Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira1, Silvia Regina Secoli2, Andrea Pinto Leite Ribeiro3,Alcione Matos de Abreu4, Jane Marcy Neffá Pinto1
1 Universidade Federal Fluminense
2 Universidade de São Paulo
3 Fundação Oswaldo Cruz
4 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
RESUMO
Objetivo: Avaliar a viabilidade do tratamento de úlceras venosas com o Plasma Rico em Plaquetas (PRP). Método: Estudo descritivo do tipo série de casos, realizado como piloto de um ensaio clínico, com amostra de três pacientes, alocados após a randomização, dois para intervenção e um para o controle. O custo direto foi coletado por meio de observação direta. Resultados: Nos pacientes que receberam a intervenção (PRP), das duas úlceras venosas acompanhadas, uma apresentou cicatrização total, com um custo de US$550,35 e a outra obteve taxa de redução de área de 33,33%, com o custo de US$1.070,32. No paciente controle, a taxa de redução da úlcera venosa foi de 83,33%, com o custo de US$361,53. Discussão: A partir do teste piloto, foi possível adequar os protocolos e determinar os insumos para realização do estudo. Conclusão: A avaliação de protocolos clínicos é de suma importância para o desenvolvimento de ensaios clínicos controlados.
Descritores: Plasma Rico em Plaquetas; Úlcera Varicosa; Enfermagem; Avaliação da Tecnologia Biomédica; Custos e Análise de Custo; Avaliação de Custo-Efetividade
INTRODUÇÃO
A insuficiência venosa crônica é uma doença prevalente que frequentemente leva ao desenvolvimento de úlceras venosas em membros inferiores(1). A terapia compressiva é considerada o padrão-ouro para o tratamento da Insuficiência Venosa Crônica (IVC) e deve ser utilizada associada a um produto tópico que mantenha o leito da úlcera úmido, favorecendo a cicatrização. Estudos demostraram que a compressão apresenta efetividade na cicatrização de pacientes com úlceras venosas e reduz a probabilidade de recorrência dessa lesão(1-2).
Entre as diversas substâncias que podem ser utilizadas como tratamento tópico das úlceras venosas crônicas, destaca-se o plasma rico em plaquetas (PRP), que consiste em um concentrado autólogo de plaquetas num pequeno volume de plasma obtido através da centrifugação do sangue(3).
O plasma rico em plaquetas (PRP) contém inúmeros fatores de crescimento que podem atuar no processo de hemostasia, cicatrização de feridas e na re-epitelização dos tecidos(4-5).
Os três principais fatores de crescimento plaquetários envolvidos no processo de cicatrização são: Platelet-Derived Growth Factor (PDGF), Transforming Growth Factor Beta (TGFβ) e Vascular Endotelial Growth Factor (VEGF), esses, estimulam a produção de colágeno e matriz extracelular por meio de quantidades mínimas de plasma, sendo uma alternativa importante nos casos em que tratamentos convencionais de úlceras crônicas não foram bem sucedidos(6).
A busca por tecnologias que sejam custo-efetivas é imprescindível para a sustentabilidade dos sistemas de saúde, principalmente nos casos de doenças crônicas, cuja incidência e recorrência aumentam de acordo com o envelhecimento populacional, gerando maiores custos tanto para o paciente, família e sistema de saúde.
A análise dos fundamentos científicos nas decisões clínicas e o conhecimento de Economia da Saúde pelo enfermeiro contribuem para o exercício de suas atribuições e para tomada de decisão na realização do cuidado de Enfermagem(7). O enfermeiro é capaz de articular o valor e a relação de custo, tempo e eficácia dos procedimentos da prática clínica para aperfeiçoamento do cuidado prestado(8).
A utilização da avaliação econômica de tecnologias em saúde pode gerar informação para orientar os profissionais da saúde acerca da necessidade e dos meios para redução dos custos no sistema de saúde, através da escolha da melhor opção tecnológica, considerando o menor custo e a maior efetividade para o tratamento das úlceras venosas(8).
A efetividade do uso do PRP em úlceras venosas foi avaliada em três ensaios clínicos internacionais(9-11) e o desfecho cicatrização completa das úlceras venosas tratadas com PRP mostrou uma taxa de cicatrização de 50,11% em comparação a 48,24% apresentado pelo grupo controle(9-11).
