The political participation of undergraduate nursing  students. An exploratory study

 A participação política de graduandos(as) de enfermagem

 La participación política de estudiantes universitarios, de grado, del área de enfermería

 

Sarlo, Roberta Soares1; Brêtas, Ana Cristina Passarella1

 1 Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil

 

 ABSTRACT. Context: This study shows the meaning of political participation to undergraduate nursing students; how they participate in their particular life and in the University and the main worries about politics, nursing and political engagement. Objectives: Find out the meaning of political engagement to nursing students, understanding their social and political organization process. Methods: Exploratory, qualitative research. 145 students participated, the data was collected from a self applied instrument. The objective data was submitted to simple frequency analysis, and the subjective data to a thematic analysis. Results: The political interest is average; most students only vote; few participate in the student movements although aware of student organizations. Discussion: Politics implies in the struggle for their rights/duties, political engagement amplifies the knowledge of citizenship, building critical judgment and attitudes, which interferes with nursing cares. Conclusion: They value political engagement as a form of social organization although they delegate to others without controlling their appointed leaders actions. We believe that an effective political formation can contribute to maximize participation.

Keywords: politics; students; nursing

RESUMO. Objetivo: Conhecer o significado da participação política, para graduandos de enfermagem, compreendendo o seu processo de organização social e política. Metodologia: Pesquisa exploratória, qualitativa. Participaram 145 estudantes. A coleta dos dados foi realizada por um instrumento auto-aplicado. Os dados objetivos foram submetidos à análise de freqüência simples e os subjetivos à análise temática. Resultados: O interesse por política é regular; a maioria apenas vota; poucos participam do movimento estudantil apesar de conhecerem as organizações estudantis. Fazer política implica na luta pelo exercício de direitos/deveres, sendo que a participação política amplia o conhecimento sobre cidadania, aumentando a atitude e o senso-crítico, interferindo no cuidado de enfermagem. Conclusão: Valorizam a participação política como forma de organização coletiva. Delegam ao outro a representação sem controlar o exercício dos dirigentes.  Isso posto, acreditamos que uma formação política efetiva possa contribuir para maximizar a participação.

Descritores: política; estudantes; enfermagem.

RESUMEN. Objetivo: Conocer el significado de la participación política, para estudiantes universitarios de grado, en el área de enfermería, comprendiendo el proceso de organización social y política de los mismos. Métodos: Investigación exploratoria, cualitativa. Participaron 145 estudiantes universitarios. La recolección de las informaciones fue realizada mediante un instrumento autoaplicado. Los datos objetivos fueron sometidos a un análisis de frecuencia simple, y las informaciones subjetivas a un análisis temático. Resultados: Es regular el interés por la política, pues la mayoría apenas vota; pocos participan en el movimiento estudiantil a pesar de que conocen las organizaciones estudiantiles. Para los estudiantes universitarios el hacer política implica luchar por el ejercicio de los derechos y deberes, siendo que la participación política amplia el conocimiento al respecto del tema de ciudadanía como también aumenta la actitud y el sentido crítico, por eso afecta los cuidados realizados en el área de enfermería. Conclusión: Los resultados muestran que los estudiantes universitarios valoran la participación política como una forma de organización colectiva. Creemos que una manera de instrumentalizar la participación en la(s) política(s) se pueda realizar mediante la instauración de debates en los cursos de grado.

Descriptores: política; estudiantes; enfermería.

 

 Introdução

            Interessadas em aprofundar conhecimentos na área de políticas públicas de saúde, realizamos este estudo que pretende apreender o significado da participação política, para graduandos de enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, visando compreender o processo de organização social e política como forma de transformação social.

Tomamos por objeto de estudo os motivos que levam estes sujeitos ao exercício da cidadania por meio da participação política. Fundamenta-se na crença de que a participação política é parte integrante das características individuais dos seus exercentes, portanto faz parte da história de vida de cada ser.

            O estudo da participação política necessariamente remete-nos a discussão sobre o que vêm ser política, bem como, sobre o que faz com que um indivíduo se envolva mais ou menos com ela.

