Objetivo: Analisar o envolvimento de trabalhadores pré-aposentados de uma universidade pública com ações favoráveis ao planajemento da aposentadoria. Método: Estudo transversal, quantitativo, analítico, realizado em uma universidade estadual pública localizada no norte do estado do Paraná. A amostra foi constituída por 293 indivíduos que se encontravam em fase de pré-aposentadoria. A coleta de dados foi realizada entre novembro de 2014 a abril de 2015, por meio da Escala de Mudança em Comportamento de Planejamento da Aposentadoria. Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva, regressão linear simples e múltipla. Resultados: Possuir um parceiro e participar de cursos de aperfeiçoamento profissional contribuiu para o maior envolvimento dos trabalhadores com ações favoráveis à aposentadoria, enquanto ter dependentes financeiros esteve associado ao menor interesse. Conclusão: Gestores devem conhecer as características que influenciam o envolvimento dos trabalhadores com atividades favoráveis ao planejamento da aposentadoria e estimular a participação em ações de preparação.
Descritores: Envelhecimento; Aposentadoria; Saúde do Trabalhador; Enfermagem.
O envelhecimento populacional tem evoluído de forma acelerada nos últimos anos, situação que contribuiu para uma maior preocupação dos gestores das instituições laborais em relação às alterações físicas, sociais, culturais e psíquicas que devem ser gerenciadas pelos indivíduos que vivenciam tal processo, bem como por aqueles que o cercam(1). Dentre essas mudanças está o encerramento das atividades laborais, representado pela aposentadoria(2).
A aposentadoria pode assumir diferentes significados para os trabalhadores, sendo desejada por aqueles que possuem trabalhos com elevado nível de exigência física e mental, compreendida como uma forma de descanso. Em contrapartida, os indivíduos que atribuem valores positivos às atividades laborais tendem a apresentar menor estresse frente à aproximação da tomada de decisão(2).
Diante da diversidade de sentimentos que podem ser experimentados pelos trabalhadores, ressalta-se que o planejamento para a aposentadoria deve ser estimulado desde o início das atividades laborais, pois quanto melhor preparado estiver menor a possibilidade de não se adaptar ao desligamento(3). Assim, a participação em grupos e ações que promovam o envolvimento com ações favoráveis pode contribuir para que a tomada de decisão ocorra de forma planejada e desejada pelo pré-aposentado.
A fim de analisar os comportamentos dos trabalhadores em relação à aposentadoria, pesquisadores(4) elaboraram, em 2014, a Escala de Mudança em Comportamento de Planejamento da Aposentadoria (EMCPA). Esse instrumento, composto por 15 itens, objetivou mensurar o envolvimento do pré-aposentado com ações favoráveis à aposentadoria(4).
Nesse contexto, torna-se importante refletir sobre o envolvimento dos trabalhadores com ações favoráveis ao planejamento da aposentadoria, de forma a compreender como esses indivíduos tem se preparado para o desligamento laboral. Além disso, por se tratar de uma temática pouco explorada na área da enfermagem, este estudo fornece subsídios para a atuação de enfermeiros nos Programas de Preparação para a Aposentadoria.
Diante disso, este estudo teve como objetivo analisar o envolvimento de trabalhadores pré-aposentados de uma universidade pública com ações favoráveis ao planejamento da aposentadoria.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, analítica, transversal, realizada em uma universidade estadual pública localizada no norte do estado do Paraná. A amostra de estudo foi constituída por 293 indivíduos que se encontravam em pré-aposentadoria, seja por idade ou tempo de serviço, definida por probabilística aleatória a partir de 1.312 servidores que se enquadravam nos critérios de inclusão do estudo. No entanto, durante a coleta de dados, as instituições públicas do estado do Paraná entraram em greve devido a possíveis alterações nos fundos previdenciários dos servidores públicos estaduais, por essa razão a coleta de dados foi suspensa, obtendo-se uma amostra de 164 indivíduos(5).
Os critérios de inclusão definidos foram: trabalhadores que se enquadravam na Lei previdenciária nº 8.213/1991 e na emenda constitucional brasileira 41/2003, que dispõem sobre a aposentadoria por idade. Essas asseguram o direito do homem de se aposentar a partir dos 65 anos e o das mulheres a partir dos 60 anos, além de resguardar o direito a aposentadoria a mulheres com 55 anos e 30 anos de trabalho e homens com 60 anos e 35 anos de trabalho, respectivamente. Excluíram-se do estudo trabalhadores que estavam em férias ou licença durante o tempo da coleta de dados, ou os que não retornaram contato após três tentativas(6-7).
A coleta de dados foi realizada entre novembro de 2014 a abril de 2015, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Utilizaram-se dois instrumentos: um formulário composto por variáveis sociodemográficas e ocupacionais (sexo, idade, situação conjugal, categoria profissional, tempo de atuação na instituição, entre outros) e a EMCPA, desenvolvida e validada no Brasil, que inclui 15 ações favoráveis para o trabalhador se adaptar ao desligamento laboral(4).