Há poucos estudos sobre o custo do tratamento com o PRP em úlceras venosas, e apenas uma análise de custo-efetividade que comparou o tratamento padrão para úlceras venosas (limpeza, desbridamento do tecido necrótico, prevenção, diagnóstico e tratamento, se for o caso, de infecção e aplicação de coberturas) com o PRP(12). No Brasil, não há evidências do custo dessa tecnologia para o tratamento de úlceras venosas.
Portanto, este estudo justifica-se pela necessidade de contribuir com informações sobre avaliação da efetividade e do custo de duas tecnologias para o tratamento de úlceras venosas, a fim de proporcionar evidências para a tomada de decisão para os enfermeiros, gestores e contribuir com o desenvolvimento de novas pesquisas acerca do tema.
Objetivo: Avaliar a viabilidade do tratamento de úlceras venosas com o Plasma Rico em Plaquetas (PRP).
MÉTODO
Trata-se de uma série de casos obtida de um projeto integrado sobre o PRP que realizará um ensaio clínico controlado e randomizado. Para adequação do protocolo de pesquisa, realizou-se o estudo piloto. Os estudos descritivos do tipo série de casos compreendem de três a dez casos, em que há relato detalhado da doença e do tratamento, que permitem posteriormente maiores investigações e desenhos de estudo mais elaborados(13).
O estudo piloto é um teste, em pequena escala, que serve para adequar os procedimentos, materiais e métodos propostos para pesquisa(14). A miniversão do estudo completo envolve a realização de todos os procedimentos previstos na metodologia de modo a antever resultados, avaliar a viabilidade dos métodos de coleta em cada fase de execução, revisando e aprimorando os pontos necessários(14).
O estudo foi realizado no ambulatório de feridas de um hospital universitário, no Estado do Rio de Janeiro, no período de maio a setembro de 2016. A amostra foi composta de três participantes, os quais foram alocados após a randomização, dois para a intervenção PRP e um para o controle Gaze com Petrolatum®.
Para a seleção dos participantes no estudo, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: apresentar diagnóstico médico de insuficiência venosa crônica; índice tornozelo-braço (ITB) ≥ 0,9; presença de pulsos à palpação em membros inferiores como o pedioso e tibial posterior; idade ≥ 18 anos; úlcera venosa com tamanho mínimo de 2,0 cm² e máximo 100 cm². O ITB é utilizado como critério para o diagnóstico de doença arterial periférica (DAP) e é calculado a partir dos dados obtidos, utilizando a fórmula: ITB = (PASt / PASb) [PASt = PAS do tornozelo; PASb = PAS do braço] (Wound, Ostomy and Continence Nurses Society(1).
Os critérios de exclusão foram: estar gestante; apresentar doença infectocontagiosa, úlcera venosa com tecido necrótico recobrindo todo o leito e no formato circular; ser suspeita de malignidade ou infecção no local da ferida; apresentar hipercoagulabilidade; ter recebido transfusão nos últimos três meses.
Os critérios de descontinuidade foram: apresentar sinais de alergia ao uso dos produtos para o tratamento de feridas; apresentar dor intensa; paciente que durante a pesquisa demonstrasse interesse em deixar o estudo ou apresentasse irregularidades na frequência de comparecimentos às consultas ou descontinuidade ao uso dos produtos, ocorrência de evento adverso sério e de eventos adversos locais clinicamente significantes (dor de forte intensidade).
A coleta de dados foi realizada no período de maio de 2016 a setembro de 2016, com tempo de segmento de 12 semanas. A aplicação do PRP foi realizada a cada 15 dias e a Gaze com Petrolatum® era aplicada uma vez por semana. Os participantes foram orientados a realizar a troca do curativo secundário no domicílio sempre que a gaze e a atadura estivessem saturadas.
A intervenção (PRP) consistiu na coleta de sangue e no preparo do PRP por meio da centrifugação do sangue com aplicação posterior sobre a úlcera previamente limpa, sendo, após esse procedimento, a úlcera coberta por gaze estéril e fixada com atadura de crepom. Noutro dia, o paciente era orientado a trocar o curativo, a irrigar a úlcera com solução fisiológica a 0,9% e aplicar a Gaze com Petrolatum® com troca semanal. No participante controle, somente foi aplicada a Gaze com Petrolatum®, semanalmente. A terapia compressiva com atadura elástica, considerada padrão-ouro no tratamento de úlceras venosas, foi realizada em todos os participantes e os mesmos receberam orientação sobre os cuidados para a aplicação e lavagem da atadura.
