ARTIGOS ORIGINAIS

Força de preensão manual e funcionalidade em idosos longevos: um estudo transversal


Maria Helena Lenardt1, Susanne Elero Betiolli1, Ana Carolina Kozlowski Cordeiro Garcia1, Dâmarys Kohlbeck de Melo Neu Riberio1, Larissa Sayuri Setoguchi1, Renata Gonçalves Pinheiro Corrêa1

1Universidade Federal do Paraná

RESUMO

Objetivo: analisar a relação entre a força de preensão manual e a medida de independência funcional de idosos longevos. Método: estudo quantitativo transversal, desenvolvido com 72 longevos da atenção primária de Curitiba, PR, Brasil. O levantamento de dados ocorreu entre agosto e dezembro de 2015. Realizaram-se análises descritivas e de associação entre variáveis. Resultados: 22 (30,6%) longevos apresentaram redução da força de preensão manual; e quanto à medida de independência funcional, 51 (70,8%) eram independentes e 21 (29,2%) moderadamente dependentes. Houve associação significativa entre a força de preensão manual e a medida de independência funcional cognitiva (p=0,021). Discussão: são fundamentais os cuidados gerontológicos relacionados à prática de atividade física e participação em oficinas de estimulação cognitiva, adaptados à escolaridade dos longevos. Conclusão: diante da associação entre a funcionalidade e a força de preensão manual, recomenda-se a avaliação desses aspectos nas consultas de enfermagem aos longevos, em diferentes contextos de atendimento.

Descritores: Força da Mão; Enfermagem Geriátrica; Idoso de 80 Anos ou mais; Atividades Cotidianas; Centros de saúde.


INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento compreende a diminuição da massa muscular, assim como da função muscular, processo conhecido como sarcopenia, o qual favorece o desenvolvimento da fragilidade, causa limitações físicas e incapacidade em idosos com idade avançada(1). Além dos desfechos negativos, a sarcopenia pode contribuir para as quedas e/ou fraturas, desnutrição, caquexia, limitações nas atividades de vida diária, maior risco de hospitalização e morte(2).

A sarcopenia do ponto de vista molecular é resultante da redução na síntese de proteínas no músculo esquelético e aumento na degradação de proteínas musculares, que pode ser percebida na redução da força de preensão manual (FPM), que se refere a um dos componentes do fenótipo da fragilidade física(2). A FPM é reconhecida como uma variável crescente que atinge um pico por volta dos 30 anos de idade e, após os 50 anos, apresenta declínio acentuado que pode comprometer as funções sensório-motoras que afetam as atividades básicas de vida diária(3).

A FPM, componente do fenótipo de fragilidade, se apresenta como uma importante medida para avaliação da força muscular total, pois possui relação direta com a capacidade e independência de idosos. Trata-se de um teste eficaz, simples e de fácil aplicação(4). A escolha do componente FPM analisado junto à avaliação funcional visa investigar a relação entre o desempenho motor e a independência funcional dos longevos.

Um dos instrumentos utilizados para avaliação da funcionalidade é a Medida de Independência Funcional (MIF), uma das ferramentas mais difundidas para a avaliação funcional dos idosos, validada no Brasil(5). Esse instrumento avalia a funcionalidade do idoso por meio das tarefas que envolvem os domínios motor, cognitivo e social(5). A identificação precoce de idosos com risco para o declínio funcional possibilita à enfermagem gerontológica planejar intervenções direcionadas, com vistas à potencialização da autonomia e redução da dependência(6).

A investigação da FPM e da MIF dos longevos se faz importante em razão de esses serem instrumentos reconhecidamente potentes para os enfermeiros na avaliação da capacidade funcional dos idosos. Acredita-se que, dessa maneira, possam intervir previamente, adiando ou retardando o desenvolvimento da dependência dos idosos nas atividades de vida diária, a qual interfere na qualidade de vida e, consequentemente, na sua longevidade. Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi analisar a relação entre a FPM e a MIF de idosos longevos.

MÉTODO

Trata-se de estudo quantitativo transversal, realizado a partir de dois bancos de dados de pesquisas desenvolvidas pelos autores, as quais ocorreram de forma concomitante de janeiro de 2013 a dezembro de 2015, em unidades básicas de saúde (UBS) de Curitiba, PR, Brasil.