            Por política adotaremos o conceito no qual é o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado (1). A ela acrescentaremos a análise de Pizzorno(2) onde a questão política não ocorre apenas no âmbito do Estado, mas também expressa as relações de classe, mantendo presente os interesses de divisão, conservação ou transferência do poder.

            No que tange as diferentes formas de envolvimento dos indivíduos na política, as mudanças sistemáticas nas atividades do cidadão relacionam-se ao fato de que os atos de participação em questões políticas podem gerar satisfação, mas também insatisfação e decepção. Desta feita, compreende-se o afastamento ou a participação do indivíduo na esfera pública pelo grau de satisfação gerado no ato; o que leva-nos à reflexão de que o estudo da participação política perpassa pela análise da intensidade de compromisso do indivíduo, bem como pelas características de sua personalidade (3).

            Assim sendo, podemos afirmar que o cidadão comum participa da política com sua própria identidade e se organiza (associações, organizações, partidos políticos, movimentos sindicais entre outros) quando percebe que sua ação individual se identifica com a de outros indivíduos, o que vem dar veracidade à afirmação de que só se participa quando se está entre iguais (2).

A história da enfermagem no Brasil é pautada por diferentes significados, que vão da caridade e abnegação à perspectiva de participação política, quer conservadora ou não. Desde o início, o cuidado ao enfermo se pauta na religiosidade. No século XVI são fundadas as primeiras Santas Casas com cunho prioritariamente assistencialista, com um corpo de enfermagem fundamentalmente religioso (4). Mesmo com os significativos avanços da área de enfermagem, as enfermeiras agiam pelo motivo de ajudar ao próximo, sem se questionar o motivo da miséria que eles viviam (5). A saúde pública, que estava fora dos currículos, retorna em meados da década de 80 motivada pelo movimento da reforma sanitária brasileira, inspirada na não dicotomia entre prevenção e cura, epidemiologia e clínica.

Tais mudanças apontaram para o redirecionamento do modelo de atenção, resgatando o humanismo presente na enfermagem. Houve a necessidade da introdução de disciplinas ligadas à área de humanas no curso contribuindo para uma maior reflexão política (6). Com isso, os graduandos passaram a ter a oportunidade de construir uma maior consciência política, o que ajudou tanto na compreensão da situação da enfermagem no mundo quanto numa maior consciência política dentro e fora da universidade.

A participação política como instrumento de mudança social

            Participação política é uma ação que ocorre em solidariedade com outras, no âmbito do Estado ou de uma classe, com vistas a conservar ou modificar a estrutura e os valores do sistema de interesses dominantes. Essa ação se desenvolve dentro das relações de poder e consequentemente leva implícito no seu ato as relações de um sistema de interesses (2).

            O sistema de solidariedade tende a igualar todos que pertencem a uma determinada coletividade (grupo, classe) enquanto o sistema de interesses tende a acentuar ao máximo a diferença (distinção) entre os atores.

            Considerando que as relações do sistema de interesses são sempre relações de poder torna-se inviável pensar em participação política sem considerar a necessidade de se ter poder.

            Poder é a capacidade de assegurar a si ou aos demais certos valores ou evitá-los (2). Todo ser humano que se entrega à política, aspira ao poder – seja porque o considere como instrumento a serviço da consecução de outros fins, ideais ou egoístas, seja porque deseje o poder pelo poder, para gozar do sentimento de prestígio que ele confere (2).

            Considerando o ato de ter poder, como a capacidade de assegurar individual ou coletivamente ou privar o coletivo da aquisição de certos valores, bens, direitos; garanti-los implica em organização. No que diz respeito aos estudantes, só podem reivindicar seus direitos coletivamente e de forma indireta, por intermédio de organizações embutidas em sistemas de representação, principalmente movimento estudantil, ou de maneira direta por meio do exercício do voto, até que cheguem às altas instâncias de negociação, com poder de decisão.

