RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES

Qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/aids: estudo transversal


Rodrigo Leite Hipolito1, Denize Cristina de Oliveira2
1Universidade Federal Fluminense
2Universidade do Estado do Rio de Janeiro

RESUMO

Objetivo: analisar a qualidade de vida (QV) e suas representações em momentos distintos de diagnóstico. Método: estudo descritivo, transversal, com amostra estratificada pelo tempo de diagnóstico composta por 100 pessoas soropositivas de serviço especializado em município da baixada litorânea fluminense. Utilizaram-se formulários sociodemográfico e de saúde, seguido pelo WHOQOL-HIV Bref e entrevista semiestruturada. Empregou-se análise estatística descritiva e inferencial. A análise lexical foi operacionalizada pelo software Alceste. Resultados: a percepção da QV foi intermediária em todos os domínios, bem como os conteúdos da representação da QV apontaram para a hipótese de representação não autônoma em relação à representação social da aids. Conclusão: constatou-se um perfil representacional da qualidade de vida tendente para aspectos positivos e de ressignificação, apoiados nas novas simbologias atribuídas ao objeto aids. É necessário considerar a satisfação com a saúde e o maior tempo de diagnóstico no domínio físico como aspectos pertinentes ao cuidado de enfermagem.

Descritores: Qualidade de Vida; Vírus da Imunodeficiência Humana; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; Enfermagem.


INTRODUÇÃO

As inúmeras conquistas no campo HIV/aids têm contribuído para o seguimento do tratamento, a redução das taxas de morbimortalidade e a diminuição do número de internações, proporcionando aumento da qualidade de vida (QV) das pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA)(1).

OBJETIVO

Analisar a qualidade de vida e suas representações em momentos distintos de diagnóstico entre pessoas que vivem com HIV/aids. O estudo foi apoiado na Teoria das Representações Sociais (TRS) associada ao constructo da QV.

MÉTODO

Estudo transversal, com abordagem quantitativa e qualitativa, desenvolvido em um Programa de DST/aids e Hepatites Virais de um município do Norte Fluminense. A amostra foi estratificada contando com 50 pessoas com tempo de diagnóstico de até seis meses e outras 50 com mais de seis meses. A coleta de dados se deu por meio da aplicação de um questionário de caracterização socioeconômica e clínica, do instrumento WHOQOL-HIV-Bref e de entrevistas semiestruturadas, durante o período compreendido entre maio de 2013 e janeiro de 2014. Todos os sujeitos responderam aos dois primeiros instrumentos, e para as entrevistas foi constituída uma subamostra de 40 pessoas igualmente distribuídas em dois grupos, de acordo com o tempo de diagnóstico. A análise dos dados aconteceu por meio de estatística descritiva e inferencial utilizando o software SPSS 17.0. A análise das representações sociais foi apoiada pelo software Alceste 4.10. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), nº 073/2012 e código de protocolo nº 066.3.2012.

RESULTADOS

O grupo estudado caracterizou-se igualitariamente entre os sexos, com orientação religiosa evangélica (36%); média de idade de 37,6 anos, residente no município de tratamento (89%); escolaridade fundamental e média incompleta (48%); empregada (65%); com renda pessoal média de R$ 1.077; tempo de diagnóstico menor que quatro anos (68%); em uso de terapia antirretroviral (74%) e com tempo de uso de terapia antirretroviral menor que quatro anos (52%).

Os resultados da análise da qualidade de vida demonstraram que os escores dos domínios espiritualidade/religião/crenças pessoais (14,61) e relações sociais (14,52) apresentaram as maiores médias brutas dentre aquelas com tendência positiva de avaliação. As médias mais baixas recaíram nos domínios nível de independência (13,77) e meio ambiente (13,29).

A representação da qualidade de vida revelou-se constituída por conteúdos associados às expectativas futuras, qualidade de vida frente ao diagnóstico, enfrentamento, uso do antirretroviral, transmissão e prevenção.

DISCUSSÃO

Considerando que os domínios físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade (excetuando o domínio nível de independência) estabeleceram associação estatística significante com categorias de variáveis relacionadas a emprego e renda, chamam atenção para a importância do contexto econômico na interpretação da QV. Esses resultados vão ao encontro dos estudos que avaliam a QV, comprovando existir uma relação direta de melhores escores e maior poder econômico(2-3). Torna-se evidente a necessidade de aumentar a independência financeira das PVHA, contribuindo com a diminuição dos estigmas que tanto interferem na empregabilidade, assim como a melhoria do nível educacional, que geraria maior potencial para o indivíduo se inserir no mercado de trabalho.

A dimensão física, nas análises do WHOQOL-HIV-Bref, foi associada de forma limítrofe àqueles com tempo de diagnóstico acima dos 16 anos, levando a crer que o bom estado de saúde dos entrevistados (ensejado pelo uso da terapia antirretroviral - TARV), o movimento de ressignificação da doença perante a espiritualidade, o apoio recebido dos profissionais integrantes da equipe multidisciplinar e, por fim, melhores condições financeiras tenham sido determinantes na reorientação de expectativas e projetos de vida futuros(4).

Em suma, grande parte dos resultados analisados caracterizou-se pela transição de significados negativos para positivos associados ao HIV/aids, com a introdução da possibilidade de convivência com a doença. Pode-se sugerir um processo de naturalização da síndrome como resultado de sua ancoragem recente em doenças crônicas(2,5).

CONCLUSÃO

Ponderando os resultados obtidos, conclui-se que o grupo estudado apresentou nível intermediário de QV geral compatível com o referido pela OMS, assim como um perfil de representação social da QV tendencioso para aspectos positivos e de ressignificação da doença, apoiados ou ancorados nas novas simbologias atribuídas ao objeto aids.


REFERÊNCIAS

  1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico: aids e DST, ano IV, n° 01, até semana epidemiológica 26ª. Brasília, DF, 2015.
  2. Costa TL, Oliveira DC. Quality of life of people with human immunodeficiency virus and interiorization: multidimensional assessment. J Nurs UFPE. 2013; 7(10):5866-75.
  3. Samson-akpan PE, Ojong, IN, Ella R, Edet OB. Quality of life of people living with HIV/AIDS in Cross River, Nigeria. Internat. J. Med. Biomed. Res., 2013(2)3:207-212.
  4. Okuno MFP, Gomes AC, Meazzini L, Scherrer JG, Belasco JD, Belasco AG. Quality of life in elderly patients living with HIV/AIDS. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2014;(30)7:1551-1559.
  5. Oliveira DC. Construction and transformation of social representations of Aids and implications for health care. Rev. Latino-am. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 21, n. esp., p. 276-286, 2013.

Resumo extraído da tese intitulada “Qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV/AIDS no município de Rio das Ostras” desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Data da defesa: 24 de dezembro de 2015 Banca: Denize Cristina de Oliveira (orientadora), Eliane Ramos Pereira, Tadeu Lessa da Costa, Sergio Corrêa Marques, Antonio Marcos Tosoli Gomes.

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

Recebido: 09/27/2016 Revisado: 12/10/2016 Aprovado: 12/10/2016