A população do estudo abrange os idosos longevos cadastrados em duas UBS, e que participaram das pesquisas supracitadas, intituladas: “Efeitos da fragilidade em idosos longevos da comunidade” e “Seguimento da medida de independência funcional de idosos longevos de uma comunidade”. A amostra, por sua vez, foi constituída por 72 idosos longevos (com idade ≥80 anos), os quais participaram de ambas as pesquisas. Foram critérios de inclusão dos participantes: ter realizado o teste de FPM; e ter respondido ao instrumento de avaliação MIF. Foram critérios de exclusão participantes cujos registros nos instrumentos de coleta de dados não estivessem acessíveis, fossem ilegíveis ou incompletos.

A coleta de dados referentes à amostra em questão foi realizada entre agosto e dezembro de 2015, mediante instrumento elaborado. As variáveis de interesse foram sexo, idade, estado civil, pessoas com quem reside, escolaridade e situação financeira, e os resultados da FPM e da MIF. Para a mensuração da FPM foi utilizado um dinamômetro hidráulico, que mede a força em quilograma/força (Kgf), seguindo-se a técnica recomendada pela American Society of Hand Therapists (ASHT)(7). Depois do ajuste para sexo, os valores que estavam no quintil mais baixo foram considerados marcadores de fragilidade, indicando os longevos com FPM diminuída(2).

Por sua vez, a MIF foi aplicada mediante entrevista com os longevos, com a confirmação das informações pelos familiares cuidadores. A MIF é dividida em dois domínios, o motor e o cognitivo, e avalia quantitativamente a carga de cuidados que uma pessoa demanda para realizar determinadas atividades de vida diária. A MIF motora (MIFm) é composta por quatro categorias, que incluem 15 tarefas: alimentação, higiene pessoal, banho, vestir-se acima da cintura, vestir-se abaixo da cintura, uso do vaso sanitário, controle da urina, controle das fezes, mobilidade no leito, cadeira, cadeira de rodas, vaso sanitário e chuveiro/banheira, marcha/cadeira de rodas e escadas. A MIF cognitiva (MIFc) é composta por duas categorias que incluem cinco tarefas: compreensão, expressão, memória, interação social e resolução de problemas(5).

Cada tarefa recebe uma pontuação que varia de 1 (dependência total) a 7 pontos (independência completa). Os idosos foram classificados conforme níveis de dependência em cada uma das tarefas, sendo: independentes para os que obtiveram pontuações 6 ou 7; moderadamente dependentes aqueles que pontuaram entre 3 e 5; e dependentes os idosos que tiveram pontuação 1 ou 2.

Desta forma, a MIF total (MIFt) possui pontuação máxima de 126 e mínima de 18(5), sendo que o escore médio da MIFt corresponde ao escore de MIFt dividido pelas 18 tarefas que compõem o instrumento. A análise dos escores por domínio ocorre de forma semelhante, ao considerar o escore médio dividido pela quantidade de tarefas do respectivo domínio. Desse modo, a MIFm varia de 13 a 91 pontos e a MIFc de 5 a 35 pontos. A partir das pontuações de cada tarefa da MIF, os idosos foram classificados como independentes, moderadamente dependentes ou dependentes, de acordo com o escore médio obtido, o que permite classificar a funcionalidade, uma vez que a MIF não possui pontos de corte para os escores totais.

Os dados foram organizados no programa computacional Excel 2007 sob dupla digitação para reduzir a possibilidade de erro. A análise dos dados foi realizada no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 21.0, por meio de estatística descritiva e de associação entre variáveis. Para associação entre a FPM e os domínios da MIF foram utilizados os testes de associação entre variáveis (teste Exato de Fisher), e as diferenças e associações foram consideradas estatisticamente significativas quando o p-valor do teste de significância foi ≤0,05. Ambas as pesquisas receberam parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob os pareceres de nº 156.413 e nº 1293.216.11.12, respectivamente.

