Course for pregnant mothers: educational action from co-responsibility standpoint. A descriptive study

Curso para gestantes: ação educativa na perspectiva da co-responsabilide

 

Maysa Oliveira Rolim1, Tereza Maria Magalhães Moreira2, Geordany Rose Oliveira Viana3

 

1. Secretaria de Saúde de São Gonçalo do Amarante, CE, Brasil, 2. Universidade Estadual do Ceará, CE, Brasil; 3. Secretaria de Saúde de Fortaleza, CE, Brasil

 

Abstract. Educational activity comprises an indispensable aspect of health care. However, insufficient practice of such actions is observed in the day-to-day of public health. In care for women, courses for pregnant mothers are offered, yet these are performed in a vertical manner. In view of this framework, this study sought to evaluate the effectiveness of a course for pregnant women, offered from a co-responsibility standpoint, at a Basic Family Health Care Unit in São Gonçalo do Amarante/Ceará. Nine expecting mothers constituted the subjects of the study, with data collected in interviews conducted between January and July 2006. It was found that issues related to breastfeeding, baby care and sexuality during gestation were the most covered. The pregnant women were found to be satisfied with the course, it being considered essential that this population have access to Health Education.

Key-words: Pregnant women, Health education, Prenatal care 

Resumo. A atividade educativa constitui uma parte indispensável das ações de saúde. Observa-se, contudo, a prática insuficiente dessas ações no cotidiano da saúde pública. Na assistência à mulher, são desenvolvidos cursos às gestantes, todavia realizados de maneira verticalizada. Diante desse contexto, este estudo teve como objetivo geral avaliar a eficácia de um curso para gestantes, desenvolvido na perspectiva da co-responsabilidade, em uma Unidade Básica de Saúde da Família em São Gonçalo do Amarante/Ceará. Nove grávidas constituíram os sujeitos do estudo, sendo os dados coletados em entrevista, entre janeiro e julho de 2006. Depreendeu-se que aspectos relacionados à amamentação, aos cuidados com o bebê e à sexualidade na gestação foram os mais compreendidos. Percebeu-se satisfação das gestantes com o curso, sendo fundamental a Educação em Saúde junto a essa clientela.

Palavras-chaves: Gestantes, Educação em Saúde, Cuidado Pré-Natal.

 

Introdução

A prática educativa constitui parte indispensável das ações de saúde, em especial nas unidades básicas, que, em geral, desenvolvem o Programa de Saúde da Família (PSF).

O que se pode notar, contudo, atualmente, em várias rotinas de serviços de saúde da atenção primária é a pouca prática de atividades de Educação em Saúde voltadas ao coletivo, dando-se prioridade, por diversos motivos, aos atendimentos individuais, limitados ao espaço físico de uma sala de atendimento.  

Em um estudo desenvolvido em unidades básicas do Estado do Ceará, identificou-se o quanto é baixa a freqüência das atividades de Educação em Saúde desenvolvidas pelas equipes do PSF, e que, quando as equipes as realizam, fazem-nas de maneira verticalizada, com temas prontos, permitindo pouca ou nenhuma interação com a clientela1.

Esse déficit de oferta de atividades de Educação em Saúde muitas vezes é justificado pelos profissionais como sendo oriundo da insuficiente quantidade de equipes de saúde, do predomínio do modelo tradicional curativo, ausência ou inadequação de local para o desenvolvimento das atividades de Educação em Saúde, disponibilização insuficiente de material de apoio e pelo despreparo e desmotivação desses profissionais.

No âmbito da assistência pré-natal, o processo educativo restringe-se ao fornecimento de informações sobre alguns aspectos relacionados com a gravidez, parto e cuidados com o bebê durante a consulta realizada pelo profissional de saúde.

Como a consulta é o principal momento de interação das mulheres com os profissionais, a ação educativa fica embutida nas práticas voltadas à detecção e controle de fatores de risco biológicos.

Ainda que sejam inegáveis a maior atenção e o desejo crescente das equipes de Saúde da Família (ESF) em desenvolver atividades de Educação em Saúde nos atendimentos de pré-natal, via de regra, as gestantes não são encorajadas à troca de experiências e opiniões, expressando-se pouco e quase sempre indagando com o intuito de esclarecer dúvidas suscitadas pela exposição, deixando claro que ainda predomina a difusão unilateral de informações2.

Dessa maneira, este estudo teve como objetivo geral: avaliar a eficácia de um curso para gestantes, desenvolvido na perspectiva da co-responsabilidade, em uma Unidade Básica de Saúde da Família em São Gonçalo do Amarante/Ceará e como objetivos especificos: averiguar a aprendizagem das gestantes acerca das orientações realizadas no curso; investigar a opinião das gestantes acerca da repercussão do curso em sua vida e sobre a necessidade ou não de continuidade deste.