Foram considerados como desfechos primários para avaliação da efetividade a área em cm² das úlceras venosas; e para avaliação do custo, os gastos com o tratamento. Os desfechos secundários foram: tipo de tecido presente no leito e nas bordas da úlcera, aspecto do exsudato (quantidade e tipo), características da pele adjacente à úlcera e sua profundidade.
Os desfechos do estudo foram avaliados por meio dos instrumentos próprios e protocolos de pesquisa aplicados no ambulatório de feridas e validados. A redução da área em centímetros quadrados das úlceras, ao longo de 12 semanas de tratamento, foi avaliada por meio do uso dos decalques mensurados na 1ª, 6ª e 12ª semana nos participantes da intervenção e do controle.
O custo dos tratamentos foi coletado por meio da observação direta da realização do curativo, utilizando os seguintes passos: identificação, mensuração e valoração dos itens de custo diretos relacionados à troca do curativo ambulatorial. Entende-se por ‘custo direto’ os gastos aplicados diretamente na produção de um serviço ou produto, como recursos materiais e mão de obra(15).
Para calcular o custo, considerou-se o somatório dos custos diretos utilizados em cada etapa: tempo do procedimento do enfermeiro, produtos (PRP e/ou Gaze com Petrolatum) e insumos de cada etapa do processo.
Para os participantes submetidos ao tratamento com o PRP, foi adicionado o custo direto relacionado à coleta do sangue para ser centrifugado e o preparo do PRP, quinzenalmente.
A mensuração do tempo gasto pelo profissional para realização do procedimento foi realizada através da observação direta e de um cronômetro utilizando as unidades hora/minuto/segundo (h/m/s). Foi considerada apenas a duração do procedimento para realização do curativo, coleta de sangue e preparo do PRP.
O cálculo foi, então, composto por:
Procedimento (PRP) = Salário por minuto x tempo para realização do procedimento (punção + preparo do PRP + curativo)
Procedimento (controle) = Salário por minuto x tempo para realização do curativo
As medidas utilizadas para contabilizar os insumos foram: unidades (u) nas apresentações unitárias ou em pacotes; mililitros (mL) para as líquidas e semilíquidas; e centímetros (cm) para as placas e demais materiais como esparadrapo.
Foi contabilizado o uso da terapia compressiva elástica. O material para troca do curativo domiciliar diário foi entregue de acordo com a demanda do participante e contabilizado semanalmente a cada retorno.
Adotou-se a perspectiva das fontes pagadoras de serviços de saúde pública (Sistema Único de Saúde). O horizonte temporal foi o do tempo de seguimento do estudo: 12 semanas.
Para valoração dos itens, foi realizada consulta em pregão eletrônico referente ao Hospital Universitário em que foi realizada a pesquisa.
A moeda utilizada foi o dólar americano, considerando seu valor médio da cotação do período de maio a setembro de 2016, de $1 igual a R$3,34, para que haja uma melhor generalização dos achados com as pesquisas internacionais, convertido após a coleta de acordo com a cotação da época.
O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, sob o número CAAE n.º 45478515. 0.0000.5243. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a autorização para o registro fotográfico.
RESULTADOS
A amostra do estudo piloto foi composta por três pacientes, dois receberam a Intervenção (PRP, Gaze com Petrolatum® e atadura elástica) e um foi alocado como Controle (Gaze com Petrolatum® e atadura elástica), com 12 semanas de seguimento, totalizando 12 consultas ambulatoriais de enfermagem, 66 dias de tratamento domiciliar, e um total de 72 dias de acompanhamento para cada paciente.