RESULTADOS

Participaram 72 idosos longevos, a maioria mulheres (n=50; 69,4%), de 80 a 89 anos (n=62; 86,1%) e média de 85,3 anos, viúvos (n=41; 56,9%), que residem com familiares (n=37; 51,4%), possuem baixa escolaridade (n=47; 65,3%) e consideram sua situação financeira mediana (n=33; 45,8%). Após ajuste para o sexo, a FPM foi considerada diminuída quando constatados valores ≤14Kgf, para as mulheres, e ≤20Kgf para os homens. Os valores entre as mulheres variaram de 10 Kgf a 38 Kgf e para os homens de 12 a 44 Kgf. Dos idosos investigados, 68 (94,4%) possuem a mão direita como a dominante; e 22 (30,6%) apresentaram redução da FPM, sendo a maioria do sexo feminino (n=15; 68,2%).

Apresenta-se, na Tabela 1, a distribuição da frequência dos idosos longevos quanto aos níveis de dependência, de acordo com a pontuação obtida nas tarefas da MIF. Os participantes foram categorizados como independentes ou moderadamente independentes para a maioria das tarefas. Considerando toda a amostra de participantes, as tarefas para as quais a maior parte dos idosos apresentaram algum grau de dependência foram: resolução de problemas (37,5%), controle de urina (40,3%) e subir e descer escadas (48,6%).

Tabela 1 – Distribuição da frequência dos idosos longevos quanto aos níveis de dependência, de acordo com a pontuação obtida nas tarefas da Medida de Independência Funcional. Curitiba-PR, 2015

Tabela 1

Nota: MIF = Medida de Independência Funcional.

Apresenta-se, na Tabela 2, a distribuição da classificação nas tarefas da MIF, de acordo com os resultados da FPM. As tarefas que os idosos com FPM diminuída (n=22; 30,6%) apresentaram maior dependência e/ou moderadamente dependentes se referem a subir e descer escadas (n=15; 68,2%) e resolução de problemas (n=11; 50,0%).

Tabela 2 – Distribuição da classificação nas tarefas da Medida de Independência Funcional, de acordo com os resultados de força de preensão manual dos longevos. Curitiba-PR, 2015

Tabela 2

Nota: MIF = Medida de Independência Funcional; FPM = Força de Preensão Manual; Dep. = Dependente; Mod. = moderadamente; Ind. = Independente; Transf = transferência; Cad = cadeira; Compr = compreensão.

Na Tabela 3, observa-se que houve associação significativa entre o domínio cognitivo da MIF e a FPM dos longevos (p=0,021). Entre os idosos classificados como independentes para a MIF cognitiva (n=53), 12 (22,6%) apresentaram a FPM diminuída, enquanto entre os moderadamente dependentes (n=19), 10 (52,6%) apresentaram redução da FPM.

Tabela 3 - Relação entre a Força de Preensão Manual dos longevos e os níveis de dependência por domínio da Medida de Independência Funcional. Curitiba-PR, 2015

Tabela 3

Nota: MIF = Medida de Independência Funcional; FPM = Força de Preensão Manual; Mod. Dep. = moderadamente dependente.

*Teste exato de Fisher.

DISCUSSÃO

No presente estudo foi considerável o quantitativo de idosos longevos com FPM diminuída (30,5%), e ainda mais expressivo ao considerar que quase 70% deles eram do sexo feminino. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado com o objetivo de investigar a prevalência da redução da FPM e os fatores associados de 157 longevos da comunidade de Curitiba/PR, Brasil. Dos participantes, 40 (25,5%) possuíam FPM diminuída, sendo a maioria do sexo feminino (n=30; 28,8%), com idade entre 80 e 89 anos (n=29; 21%). Os autores relacionaram esses resultados aos fatores de maior idade das mulheres e à maior força muscular frequentemente observada entre os homens(8).

O déficit evidenciado pela redução da força muscular dos idosos possui impacto nas atividades de vida diária, como pode ser observado nas tarefas da MIF, pela dificuldade em subir e descer e escadas. Aponta-se o estudo que teve por objetivo validar a escala Activity Limitations in Climbing Stairs que afere limitações na atividade de subir e descer escadas, no qual os pesquisadores avaliaram 22 idosos (média de 76 anos) em acompanhamento ambulatorial de um hospital universitário do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Metade dos investigados utilizou o apoio do corrimão para subir e descer escadas e 32% não utilizaram passos alternados. Essa tarefa de subir e descer escadas ainda pode ser dificultada pelo déficit visual, processos patológicos do sistema locomotor e/ou neurológico, fadiga e dispneia, ou mesmo pelas condições do ambiente, como iluminação inadequada e degraus não simétricos(9), tornando o idoso dependente ou moderadamente dependente.

