Work absence by disease in a public hospital net in Minas Gerais/ Brazil

Ausências ao trabalho por motivo de doenças em uma rede de hospitais de Minas Gerais

Solange Cervinho Bicalho Godoy*, Marilia Alves*, Adelaide De Mattia Rocha*, Daniela Moreira Santana**

 

*EEUFMG/ Brasil, ** Hospital João XXIII/ MG/ Brasil

 Abstract: This research had analyzed the causes of removal of work by disease problems in a public hospital net in Minas Gerais. The given were collected from the medical file of the workers in the division attention to worker healthy, referents to 2002. Were searched 16 hospital units. Between the 4735 medical licenses identified, 65,34% were extended from 1 to 3 days, considered a short duration. As the most frequent causes: diseases in the respiratory System (16, 20%), diseases in the muscle skeptical system and connective tissue (15,21%). The units of emergency had a projection on concession of licenses. The profile of absenteeism- disease showed different for short and long duration. The licenses over 15 days are cases more complex, chronicle process, while the 3 days licenses indicates diseases less serious and of a quicker solution.

Key words:absenteeism, sick, hospital

 Resumo: Este estudo analisou as causas de afastamento do trabalho por motivo doença em uma rede de hospitais públicos de Minas Gerais. Os dados foram coletados das fichas de atendimento médico aos trabalhadores na Divisão de Atenção a Saúde do Trabalhador, relativos a 2002. Foram estudadas 16 unidades hospitalares. Entre as 4.735 licenças médicas identificadas, 65,34% estenderam-se de 1-3 dias, consideradas de curta duração. Como causas mais freqüentes: doenças do aparelho respiratório (16,20%), doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (15,21%).  Unidades de emergência se destacam na concessão de licenças. Transtorno mental resulta, geralmente, em licenças prolongadas sugerindo desgaste psíquico do trabalhador. O perfil do absenteísmo-doença mostrou-se diferente para licenças de curta e longa duração. Licenças de até 15 dias são casos mais complexos evidenciando desgaste do trabalhador e processos de cronificação. As licenças de até três dias indicam doenças menos graves e de resolução mais rápida.

Descritores: absenteísmo, doença, hospital

 INTRODUÇÃO

Nas organizações contemporâneas as pressões sobre o empregado provocam situações de risco físico e psíquico que comprometem a qualidade de vida no trabalho e, freqüentemente, levam a ausências justificadas por atestados médicos. Essas ausências, além dos custos financeiros para os empregadores, trazem dificuldades para o trabalho em equipe, decorrente da sobrecarga dos presentes e prejuízos para clientes, principalmente quando se trata de organizações hospitalares. Assim, a responsabilidade das empresas sobre o destino das pessoas, no local de trabalho, torna-se cada vez maior no sentido de criarem situações que possibilitem o aumento da satisfação e crescimento profissional do empregado, para que as metas de produtividade sejam alcançadas.

Vale ressaltar que o trabalho deveria ser considerado uma atividade criativa e prazerosa na vida dos indivíduos, que poderia favorecer o desenvolvimento das habilidades físicas e mentais, além de melhorar a qualidade de vida com base em uma remuneração adequada (1).

A singularidade das organizações de saúde tem sido destacada na literatura, particularmente dos hospitais em decorrência da alta complexidade alcançada no modelo de saúde vigente, no qual é preconizada assistência a clientes em situações de saúde cada vez mais críticas, que necessitam de respostas individuais e complexas à sua situação de saúde. Dessa forma, a organização do sistema se reflete no trabalho hospitalar exigindo novos conhecimentos atitudes e habilidades do trabalhador e, as mudanças tecnológicas nos hospitais e as exigências da clientela provocaram alterações nos processos de trabalho e novas pressões sobre os empregados, que não raro estão adoecendo e se afastando do trabalho por razões diversas.

No entanto, a atenção à saúde do trabalhador pouco tem sido incorporada às políticas de recursos humanos nos hospitais, por meio de serviços de promoção e prevenção para os  trabalhadores, além do monitoramento dos riscos a que estão expostos. As estatísticas sobre agravos sofridos pelos empregados, são inexistentes ou pouco confiáveis e se referem aos aspectos legais envolvidos, permanecendo o caráter de fiscalização das licenças médicas e dos médicos que as fornecem.