 Metodologia

Trata-se de uma pesquisa descritiva, realizada em uma unidade básica de Saúde da Família (UBASF) do Município de São Gonçalo do Amarante - Ceará, no período de janeiro a julho de 2006.

O curso desenvolvido na Unidade é composto por quatro módulos, nos quais são abordados os seguintes temas: módulo 1 - Processo gravídico-puerperal e saúde bucal na gestação; módulo 2 - Parto; módulo 3 - Aleitamento materno; módulo 4 - Cuidados com recém-nascido. Cada módulo tem duração de três horas, sendo desenvolvido no turno da tarde e um módulo a cada semana.

São utilizados, durante o curso, os seguintes recursos: vídeos, álbuns seriados e atividades lúdicas, como confecção de calendários, usando as temáticas abordadas no módulo, dinâmicas, aulas práticas das técnicas de cuidados com o recém-nascido, amamentação, entre outros recursos de ensino, que dependem da criatividade e disponibilidade do profissional que ministra o módulo.

A população do estudo constituiu-se por vinte gestantes atendidas no Programa de Pré-Natal desenvolvido na unidade em evidência. Nove grávidas foram os sujeitos do estudo, que obedeceram aos critérios de inclusão: gestantes que compareceram a no mínimo três módulos do curso, presentes no momento da pesquisa e que se dispuseram a desta participar.

A coleta dos dados foi realizada por meio de um roteiro de entrevista semi-estruturado, composto por perguntas de identificação: nome, idade, número de gestações e abortos, paridade, escolaridade, estado civil, renda familiar, e por questões norteadoras, a saber: o que você aprendeu durante este curso? Mudou algo na sua vida depois que você participou desse Curso? Você acha que o curso deveria continuar acontecendo?

As entrevistas foram gravadas, com o consentimento das informantes, sendo realizadas ao término do quarto módulo. Após a transcrição completa das entrevistas, seguiu-se o Método da Análise de Conteúdo, de Bardin3, sendo as falas categorizadas por similitude em unidades temáticas.

Nesta pesquisa, foram respeitados os preceitos éticos e também legais a serem seguidos nas investigações envolvendo seres humanos, conforme preconiza a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde4.

Para tanto, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará (UECE), tendo obtido parecer favorável à realização da pesquisa, e ainda, para apreciação do Secretário de Saúde do Município, que autorizou o desenvolvimento do estudo. 

Discussão

Quanto ao perfil sócio demográfico da amostra, a faixa etária variou entre 15 a 40 anos. Das nove grávidas, oito possuem o Ensino Fundamental incompleto, sete possuem renda familiar menor do que um salário mínimo, quatro eram primigestas e  sete são casadas.

Os sujeitos do estudo foram assim caracterizados: a maioria (24) pertencente  ao sexo masculino, idade compreendida entre 20 - 55 anos; estado civil  casado e religião católica foram predominantes (26); escolaridade 1º grau incompleto (14); renda familiar 2 salários mínimos (11); são ocupacionais (30), sendo 15 funcionários públicos e 15 terceirizados, ambos com regime de 40 horas semanais.       

As falas das entrevistadas resultaram nas seguintes categorias em destaque: 

Eu aprendi no curso...

Nesta unidade temática, pôde-se observar que três gestantes citaram aspectos relacionados à amamentação, três relativos ao banho do bebê, duas relataram cuidados gerais com o recém-nascido, uma detalhou cuidados com o coto umbilical, uma a importância da revisão de parto e uma acerca da atenção hospitalar à puérpera. Vide falas:

 “... que a gente tem que ficar com a criança, porque na minha primeira filha eu cheguei no quarto e a menina não tava lá e só fui ver três dias depois (...)  botaram ela no berçário porque ela tinha nascido muito amarela (...) assim que ela nasceu eu nem cheguei a ver ela e já botaram ela pra lá...”(E.6)  

A respeito do Alojamento Conjunto, sabe-se que é um momento imprescindível para o fortalecimento do vínculo mãe-filho, e a quebra desse vínculo após o nascimento da criança produz um misto de sentimentos e dúvidas.

O fato de não poder pegar o bebê no colo, aconchegá-lo e embalá-lo é bastante frustrante para a mãe. Mesmo quando já é possível tocá-lo e acariciá-lo na incubadora, muitas mães se amedrontam diante dessa situação. Esse medo se justifica pela auto-estima afetada e pela falta de autoconfiança na capacidade de criar seu filho5.

