jornadas de trabalho, entre outros. Uma pesquisa publicada em 2015 sobre o perfil e as condições de trabalho da enfermagem no Brasil(1), com uma amostra de 1.804.535 profissionais de enfermagem, revela dados alarmantes que incluem, além da falta de segurança, a falta de respeito e cordialidade pelos seus superiores, discriminação, desgaste profissional, falta de infraestrutura e violência, especialmente psicológica.

Neste contexto temos, de um lado, a necessidade do egresso de se inserir no mercado de trabalho mais experiente e seguro; e, do outro lado, a necessidade de quem já está inserido no mercado de trabalho e busca estabilidade, melhor remuneração e melhores condições de trabalho.

Percebe-se a partir deste panorama que existem prioridades diferentes - para o recém-egresso da graduação em enfermagem o primado de ingressar em um curso de pós-graduação nos moldes de residência, que lhe proporcione maior experiência e segurança para exercer uma das especialidades regulamentadas; e para o profissional, já inserido no mercado de trabalho, ingressar na carreira pública como servidor estatutário estável, de acordo com as prerrogativas constitucionais.

Apesar de serem necessidades diferentes, vivenciadas em momentos diferentes da carreira profissional, o caminho para alcançar o objetivo da diferenciação na área de enfermagem é o mesmo: foco, dedicação, estudo, preparo e perseverança. Por conta destas necessidades, fortemente influenciadas pelos fatores apontados anteriormente, percebe-se a cada ano um aumento expressivo no número de candidatos que concorrem às disputadíssimas vagas de concursos públicos e residências na área de enfermagem - alguns chegam a ter milhares de candidatos disputando uma única vaga. Neste sentido, o processo de conquista de uma destas vagas torna-se cada vez mais difícil, exigindo dos candidatos não mais apenas o domínio e a memorização de conteúdos teóricos, mas, sobretudo, o aprimoramento de técnicas de estudo e a busca por ferramentas e estratégias específicas de maximização de resultados para se preparar com maior eficiência, eficácia e efetividade, bem como desenvolver habilidades comportamentais fundamentais para o autodesenvolvimento e resiliência frente à este processo, tais como como a automotivação, autoconhecimento, autocontrole, autoestima e autoconfiança.

Embora o processo de avaliação vigente seja ainda baseado num modelo de ensino predominantemente conteudista, para alcançar os melhores resultados é preciso transcender o modelo de ensino-aprendizagem depositário, por meio do qual o aluno recebe uma gama gigantesca de conceitos e precisa meramente assimilar "palavras-chave" para acertar uma questão, para um modelo no qual o aluno e suas necessidades individuais são o centro do processo ensino-aprendizagem. Isto, acreditando que aprender, apreender e empreender, do ponto de vista antropológico e pedagógico, são conceitos diferentes, porém, intrinsicamente relacionados e interdependentes; que adquirir conhecimentos e/ou habilidades, compreender e entender com profundidade e aplicar corretamente o conteúdo, por meio da articulação interdisciplinar, são a base para o desenvolvimento de eixos centrais de raciocínio que permeiam os conteúdos programáticos dos editais e norteiam a resolução das questões de forma mais assertiva.

Sendo assim, um dos grandes desafios ainda é o paradoxo existente entre o modelo de avaliação/metodologia das provas de concursos e a aplicação de um método de ensino-aprendizagem que priorize a construção do conhecimento a partir do indivíduo, sem perder de vista a quantidade e qualidade da informação necessária para que o aluno atinja o resultado: a aprovação.

Um outro grande desafio de quem se prepara buscando a aprovação em provas de concursos e residências é o fator tempo: como estudar da forma correta de modo a obter mais informações de qualidade em menos tempo, levando em consideração os curtos prazos entre os editais e as provas e as inúmeras outras demandas geradas pela vida acadêmica, profissional e pessoal. Vilfredo Pareto, um ilustre cientista político, sociólogo e economista italiano que, a partir dos seus estudos sobre distribuição de renda e economia pura no final do século XIX, desenvolveu o Teorema de Pareto e introduziu o conceito do princípio de "Eficiência de Pareto". De acordo com a "Lei de Pareto", também conhecida como Regra 80/20, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas(2). Numa outra perspectiva de entendimento para além da economia, este teorema pode ser visto como um dos eixos centrais de um processo de preparação para concursos que, na prática, se reflete em maior eficiência a partir da objetividade, foco e assertividade.

Apesar de todas estas peculiaridades e dificuldades inerentes ao processo de preparação e ao contexto de avaliação no qual estamos inseridos, entende-se que o conhecimento e a experiência resultante desta imersão em prol do objetivo de ser aprovado e se tornar um profissional diferenciado trazem resultados que vão para além da aprovação. O conhecimento é um ativo intangível que transcende a mudança, conhecimento gera transformação. E transformação, mesmo que no campo do desenvolvimento individual, está intrinsecamente atrelada ao desenvolvimento coletivo de uma enfermagem forte, empoderada, crítica e socialmente reconhecida. Nesta perspectiva ampliada de preparação em que o estabelecimento de prioridades, o foco e o método são a base do processo, os resultados deixam de ser o objetivo primário e transformam-se em meras consequências.


REFERÊNCIAS

  1. Machado MH, et al. Condições de trabalho da enfermagem. Enferm Foco [internet]. 2015; [Cited 2018 May 21] 6(1/4):79-90. Avaiable from: http://revista.portalcofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/viewFile/695/305.
  2. Pareto V. Manual of political economy: a critical and variorum edition. Oxford University Press; 2014. 664p