Entende-se que a forma de inserção do homem no processo produtivo é fator determinante da sua condição de saúde. No entanto, as organizações hospitalares, constituem um ambiente de risco  dadas as características do processo e  cargas de trabalho a que estão expostos, além da exposição aos riscos, físicos químicos, biológicos, ergonômicos e emocionais.

Os hospitais têm como finalidade oferecer diagnóstico e tratamento de doenças no processo de atenção à saúde da população. Esta instituição encontra-se no rol das mais importantes organizações da sociedade contemporânea, sendo muito procurada pela sociedade, pois incorpora uma tecnologia avançada no tratamento de doenças. Considerado como instituição importante para a comunidade (2) o hospital destaca-se ao exercer um papel essencial em alguns momentos fundamentais da vida das pessoas, tais como o nascimento, a doença e a morte.

Como a grande maioria das organizações da era contemporânea, o hospital, apesar de sua importância como instituição de natureza social e da evolução que vem ocorrendo na área da saúde, tem passado por uma crise de ordem financeira.

“...os baixos salários vêm piorando a qualidade de vida destes trabalhadores, levando-os a assumirem mais de um emprego o que implica em extensas jornadas de trabalho, estresse e pouco tempo para o lazer e para a família.”(Alves, 1999:01) (3).

 

Torna-se importante ressaltar que as relações entre trabalho e saúde do trabalhador conformam um mosaico que se caracteriza por, diferentes formas de organização de trabalho, que refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer do trabalhador. Considerando o processo de reestruturação produtiva a partir da década de 90, pouco se sabe sobre a influencia da adoção das novas tecnologias e métodos gerenciais sobre a saúde do trabalhador. Estes facilitam a intensificação do trabalho que, aliada à instabilidade no emprego, traz modificação no perfil de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores, podendo ocorrer aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho e elevado índice de absenteísmo por doença (4).

No entanto, pouco se sabe sobre como o trabalhador se sente frente ao trabalho em si, suas relações com colegas, chefias, sistemas de salários e benefícios. Certamente a compatibilização destas expectativas com as necessidades organizacionais, torna-se um desafio diante de obstáculos que se apresentam como longas jornadas de trabalho, condições de insalubridade do ambiente de trabalho; baixa remuneração; duplo emprego e tensão emocional. Estes obstáculos podem desencadear o absenteísmo e esta situação é preocupante, uma vez que desorganiza o serviço, gera insatisfação e sobrecarrega os trabalhadores presentes, diminuindo a qualidade da atividade realizada (5).

 Assim, os trabalhadores impossibilitados de participar das decisões em seus ambientes de trabalho, constroem procedimentos defensivos que lhes permitem a sobrevivência em um cotidiano de trabalho hostil. Entre as estratégicas para se protegerem da sobrecarga emocional e afetiva, surge o absenteísmo como forma de enfrentamento das dificuldades no cotidiano do trabalho (2).

As causas de absenteísmo, em geral, estão relacionadas aos problemas de saúde, problemas sociais e problemas relacionados ao trabalho. Refletem, portanto, um quadro de sofrimento dos trabalhadores, tanto no ambiente de trabalho quanto em suas vidas privadas, diante da impossibilidade de terem uma infra-estrutura doméstica que lhes permita sair com tranqüilidade para trabalhar. Ainda, segundo a autora, observa-se no setor saúde extensões das jornadas de trabalho, intensificação do trabalho, elevação de estresse e baixos salários que resultam, não raro, em desestímulo e alterações físicas e emocionais. Como agravante, a organização hospitalar, principalmente da rede pública, ainda utiliza modelos tradicionais de gestão que dificultam medidas de revisão dos processos de trabalho e a valorização de seu quadro de pessoal (5). Assim, os vários riscos ocupacionais do ambiente onde são realizadas as atividades separam o trabalho do contexto social (6).