“...a dar banho, banhar a criança é difícil, eu tenho medo, é muito mole, eu tenho medo de segurar (...) sobre a mama, porque eu não tinha entendido ainda porque é bom para a criança, desenvolve o cérebro da criança, desenvolve o corpo da criança, (...) e outra coisa do umbigo, eu não sabia, o povo colocava pó de café e botava óleo de coco essas coisas e eu não sabia né? que colocava álcool natural, o algodão pra pessoa limpar e ai a gente botava tudo que a pessoa ensina...”(E.8)  

“...sobre a amamentação, durante os seis meses o bebê não precisa de água nem a mamadeira, nem de chupeta, nem  de nada (...) também assim, a revisão de parto, também é outra coisa que em debate  que tem no Pré-natal (...) também que o Pré-natal não termina só quando  gente tem o bebê (...) aí eu acredito que é outra parte bastante importante, que tem mãe que quando tem o nenê não volta, mas quando tem alguém pra orientar, que fique incentivando, elas voltam sim ...”(E.9) 

“...muitas coisas até sobre a sexualidade, agora tô mais despreocupada, se acontecer alguma coisa, vejo que não tá me prejudicando (...) nos outros eu não: “não pode fazer isso que vai prejudicar o bebê, não pode fazer aquilo que pode fazer mal ao menino... “(E.6) 

É sabido que o aleitamento materno permite o crescimento e o desenvolvimento saudável de uma criança. As inúmeras vantagens demonstradas às mães, contudo, não significam que elas terão possibilidade de amamentar, visto que nos deparamos com a prática do desmame precoce. A amamentação não é vinculada apenas ao instinto materno e às vantagens biológicas e, sim, é um ato de aprendizagem, carregado de significados para a mulher6.

O cuidado educativo deve resultar da interação profissional-paciente. As informações devem ser fornecidas de forma individualizada, respeitando as necessidades e atendendo às expectativas da paciente7.

Para isso, o profissional deve despertar nos indivíduos receptores do cuidado um sentimento de competência e responsabilidade, para que o cuidado educativo não se torne uma imposição.

Neste estudo, observou-se que as gestantes aprenderam informações relevantes com o curso, estando aptas à adoção de comportamentos benéficos a sua situação de saúde. Assim, denotou-se que os profissionais atentaram para a forma como se estabelecia o diálogo, e os mecanismos utilizados para que a informação fosse transmitida de forma acessível foram válidos.

Em pesquisa realizada em Fortaleza, verificou-se que o apoio à mulher no puerpério é de total importância para uma adaptação satisfatória, sendo que o grupo de gestantes foi que serviu de apoio, pelas orientações e troca de experiências vivenciadas, o que facilitou no parto e nos cuidados pós-parto8.

Portanto, o profissional deve atentar para os discursos dos indivíduos submetidos aos seus cuidados, reportando-se ao seu contexto, pois, assim, amplia-se a maneira de obter informações relativamente à “visão de mundo” dos pacientes no seu entorno cultural, o que pode vir a encorajar o redimensionamento da sua prática profissional.

A minha vida mudou...

A respeito desta temática, notou-se que todas as gestantes referiram ter mudado algo em sua vida após participarem do curso de gestante. Ressaltaram o enriquecimento de conhecimento acerca do processo gravídico, o ganho de experiência e ainda perceberam o papel fundamental desempenhado pelo ser-mãe. Vejam os depoimentos:

 “... fiquei mais orientada porque eu não sabia de quase nada, apesar de já ter tido uma filha mas praticamente eu nem cuidei dela...”(E.2) 

“... porque eu aprendi mais a ser mãe, eu já tive quatro filhos e esse é o quinto e ai eu aprendi...” (E.1) 

Embora as falas reflitam uma repercussão positiva do curso de gestante, atualmente, é reconhecida a necessidade de transformações na dinâmica de trabalho e na interação serviço/profissional/paciente nas unidades de saúde em geral.

Nesse contexto, por meio do grupo de gestante pode-se oferecer orientações e informações adequadas, além de uma melhor qualidade na atenção à saúde mental e física da mãe e do filho.

Diante desta reflexão, os profissionais devem realizar tais atividades como uma forma de contribuir para o alcance da educação, como meta maior e, com a realização de grupos, atuar na Promoção de Saúde, tendo um impacto positivo sobre a qualidade de vida das gestantes9.

Eu acho que deve continuar sim...

Nesta unidade temática, percebeu-se que foi unanimidade o desejo de que o curso de gestante tenha continuidade. O principal motivo relatado, no entanto, foi referente às futuras mães que, adolescentes ou primigestas, não têm conhecimento nem experiência para cuidar de um filho. Nesse sentido, o curso é uma oportunidade de se tornarem mais informadas e, conseqüentemente, mais seguras para assumir o papel de mãe.