Além da tarefa de subir e descer escadas, identificou-se quantitativo importante de idosos com moderada dependência ou dependência para a tarefa controle de urina. Quanto ao controle de esfíncteres, cabe ressaltar que essa situação acomete de 15 a 30% dos idosos da comunidade, sendo que a incontinência urinária se torna frequente com o avanço da idade, comprometendo a independência funcional do idoso(10).

Destaca-se pesquisa realizada com o objetivo de analisar os fatores determinantes de um envelhecimento ativo e sua relação com a independência funcional, em 100 idosos (≥60 anos) da comunidade, em João Pessoa, PB, Brasil(11). As menores médias obtidas na MIF foram relacionadas às categorias memória e resolução de problemas, fato que pode ser justificado por exigirem mais do psicológico e do intelecto e dependem, em parte, da escolaridade dos participantes. As limitações físicas e cognitivas podem ainda ser consequências do envelhecimento, portanto, tendem a ser progressivas e aumentarem com o avançar da idade(11).

Observa-se, em estudos internacionais(12-13), a prevalência de comprometimento cognitivo nas populações idosas. Pesquisa realizada em Moscou, na Rússia, com o objetivo de avaliar a prevalência das síndromes geriátricas avaliou 1.220 idosos da comunidade, dos quais 58,2% apresentaram déficit cognitivo. Esses dados apontam para a necessidade de intervenções que visem manter a qualidade de vida dos idosos(12). Estudo semelhante, realizado na Suíça com 85 idosos, apontou a prevalência de comprometimento cognitivo em 37,7% dos investigados(13).

Destaca-se o estudo Fragilidade em Idosos Brasileiros (FIBRA), com 2.472 idosos (≥65 anos), que teve por objetivo descrever variações de doenças crônicas, capacidade funcional, envolvimento social e satisfação com relação aos domínios memória, capacidade de resolver problemas no dia a dia, relações sociais, ambiente, serviços de saúde e transportes. Os idosos jovens (65-69 anos) apresentaram média de FPM de 26,2 Kgf, já os longevos (≥80 anos) apresentaram os menores valores de FPM, com média de 22,1Kgf. A idade dos idosos correlacionou-se ao domínio do envolvimento social (p=0,001), indicando que o isolamento social do longevo pode ser atribuído às condições do meio externo. Essas se tornam barreiras e colocam em risco a segurança deles, pois evitam atividades que exijam muito da capacidade funcional(14).

Estudo realizado com 87 longevos em um município de Santa Catarina, PR, Brasil, investigou o envelhecimento ativo segundo seus determinantes. Observou-se que a interação social ocorria da seguinte forma: 48,28% deles mantinham convivência com pessoas em festas, restaurantes, bares e casas de vizinhos ou conhecidos; 27,58% participavam de associações, cooperativas e movimentos religiosos; 22,99% frequentavam o grupo de idosos. A interação social é um importante exercício de cidadania, que contribui para a valorização pessoal do idoso e isto deve ser estimulado(15).

Outra tarefa para a qual os idosos, tanto com FPM diminuída quanto preservada, mostraram maior dependência foi a resolução de problemas. Isso remete ao comportamento paternalista dos familiares cuidadores que, com atitudes superprotetoras, frequentemente, limitam idosos para as atividades que exijam deslocamento para além do ambiente doméstico, e que possam ter a autonomia de resolver os seus problemas do cotidiano. Outra constatação deste estudo é o elevado número de idosos na condição de viuvez, os quais, por mais que possuam força muscular, já não sentem mais a mesma disposição para interagir com os demais e resolver por si só os problemas cotidianos.

Ressalta-se que os idosos longevos não apresentaram déficit funcional relacionado às atividades de transferência, que se tratam de tarefas rotineiras que, além da força muscular, exigem também a adequação do espaço. Este resultado aponta para a possibilidade de os idosos estabelecerem a melhor técnica para a sua execução, de modo a manter a sua independência mesmo diante de situações como a força reduzida.

