NOTAS PRÉVIAS

Transtornos mentais comuns em trabalhadores rurais que utilizam agrotóxicos: um estudo transversal


Pâmela Vione Morin1 ,Eniva Miladi Fernandes Stumm2
1Universidade de Cruz Alta

RESUMO

Objetivo: avaliar a ocorrência de transtornos mentais comuns em trabalhadores rurais que utilizam agrotóxicos e relacioná-los a dados sociodemográficos e clínicos. Método: pesquisa transversal, descritiva e analítica com 361 trabalhadores rurais de um município do noroeste do Rio Grande do Sul. Os dados foram coletados por meio de formulários de identificação, de dados sociodemográficos, de dados clínicos e da Escala Multidimensional SQR-20, Self-Reporting Questionnarie. Todos os aspectos éticos de pesquisa com seres humanos foram respeitados. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE 51397615.4.0000.5322. A análise dos dados será realizada por meio de estatística descritiva e inferencial. Resultados esperados: análise da ocorrência de transtornos mentais nos participantes, planejamento de cuidados com a saúde e verificação do impacto dos agrotóxicos na saúde física e mental dos trabalhadores rurais. Como profissional de saúde, os resultados obtidos podem desencadear reflexões, discussões e a implementação de ações, com impacto positivo na saúde e na qualidade de vida desses trabalhadores.

Descritores: Agrotóxicos; Saúde; Agricultura; Sofrimento Psíquico.

INTRODUÇÃO

Para aprimorar resultados, minimizar perdas, melhorar a qualidade e aumentar a produtividade, visando rentabilidade, a agricultura contemporânea aposta em diferentes tecnologias, com ênfase no elevado uso de agrotóxicos.

O Brasil é o maior produtor de alimentos no mundo e ganha destaque na produção de algodão, biocombustíveis, soja, milho, cana de açúcar, café e hortaliças. Essa produção está associada à utilização de agrotóxicos, com impacto na cadeia produtiva e na saúde do trabalhador. No contexto nacional, o estado com maior consumo de agrotóxicos é o Mato Grosso, com um percentual de 18,9%, seguido pelos estados de São Paulo (14,5%), Paraná (14,3%), Rio Grande do Sul (10,8%), Goiás (8,8%), Minas Gerais (9,0%), Bahia (6,5%), Mato Grosso do Sul (4,7%), Santa Catarina (2,1%) e 10,4% nos demais estados(1).

Nessa perspectiva, o uso indiscriminado dessas substâncias expõe de forma direta a saúde física e psíquica do trabalhador rural. Dentre os prejuízos à saúde física, destacam-se: diminuição das defesas imunológicas, anemia, impotência sexual, cefaleia, insônia, alterações de pressão arterial, distimias e diversos tipos de câncer(2). No cenário do uso de agrotóxicos e adoecimento psíquico do trabalhador rural, ressalta-se a incidência de transtornos mentais comuns. Tais transtornos podem se manifestar por meio de queixas somáticas inespecíficas como irritabilidade, insônia, nervosismo, dor de cabeça, esquecimentos, falta de concentração e fadiga. Esses sintomas ficam à margem de serem caracterizados como depressivos, ansiosos ou somatoformes por compreenderem uma ampla gama de sintomas que não se enquadram em um diagnóstico categorial, como os descritos nos manuais(3).

Frente à problemática do trabalho rural, com o uso e a exposição aos agrotóxicos, é relevante que os estudos sobre esse tema sejam aprofundados com o objetivo de conhecer a realidade desses trabalhadores, sua forma de trabalho, os cuidados com a sua saúde e o impacto desses produtos sobre sua saúde física e mental.

OBJETIVOS

O presente estudo objetiva avaliar a ocorrência de transtornos mentais comuns em trabalhadores rurais que utilizam agrotóxicos e relacioná-los a dados sociodemográficos e clínicos referidos pelos agricultores. Os seguintes objetivos específicos serão adotados:

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e analítica, de abordagem quantitativa, com 361 trabalhadores rurais que utilizam agrotóxicos, adscritos a um município de Três de Maio, RS. Os critérios de inclusão foram: ser trabalhador rural, fazer uso de agrotóxicos na lavoura em que trabalha, residir no município de Três de Maio e ter idade mínima de 18 anos. Critérios de exclusão: apresentar comprometimento cognitivo, evidenciado pela dificuldade de compreender as questões dos instrumentos de coleta de dados, identificado pela pesquisadora.

Os dados foram coletados por meio de um formulário com dados de identificação, sociodemográficos e clínicos, e dados relacionados ao uso de agrotóxicos, a cuidados com a saúde e a sintomas físicos e emocionais associados ao uso de agrotóxicos. Além deste, foi utilizado o instrumento SQR-20, Self-Reporting Questionnarie.

A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2015 a março de 2016. A análise dos dados está sendo realizada com estatística descritiva e inferencial, com auxílio do programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 17.0. Será realizado o teste p Qui-quadrado (χ2), o Coeficiente Alfa de Cronbach e testes não paramétricos (Kruskal-Walis e Mann-Whitney).

RESULTADOS ESPERADOS

Com a presente pesquisa, espera-se analisar a ocorrência de transtornos mentais comuns e os cuidados com a saúde e verificar o impacto dos agrotóxicos na saúde física e mental dos trabalhadores rurais envolvidos. Como profissionais da saúde, pretendemos desencadear reflexões acerca da temática com a finalidade de conscientizar a população por meio de ações de educação em saúde.


REFERÊNCIAS

  1. Pignati W, Oliveira NP, Silva AMC da. Vigilância aos agrotóxicos : quantificação do uso e previsão de impactos na saúde-trabalho-ambiente para os municípios brasileiros. Cien Saude Colet [internet]. 2014 [Cited 2016 Apr 9]; 19(12): 1–10. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n12/1413-8123-csc-19-12-04669.pdf
  2. Souza A de, Medeiros A dos R, Souza AC de, Wink M, Siqueira IR, Ferreira MBC, et al. Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil). Cien Saude Colet [internet]. 2011 [Cited 2016 Apr 9]; 16(8): 3519–28. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n8/a20v16n8.pdf
  3. Faria NMX, Fassa AG, Meucci RD, Fiori NS, Miranda VI. Occupational exposure to pesticides, nicotine and minor psychiatric disorders among tobacco farmers in southern Brazil. Neurotoxicology [internet]. 2014 [Cited 2016 Jun 9]; 45: 347-54. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0161813X14000837

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

Recebido: 12/05/2015 Revisado: 03/08/2016 Aprovado: 06/08/2016