Intervenção - PRP (Pacientes 1 e 2)
Paciente 1
Sexo masculino, (A.A.F), 65 anos, analfabeto e trabalhador informal. Apresenta diagnóstico médico de insuficiência venosa crônica e hipertensão, índice tornozelo-braço (ITB) = 0,9, presença de pulsos à palpação em membros inferiores. Apresenta úlcera venosa de pequena extensão e reincidente, localizada no terço inferior do membro inferior esquerdo, com aproximadamente três cm2, com profundidade parcial e bordas irregulares, presença de tecido de granulação (76-100%) e pequenas áreas de esfacelo no leito (1-25%), pouco exsudativa. Pele adjacente com características de vitiligo, lipodermatoesclerose e eczema. Iniciou-se o tratamento com o PRP em três de maio de 2016. A aplicação e o preparo do PRP em gel foram de acordo com protocolo proposto pela pesquisa, sendo que, após a sua aplicação, foi realizado curativo com gaze estéril, fixação com atadura de crepom em espiral ascendente. Noutro dia, o paciente foi orientado a realizar a troca do curativo conforme protocolo e aplicação da gaze petrolatum®. Em dezenove de julho de 2016, após as 12 semanas do tratamento regular com PRP, a úlcera apresentava-se cicatrizada (taxa de redução de 100%), com um custo estimado de US$550,35.
Paciente 2
Sexo feminino, (M.S), 56 anos, com ensino fundamental completo, copeira, condições de higiene insatisfatórias. Apresenta diagnóstico médico de insuficiência venosa crônica e hipertensão, índice tornozelo-braço (ITB) = 1,1, presença de pulsos à palpação em membros inferiores. Apresenta úlceras venosas de pequena extensão e reincidente, localizadas em região de maléolos direito e esquerdo, com aproximadamente 25 cm2 de área total, com profundidade parcial e bordas irregulares e maceradas, presença de tecido de granulação (76-100%) e pequenas áreas de esfacelo no leito (1-25%), pouco exsudativa. Pele adjacente ressacada, com características de lipodermatoesclerose e eczema. Iniciou-se o tratamento com o PRP em trinta e um de maio de 2016. A aplicação e o preparo do PRP em gel foram de acordo com protocolo proposto pela pesquisa, sendo que, após a sua aplicação, foi realizado curativo com gaze estéril, fixação com atadura de crepom em espiral ascendente. Noutro dia, a paciente foi orientada a realizar a troca do curativo conforme protocolo e aplicação da gaze Petrolatum®. Dia dezesseis de agosto de 2016, após as 12 semanas do tratamento regular com PRP, a úlcera apresentava-se com tamanho aproximado de 17 cm2 de área total, com presença de tecido de granulação (51-75%), pequenas áreas de esfacelo no leito (1-25%), e áreas com tecido de epitelização (1-25%), pouco exsudativa. Pele adjacente hidratada. A taxa de redução da úlcera venosa foi de 33,33%. O custo estimado do tratamento foi de US$1.069,93.
Na consulta do dia doze de julho de 2016, a paciente 2 apresentou aumento da produção de exsudato, odor fétido, rubor, calor e dor avaliada pela escala analógica da dor no valor de oito (08) necessitando de consulta médica, sendo prescrito Ciprofloxacina 500mg, a cada 12h por 14 dias, com um custo adicional de $20,96 pelo medicamento e consulta médica ambulatorial no valor de US$2,99, totalizando US$1.093,88.
Controle
Paciente Controle
Sexo feminino, (S.A.S), 75 anos, com ensino médio completo e aposentada. Apresenta diagnóstico médico de insuficiência venosa crônica e hipertensão, índice tornozelo-braço (ITB) =1,05, presença de pulsos à palpação em membros inferiores. Apresenta úlcera venosa de pequena extensão e reincidente, localizada úlcera em região do maléolo no membro inferior direito, com tamanho aproximado de 6 cm² com profundidade parcial e bordas irregulares, presença de tecido de granulação (75-100%) e pequenas áreas de esfacelo no leito (1-25%), pouco exsudativa. Pele adjacente com lipodermatoesclerose e eczema. A paciente foi orientada a realizar a troca do curativo secundário, sempre que necessário. Iniciou-se o tratamento com Gaze petrolatum® em doze de julho de 2016, com troca semanal. Após 12 semanas de tratamento, em vinte e sete de setembro de 2016, a úlcera venosa apresentava 1cm2, tecido de granulação (1-25%) e tecido de epitelização e com profundidade superficial (76-100%).
A taxa de redução da úlcera venosa foi de 83,33%. O custo estimado para o tratamento da paciente controle foi de US$361,53.