O principal tipo de absenteísmo (7) está relacionado à incapacidade por doença e acidente de trabalho, abrangendo 75% ou a totalidade das ausências na indústria sendo justificado por atestados médicos de acordo com as normas legais da seguridade social, embora nem sempre se refira a doença efetivamente comprovada.

Absenteísmo-doença, geralmente, está associado a algum tipo de risco, seja ele do ambiente de trabalho ou próprio do indivíduo. Em relação aos riscos ocupacionais são classificados em riscos biológicos, físicos, químicos, mecânicos e os riscos psicossociais (8). Os riscos biológicos são explicados pelo contato freqüente dos profissionais com pacientes portadores de doenças infecciosas, infecto-contagiosas e com material contaminado por microorganismos patogênicos, provocando tuberculose, hepatite, meningite, infecção respiratória, AIDS e outros. Os riscos físicos relacionam-se com temperatura ambiental, radiação ionizante e não ionizante, ruídos e materiais elétricos, que podem causar queimaduras e câncer cutâneo. Os riscos químicos são, geralmente, provenientes de manipulação de produtos usados em esterilização e desinfecção de materiais e tratamento medicamentoso dos pacientes e podem causar dermatites, eczema e reações alérgicas. Os riscos mecânicos são decorrentes do trabalho em pé por longas horas, do levantamento de peso relacionado ao paciente ou a equipamentos, das mudanças de decúbito do paciente e condições do piso do local de trabalho provocando hérnia, fraturas, torções, contusões, lombalgia, varizes e quedas. Os riscos psicossociais são provenientes do trabalho noturno, fadiga, rodízio de turno, fragmentação e repetição de tarefas, horas extras, ritmo acelerado de trabalho e o hábito de dobrar o plantão, causando depressão, insônia, suicídio, tabagismo, consumo de álcool e drogas (6). Os riscos psicossociais são pouco estudados e as situações de tensão estão embutidas na relação trabalho-saúde-doença. Em relação aos riscos de comprometimento físico e emocional do trabalhador na organização hospitalar sabe-se que:

“... há uma extensa lista de riscos a todos  os sistemas orgânicos passando pelos problemas músculos-esqueléticos,tão freqüentes na equipe de enfermagem...mas um estudo feito nos Estados Unidos mostrou que 13% de todas os ferimentos e doenças dos trabalhadores em hospitais adivinham de esforços ou estafa...” (Barbosa,1995: 32)(9) .

No entanto, o absenteísmo-doença é pouco conhecido nas organizações hospitalares, não tem um tratamento sistematizado e, freqüentemente, sua responsabilidade recai sobre o trabalhador, evidenciando a pouca valorização dos profissionais encarregados de cuidar clientes internados. Em função dos riscos inerentes ao trabalho hospitalar, mecanismos de proteção dos trabalhadores são, cada vez, mais urgentes, mas para tal torna-se necessário conhecer a magnitude do problema para a organização adequada de serviços de atenção ao trabalhador (10).  O conhecimento do absenteísmo-doença aliado à decisão política de investir na saúde dos trabalhadores torna possível a organização de serviços efetivos, voltados para a realidade interna de cada hospital, além de ser um fator de satisfação e motivação para o trabalho. Observa-se que os profissionais mudam de empresa,  pois de uma forma em geral, as pessoas temem adoecer, valorizando as possibilidades de receberem um atendimento de saúde pela empresa em que estão inseridos.  Estudos sobre motivos e dimensões de licenças médicas e seus reflexos na organização hospitalar e nos indivíduos são escassos, assim como a relação destas com as doenças ocupacionais.