            Assim sendo, se os estudantes desejam usufruir as oportunidades oferecidas pela democracia, necessitam se organizar como participantes.  A participação política em qualquer esfera, apesar de muitas vezes ser limitada é a única institucionalizada e disponível a qualquer indivíduo e/ou coletividade em um regime democrático, contudo devido à liberdade de escolha e aos ganhos materiais individuais que tal regime garante, nem sempre a participação está presente.

Formas de participação política

            Um indivíduo pode participar politicamente como cidadão comum na medida em que expressa suas posições na sociedade civil. Pode ainda exercer atividade política profissional ou participar coletivamente por meio de movimentos organizados. Independentemente da forma que atua na sociedade, traz expresso nos seus atos o sistema de crenças que tem do mundo.

            O sistema de crenças e atitudes é salientado com a análise de que o primeiro representa o conjunto do universo de idéias e atitudes dos indivíduos, mantido por alguma forma de interdependência funcional, e as atitudes pela manifestação ou expressão de crenças referentes a um objeto ou situação (7).

            Um sistema de crenças é a expressão das convicções de uma pessoa sobre o mundo e sobre si mesma, ao passo que uma atitude é o modo como as crenças são manifestas, é a tendência individual de reação a um dado valor social.  Quanto mais próxima for a relação entre esses dois pontos, maior será a coerência do indivíduo, ou seja, diminuir-se-á a dicotomia entre o pensar e o fazer.  Podemos dizer que a forma de participação política expressa pelo indivíduo, independentemente de ser individual ou coletiva, traz em si o sistema de crenças de cada um.

            Uma vez que a existência de participação política implica em ação do indivíduo ou grupo no âmbito do Estado ou de uma classe, é inevitável o estudo dessa conexão entre a esfera política e o cotidiano.  É essa dimensão subjetiva e dialética existente entre a política e o cotidiano que pretendemos captar com este estudo.

Objetivos

Esta pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, objetivou conhecer o significado da participação política para graduandos de enfermagem, visando compreender o processo de organização social e política deste segmento.

Metodologia

1.       Local de estudo

O estudo foi desenvolvido nas dependências do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unifesp/HSP, recebendo o número CEP 0201/06 (8).

2.       Sujeitos do estudo

Os sujeitos do estudo foram 145 estudantes, matriculados nas quatro séries do curso de graduação em enfermagem; 11 são homens, sendo sete com idade entre 18 e 25 anos e quatro com 26 anos ou mais; e 133 são mulheres, dessas sete têm 17 anos, 116 com idade entre 18 a 25 anos e dez com 26 anos ou mais. Duas não especificaram a idade e uma pessoa não respondeu o sexo e a idade. Dos graduandos estudados a maior parte (124) nunca foi representante estudantil, 12 foram e nove não responderam. Concordaram em participar voluntariamente da pesquisa após terem sido devidamente esclarecidos sobre os objetivos, metodologia e finalidade da pesquisa, assinando ao termo de consentimento livre e esclarecido de forma a atender aos pressupostos éticos inerentes a trabalhos desta natureza.

3.       Coleta de dados

Os dados foram coletados pelas pesquisadoras, utilizando para tal um instrumento com questões semi-estruturadas. Esse foi distribuído aos 330 estudantes matriculados no curso de graduação em enfermagem da Unifesp, nos intervalos das aulas, momento em que foi acordado local e dia para entrega. Findo o prazo estipulado, foram obtidos 145 (44%) instrumentos respondidos, objetos de nossa análise.

4.       Análise dos dados

Os dados objetivos foram transportados para um banco de dados computadorizado, sendo posteriormente submetidos à análise. Os subjetivos foram trabalhados por meio da técnica da análise temática (9).

Resultados:

            No que diz respeito à participação política, observamos nas respostas dos estudantes que a mesma permeia duas vertentes: a primeira diz respeito ao seu papel como cidadão, a segunda, como estudante de enfermagem. Apesar de crermos que são indissociáveis para efeito de análise, abordaremos cada qual a seu tempo.

Fazer política

Quando perguntamos para o estudante o que é fazer política, obtivemos uma gama variada de respostas, prevalecendo o sentido de promover o bem-estar social por meio de lutas por propostas que satisfaçam o bem comum.