Para análise dos dados, realizou-se a dupla digitação no banco de dados do programa de análise estatística Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 20.0. A fim de verificar a associação entre os dados sociodemográficos e ocupacionais ao envolvimento com ações favoráveis à aposentadoria, realizou-se a regressão linear simples, seguida pela regressão linear múltipla, adotando o nível de significância de 5% (p<0,05) e intervalo de confiança de 95%.
O estudo foi realizado de forma a garantir o cumprimento dos preceitos da lei brasileira sobre pesquisa envolvendo seres humanos e obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos de uma universidade púbica, conforme Parecer nº 115/2014.
Dentre os 164 trabalhadores, 109 (66,5%) eram técnicos e 55 (33,5%) eram docentes, dos quais 42 (25,4%) eram homens. A faixa etária variou de 49 a 69 anos, com 90 (54,9%) trabalhadores entre 49 e 59 anos e uma média de idade de 58,4 anos, com desvio padrão de 4,5 anos, conforme tabela 1.
Tabela 1 - Caracterização sociodemográfica e ocupacional de trabalhadores pré-aposentados de uma universidade estadual pública. Paraná, Brasil, 2015. (n=164)
Por meio da realização da análise de regressão linear simples, identificou-se que os trabalhadores com maior nível de escolaridade possuíam mais interesse em praticar ações favoráveis à adaptação para a aposentadoria (β= 0,152; p= 0,05). Os indivíduos que realizavam cursos de aperfeiçoamento profissional demonstraram estar dispostos a realizar ações favoráveis à aposentadoria (β= 0,286; p= 0,00).
Os trabalhadores que participavam de cursos de aperfeiçoamento profissional apresentaram maior interesse em atividades de preparação à aposentadoria em investimento ocupacional social (β= 0,270; p= 0,000), ou seja, participar de ações religiosas, cultivar novas amizades ou atividades comunitárias. Enquanto aqueles que possuíam parceiros mostraram-se mais propensos a praticar ações de autonomia e bem-estar (β= 0,241; p= 0,002), como atividades físicas regulares, passar mais tempo com a família e dedicar-se a relação com o cônjuge.
Além disso, os trabalhadores com maior escolaridade (β= 0,181; p= 0,020) ou que realizavam cursos de aperfeiçoamento profissional (β= 0,195; p= 0,012) demonstraram-se interessados em manter atividades vinculadas à sua autonomia e ao bem-estar para a preparação à aposentadoria. Em contrapartida, os indivíduos que possuíam dependentes de sua renda apresentaram menor interesse em atividades ocupacionais e sociais, como realizar investimentos financeiros para o futuro, praticar atividades de lazer ou realizar exame e consultas médicas (β= -0,155; p= 0,047).
Posteriormente à regressão linear múltipla, constatou-se que os trabalhadores envolvidos em cursos de aperfeiçoamento profissional estavam mais dispostos a realizar ações gerais favoráveis à aposentadoria (β= 0,262; p= 0,001) e ações de investimento ocupacional social (β= 0,273; p= 0,000), como realizar cursos de aperfeiçoamento profissional para iniciar uma nova carreira e dedicar-se a amizades.
Os servidores que participavam de cursos de aperfeiçoamento profissional desejavam envolver-se com ações de autonomia e bem-estar (β= 0,157; p= 0,040), isto é, ter uma alimentação mais saudável, investir tempo na convivência familiar e praticar atividades de lazer. Todavia, aqueles que tinham dependentes de sua renda demonstraram menor interesse em ações de investimento ocupacional social (β= -0,177; p= 0,022), como exposto na tabela 2.
Tabela 2 - Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados ao envolvimento de trabalhadores pré-aposentados com ações favoráveis à adaptação da aposentadoria, após regressão linear múltipla. Paraná, Brasil, 2015. (n=164)
Ressalta-se que possuir parceiros e realizar cursos de aperfeiçoamento profissional estiveram associados de forma positiva à prática de ações favoráveis à aposentadoria. Entretanto, indivíduos que possuíam dependentes de sua renda financeira apresentaram maior dificuldade para estabelecer um planejamento pós-laboral.
Diante da posição que o trabalho ocupa na sociedade atual, alguns trabalhadores enfrentam dificuldades para se desvincular e se envolver com novas atividades, fatores que podem contribuir para a não adaptação à aposentadoria, bem como para o adiamento da tomada de decisão. Dentre os motivos que levam os indivíduos a permanecer no ambiente de trabalho podem estar a preocupação com o sustento familiar, a perda do status profissional, a insegurança quanto ao futuro financeiro, a associação ao período de velhice e a consequente possibilidade de adoecer(8).
A análise de regressão linear múltipla demostrou que ter dependentes financeiros não favorece o envolvimento dos trabalhadores com ações favoráveis à adaptação da aposentadoria. Ao considerar que, atualmente, muitos pré-aposentados chefiam suas famílias, o interesse em praticar tais ações se torna ainda mais necessário, uma vez que ao planejar a saída do trabalho poderão minimizar a insegurança em relação ao futuro financeiro e ao sustento de seus familiares(9-10).