No Brasil, apesar dos elevados índices de absenteísmo-doença em hospitais, somente nas últimas décadas ocorreram esforços, ainda isolados, visando responder às questões relacionadas aos índices de absenteísmo-doença, as categorias mais afetadas, patologias mais freqüentes e diferenças entre as diversas unidades de trabalho (2,10). Torna-se importante ressaltar que o absenteísmo-doença deve ser relacionado às características das diferentes organizações hospitalares, pois seu comportamento parece depender dos modelos de gestão, porte e estrutura da organização, coesão de grupos, locais de trabalho, categorias profissionais e outros fatores. Essa característica multifatorial das causas de absenteísmo-doença, que podem se expressar por meio de diferentes queixas e diagnósticos, motivou esse estudo em uma rede de 16 hospitais de Belo Horizonte. Assim, esse estudo tem como objetivos: analisar o absenteísmo-doença nas unidades hospitalares de Belo Horizonte, pertencentes à rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais- FHEMIG;  identificar os índices de absenteísmo-doença nas unidades hospitalares da rede FHEMIG e identificar os motivos de licença saúde entre os empregados das  unidades hospitalares da rede FHEMIG.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, sobre o absenteísmo-doença em uma rede de hospitais públicos da cidade de Belo Horizonte. A pesquisa descritiva (11) procura descobrir e observar fenômenos conhecendo sua natureza, composição e os processos que o constituem. Para tal procura-se descrever, classificar e interpretar os fenômenos em estudo.

A pesquisa foi desenvolvida na FHEMIG em unidades hospitalares e administrativas de Belo Horizonte. A coleta de dados foi realizada utilizando-se os registros nas fichas de produção do período de janeiro a dezembro de 2002, referente ao atendimento médico aos trabalhadores que procuraram a Divisão de Atenção a Saúde do Trabalhador/DAST/FHEMIG.

A população compreende o quadro de trabalhadores de 16 unidades hospitalares da rede FHEMIG que procuraram o DAST/FHEMIG, no ano de 2002 para consulta e perícia médica. Não serão incluídos no estudo dados de fichas incompletas, licença maternidade e acidentes de trabalho.

A utilização das informações contidas nos registros constitui uma fonte econômica de dados e diminui o tempo e o custo durante a etapa de coleta dos dados no processo da pesquisa. Problemas como a tendenciosidade nas respostas estarão ausentes quando se utiliza este processo de obtenção de dados, e o pesquisador não precisa se preocupar em obter a colaboração dos participantes (12) .

No DAST/FHEMIG foram registradas, no período de Janeiro a Dezembro de 2002, 4976 licenças médicas dos trabalhadores de 16 unidades hospitalares de Belo Horizonte, das quais foram analisadas 4735. Foram excluídos 241 registros, pois estes apresentavam dados  incompletos e/ou preenchidos com letra ilegível. As unidades hospitalares pesquisadas foram: Departamento de administração geral, Centro Geral de Pediatria (CGP), Centro Geral de Reabilitação (CGR), Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), Centro Psicopedagógico (CPP), Creche Central Cantinho Feliz (CCCP), Hospital Alberto Cavalcante (HAC), Hospital Eduardo Menezes (HEM), Hospital Galba Veloso (HGV), Hospital João XXIII (HJXXIII), Hospital Júlia Kubitscheck (HJK), Hospital Amélia Lins (HAL), Hospital de Proto Socorro de Venda Nova (HPSV), Instituto Raul Soares (IRS), Maternidade Odete Valadares (MOV), Unidade de Atendimento às Pequenas Urgências (UAPU).

A variável dependente foi absenteísmo-doença, caracterizada por ausências dos trabalhadores por motivo de doença e justificadas por atestados médicos (classificadas de acordo com o CID 10) no decorrer do ano da investigação. As variáveis independentes foram: categoria profissional, tempo de licença, motivo de licença e unidade hospitalar. No processo de análise dos dados as informações foram lançadas no EPI INFO, versão 6.0, processadas e representadas em quadros com distribuição de freqüência, sendo analisadas com sua expressão numérica, buscando comparação com a literatura.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As licenças médicas dos trabalhadores das unidades hospitalares e administrativas da rede da FHEMIG foram analisadas, por unidade, segundo o período de afastamento e agrupadas, em pequenos afastamentos (1-3 dias), médios afastamentos (4-14 dias) e longos afastamentos (acima de 15 dias). Pode-se observar que das 4.735 licenças concedidas, 65,34% se concentraram no período de 1-3 dias. Resultado semelhante foi constatado no estudo realizado em um hospital geral público, com trabalhadores de enfermagem, no qual 64,5% das licenças médicas tiveram a duração de até três dias (13). Este resultado sinaliza a ocorrência de maior concentração de agravos à saúde de solução rápida e que dispensa a perícia médica, obrigatória a partir do 15º dia de licença no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), para garantir os direitos previdenciários dos trabalhadores. No entanto, torna-se difícil fazer qualquer tipo de julgamento em relação à duração das licenças, pois o absenteísmo-doença muitas vezes não é conhecido e nem acompanhado, visando medidas para o seu controle.