O gráfico 1 mostra a evolução da área da úlcera venosa ao longo de 12 semanas de tratamento dos pacientes da intervenção e do controle.
Gráfico 1: Evolução da área da úlcera venosa ao longo de 12 semanas de tratamento, Niterói, RJ, Brasil, 2016
Gráfico 1
A tabela 1 mostra o custo direto do tratamento ambulatorial e domiciliar das úlceras venosas.
Tabela 1: Distribuição do custo (em dólar) de acordo com as categorias: procedimento, produto, insumos utilizados no ambulatório e no domicílio, e terapia compressiva, Niterói, RJ, Brasil, 2016
Tabela 1
Categoria |
Custo (Interv. 1) |
% |
Custo (Interv. 2) |
% |
Custo |
% |
|
(Controle) |
|||||
Recursos humanos |
452,71 |
82,3 |
834,75 |
78,0 |
278,89 |
77,1 |
Produto (Petrolatum) |
8,96 |
1,6 |
26,06 |
2,4 |
9,77 |
2,7 |
Insumos PRP (coleta + preparo) |
11,96 |
2,2 |
11,38 |
1,1 |
- |
- |
Insumos ambulatório |
29,74 |
5,4 |
110,20 |
10,3 |
27,64 |
7,6 |
Insumos domicílio |
33,22 |
6,0 |
60,00 |
5,6 |
31,46 |
8,7 |
Terapia compressiva |
13,77 |
2,5 |
27,54 |
2,6 |
13,77 |
3,8 |
Total |
550,35 |
100,0 |
1.069,93 |
100,0 |
361,53 |
100,0 |
Os desfechos secundários foram apresentados na tabela 2.
Tabela 2: Características das úlceras venosas na primeira e na 12a semana, Niterói, RJ, Brasil, 2016
Tabela 2
|
1a Semana |
12a Semana |
||||
Parâmetros avaliados |
Pac. 1 |
Pac. 2 |
Pac. 3 Controle |
Pac. 1 |
Pac. 2 |
Pac. 3 Controle |
Exsudato |
Seroso |
Seroso |
Seroso |
Ausente |
Seroso |
Seroso |
Quantidade de Exsudato |
Pouco |
Pouco |
Pouco |
Ausente |
Pouco |
Pouco |
Tecido presente no leito |
Granulação (75-100%) Desvitali-zado (1-25%)
|
Granulação (75-100%) Desvitali-zado (1-25%)
|
Granula-ção (75-100%) Desvitali-zado (1-25%)
|
100% de epiteliza-çao |
Granula-ção (51-75%), Desvita-lizado (1-25%), epiteliza-çao (1-25%) |
Epiteliza-ção (76-100%) Granula-ção (1-25%)
|
Pele adjacente |
vitiligo, lipoderma-toesclerose eczema ressecada |
Lipoder-mato-esclerose eczema e ressecada |
Lipoder-matoes-clerose eczema e ressecada |
vitiligo, lipoder-mato-esclerose eczema e hidrata-da |
Lipoder-mato-esclerose eczema e hidratada |
Lipoder-mato-esclerose eczema e hidratada |
Profundida-de |
Parcial |
Parcial
|
Parcial |
Cicatri-zada |
Parcial |
Superficial |
A partir do piloto, foi possível realizar alterações no método, com um refinamento dos critérios de inclusão, exclusão e descontinuidade. Os itens alterados foram listados no quadro 1.