Neste estudo, possuir um parceiro influenciou positivamente o envolvimento dos trabalhadores com ações relacionadas à sua autonomia e bem-estar. Esse resultado pode estar associado ao fato de que o casal tende a se aproximar durante o período de aposentadoria, partilhar tarefas domésticas e de lazer, consideradas por muitos como ganhos da aposentadoria(11-12).
Esses resultados reforçam a afirmativa de que a família representa um fator de proteção para os indivíduos em fase de preparação à aposentadoria. Isso ocorre principalmente porque os relacionamentos com os amigos costumam se restringir ao ambiente laboral, assim, a família se torna o primeiro e o principal vínculo social dos trabalhadores pré-aposentados(13).
Com o passar dos anos, os indivíduos tendem a valorizar mais intensamente a interação com amigos e familiares que, em longo prazo, pode contribuir para o desenvolvimento de experiências positivas no bem-estar subjetivo entre esse grupo. Assim, observa-se a importância dos recursos sociais e das relações familiares para adaptação a esse momento de vida(14).
O processo de envelhecimento, que acompanha a aposentadoria, aumenta a preocupação com a manutenção da saúde e com o bem-estar desses indivíduos. Nesse sentido, a família assume posição central como ponto de apoio, sendo comum que os membros envolvam-se nas questões relacionadas aos cuidados de saúde, com contribuições positivas para a compreensão das mudanças decorrentes do envelhecer(15).
É necessário que os trabalhadores em fase de pré-aposentadoria consigam enxergar a necessidade de buscar atividades extras laborais, como hobby e atividades físicas. Essas auxiliam a superar a fase de transição, amenizando os sentimentos ambivalentes que a aposentadoria pode acarretar, como o desejo de continuar trabalhando para amenizar as crises financeiras(16).
Quando se evocam os sentimentos que a aposentadoria traz, alguns trabalhadores podem sentir medo de adoecer e perder a saúde mental. Assim, para evitar que isso ocorra, buscam o suporte em atividades físicas, intelectuais ou profissionalizantes. Dentre essas ações está o desejo de aprender uma nova profissão ou aperfeiçoar-se na própria área, como identificado neste estudo(17-18).
Ainda, manter o aperfeiçoamento profissional ou realizar cursos para buscar uma nova profissão também contribuíram para o bem-estar dos trabalhadores. Essa percepção pode estar associada ao fato dos indivíduos permanecerem inseridos em um contexto social, além de qualificá-los caso queiram trabalhar com carga horária reduzida, como um planejamento para o futuro(19).
Destaca-se que, atualmente, observa-se a tendência em investigar os fatores que influenciam o envelhecimento bem-suscedido, sendo que manter-se ativo e produtivo no meio social são apontados como fatores benéficos no alcance de tal objetivo. Este modelo tem desafiado as expectativas anteriores de que a partir de uma idade fixa os indivíduos abandonariam suas ativiadades laborais e passariam a depender unicamente de suas pensões(20).
Portanto, percebe-se que o ato de envelhecer é uma questão multifatorial na qual as variáveis sociodemográficas e ocupacionais podem influenciar de forma positiva ou negativa. Faz-se necessário identificar os fatores que atuam como proteção e contribuem para a mudança de comportamento para a aposentadoria, bem como aqueles que prejudicam o envolvimento do trabalhador com ações favoráveis(4).
Observou-se que o fato de possuir um parceiro e participar de cursos de aperfeiçoamento profissional contribuiu para o maior envolvimento dos trabalhadores com ações favoráveis à aposentadoria, enquanto ter dependentes financeiros esteve associado ao menor interesse. Diante disso, ressalta-se a importância de os gestores institucionais atentarem para trabalhadores com tais características, sobretudo aqueles que sustentam suas famílias, estimulando-os a aderir atividades que favoreçam o processo de desligamento laboral.
Compreender os fatores que influenciam o envolvimento dos trabalhadores com ações favoráveis à adaptação ao desligamento do trabalho deve ser uma das premissas do plano gestor das instituições. A não adaptação a essa fase pode trazer sofrimento pessoal, familiar e social e até mesmo psíquico ao indivíduo pré-aposentado, com reflexos sobre seu bem-estar.
Ao pesquisar a temática da aposentadoria, busca-se solidificar o conhecimento científico na área de saúde do trabalhador, impulsionando novas pesquisas e métodos de resolução assertivos para o bem-estar dos indivíduos. Destaca-se como limitação do estudo a greve que ocorreu no estado do Paraná no período de coleta de dados. Não obstante, os dados obtidos mostraram-se pertinentes e condizentes à literatura, o que reforça sua validade científica.
Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a matéria em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf
Recibido: 19/03/2017 Revisado: 18/09/2018 Aprobado: 18/09/2018