Fazer política para mim é viabilizar o interesse da população frente ao governo/Estado. É problematizar a situação do país, de uma comunidade, de um grupo de pessoas e fazer possível alguma tentativa de transformação.

 

26 dizem que fazer política significa tomar decisão, analisar situações, pensar politicamente.

20 citaram que fazer política é representar pessoas por meio do parlamento e/ou sindicato para fazer valer os direitos de tal população.

Alguns acreditam que fazer política é utilizar o diálogo para persuadir, podendo ser ator da persuasão ou somente espectador.

Outros, por sua vez, atribuem ao ato o sentido de cumprir deveres e exercer direitos.

Fazer política é ter postura de cidadão, conhecer direitos (e reivindicá-los) e deveres (e cumprir com os mesmos), é pensar e agir em um benefício coletivo.

 

No que diz respeito à ação da política, houve um contraponto interessante pautado no conflito: 14 propõem a resolução de problemas pela ação da comunidade frente a 13 que compreendem o governo como responsável pela execução da política.

As outras respostas, não menos significativas, dizem respeito à: relação interpessoal, fazer campanha, ser honesto, diplomata, participar do processo democrático votando conscientemente.

Política não é necessariamente partidária, mas sim a relação com o outro cumprindo deveres, exigindo direitos e reivindicando (discutindo) o que não convence.

 

Participação política

Compreendendo o voto como um dos exercícios da participação política, perguntamos aos estudantes se votaram nas eleições municipais de 2004, especificando o motivo. Depreendemos que 106 votaram; desses, 60 alegam que esta é uma forma de fazer valer opinião e garantir o seu direito de cidadania. 16 disseram acreditar no poder do voto para melhorar o país. 25 votaram baseado na obrigatoriedade. Aqueles que não votaram, ou não tinham título ou estavam fora da zona eleitoral. Se o voto não fosse obrigatório, 119 continuariam votando. Dos que votaram, 95% lembram em qual candidato votou.

A maioria dos estudantes tem pequeno ou médio interesse pela política (98). Relatam que participam acompanhando as informações oferecidas pela mídia escrita e falada e votando. 33 relatam ter muito interesse, participando ativamente de passeatas, campanhas e seis militam em partidos. 13 relatam pouquíssimo ou nenhum interesse, interessando-se mais por projetos voluntários, ações em igrejas e comunidade. Apenas um não respondeu.

Apresentamos frases aos estudantes e solicitamos que dessem suas opiniões. A primeira: Quem vota melhor: os idosos, os adultos ou os jovens?, 76 responderam que não importa a faixa etária e sim o conhecimento político de cada um.

Não necessariamente o ato de votar está ligado à faixa etária, em minha opinião vota bem quem vota conscientemente, recordando o passado com o olhar no presente para construir o futuro.

 

34 optaram pelos adultos como melhores eleitores, e estes ancoram-se no fato de que os adultos apresentam experiência, visão de mundo, são menos influenciáveis e mais politizados.

17 asseguraram que os jovens votam melhor, pois afirmam que estes são mais flexíveis, acreditam na mudança, são mais comprometidos e possuem mais acesso a informações.

11 acreditam que os idosos, por sua vez, votam melhor porque possuem mais experiência.

A segunda questão foi sobre a afirmação: Em geral, o povo ainda não tem capacidade para votar bem e não sabe escolher os melhores candidatos para governar o país. 76 consideram a afirmação correta. Afirmam que grande parte da população não tem estudo básico, que falta interesse, consciência e capacidade para votar. Outros ainda afirmam que a população é facilmente comprada pelos políticos.

A afirmação está totalmente correta, pois muitas pessoas ainda votam em determinados candidatos em troca de uma cesta básica, entre outras coisas mais, deixam seus votos serem comprados.

 

Eu acho que esta afirmação é correta, porque sem informação, conhecimento e estudo ninguém pode formar sua própria opinião; o povo é manipulado e iludido.

 

Já os que não concordam com a afirmação (57), o fazem porque consideram não existirem políticos honestos e isso não é culpa da população. Outros dizem não poderem julgar a capacidade do povo brasileiro em votar.

