NOTAS PRÉVIAS

Ideação suicida entre travestis e transexuais: estudo analítico e das representações sociais


Glauber Weder dos Santos Silva1, Romeika Carla Ferreira de Sena1, Suerda Lillian da Fonseca Lins1, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda1
1Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO

Objetivo: analisar a associação entre ideação suicida suicídio e fatores de risco para suicídio e suas representações sociais na vida de travestis e transexuais. Método: estudo com abordagem quantitativa do tipo analítica e qualitativa do tipo exploratória, desenvolvido com travestis e transexuais associados a uma organização não governamental do Rio Grande do Norte, por meio de entrevista semiestruturada. Os dados quantitativos serão analisados por estatística inferencial com aplicação dos testes qui-quadrado, Mann Whitney e correlação de Pearson. Os qualitativos serão interpretados por análise de conteúdo e das representações sociais. Resultados esperados: busca-se identificar ideação suicida, estado depressivo e representações sociais sobre o suicídio para travestis e transexuais, principalmente no que concerne à promoção da saúde mental por meio da identificação de fatores de risco e signos para o suicídio, redução de danos nas experiências vivenciadas no trânsito do gênero, e prevenção em saúde nos aspectos sociocognitivos que cercam o fenômeno.

Descritores: Atenção à Saúde; Pessoas Transgênero; Saúde Mental; Suicídio.


SITUAÇÃO-PROBLEMA E SUA SIGNIFICÂNCIA

Os fenômenos envolvendo depressão e ideação suicida estão cada vez mais presentes na sociedade contemporânea, caracterizando-se como um grave problema da saúde pública. Constata-se que mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo: uma pessoa a cada quarenta segundos, sendo a segunda principal causa de morte entre jovens de 15-29 anos. Projeta-se que, para 2020, mais de um milhão e meio de pessoas irão cometer suicídio no mundo e que o número de tentativas seja 20 vezes maior(1).

Indubitavelmente, para o público de travestis e transexuais, os preconceitos que lhes são atribuídos (violência familiar e extrafamiliar, abandono do sistema escolar e problemas biológicos relacionados ao processo de mudanças corporais) têm um caráter sociologizante e agravante na construção de ideação suicida(2).

Um estudo com pessoas transexuais e em trânsito de gênero realizado nos Estados Unidos evidenciou que mais de 41% da amostra (n= 6.456) já havia tentando suicídio, sendo até o momento o maior e um dos poucos estudos desenvolvido com este público(3). Dados científicos que tenham por foco a saúde mental de travestis e transexuais são ausentes, negligenciados e pouco estudados no Brasil.

QUESTÕES NORTEADORAS

Existe associação entre a ideação suicida com depressão e os fatores de risco de maior prevalência para suicídio entre o público de travestis e transexuais? Quais as representações sociais sobre suicídio que influenciam esta população a cometê-lo?

OBJETIVO GERAL

Analisar a associação entre ideação suicida e seus fatores de risco para suicídio e as representações sociais do suicídio na vida de travestis e transexuais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar e classificar os participantes quanto à presença de ideação suicida; • Identificar depressão e fatores de risco para o suicídio; • Verificar a associação entre ideação suicida, estados depressivos e fatores de risco; • Identificar as representações sociais dos participantes sobre o suicídio; • Comparar as representações sociais entre participantes com e sem ideação suicida.

MÉTODO

O presente estudo desenha-se metodologicamente como uma pesquisa de abordagem quantitativa do tipo analítica, e qualitativa do tipo exploratória, que será desenvolvido em uma organização não governamental (ONG) de travestis e transexuais do estado do Rio Grande do Norte.

A população do estudo foi constituída pelas 58 pessoas transgênero associadas à ONG colaboradora deste estudo. A amostra, por conveniência, foi determinada pela aplicação dos seguintes critérios de seleção: inclusão de maiores de 18 anos e exclusão de sujeitos que não estejam no Rio Grande do Norte ou que se associem à ONG durante a coleta de dados.

Para a coleta de dados, optou-se por adotar quatro instrumentos específicos para se alcançar os objetivos propostos que, embora distintos técnica e conceitualmente, complementam-se:

  1. Escala de Ideação Suicida de Beck (validado);
  2. Inventário de Depressão de Beck (validado);
  3. Questionário com perguntas fechadas, construído pelos autores, baseado em revisão de literatura para identificação de fatores de risco associados à ideação suicida;
  4. Entrevista semiestruturada para apreender as representações sociais.

A coleta de dados ocorreu entre março e junho de 2016, com financiamento próprio. Os dados quantitativos serão submetidos ao programa SPSS 20.0 e analisados de forma descritiva, com frequência absoluta e relativa, média dos escores das variáveis e análise inferencial nos cruzamentos das variáveis, com nível de significância estatística de p-valor < 0,05 e aplicação dos testes qui-quadrado, Mann Whitney e correlação de Pearson.

Os dados qualitativos serão preparados constituindo um corpus textual alcançado pela entrevista semiestruturada, que receberá três tipos de tratamento: análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin; análise lexical por meio do software Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte (ALCESTE); e análise de representações sociais, segundo a teoria de Serge Moscovici.

A investigação proposta é um projeto de dissertação de Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos, obtendo parecer favorável nº 1.314.559 de 09 de novembro de 2015, respeitando-se as normas e aspectos éticos preconizados pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS ESPERADOS

Busca-se identificar ideação suicida, estado depressivo e representações sociais sobre o suicídio para travestis e transexuais, principalmente no que concerne à promoção da saúde mental por meio da identificação de fatores de risco e signos para o suicídio nesse grupo, redução de danos nas experiências vivenciadas no trânsito do gênero e prevenção da saúde nos aspectos sociocognitivos que cercam o fenômeno.


REFERÊNCIAS

  1. Botega NJ. Comportamento suicida: epidemiologia. Psicol. USP [Internet]. 2014 [cited 2016 may 30];25(3):231-36. Available from: http://www.scielo.br/pdf/pusp/v25n3/0103-6564-pusp-25-03-0231.pdf
  2. Silva GWS, Souza EFL, Sena RCF, Moura IBL, Sobreira MVS, Miranda FAN. Cases of violence involving transvestites and transsexuals in a northeastern Brazilian city. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2016 jun [cited 2016 may 30];37(2):e56407. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v37n2/en_0102-6933-rgenf-1983-144720160256407.pdf
  3. Haas AP, Rodgers PL, Herman JL. Suicide attempts among transgender and gender non-conforming adults. Los Angeles, Califórnia: The Williams Institute e American Foundation for Suicide Prevention; 2014. [cited 2016 may 30] Available from: http://williamsinstitute.law.ucla.edu/wp-content/uploads/AFSP-Williams-Suicide-Report-Final.pdf

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

Recebido: 01/06/2016 Revisado: 12/08/2016 Aprobado: 12/08/2016