Lembra-se o fato de que pesquisadores revelam que as orientações recebidas pelas gestantes adolescentes nos postos de saúde, muitas vezes, deixam de ser praticadas, em razão da falta de sua autonomia em cuidar de seus filhos. Elas alegam que ninguém acredita no que ela sabem10.

“...principalmente pras mães de primeira viagem que não sabe cuidar de menino não...”(E.1; E.6; E.8) 

 “... porque tem mãe bem novinha que não sabe de nada, não sabe a dar valor que é um filho né?...”(E.9) 

“.... tem muita mãe que mesmo sendo primeiro, segundo sempre tem uma coisa que a gente não sabe né? sempre alguma dúvida...”(E.3) 

Dessa maneira, acredita-se que a ação educativa significa aprender a realidade do ser-mãe, associando aspectos biológicos aos sociais e culturais e às condições emocionais que se mesclam durante o processo gravídico-puerperal.

A educação enquanto proposta social não pode ser tratada com simples transmissão de conhecimentos para outrem, e fora da realidade deste. Deve instrumentalizar  indivíduos e comunidades a compreender sua realidade 11

Por fim, a adesão a novos conceitos e práticas deve ser compartilhada por todos que se preocupam em melhorar a saúde materno-infantil, pois, ao abolir a visão mecanicista, permite-se a humanização da assistência, favorecendo a saúde tanto da mãe quanto do bebê. 

Conclusão

Depreendeu-se que aspectos relacionados à amamentação, aos cuidados com o bebê e à sexualidade na gestação foram os assuntos mais bem compreendidos pelas mulheres. Ainda, se extrai a ilação de que houve coerência entre o que foi ensinado no curso e o que foi aprendido pelas gestantes, ao se observar que estas se mostraram informadas acerca dos hábitos a serem adotados.

Percebeu-se também que as gestantes demonstram satisfação com o curso desenvolvido. Por esta razão, esta pesquisa deixa evidente o fato de que é fundamental uma assistência voltada para a Educação em Saúde, com a qual as pacientes se achem seguras, receptivas e confortáveis para realmente comparecerem às consultas de acompanhamento e exteriorizarem seus conflitos internos.

Isto posto, as ações educativas e a identificação das circunstâncias de agravo à saúde são fundamentais, de modo que a técnica de grupo é uma ótima oportunidade para aprofundar discussões, ampliar conhecimentos e melhor conduzir o processo de Educação em Saúde, de sorte que as pessoas possam superar suas dificuldades, obtendo maior autonomia e podendo viver de maneira mais harmônica.   

Referências

1. Moura ERF, Sousa RA. Educação em Saúde reprodutiva: proposta ou realidade do Programa Saúde da Família? Cad. Saúde Pública 2002; 18(6): 1809-11.  

2. Feliciano KVO, Kovacs MH. As necessidades comunicacionais das práticas educativas na prevenção da transmissão materno-fetal do HIV. Rev. Bras. Saude Mater. Infant 2003; 3(4): 393-400.

3. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Persona; 1977.

4. Ministério da Saúde (BR). Resolução nº 196/96 de 10 de outubro de 1996: sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP; 1996

5. Gurgel EPP, Rolim KMC. A primeira visita da mãe à unidade de terapia intensiva neonatal: acolhimento como promoção do cuidado humano.  Rev. RENE. 2005; 6(2): 63-71.

6. Rodrigues IP, Queiroz MVO. Compreensão da vivencia materna na amamentação. Rev. RENE 2005; 6(2): 9-17.

7. Martins M, Zagonel IPS. A transição de saúde-doença vivenciada por gestantes hipertensas mediada pelo cuidado educativo de enfermagem. Texto Contexto Enferm 2003; 12(3): 298-306.

8. Eduardo Torres KG, Barbosa RCM, Antero, MF, Pinheiro, AKB. Vivenciando o puerpério: depoimento de mulheres. Rev. RENE 2005; 6(2): 26-31.

9. Ziegel EF, Cranley MC. Enfermagem obstétrica. 8 ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan; 1985

10. Barroso LMM, Victor JF. Qualidade dos serviços ao cliente e dos serviços de apoio em unidade básica da saúde da família. Rev. RENE 2003; 4(1): 24-9.

11. Santos AS. Educação em saúde: reflexão e aplicabilidade em atenção primária à saúde. Online Braz J of Nurs  [online]. 2006; Aug 5(2). [Acesso em 8 out 2006]; Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=591 .

 

Endereço para correspondência. Rua Juazeiro do Norte 199 apt 201, Meireles CEP: 60165-110. Fortaleza/Ceará/Brasil

Recebido:  Oct 22th, 2006
Revisado: Nov 19th, 2006
Aceito: Nov 24th, 2006