 

Os resultados se aproximam dos encontrados em outros estudos realizados em instituições hospitalares públicas, nos quais se observou concentração elevada de licenças médicas de curta duração (8, 13, 14). A partir desses resultados torna-se possível conhecer as características semelhantes do absenteísmo-doença em hospitais. Há certo padrão de ocorrência, em termos de duração, embora as causas não sejam conhecidas.

 As licenças de curta duração podem estar indicando um processo de desgaste bio-psíquico do trabalhador, quando a licença-saúde se torna um instrumento importante para repor a força de trabalho (15). Muitas vezes o tipo de trabalho e as condições do ambiente podem contribuir para este quadro não sendo, entretanto, os únicos fatores determinantes do processo de desgaste, embora o trabalho possa ser considerado um fator importante nessa rede de determinações do processo de saúde-doença (16).

As licenças médicas dos trabalhadores nas unidades hospitalares e administrativas da FHEMIG foram agrupadas segundo o motivo de doença que levou ao afastamento do trabalho, classificadas de acordo com CID 10, e tempo de afastamento. Dentre as licenças com duração de 1-3 dias, ocorridas em 2002, destacaram-se, as doenças do aparelho respiratório e doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. Os diagnósticos mais freqüentes para esses afastamentos estão relacionados a afecções de menor gravidade como amigdalites, gripe, otites, crise alérgica, dentre outros. Ressalta-se que há no ambiente hospitalar, agentes contaminantes e alérgenos que podem causar irritações no trato respiratório do trabalhador, gerando absenteísmo. Estudos realizados sobre o absenteísmo-doença entre trabalhadores em ambientes hospitalares confirmam que as doenças do aparelho respiratório aparecem como primeiro acometimento (14, 17) .

A interação orgânica do trabalhador com o ambiente hospitalar ocorre, principalmente, através do sistema respiratório, por meio do ar e seus constituintes. A poluição deste ar (contendo medicamentos, substâncias químicas, gases, vapores, névoas, poeiras, entre outros) aliada às características próprias do indivíduo e mecanismos de proteção adotados pode influenciar nos efeitos dessa exposição. Considerando que tem sido um acometimento significativo, torna-se necessário conhecer os fatores que possam estar contribuindo para desencadear a doença entre os trabalhadores, buscando formas de reverter ou diminuir os processos patológicos associados às afecções respiratórias.

 Para os afastamentos acima de 15 dias, os agravos mais freqüentes foram, respectivamente, doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo; fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde, seguido dos transtornos mentais e metabólicos.

 

Das 4.735 licenças médicas concedidas aos trabalhadores da rede hospitalar da FHEMIG, as causas expressas nos diagnósticos, em ordem decrescente são as seguintes: doenças do aparelho respiratório (16,20%), doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (15,21%), fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde (10,67%), lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas (9,93%), transtornos mentais e metabólicos (7,3%), e outros.

 Na rede hospitalar da FHEMIG as licenças médicas por doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo se destacam, tanto por períodos de curta quanto de longa duração. Outros estudos, realizados na área hospitalar são semelhantes aos resultados encontrados e apresentam a lombalgia em serviços de saúde como uma das principias causas de afastamento do trabalhador (13, 14, 17, 18, 19). Estudo mostra também que a sobrecarga osteomuscular e o estresse, presentes nas situações de trabalho hospitalar podem ser aplicados para estabelecer o nexo causal da lombalgia com o trabalho. Deve-se correlacionar com o trabalho, os fatores de risco (manuseio de cargas, posturas adotadas pelo trabalhador durante a execução da atividade e posturas inadequadas por longos períodos) presentes nas situações cotidianas de trabalho, considerando, também, os fatores individuais (idade, sexo, peso/altura, capacidade da força muscular, presença de outras patologias) (20) .