Quadro 1. Critérios de seleção dos participantes modificados pelo piloto. Niterói, RJ, Brasil, 2016
Quadro 1
Critérios de inclusão |
||
Protocolo inicial |
Protocolo final |
Observações |
Hematócrito >34%, hemoglobina >11g/dL e contagem de plaquetas acima de 150.000/mm³ comprovados com hemograma com data retroativa de até 3 meses. Apresentar feridas com tempo de evolução maior que três meses. |
Tempo de Protrombina Ativada (TAP/TP) > 70-80%10-13 seg e Tempo Tromboplastina Parcial (PTT) <15-30%25-35 seg. Não apresentar história pregressa de alcoolismo ou de doenças psiquiátricas que possam interferir no autocuidado. Ter disponibilidade em comparecer ao ambulatório uma vez por semana. |
Foi incluído, em detrimento da maioria dos pacientes utilizarem medicamentos de uso crônico como antiagregantes plaquetários AAS. História pregressa de alcoolismo e ou de doenças psiquiátricas podem dificultar a adesão do paciente as consultas. A periodicidade semanal das consultas é necessária para o acompanhamento do paciente e da úlcera. |
Critérios de exclusão |
||
Protocolo inicial |
Protocolo final |
Observações |
Estar grávida ou amamentando. Possuir distúrbios de coagulação. |
Apresentar Doença infectocontagiosa. |
Manipulação de material biológico. Necrose no leito das úlceras venosas podem indicar complicações arteriais (úlceras mistas). Ao apresentar distúrbios de coagulação, plaquetas autólogas não podem ser obtidas a partir de doentes com trombocitopenia, durante a gravidez e em estados de hipercoagubilidade. |
Descontinuidade |
||
Apresentar sinais de infecção. Paciente que apresentar irregularidades na frequência de comparecimentos às consultas ou descontinuidade ao uso dos produtos. |
Apresentar sinais de alergia ao uso dos produtos para o tratamento de feridas. |
É considerado um evento adverso leve. De acordo com os princípios éticos, o paciente pode decidir deixar de participar em qualquer momento do andamento da pesquisa. |
As mudanças relacionadas ao procedimento levaram à criação de um novo protocolo para definir a periodicidade da troca da gaze com Petrolatum®, que foram resumidas na tabela 3.
Tabela 3: Protocolo para periodicidade de troca da gaze com Petrolatum®, Niterói, RJ, Brasil, 2016
Tabela 3
Periodicidade de troca |
||
Protocolo inicial |
Protocolo final |
|
Semanal |
Primeira semana: troca diária independente da quantidade do exsudato, após a segunda semana, deverá seguir o protocolo proposto: |
|
Quantidade de exsudato |
Frequência de troca por semana |
|
Ausente |
Uma |
|
Pouco (menos de 25%) |
Uma |
|
Moderado (25 a 75%) |
Dias alternados |
|
Grande (mais de 75%) |
Diária |
O desfecho previsto para a análise dos dados inicialmente era a área em cm² das úlceras venosas. Após o piloto, foi acrescentado mais um desfecho: o número de úlceras cicatrizadas, mantendo-se a taxa de cicatrização pela mensuração da área em cm² das úlceras que não tiveram cicatrização completa durante o período de tratamento.
DISCUSSÃO
Neste estudo, houve predominância de idosos e do sexo feminino, cuja doença predominante associada à insuficiência venosa crônica foi a hipertensão arterial sistêmica. Diversos estudos, envolvendo pacientes com o mesmo perfil de enfermidade desta amostra, evidenciaram a hipertensão arterial sistêmica como a doença crônica que mais afeta os pacientes com úlceras venosas e, cujo percentual pode chegar a 61%(16).
A insuficiência venosa crônica tem sua maior prevalência ligada ao processo de envelhecimento, sendo a população idosa mais acometida, além do sexo feminino ser considerado um fator de risco para o acometimento dessa doença crônica(17).
Em relação ao número de úlceras cicatrizadas ao longo de doze semanas de tratamento, verificou-se que um paciente da intervenção apresentou a cicatrização completa da úlcera venosa. Os outros dois apresentaram taxa de redução da área de 33,33% (intervenção) e 83,33% (controle).
Na avaliação do tecido no leito das úlceras venosas ao final do tratamento foi o de granulação e o de epitelização nos três pacientes. Esse foi um resultado positivo, pois, no início do estudo, havia úlceras com áreas de tecidos desvitalizados.
O tipo e a quantidade de exsudato presente nas úlceras durante a primeira e última avaliação, foi seroso e variou de pouca quantidade a ausência. A produção de exsudado tende a diminuir ao longo do processo normal de cicatrização e deve ser avaliada após a remoção do curativo antes da limpeza da úlcera(18). O aumento da produção de exsudato é comum e pode acontecer quando se adiciona a compressão elástica como terapia adjuvante no tratamento das úlceras venosas(16).
Em relação à pele adjacente, observou-se melhora do ressecamento em todos os pacientes, pois os mesmos utilizaram durante todo o tratamento hidratante a base de vitaminas A e E e ácidos graxos essenciais.