Estudo conduzido com 240 idosos, em Ribeirão Preto, SP, Brasil, objetivou caracterizar o perfil sociodemográfico de idosos, verificar os níveis de fragilidade e correlacionar as dimensões da MIF às atividades instrumentais da vida diária. Os resultados mostraram que 153 (63,7%) eram frágeis e, ao analisar os níveis de dependência para a realização de atividades básicas de vida diária desses idosos, 123 (80,4%) apresentaram dependência parcial ou completa(16).

Esses dados indicam que tanto a fragilidade física do idoso quanto a funcionalidade encontram-se frequentemente presentes de forma concomitante nos idosos, principalmente entre aqueles com idade avançada. Pesquisa italiana realizada com 1.030 indivíduos entre 20 e 102 anos avaliou os fatores de risco para incapacidade funcional na velhice.

Os autores observaram importante declínio da força muscular com o avanço da idade, em que o grupo de idosos com mais de 85 anos apresentou 25% da força do grupo de jovens (20-29 anos). Os autores reforçam que a prática de exercícios, além de aumentar a resistência muscular, favorece a síntese de proteínas do músculo de modo a diminuir a sarcopenia relacionada à idade(17) e, consequentemente, melhorar a mobilidade e a funcionalidade dos idosos.

Houve associação significativa entre a FPM e domínio cognitivo da MIF (p=0,021) na amostra investigada por este estudo. Esses dados são reforçados por outra investigação longitudinal realizada na Europa que teve por objetivo examinar preditores dependentes do tempo do comprometimento funcional. Foram avaliados 41.858 idosos, e os pesquisadores observaram que os déficits funcionais aumentaram significativamente com a idade, acompanhados do comprometimento cognitivo e das doenças crônicas(18).

Outra pesquisa, que observou 80 idosos com idade média de 78,6 anos com o objetivo de avaliar as condições que influenciam a FPM em pacientes geriátricos, encontrou associação positiva entre a FPM com o Mini Exame do Estado Mental (p˂0,001). A FPM reduzida leva a deterioração funcional e consequentemente à incapacidade(19). Ao considerar que o idoso com FPM reduzida já apresenta uma condição de pré-fragilidade, salienta-se a importância da avaliação do domínio cognitivo associada à fragilidade física do idoso, com destaque para a FPM.

Ressalta-se estudo populacional prospectivo realizado com 555 longevos (≥85 anos) moradores da cidade de Leiden, Holanda, que teve por objetivo analisar a relação temporal entre o desempenho cognitivo e força de preensão manual em idosos mais velhos. Os participantes foram observados pelo período de quatro anos e os resultados mostram associação entre a FPM preservada e o maior desempenho cognitivo (p=0,03), afirmando que o declínio cognitivo precede a fraqueza muscular(20).

CONCLUSÃO

A FPM associou-se significativamente à MIF cognitiva dos longevos. Essa relação evidencia a influência dos aspectos cognitivos na realização de atividades motoras e na funcionalidade global. A dependência funcional é um desfecho indesejável e que pode levar à síndrome da fragilidade. Portanto, é indispensável sustentar o cuidado gerontológico de enfermagem em ações que visam o estímulo à prática de atividades físicas, com o intuito de manter a massa e a força muscular do longevo. Ainda, deve ser considerada a realização de oficinas de estimulação cognitiva na atenção primária à saúde, de acordo com o grau de instrução do idoso (escolaridade), com foco na independência e redução dos efeitos da fragilidade.

Espera-se que na prática da enfermagem gerontológica seja desenvolvido o cuidado funcional, a partir do levantamento de diagnósticos de enfermagem e implementação de cuidados que visem à manutenção da capacidade funcional do idoso. Para tanto, avaliações como a MIF ou FPM podem ser adotadas na consulta de enfermagem em diferentes contextos de atendimento.

Entre as limitações do estudo inclui-se o reduzido tamanho da amostra e o delineamento transversal, que não permite relações de causa e efeito. Ainda, em uma das pesquisas utilizadas como fonte de dados excluíram-se idosos impossibilitados de realizar testes físicos, logo, considera-se a possibilidade do número de longevos moderadamente dependentes ou dependentes estar subestimado nessa população em estudo.


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Agradecimento às agências de fomento Fundação Araucária/PR e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que financiaram bolsas de estudo dos pesquisadores envolvidos.

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a matéria em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

Recebido: 21/09/2017 Revisado: 20/02/2019 Aprovado: 03/04/2019