Na enfermagem, grupo majoritário quantitativamente no hospital, é apontado, com freqüência, a má postura corporal dos trabalhadores e a inadequação do espaço físico e mobiliário, como predisponentes à ocorrência de problemas osteomusculares (18, 21). Nesse sentido, é imprescindível a compreensão dos fatores de risco, pois permite ampliar o campo de análise que envolve trabalhador/ ambiente de trabalho/ organização de trabalho, tendo em vista que as afecções osteomusculares podem ser desencadeadas em função das condições em que o trabalho é realizado ou podem ter origem extra-ocupacional ou mista (20) .

Em se tratando dos fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde, existem vários subgrupos que envolvem diferentes circunstâncias do modo de vida do trabalhador, que podem ser mencionados como: os procedimentos e cuidados específicos; o contato com serviços de saúde em circunstâncias relacionadas com a reprodução; o contato com os serviços de saúde para exame e investigação, dentre outros. Constata-se que esta categoria é muito ampla e diversificada, incluindo diversas situações, que podem envolver não só o indivíduo, mas os demais contextos nos quais ele se insere.

Estudos realizados com diversas categorias profissionais da área hospitalar têm evidenciado que o afastamento do trabalho por licenças de curta ou de longa duração, pode conduzir a uma necessidade de se fazer uma associação entre a ocorrência de distúrbios psíquicos e aspectos como jornadas prolongadas, intensidade do ritmo de trabalho, insuficiência de pausas, conteúdo de tarefas pouco significativas, associando à fragmentação das tarefas e ao distanciamento entre o real e o prescrito (22, 23) .

O transtorno mental constatado no estudo como um acometimento que causa licença médica de longa duração, pode estar sinalizando, uma exposição do trabalhador a um ambiente que traz pela sua própria peculiaridade, um desgaste emocional para o trabalhador. Acrescenta, ainda, uma correlação deste adoecimento com a sobrecarga emocional, tarefas repetitivas e monótonas, um volume de atividades burocráticas, que desencadeiam falta de controle das atividades realizadas pelo do trabalhador, contribuindo para a fadiga e o esgotamento (23) .

Estudo sobre adoecimento de trabalhadores de saúde em uma rede hospitalar, constatou que os transtornos mentais apresentaram como a terceira causa de licenças médicas, reconhecendo as repercussões negativas decorrentes do trabalho que podem contribuir para tal agravo. Um fato que pode ter contribuído para a gênese de doenças psíquicas, nesta rede hospitalar, foi a flexibilização na organização do trabalho. Esta estratégia gerencial desencadeou clima de tensão e conflitos diante da abertura do contrato temporário e da implantação de mudanças no ambiente laboral sem o envolvimento prévio do trabalhador (13) .

 

Entre as 16 unidades hospitalares estudadas, três unidades hospitalares responderam por  53,34% do total de afastamentos. As unidades hospitalares HJXXIII (23,1%); HJK (20,5%) e CGP (9,4%)  destacaram na concessão de licenças médicas para trabalhadores. Estas unidades prestam atendimento de urgência e emergência para a população, sendo consideradas referência para todo o estado de Minas Gerais. Diante disso, sofrem com o aumento da demanda por parte da população em relação à assistência na urgência e emergência, o que pode estar causando para o trabalhador, uma intensificação do trabalho e favorecendo ao quadro de estresse, diante do risco eminente de vida do cliente.

Os afastamentos nas unidades referidas acima podem ser determinados pelo aumento da carga de trabalho, além da escassez dos recursos humanos, materiais e físicos, comuns em unidades hospitalares públicas que trabalham com a urgência e emergência. 