No item profundidade, um dos pacientes da intervenção apresentou cicatrização completa da úlcera e um paciente do controle apresentou melhora da profundidade de parcial para superficial.
Por meio dos resultados observados durante o seguimento do estudo, necessitou-se realizar a seguinte alteração para o protocolo clínico final: a periodicidade das trocas do curativo com Gaze Petrolatum® será em conformidade com a quantidade da produção de exsudato que a úlcera venosa apresentar, e o enfermeiro utilizará para essa avaliação os seguintes parâmetros: ausente, quando o leito da úlcera se encontrar seco; pouco, quando o leito da úlcera apresentar úmido e com drenagem de menos de 25% do curativo; moderado, quando o leito da úlcera estiver saturado com drenagem de 25 a 75%; e grande, quando o leito da úlcera estiver banhado em fluido com drenagem de mais de 75% do curativo(19).
O gerenciamento de custos é uma ferramenta essencial para a análise das planilhas sobre os custos dos recursos utilizados(15).
A análise dos itens de custo direto relacionados ao procedimento permitiu fazer uma previsão dos insumos necessários e de seu custo.
A categoria recursos humanos (procedimento) que representou o custo da mão de obra do enfermeiro foi a que mais contribuiu no montante, perfazendo 77% do custo total do controle, 78% do paciente da intervenção um e 82,3% do paciente da intervenção 2.
O tempo do procedimento foi computado, mas deve ser considerado com cautela visto que a técnica de coleta de sangue, o preparo do PRP e a aplicação dos produtos na realização dos curativos estavam em fase de ajuste, aspecto que demanda um maior tempo de procedimento. A contagem desse tempo, posteriormente, será realizada no ensaio clínico, pois à medida que a técnica se aperfeiçoa, o tempo do procedimento tende a diminuir.
A categoria insumos, representada pelo somatório dos recursos materiais utilizados, apresentou o segundo maior custo. Assim como nesse estudo, o custo do curativo ambulatorial demonstrou ser maior do que o domiciliar, devido à mão de obra do enfermeiro ser o maior contribuinte para essa diferença, conforme outro estudo que avaliou pacientes com úlcera venosa(20).
Por ser o padrão-ouro no tratamento das úlceras venosas, o custo da terapia compressiva em suas diversas modalidades tem sido avaliado em inúmeros trabalhos. Nesse estudo, foi utilizada a atadura elástica, cujo custo representou 2,5% do custo total do tratamento nos pacientes da intervenção e 3,8% do custo do controle, sendo responsável pelo terceiro maior custo do tratamento.
Estudos de custo e a introdução de conceitos sobre avaliação econômica em saúde são importantes na área de Enfermagem, pois contribuem com um aporte de informações que servem como ferramenta para a gestão e a tomada de decisões, com uma perspectiva de melhorar a assistência e o cuidado, favorecendo uma maior eficiência na alocação de recursos com mais equidade(8).
CONCLUSÃO
A partir do teste piloto, foi possível adequar o método, os protocolos e determinar os insumos necessários para realização do ensaio clínico, modificando o protocolo de uso da gaze com Petrolatum de acordo com o tipo e a quantidade de exsudato, com o intuito de prevenir o risco de infecção no leito da ferida. O uso da avaliação de tecnologias em saúde, por meio da realização de estudos de custo e avaliações econômicas é mais uma atividade que pode ser realizada por enfermeiros e que transforma o cuidado de enfermagem a partir duma visão voltada para a eficiência e melhor alocação de recursos.
REFERÊNCIAS
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Participação de cada autor na pesquisa:
Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira: Concepção do manuscrito, análise dos dados, e revisão crítica.
Silvia Regina Secoli: Concepção do manuscrito, análise dos dados e revisão crítica.
Andrea Pinto Leite Ribeiro: Concepção do manuscrito, coleta e análise dos dados, e revisão crítica.
Alcione Matos de Abreu: Concepção do manuscrito, coleta e análise dos dados, e revisão crítica.
Jane Marcy Neffá Pinto: Concepção do manuscrito, análise dos dados e revisão crítica.
Recebido: 08/07/2017
Revisado: 19/03/2019
Aprovado: 21/10/2019