RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES
Vulnerabilidade física, social e programática de idosos: estudo descritivo
Keylla Talitha Fernandes Barbosa1, Maria das Graças Melo Fernandes1
1Universidade Federal da Paraíba
INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa é tido como uma das mais relevantes transições demográficas, acontecendo de modo rápido e abrupto, sem adequado acompanhamento do progresso social e econômico. O envelhecimento populacional suscita a discussão acerca da necessidade de instrumentos e modelos teóricos, que direcionem a prática e compreendam a sua amplitude e complexidade. Para tanto, no contexto da gerontologia, explora-se o conceito da vulnerabilidade, definido como o estado de indivíduos ou grupos que, por alguma razão, têm sua capacidade de autodeterminação reduzida, podendo apresentar dificuldades para proteger seus próprios interesses devido a déficits de poder, inteligência, educação, recursos, força ou outros atributos(1). Dentro dessa abordagem foi elaborada a seguinte questão norteadora: qual a prevalência da vulnerabilidade física, social e programática entre os idosos adscritos à Estratégia Saúde da Família (ESF) do município de João Pessoa/PB?
OBJETIVO
Analisar a vulnerabilidade física, social e programática entre os idosos adscritos à ESF do município de João Pessoa.
MÉTODOS
Trata-se de um inquérito domiciliar com delineamento descritivo, de corte transversal, realizado com 368 idosos cadastrados pela ESF do município de João Pessoa no Sistema de Infomação da Atenção Básica. Participaram da pesquisa os indivíduos com 60 anos ou mais, que evidenciavam condições cognitivas preservadas, de modo que fossem capazes de responder às questões de investigação, bem como aqueles que residiam no distrito sanitário pesquisado.
A coleta dos dados ocorreu em um único momento nas respectivas residências dos idosos, realizada no período de fevereiro a abril de 2014 por meio de entrevista estruturada. Para tanto, utilizou-se um questionário sociodemográfico e de saúde, o Vulnerable Elderly Survey (VES-13), o Índice de Vulnerabilidade Social e indicadores relacionados ao conceito de vulnerabilidade programática.
A análise dos dados foi efetivada numa abordagem quantitativa, por meio da estatística descritiva de natureza univariada para todas as variáveis. Utilizou-se o Teste do Qui-quadrado de Pearson e a regressão linear múltipla, com nível de significância estabelecido de 95%. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, sob o número de protocolo 0658/13.
RESULTADOS
Em relação às características sociodemográficas, verificou-se que 68,8% dos entrevistados pertenciam ao sexo feminino, com média de 71,4 anos e predomínio de idosos na faixa etária entre 60 a 69 (45,9%). A maioria dos idosos avaliou sua saúde como razoável (44%); 84% apresentaram três ou mais problemas de saúde, destacando-se entre eles alterações na visão (21,1%) e hipertensão arterial (19,23%). Ao avaliar a prevalência de vulnerabilidade física, identificou-se que 52,2% dos idosos eram vulneráveis; destes, 72,4% pertenciam ao sexo feminino, com faixa etária predominante entre 70 a 79 anos (41,1%). Verificou-se que a percepção da saúde como ruim ou regular é mais prevalente entre os idosos fisicamente vulneráveis (59,9%; p<0,001), assim como alterações no desempenho das atividades básicas e instrumentais da vida diária (p<0,001).
Evidenciou-se que a maioria dos idosos residia em áreas de baixa vulnerabilidade social (80%). Como preditor de influência, identificou-se que, quanto menor acesso ao saneamento básico e maior o alcoolismo no domicilio e o analfabetismo, maior será a vulnerabilidade social. No tocante às variáveis indicadoras de vulnerabilidade programática, evidencia-se que 96,6% dos idosos utilizam o Sistema Único de Saúde; destes, 76,6% não possuem plano médico particular e apenas 6,8% dispõe de plano privado odontológico. Concomitantemente, verificou-se que os idosos residentes em regiões com baixíssimos índices de vulnerabilidade social apresentavam maior adesão aos planos médicos privados e odontológicos, assim como menor adesão ao Sistema Único de Saúde.
DISCUSSÃO
A vulnerabilidade consiste em um constructo multidimensional em que condições comportamentais, socioculturais, econômicas e políticas interagem com os processos biológicos ao longo da vida. Sendo fortemente influenciada pelo elevado grau de dependência dos idosos, a vulnerabilidade pode comprometer sua autonomia, que está relacionada diretamente à sua capacidade de executar as atividades da vida diária sem auxílio, bem como à liberdade de decidir pela própria vontade e à possibilidade de se integrar socialmente(2). Verificou-se no presente estudo que os idosos apresentaram repercussões em sua saúde de ordem física, social e programática que poderão evoluir para complicações e possíveis prejuízos no desempenho de suas atividades. Entretanto, os efeitos deletérios da senilidade podem ser minimizados com medidas voltadas para a atenção integral da saúde para pessoa idosa.
CONCLUSÃO
O crescente envelhecimento populacional requer adequação dos serviços de saúde por meio do cuidado integral e contextualizado. Ao analisar a população estudada, puderam-se compreender as diferentes dimensões e especificidades que influenciam a saúde do idoso. Reconhecer os conceitos relacionados à vulnerabilidade e discuti-los junto à equipe multiprofissional é de grande importância na promoção de intervenções integrais para a população idosa.
REFERÊNCIAS
1. Rodrigues NO, Neri AL. Vulnerabilidade social, individual e programática em idosos da comunidade: dados do estudo FIBRA, Campinas, SP, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(8):2129-2139.
2. Lachman ME, Agrigoroaei S. Promoting functional health in midlife and old age: longterm protective effects of control beliefs, social support anda physical exercise. Plos ONE. 2010; 5(10): 1-9.
Referência original
Barbosa KTF. Physical, social and programmatic vulnerability of elderly patients in primary health care in the city of João Pessoa, Paraíba. [ dissertation ] João Pessoa: Federal University of Paraíba; 2015.
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Recebido: 15/05/2015
Revisado: 18/06/2015
Aprovado: 18/06/2015