Não concordo. Algumas pessoas estão realmente alienadas da política, mas o povo tem tentado avaliar melhor as propostas e até exigir dos candidatos eleitos, mas esse fato é um processo em construção.

 

A terceira afirmação, Estudantes devem estudar e não participar de política, foi discordada por todos. A maioria acredita que o estudante deve, além de estudar, participar, pois eles são o futuro do país, tem grande capacidade de análise social e são mais flexíveis. Outros dizem que as conseqüências da política são sofridas por todos, logo têm o direito de participar conforme o interesse individual, além da participação ser um direito do cidadão.

Estudante deve participar da política. Primeiro deve estudá-la sobre seu impacto em suas vidas e dessa forma, mais elucidada, lutar com resignação por direitos e deveres. Estamos sempre numa luta que parece ser eterna... a luta por respeito, porque não!

 

Na última questão, perguntamos: Em sua opinião, os analfabetos devem ter o direito de votar?, 121 acreditam que sim. Alegam que o analfabetismo não interfere na ausência de consciência política, na capacidade de pensar e que o direito ao voto é universal.

Ser analfabeto não significa ser idiota. O analfabeto sabe se o salário dele não está dando para suprir as necessidades diárias, sabe comprar e sabe que tem que pagar imposto.

 

Os 17 que dizem não, sustentam sua resposta na crença de que os analfabetos não têm acesso à informação, são mais influenciáveis, portanto não sabem votar.

Os analfabetos, quase que na sua totalidade, são pessoas alienadas da política do país e facilmente persuadidos pelos candidatos que oferecem algum benefício pelo seu voto.

 

Enfermagem e participação política

            94 estudantes relatam conhecer os órgãos representativos da Unifesp. 46 desconhecem. Três não responderam. Quando perguntados se participam ou se já participaram do movimento estudantil na universidade, 132 disseram que não. Apenas dez responderam afirmativamente. Desses, um é diretor do centro acadêmico, os demais atuam de forma colaborativa por meio da participação em atos públicos e/ou movimento de greve. Por sua vez, 45 dos que não participam, alegam ter entrado recentemente na faculdade, outros não se sentem motivados ou não têm interesse na participação, 15 não conhecem as formas de participação, 13 alegam falta de tempo. Alguns não se sentem bem participando, a outros falta oportunidade e três alegam que participar implica em muita responsabilidade.

            Quando argüidos sobre o significado que atribuem ao centro acadêmico da enfermagem, 57 responderam que representam os estudantes, apoiando-os nas decisões. 50 relatam que tem a finalidade de organizar, defender idéias lutando para a resolução dos problemas dos estudantes. 25 relatam desconhecer o significado ou não responderam. 11 alegam que o centro acadêmico é pouco representativo, contra quatro que afirmam ser um espaço indispensável e quatro crêem que é um local para encontro com os amigos e descanso.

            Metade dos respondentes afirma conhecer os coordenadores do centro acadêmico e outra metade fala o oposto. 83 se sentem representados pela diretoria; 49 dizem que não, 13 não responderam. Chama a atenção o fato de que alguns estudantes, apesar de relatarem não conhecer os coordenadores, se sentem representados por eles.

            Quando perguntados se participar politicamente pode interferir na sua formação de enfermeiro, 119 disseram que sim. 58 referem que participar amplifica a visão da sociedade, capacidade crítica, auxiliando na busca de melhorias para a comunidade. 17 mencionam que facilita a comunicação uma vez que o estudante passa a se apropriar de uma linguagem que lhe permite argumentar suas crenças e valores, assim como defender os direitos dos usuários do serviço de saúde. Alguns acreditam que a participação política melhora a formação, uma vez que se obtêm conhecimentos não adquiridos em sala de aula, evita alienação, forma líderes.

Ajuda a solucionar problemas da comunidade e até engajar a sua comunidade na busca por melhorias. 

O bom funcionamento do sistema de saúde depende de questões políticas. Devemos começar a participar politicamente na graduação, pois dessa forma saberemos lidar melhor com questões políticas que gerem o sistema de saúde futuramente.