Em relação a análise da distribuição de licenças médicas por motivo de doenças segundo o CID 10, nos 16 hospitais da rede, o estudo mostra os acometimentos que se destacaram, como: Doenças do Aparelho respiratório (16,20%); Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (15,21%), Fatores que influenciam o estado de saúde e contato com serviços de saúde (10,67); Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas (9,93%); Transtornos mentais e metabólicos (7,33%); Algumas doenças infecciosas e parasitárias (6,82%); Doenças do aparelho circulatório (5,51%); Doenças do aparelho geniturinário (5,05%); Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratórios não classificados em outra parte (4,69%); Doenças do aparelho digestivo (3,57%). Foi identificada maior concentração de licenças no HJXXIII, que atende urgência e emergência; no HJK, que se apresenta como hospital geral; CGP, composto por ambulatório e internação infantil e referência para internação de crianças com doenças infecto-contagiosas e HGV, que tem uma unidade de atendimento psiquiátrico e outra de ortopedia. Assim, a distribuição das licenças pode estar relacionada ao tipo de paciente assistido e às demandas de atendimento.

No HJXXIII, destacaram-se as seguintes licenças médicas: Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, seguido Doenças do Aparelho respiratório e em terceiro Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde. No HJK, houve concentração de licenças por Doenças do aparelho respiratório, Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo e Lesões, envenenamento e algumas outras consequëncias de causas externas. No CGP, houve destaque para Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, Doenças do aparelho respiratório e Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde. No HGV, concentrou licenças por Doenças do aparelho respiratório, Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo e Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde.

As instituições hospitalares que apresentaram maiores índices de absenteísmo-doença, classificados pelo CID 10, tiveram como causas Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, seguido de Doenças do aparelho respiratório e Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde. Nesse sentido, encontra-se semelhança com os resultados encontrados em estudo do perfil de morbimortalidade de trabalhadores de uma indústria de alumínio, segundo os quais o custo direto total com base nas 6.366 ocorrências registradas de trabalhadores ativos no decorrer de 1991 a 1998, que foi da ordem de US$905.807,90, envolvendo atestados médicos de até 15 dias. Desses, o maior custo está relacionado com o grupo de doenças osteomusculares, seguido de doenças do aparelho respiratório, e outros contatos com serviço de saúde (19). A literatura (14, 24,25) alerta para a importância de reconhecer a situação de trabalho que o trabalhador vivencia no seu cotidiano, conhecendo as condições em que o trabalho é realizado e a forma como está organizado. Nesse sentido, observa-se que o trabalho no ambiente hospitalar pode estar trazendo repercussões significativas para a saúde do trabalhador, sendo esta agravada pelo modo de vida dos trabalhadores e o seu contato  com os serviços de atenção a saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

         As causas de absenteísmo-doença, pela classificação segundo o CID 10, mostram-se diferenciadas, para licenças de curta, média e longa duração. As licenças médicas superiores a 15 dias, estão relacionados a processos de adoecimento mais complexos, cujos tratamentos e recuperação são mais demorados e, em grande parte, estão associados a doenças crônicas. As licenças de 4 a 14 dias têm um perfil semelhante e podem estar indicando desgaste do trabalhador. Entretanto, as licenças 01 a 03 dias de duração indicam doenças menos graves, cujo tratamento e retorno ao trabalho é mais rápido.

O agrupamento dos agravos de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) tem se mostrado adequado, tendo em vista os inúmeros diagnósticos relacionados a um mesmo sistema e o grande volume de dados. Foi possível identificar que as doenças dos sistemas respiratórios e osteomuscular tem sido a maior causa de absenteísmo em hospitais.

As informações relacionadas a hospitais públicos de diferentes portes, pertencentes a uma rede que tem uma mesma filosofia de trabalho e que atendem a clientelas diferentes, por especialidades, podem oferecer subsídios para adoção de políticas de pessoal, que envolvam promoção, prevenção e controle de agravos de forma contextualizada. O conhecimento do absenteísmo-doença pode ser utilizado pela organização para a análise dos processos de trabalho e riscos do ambiente, como forma de se evitar o ônus para o hospital e para o trabalhador.

O absenteísmo-doença poderá ser reduzido se forem criados canais que permitam a vasão correta das tensões ou a satisfação das necessidades dos trabalhadores. Para isso, faz-se necessário investir no trabalhador, humanizando o processo de trabalho, respeitando a capacidade, o esforço e a vontade de progredir e de desenvolver.

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Received: Sept 25th , 2006

Revised: Oct 28th

Accept: Nov 8th , 2006