 

            Finalmente, quando perguntamos se julgavam necessário o estudo sobre política na graduação em enfermagem, 130 disseram que sim, dez que não e cinco não responderam. Os que disseram que não, argumentam que não é essencial, que a formação independe da política, que deveria ser estudado no ensino médio, ou não explicaram o motivo.

            Dos que disseram que sim, 70 sustentam suas narrativas no fato de que estudar política ajuda a entender situações, ampliando a visão crítica para o trabalho ou comunidade, melhora a formação pessoal e profissional. 21 afirmam que estudar política faz parte da vida, logo deveria ser estudada por todos. 15 crêem que é importante para ensinar a reivindicar por direitos, discernir o certo do errado e incentivar a participação política. Para quatro, quem não faz política não faz saúde. Um crê que deveria ser estudado antes da faculdade.

Como enfermeiros temos papel de educadores ou até de representantes da população. Estudar política é importante para aprendermos sobre como atuar junto ao governo em prol da população. 

Meu interesse por política é pequeno, mas isso não significa que não considero importante. Com aulas dadas por bons profissionais, creio que serviria para motivar-me a me inserir nesse contexto.

 

Discussão

            O fazer política para o graduando de enfermagem pode ter uma variada gama de respostas, porém todas elas, apesar de diferirem nas definições, demonstram uma reflexão sócio-política importante para o estudante. Apesar de a profissão da enfermagem parecer muitas vezes limitada ao assistencialismo somente, é necessário que haja uma reflexão crítica sobre o que é pensar politicamente, para que haja um aumento do saber do enfermeiro.

            Sobre a participação política, fica claro que todos participam, a grande maioria de forma legal, ou seja, votando, porém demonstram uma importante vontade de participar sempre, alegando que votariam mesmo que isso não fosse obrigatório. Isso nos leva a crer que o estudante tem interesses que vão além do conhecimento da profissão de enfermagem.

            Para compreender o conservadorismo ou a predisposição a mudança, utilizamos a estratégia de apresentar frases aos estudantes e pedir suas opiniões. Ficou claro que a predisposição à mudança só não impera pelo fato de muitos dos estudantes já estarem descrentes quanto aos governantes brasileiros e suas deprimentes atuações no exercício do poder.

            Quanto à enfermagem e a formação do ser sócio-político, sabemos que as reformas curriculares do ensino de enfermagem têm procurado considerar as demandas do mercado de trabalho e transformações ocorridas no setor saúde como desafios na formação de marcos referenciais e conceituais de seus currículos (10-11). Porém, além disso, é necessário construir uma formação criadora de identidade e representatividade visível às diversas esferas sociais e, desta forma, alcançar o reconhecimento da profissão e reconstruir as exigências sociais que nos sustentam (12). A Enfermagem é uma profissão exercida por profissionais com diferentes níveis de formação, e os de nível superior constituem uma parcela considerável da força de trabalho no segmento (13). O ensino é um momento privilegiado de construção do saber a fim de estimular a consolidação de um corpo de conhecimento próprio da enfermagem, repercutindo na identidade do enfermeiro (14). Quando os estudantes reconhecem que a participação política pode interferir positivamente na formação e que o estudo sobre política na graduação é importante, acreditamos que esses futuros profissionais estarão mudando a profissão da enfermagem positivamente, tornando-se seres críticos, conscientes e com grande visão de mundo, o que poderá melhorar a assistência de enfermagem e torna-la mais justa, igualitária e de melhor qualidade.

Considerações Finais

            Depreendemos neste estudo que o graduando consegue definir o que é fazer política, apesar de nem sempre tomar para si a responsabilidade de executá-la. Percebem diferentes cenários na execução da política, que vão desde a comunidade ao Estado. Os estudantes têm pequeno e médio interesse pela política. A maioria dos entrevistados não participa ativamente, entretanto exercem o direito do voto e continuariam exercendo mesmo se não fosse obrigatório.

            A maior parte demonstra predisposição à mudança enquanto a outra se mostra conservadora. Percebemos nas respostas nuances de conservadorismo em um contexto ampliado de predisposição à mudança. Chama a atenção o fato de a maioria defender que o povo não sabe votar e escolher corretamente seus governantes. No nosso entendimento, dado o contexto histórico e político do país nesses dois últimos anos marcado por denúncias de corrupção pouco punidas, fica difícil afirmar que essa postura representa conservadorismo, uma vez que pode significar descrença no atual quadro legislativo e executivo brasileiro.

            No que diz respeito à relação entre a participação política e a enfermagem, os estudantes reconhecem a importância da atuação política no movimento estudantil, apesar de não exercê-la junto aos órgãos representativos. Defendem o estudo sobre política na graduação, entretanto não definem o espaço em que deva ocorrer.

            Isso posto, cremos que o problema não está na falta de interesse estudantil pelas questões políticas e sim na ausência de conhecimento e motivação. No nosso entendimento, o conhecimento é possível de ser disseminado por meio de oficinas, debates, aulas, entre outras atividades. A motivação por sua vez é intrínseca ao seres, portanto depende da crença de que a mudança é possível.

Referências

1.       Weber M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo (SP): Cultrix; 1967.

2.       Pizzorno A. Introduccion al estudio de la participacion politica: Participación y cambio social en la problemática contemporánea. Buenos Aires: Siaps-Planteos; 1975.

3.       Hirschman AO. De consumidor a cidadão: atividade privada e participação na vida pública. São Paulo (SP): Brasiliense; 1983.

4.       Germano RM. Educação e ideologia da Enfermagem no Brasil. São Paulo (SP): Cortez; 1983.

5.       Silva GB. Enfermagem profissional: análise crítica. São Paulo (SP): Cortez; 1986

6.       Freitas MIF, Nascimento ES. A enfermagem no século XXI: visão dos enfermeiros. REME – Rev. Min. Enf. 1997; 1(1):2-7.

7.       Avelar LM. O voto feminino no Brasil [tese de doutorado]. São Paulo: PUC/SP; 1985.

8.       Ministério da Saúde (B.R.). Resolução no 196/96: sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP; 1996.

9.       Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3ª ed. São Paulo/ Rio de Janeiro: HUCITEC/ ABRASCO; 1994.

10.   Nascimento ES, Santos GF, Caldeira VP, Teixeira VMN. Formação por competência do enfermeiro: alternância teoria-prática, profissionalização e pensamento complexo. Rev Bras Enferm. 2003; 56(4):447-52.

11.   Witt, RR, Almeida MCP. Competência dos profissionais da saúde no referencial das funções essenciais de saúde pública: contribuição para a construção de projetos pedagógicos na enfermagem. Rev Bras Enferm. 2003; 56(4):433-8.

12.    Pai DD, Schrank G, Pedro ENR. O enfermeiro como ser sócio-político: refletindo a visibilidade da profissão do cuidado. Acta Paul Enferm. 2006; 19(1): 82-7.

13.    Silva RVA, Bezerra CP, Joça MT, Alves MDS, Leitão GCM. The care as a conceptual mark for dissertations and theses of a graduate program: a bibliographic review. Online Braz J Nurs [Online] 2006; 5 (2) Available at:  http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=466&layout=html

14.   Stedile NLR. Ensino de enfermagem: momento privilegiado de construção do conhecimento. Acta Paul Enferm 2002; 15(3):79-86.

 

Apoio financeiro à pesquisa: Pibic/Cnpq 2005/2006

Contribuição dos autores: Ambos os autores contribuíram com a pesquisa, sendo Ana Cristina Passarella Brêtas orientadora e Roberta Soares Sarlo orientanda responsável pela realização dos processos da pesquisa.

Endereço para correspondência: Roberta Sarlo. Rua João Gomes Jr,, 162 Jd. Bonfiglioli CEP: 05592-000 São Paulo, SP – Brasil. e-mail: robertinha65@yahoo.com.br

Received Oct 24th , 2006
Revised Nov 3rd, 2006
Accept Dec 3rd,  2006